Joe Brand despertou ao ouvir um ruído suave. A sua mão agarrou a culatra do revólver que descansava na funda.
Justamente em frente dele viu um comanche que 'levava a espingarda ao ombro, pronto para disparar.
Joe apertou o gatilho duas vezes sem sacar o «Colt». O índio estremeceu ao receber no estômago e no peito as cargas de chumbo. Depois, sem pronunciar um só gemido, caiu no chão. Joe levantou-se rapidamente a tempo de ver que outro índio corria para um cavalo para se escapar.
— Alto aí! — gritou Joe. — Um passo mais e arranco--te a cabeça.
O sujo comanche deteve-se e começou a curvar-se. Na sua cara refletia-se um grande temor. Joe avançou para ele e deteve-se muito próximo.
— Parece que tinhas muita pressa, hem, rapaz?
O índio deitou a cabeça para trás como se esperasse receber uni golpe de um momento para o outro.
— Como te chamas? —. perguntou Joe.
— António.
—E esse? —Joe apontou para o cadáver.
— Opiwi.
— Assim está melhor. António não me queria bem. Assim sei que pertencem à quadrilha de Juan Butchery.
— Não, senhor.
—És um embusteiro, António.
— Não, senhor. Não lhe minto. O meu companheiro e eu somos honrados.
— São honrados e Opiwi dispunha-se a matar-me? Só a circunstância de que ele roçou numa pedra devo agora o estar vivo.
O rosto de António iluminou-se como se tivesse tido uma boa ideia.
— Opiwi tornou-se louco.
—E aconteceu-lhe de repente, António? Isso é verdade?
— Sim, senhor. Foi isso.
—Tornou-se louco ao ver-me estendido no chão, dormindo?
António baixou a cabeça.
—Estava mal, sabe? Eu já o tinha dito à mãe de Opiwi.
—Deixa de dizer tonteiras, António. Tu e ele sabem perfeitamente quem sou eu. Encontraram-me casualmente e decidiram que seria algo estupendo isso de ganharem os duzentos dólares que Juan Butchery prometeu ao homem que lhe levasse a minha cabeça.
—Não, senhor. Opiwi e eu não conhecemos o «Cão Furioso» ...
António interrompeu-se ao ver que tinha cometido um erro.
Joe Brand, aliás «Cão Raivoso», sorriu mostrando os seus dentes bem alinhados. Levantou a pistola, dizendo:
—Isto acaba a discussão.
O índio molhou os lábios com a língua.
—Eu não queria matá-lo, senhor Brand! Não sou um assassino! Sou só um ladrão!
— O homem que mente uma vez pode mentir duas. Tu sabes isso, não é verdade, António?
— Sim, senhor Brami, mas António é muito bom. Não derrama sangue. Não merece a morte.
O índio voltou a sorrir.
— O senhor Brand não matará António.
— Porque não, rapaz?
— Brand tão-pouco é um assassino, ouviu-o dizer muitas vezes. Não mata índios indefesos.
António levantou a cabeça e respirou satisfeito de ter chegado à conclusão de que Brand não acabaria com ele como fez com o seu companheiro. Brand achou graça àquilo, ainda que devia confessar que era verdade.
— Onde está agora Juan? — perguntou, mudando de tema.
—Não o sei. Não o vejo há muito tempo.
Joe sabia o significado do tempo para os índios.
— Talvez te tenhas separado dele esta manhã? Oh, não. Foi muito tempo atrás.
— Ontem?
—Sim, senhor, ontem.
— Para onde ia Juan?
—Encontrei no caminho. Não me disse nada.
—Qual era a sua direção? E maldito sejas, diz-mo se não queres acabar com a minha paciência.
— Moenkopi.
—Estás certo?
— Sim, senhor Brand. Estou seguro. — António levantou o braço para o Oeste. — Ia para Moenkopi.
Brand sacudiu a cabeça parando o olhar no cavalo que tinha pertencido ao índio morto. O animal foi recuando até que ficou quieto à direita. Na garupa havia um monte de roupa segura por uma corda.
—Que é isso, António?
— «Coconiro», o cavalo de Opiwi.
—Não me refiro a «Coconiro», mas sim ao que há em cima dele.
O índio olhou também a roupa e começou a pestanejar.
—Caramba! --exclamou. — São tecidos. Quem os terá posto ali?
Joe olhou o índio fazendo uma careta. Depois aproximou-se do cavalo de Opiwi, agarrou nas roupas e deu um puxão. Ficou perplexo ao ver na sua mão dois vestidos de mulher. Mostrou-os a António.
—Fala, índio, se não queres morrer. Donde tiraram isto?
—Eu não sei... —começou a dizer António.
—Sim, sabe-lo. Vamos, desembucha. Maldito sejas!
Joe fez o gesto que lhe tinha valido entre os índios a alcunha de «Cão Raivoso». Era uma careta em que mostrava os dentes como um animal carniceiro. António estremeceu como uma cana batida pelo vento.
—Foi Opiwi, senhor Brand, e os outros... Pode acreditar-me. Chegaram até onde estavam um homem e uma mulher branca. Opiwi agarrou os vestidos, mas o branco pôs-se a disparar. O homem branco era tão temível como «Cão Raivoso». Matou três dos nossos... — António refletiu em seguida —: Três dos que iam com Opiwi.
Joe tirou as suas próprias conclusões. António e Opiwi faziam parte dum grupo de ladrões que tinha surpreendido um homem e unia mulher. Os viajantes tinham-se defendido bem, dizimando os índios, ainda que Opiwi tivesse conseguido o seu prémio particular, dois vestidos pertencentes à dama.
— Onde os atacaram, António?
—Não fui eu.
— Basta disso! Responde à minha pergunta.
António mexeu a cabeça.
—Ao sul de Shiprok.
—Quando, António?
—Há dois dias.
—E dizes que era um homem e uma mulher?
—Sim, senhor.
—Não havia mais gente?
—Não, senhor. Não havia mais gente.
—Para onde se dirigiam os viajantes?
António encolheu os ombros.
—Não o sei. Talvez para Santa Fé ou Albuquerque. Não o sei, senhor Brand.
Joe permaneceu pensativo um momento. Finalmente, disse:
—Está bem, António. Podes ir-te embora.
A cara do índio resplandeceu de júbilo.
— «Cão Raivoso» é um homem bom. Di-lo-ei por toda a parte. António recordar-se-á sempre. - A próxima vez, quando me encontrares, procura não fazeres ruído se queres ganhar os duzentos dólares de Juan.
— Oh, não, senhor Brand — protestou o índio. — António nunca fará isso. António nunca matará «Cão Raivoso».
—Vai-te embora antes que comece a chorar, rapaz.
O índio montou o seu cavalo e voltou outra vez a cabeça sorridente.
— Dá-me os dois vestidos, senhor Brand? Queria oferecê-los a minha mulher.
—Não, António. Isso não posso fazer. São meus.
O índio fez uma careta de tristeza, mas depois começou outra vez a rir.
— Já compreendo. O senhor Brand guarda-os para sua mulher.
— Brand não tem nenhuma mulher, António.
O índio olhou os vestidos e depois disse:
—António deseja-lhe uma dúzia de filhos.
Joe levantou o revólver.
—Ê esse o teu agradecimento? Maldito sejas! Começa a correr antes que eu esvazie o carregador no teu corpo. Depressa!
O índio afastou-se muito rapidamente, deixando para trás de si uma nuvem de pó. Brand viu-o ir embora e depois guardou o revólver. Olhou os vestidos que tinha na mão. Atirou um sobre o seu cavalo e pôs o outro na sua frente junto ao corpo. Observou atentamente e fez um estalo com a língua, dizendo:
—Infernos, parece que tem uma bela figura.
Justamente em frente dele viu um comanche que 'levava a espingarda ao ombro, pronto para disparar.
Joe apertou o gatilho duas vezes sem sacar o «Colt». O índio estremeceu ao receber no estômago e no peito as cargas de chumbo. Depois, sem pronunciar um só gemido, caiu no chão. Joe levantou-se rapidamente a tempo de ver que outro índio corria para um cavalo para se escapar.
— Alto aí! — gritou Joe. — Um passo mais e arranco--te a cabeça.
O sujo comanche deteve-se e começou a curvar-se. Na sua cara refletia-se um grande temor. Joe avançou para ele e deteve-se muito próximo.
— Parece que tinhas muita pressa, hem, rapaz?
O índio deitou a cabeça para trás como se esperasse receber uni golpe de um momento para o outro.
— Como te chamas? —. perguntou Joe.
— António.
—E esse? —Joe apontou para o cadáver.
— Opiwi.
— Assim está melhor. António não me queria bem. Assim sei que pertencem à quadrilha de Juan Butchery.
— Não, senhor.
—És um embusteiro, António.
— Não, senhor. Não lhe minto. O meu companheiro e eu somos honrados.
— São honrados e Opiwi dispunha-se a matar-me? Só a circunstância de que ele roçou numa pedra devo agora o estar vivo.
O rosto de António iluminou-se como se tivesse tido uma boa ideia.
— Opiwi tornou-se louco.
—E aconteceu-lhe de repente, António? Isso é verdade?
— Sim, senhor. Foi isso.
—Tornou-se louco ao ver-me estendido no chão, dormindo?
António baixou a cabeça.
—Estava mal, sabe? Eu já o tinha dito à mãe de Opiwi.
—Deixa de dizer tonteiras, António. Tu e ele sabem perfeitamente quem sou eu. Encontraram-me casualmente e decidiram que seria algo estupendo isso de ganharem os duzentos dólares que Juan Butchery prometeu ao homem que lhe levasse a minha cabeça.
—Não, senhor. Opiwi e eu não conhecemos o «Cão Furioso» ...
António interrompeu-se ao ver que tinha cometido um erro.
Joe Brand, aliás «Cão Raivoso», sorriu mostrando os seus dentes bem alinhados. Levantou a pistola, dizendo:
—Isto acaba a discussão.
O índio molhou os lábios com a língua.
—Eu não queria matá-lo, senhor Brand! Não sou um assassino! Sou só um ladrão!
— O homem que mente uma vez pode mentir duas. Tu sabes isso, não é verdade, António?
— Sim, senhor Brami, mas António é muito bom. Não derrama sangue. Não merece a morte.
O índio voltou a sorrir.
— O senhor Brand não matará António.
— Porque não, rapaz?
— Brand tão-pouco é um assassino, ouviu-o dizer muitas vezes. Não mata índios indefesos.
António levantou a cabeça e respirou satisfeito de ter chegado à conclusão de que Brand não acabaria com ele como fez com o seu companheiro. Brand achou graça àquilo, ainda que devia confessar que era verdade.
— Onde está agora Juan? — perguntou, mudando de tema.
—Não o sei. Não o vejo há muito tempo.
Joe sabia o significado do tempo para os índios.
— Talvez te tenhas separado dele esta manhã? Oh, não. Foi muito tempo atrás.
— Ontem?
—Sim, senhor, ontem.
— Para onde ia Juan?
—Encontrei no caminho. Não me disse nada.
—Qual era a sua direção? E maldito sejas, diz-mo se não queres acabar com a minha paciência.
— Moenkopi.
—Estás certo?
— Sim, senhor Brand. Estou seguro. — António levantou o braço para o Oeste. — Ia para Moenkopi.
Brand sacudiu a cabeça parando o olhar no cavalo que tinha pertencido ao índio morto. O animal foi recuando até que ficou quieto à direita. Na garupa havia um monte de roupa segura por uma corda.
—Que é isso, António?
— «Coconiro», o cavalo de Opiwi.
—Não me refiro a «Coconiro», mas sim ao que há em cima dele.
O índio olhou também a roupa e começou a pestanejar.
—Caramba! --exclamou. — São tecidos. Quem os terá posto ali?
Joe olhou o índio fazendo uma careta. Depois aproximou-se do cavalo de Opiwi, agarrou nas roupas e deu um puxão. Ficou perplexo ao ver na sua mão dois vestidos de mulher. Mostrou-os a António.
—Fala, índio, se não queres morrer. Donde tiraram isto?
—Eu não sei... —começou a dizer António.
—Sim, sabe-lo. Vamos, desembucha. Maldito sejas!
Joe fez o gesto que lhe tinha valido entre os índios a alcunha de «Cão Raivoso». Era uma careta em que mostrava os dentes como um animal carniceiro. António estremeceu como uma cana batida pelo vento.
—Foi Opiwi, senhor Brand, e os outros... Pode acreditar-me. Chegaram até onde estavam um homem e uma mulher branca. Opiwi agarrou os vestidos, mas o branco pôs-se a disparar. O homem branco era tão temível como «Cão Raivoso». Matou três dos nossos... — António refletiu em seguida —: Três dos que iam com Opiwi.
Joe tirou as suas próprias conclusões. António e Opiwi faziam parte dum grupo de ladrões que tinha surpreendido um homem e unia mulher. Os viajantes tinham-se defendido bem, dizimando os índios, ainda que Opiwi tivesse conseguido o seu prémio particular, dois vestidos pertencentes à dama.
— Onde os atacaram, António?
—Não fui eu.
— Basta disso! Responde à minha pergunta.
António mexeu a cabeça.
—Ao sul de Shiprok.
—Quando, António?
—Há dois dias.
—E dizes que era um homem e uma mulher?
—Sim, senhor.
—Não havia mais gente?
—Não, senhor. Não havia mais gente.
—Para onde se dirigiam os viajantes?
António encolheu os ombros.
—Não o sei. Talvez para Santa Fé ou Albuquerque. Não o sei, senhor Brand.
Joe permaneceu pensativo um momento. Finalmente, disse:
—Está bem, António. Podes ir-te embora.
A cara do índio resplandeceu de júbilo.
— «Cão Raivoso» é um homem bom. Di-lo-ei por toda a parte. António recordar-se-á sempre. - A próxima vez, quando me encontrares, procura não fazeres ruído se queres ganhar os duzentos dólares de Juan.
— Oh, não, senhor Brand — protestou o índio. — António nunca fará isso. António nunca matará «Cão Raivoso».
—Vai-te embora antes que comece a chorar, rapaz.
O índio montou o seu cavalo e voltou outra vez a cabeça sorridente.
— Dá-me os dois vestidos, senhor Brand? Queria oferecê-los a minha mulher.
—Não, António. Isso não posso fazer. São meus.
O índio fez uma careta de tristeza, mas depois começou outra vez a rir.
— Já compreendo. O senhor Brand guarda-os para sua mulher.
— Brand não tem nenhuma mulher, António.
O índio olhou os vestidos e depois disse:
—António deseja-lhe uma dúzia de filhos.
Joe levantou o revólver.
—Ê esse o teu agradecimento? Maldito sejas! Começa a correr antes que eu esvazie o carregador no teu corpo. Depressa!
O índio afastou-se muito rapidamente, deixando para trás de si uma nuvem de pó. Brand viu-o ir embora e depois guardou o revólver. Olhou os vestidos que tinha na mão. Atirou um sobre o seu cavalo e pôs o outro na sua frente junto ao corpo. Observou atentamente e fez um estalo com a língua, dizendo:
—Infernos, parece que tem uma bela figura.
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