domingo, 7 de julho de 2019

COL025.06 Tensão no «Poço do Enforcado»

Havia já cinco dias que viajavam pelo deserto. O sol estava declinando. Os dois homens ladeavam a mulher. Fazia mais duma hora que nenhum deles dizia nada.
Um lagarto assomou a cabeça dum buraco que havia entre duas grandes pedras e depois voltou-se rapidamente a esconder. Virgínia Pulver sorriu suavemente.
— Parece que o reconheceram, senhor Brand.
— Não o estranhe -- respondeu Joe. — Os lagartos comportam-se às vezes como pessoas. Há um enorme exemplar por aí a quem chamo «O velho Jones». É uma boa peça ela qual me dariam um punhado de dólares. Há três anos que intento caçá-lo, mas não há forma de consegui-lo. Algumas vezes tive-o quase entre mãos, mas sempre me escapou. E eu sei o que se passa. Esse animalejo ganhou-me a partida. É mais astuto que cem índios juntos.
Virgínia riu divertida. De repente Harry Coley disse:
— Sinto interromper o seu bocado de diversão, mas durante o último alto dei uma vista de olhos aos cantis e só nos resta água até amanhã. Tiveste isso em conta. nosso estupendo explorador?
A Joe irritou-lhe a ironia de Coley.
—Sim, Harry. Tive-o em conta. Daqui a quatro ou cinco horas chegaremos ao «Poço do Enforcado». Passaremos ali a noite e encheremos os cantis.
Harry Coley emitiu um grunhido por resposta. Cavalgaram meia milha em silêncio e depois Virgínia perguntou:
— Como pode gostar de tudo isto?
Joe sorriu olhando para longe.
—Para mim é o melhor paraíso do mundo.


Coley riu cavernosamente.
—Que lhe parece essa resposta, menina Pulver?... Até é possível que o nosso chefe tente convencer-nos para que nos instalemos aqui durante toda a noite.
Brand ignorou a interrupção de Coley e, olhando Virgínia, declarou:
— Não é tão boa a civilização como dizem. Eu também já estive em grandes cidades.
— Em quais, Joe? — inquiriu a jovem.
— Em Denver, em Nova Orleãs, e até certa vez cheguei a Saint Louis.
—E não lhe agradou aquela vida?
— Sinceramente, não.
—Porquê?
— Existem demasiadas complicações. Só lhe posso dizer isto. Talvez seja porque sou um homem simples.
— Mas é incrível que você pretenda substituir a vida duma grande cidade por isto.
— Há outros sítios que podem equiparar-se ao deserto. Uma granja, um rancho. Realmente é o que eu aspiro... Quando tiver economizado uns dólares, comprarei uma pequena porção de terra nos arredores de Yuma ou de Amarillo, ou talvez seja Tucson o lugar que eleja... Ali poderei viver como eu quero que seja a minha vida.
— Você ao menos tem um ideal — disse Virgínia. —E isso é admirável — voltou-se para Harry. —E você Coley?
—Tenho uma opinião muito diferente da do nosso chefe.
— Qual é o seu sonho, Harry?
—Viver numa grande cidade, como qualquer dessas que ele mencionou, quanto maior melhor... Mas não quero ser um homem qualquer num sítio desses... Hei-de ser uni dos mais importantes cidadãos e...
— Isso só se consegue com dinheiro. — disse Joe. — E onde vai buscar tanta massa, Harry?
Os olhos de Coley olharam fixamente a cara de Brand.
— Não o sei ainda... Mas há algum tempo me disseram que algum dia teria uma grande fortuna... — depois juntou com voz mais baixa — Nunca tive muita sorte até agora, mas talvez ela mude.
Coley interrompeu-se apertando as rédeas.
—A direita, Joe!
Brand não necessitava de nenhum aviso porque ele também tinha visto o índio que tinha aparecido no alto dum monte que se elevava a cem jardas, na direção em que Harry tinha apontado.
— Um apache — disse Joe.
— Seja o que for, vou atirar — e assim dizendo, Coley tirou a espingarda que estava na sela e encostou-a com muita rapidez à cara.
A voz de Brand soou seca, como o barulho duma chicotada.
—Não apertes esse gatilho, Harry!
Coley voltou a cara.
— Que queres dizer, Brand? Só é um maldito índio.
— Deixa-o em paz.
—Se não o mato, ele dará aviso da nossa presença.
—E se o matas será igual, ou talvez muito pior.
— Pelo menos haverá um a menos.
Joe olhou fixamente o indígena, o qual estava muito quieto na sua cavalgadura.
— Deixá-lo-emos ir embora sem molestá-lo — decidiu Brand.
As pupilas de Harry tornaram-se pequenas até se converterem em cabeças de alfinete.
— É essa a tua forma de aconselhar-nos? Que lhe parece menina Pulver? Não precisava deste tipo para cruzar o deserto.
— Ele é que dá as ordens — disse Virgínia.
Harry torceu a boca e começou a baixar a espingarda.
— Está bem, mas penso que os dois se equivocaram.
Permaneceram um momento quietos observando o índio e, finalmente, este desapareceu por detrás da colina. Virgínia Pulver deu um suspiro.
—Já passou o susto.
— Cometemos um erro — comentou Harry. --Se me tivessem deixado matá-lo, esse tipo estaria agora de barriga para o ar.
— Agrada-te matar, não é verdade, Harry? —disse Joe.
 — Quando as peças a cobrar são índios, confesso que me agrada apertar o gatilho.
—Porque os odeias tanto, Harry? Fizeram-te algum mal?
— Não me agrada contar histórias.
Virgínia interrompeu aquele diálogo cada vez mais tenso.
— Que lhes parece se continuássemos o nosso caminho?
Outra vez se puseram em movimento avançando para o Oeste.
Joe Brand tinha-se adiantado um quarto de milha aos seus companheiros. Desde o alto duma elevação observou o «Poço do Enforcado». O silêncio só era perturbado pelo murmúrio do vento que tinha começado a fazer notar a sua presença ao cair do sol. Não viu ninguém nos arredores e levantou o braço fazendo uni sinal para que Virgínia e Harry se aproximassem.
Desceram ao poço e desmontaram. Harry Coley estendeu-se de bruços e submergiu a cabeça na água. Joe encheu o seu cantil e entregou-o à ruiva, que lhe agradeceu com um sorriso. Harry olhou-o com a cara cheia de água e a sua boca torceu-se numa careta.
— Caramba —disse. — Não sabia que entre nós houvesse um cavalheiro.
Joe não fez nenhum comentário e, pondo-se de joelhos junto ao poço, aplacou a sua sede com as mãos e depois lavou a cara. Virgínia tinha-se sentado numa pedra e ia a tirar uma das botas.
— Não faça isso, menina Pulver. Vamo-nos embora cm seguida.
—Porquê? — perguntou Harry.
Joe olhou pelos arredores enquanto respondia:
—Ê o pior lugar para uma emboscada. Só teriam de disparar a prazer para acabar connosco. Encham os cantis. Têm um minuto.
Harry pôs-se a rir.
— Este caçador de lagartos está-se a tornar muito aborrecido, menina Pulver. Estive olhando para todos os lados quando nos encontrávamos lá em cima e não vi um só tipo em dez milhas em redor. Mas esta sombra é muito boa — juntou parodiando a voz de Joe. — Têm apenas um minuto.
Virgínia pôs-se em pé, dizendo:
— Brand deve ter os seus motivos.
—Claro que sim — assentiu Harry. —Há fulanos que desejam destacar-se a todo o custo. Duma coisa fácil fazem-na difícil para demonstrar que são uns tipos estupendos.
— Basta de conversa — disse Joe e tirou o cantil da sela que pertencia a Virgínia.
Quando o encheu, pô-lo outra vez no seu lugar e depois ajudou Virgínia a montar. Harry não fez senão resmungar baixinho, mas obedeceu. Subiram outra vez a ladeira, e de repente, quando chegaram ao alto, Joe assinalou para o caminho por onde tinham vido. Uma nuvem de pó avançava rapidamente para o poço.
— Aí os temos.
Virgínia e Harry Coley observaram a nuvem que aumentava pouco a pouco de tamanho.
— Antes de quinze minutos estarão aqui — disse Coley.
— Sim, Harry — assentiu Virgínia. —E, se estivéssemos descansados como você queria, ter-nos-iam surpreendido.
O rosto de Coley pôs-se tenso olhando alternadamente para Virgínia e para Joe. Este disse:
— São os Randall. Pensam que chegou já o seu momento.
— Porque não hão-de ser os índios? — perguntou Harry. — Não se pode distinguir nada daqui e não me digas que tu vês através do pó
— Não, Harry, mas vivi muitos anos no deserto e tenho alguma vantagem para identificar todos os que correm por ele.
— Está bem — respondeu Harry olhando o ponto onde se encontrava o poço. — Este é um sítio estupendo para ajustar as contas com estes bastardos.
Sacou outra vez a espingarda.
— Podes guardar a arma — disse Joe. — Não vamos lutar, Harry.
— Porque não? Será que lhes tens medo?
— Não, mas não nos convém enfrentar-nos com esses tipos e já é bastante. Será melhor que nos apressemos. Já perdemos demasiado tempo.
Harry voltou a cabeça para Virgínia.
— Maldita seja! Não me agrada que me sigam, menina Pulver! Garanto-lhe que se ficássemos aqui mataríamos até ao último dessa maldita quadrilha.
Joe cruzou as mãos sobre a sela.
— Ouve, Coley. Não me agrada que discutas cada vez que eu dou uma ordem. Tínhamos combinado que me obedecerias. Porque infernos não cumpres a tua palavra?
Houve um silêncio. Os olhos de Harry Coley olharam alternadamente Virgínia e Joe e por último disse:
— Perdoa-me, chefe, talvez me tenha exaltado — de repente fez um gesto raivoso. — Ir-nos-emos daqui, mas continuo pensando que este é o melhor lugar para fazermos uma matança.
— A galope! — ordenou Joe.
Os três ginetes empreenderam uma rápida corrida sempre para o Oeste. Nas suas costas a nuvem de pó era cada vez maior.

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