O xerife Alfred Bremer prendeu a brilhante estrela no colete de pele. Era um acto que praticava todas as manhãs e que se repetia havia quinze anos, mas o xerife de Sparkville não ignorava que aquele era o último dia em que o realizava.
Meia hora depois chegaria a diligência procedente de Denver e tudo estaria terminado.
Abriu uma gaveta da secretária e tirou um «Smith & Wesson» de calibre 45.
Sem pressas, como se estivesse a realizar um acto de grande importância, verificou o seu perfeito funcionamento.
Por seis vezes consecutivas deixou cair o percutor sobre o cilindro vazio. Só então extraiu seis projéteis do seu cinturão-cartucheira e começou a carregar a arma.
Meteu-a no coldre e assegurou-se de que saia sem dificuldade. Olhou à sua volta e saiu para a rua.
Fechou a porta à chave e atravessou a rua com passo lento, mas firme e seguro.
A povoação de Sparkville encontrava-se situada junto do rio Arkansas, na margem esquerda e no meio das Montanhas Rochosas.
Os invernos eram muito duros em Sparkville e não existia nem gado nem agricultura. Todas as fontes de receita dos seus habitantes provinham da mineração e das peles.
Uma mina de ouro, uma refinaria de produtos auríferos e outras três minas improdutivas constituíam toda a riqueza mineira da povoação.
Quatrocentos homens trabalhavam na única mina produtiva. Viviam na povoação com as suas famílias e somente desejavam economizar uns dólares para fugirem de Sparkville.
O xerife Bremer entrou num dos dois «saloons» que existiam na terra, aproximou-se do balcão e encostou-se a ele.
— Olá! — disse ao rapaz que limpava os copos.
— Bons dias, xerife. Uísque? — perguntou o jovem.
— Não. Toma a chave do escritório. Se me acontecer alguma coisa, entrega-a ao juiz. Outro ocupará o meu lugar.
— Que lhe pode acontecer? — perguntou o rapaz, olhando fixamente para o xerife.
Este era um homem de mais de cinquenta anos e tanto o seu cabelo como o seu bigode tinham uma cor grisalha. Nos olhos lia-se-lhe enorme cansaço.
— Uma coisa apenas, Roy: matarem-me -- respondeu o xerife com um triste sorriso.
O rapaz pegou na chave que lhe entregava o xerife e uma estranha sensação de angústia se apoderou de si quando o representante da Lei deixou o «saloon».
Alfred Bremer viu as horas no seu velho relógio de bolso e murmurou:
— Ainda falta um quarto de hora...
Levantou a vista para o céu e sorriu ao ver que este se apresentava limpo e que o sol começava a aquecer. Estavam nos princípios da Primavera e a vida começava nas montanhas.
O xerife desceu a rua principal e dirigiu-se diretamente para os escritórios da «Wells Fargo».
Antes de chegar cruzou-se com um numeroso grupo de mineiros e alguns deles cumprimentaram-no amigavelmente.
Bremer correspondeu ao cumprimento e continuou o seu caminho para a paragem das diligências.
Ao chegar encostou-se a um poste e com mão firme começou a enrolar um cigarro.
— Bons dias, xerife. Espera algum amigo?
Bremer fitou o homem que lhe fizera a pergunta. Era Alvin Ruel, o dono do único armazém de Sparkville.
— Olá, Alvin. Sim, estou à espera de um amigo... de um velho amigo.
— Já vendi quase toda a existência e quero fazer uma nova encomenda para Pueblo.
Todas as provisões consumidas na povoação eram compradas na localidade de Pueblo e transportadas em pesados carroções.
Bremer recordava-se de que durante alguns invernos a comida escasseara e todos os habitantes de Sparkville tinham passado fome. Os caminhos, no Inverno, ficavam sempre bloqueados pela neve.
— Mas agora estamos na Primavera — murmurou.
— Disse alguma coisa, xerife? — perguntou Alvin.
— Não, apenas que está um lindo dia.
— Tem razão. Com certeza tem havido poucos como este durante os seus 'quinze anos de xerife, não é verdade?
— Poucos... e como este nenhum.
— Conheço o seu amigo, xerife? — perguntou Alvin, que como bom comerciante que era não podia estar muito tempo calado.
Alfred Bremer desejava estar só e recordar algumas coisas do seu passado. Por isso, respondeu:
— Sim, conhece-o. É Buck Morrow.
A cara de Alvin passou por uma brusca transformação. As suas feições pareceram ficar geladas e o sorriso que se lhe esboçara nos lábios converteu-se numa careta.
— Mas esse homem jurou que assim que saísse da cadeia o mataria! — conseguiu dizer por fim.
— Precisamente por isso estou aqui à espera. Há dez anos que o prendi por ter assaltado o Banco de Sparkville e agora regressa para me matar... e não posso permitir que ande à minha procura todo o dia ou que me espere a uma esquina e dispare contra mim. Não concorda, Alvin?
— Sim... claro... enfim, como a diligência ainda demorará vou dar uma vista de olhos ao armazém. Até logo, xerife.
Bremer viu Alvin afastar-se rapidamente e não pôde evitar um sorriso.
O nome de Buck Morrow bastava para afastar os curiosos. Buck era um perigoso pistoleiro e somente regressava a Sparkville para matar o homem que o prendera.
Bremer perdera muitas faculdades durante os dez anos que Buck permanecera encarcerado. Até mesmo a vista já não era tão boa, e quanto à sua rapidez com os revólveres não tinha ilusões.
Buck era um pistoleiro profissional e mais ainda: um assassino frio e sem sentimentos. Sentiria verdadeiro prazer em disparar contra o xerife.
«Quando um homem se toma velho tudo são dificuldades», disse Bremer de si para si.
Quinze anos atrás, quando Sparkville não passava de um pequeno grupo de casas erguidas caprichosamente, chegara ali ele. Bom atirador, dispunha de merecida fama como representante da Lei... mas os anos tinham passado e cada um deles pesava-lhe agora sobre os ombros.
O xerife deitou fora o cigarro meio consumido e durante uns instantes esteve a observar o fumo que se erguia para o céu.
Depois desviou a vista e fixou-a no poeirento caminho que conduzia a Denver, e a nuvem de pó que descobriu deu-lhe a conhecer que a diligência estava a chegar.
Alguns homens foram aparecendo, mas nenhum se aproximou de Bremer. Todos sabiam que esperava Buck e não queriam estar perto quando as balas varressem a rua.
A diligência, puxada por seis mulas, entrou na povoação no meio de um barulho ensurdecedor. Gritos do cocheiro, matraquear de rodas e estrépito de cascos.
Rangendo com fragor, deteve-se diante dos escritórios da «Wells Fargo».
No mesmo instante em que parava, Alfred Bremer descobriu Craig Larsen.
Este encontrava-se encostado ao outro poste e tinha as mãos metidas nas algibeiras das calças. Vestia completamente de cinzento, exceto o chapéu, que era preto... e não trazia armas.
Não podia usá-las. Era um perigoso pistoleiro que fora perseguido pelos xerifes de diversos condados. Quando o Colorado passara a fazer parte da União, em 1876, o governador do novo estado indultara-o, mas com a condição de não usar armas... e Craig Larsen cumpria a palavra dada. Fora indultado havia quatro meses e ninguém o vira empunhar um «Colt».
«Deve ter vindo ver matarem-me», pensou Bremer, e durante uns segundos ficou a pensar nas pesadas ironias do destino.
Ali estava Craig Larsen, um dos melhores pistoleiros do Oeste, sem armas... e ali estava ele, armado, mas sem rapidez para sacar.
«Poderíamos trocar...», continuou a pensar, e a ideia deu-lhe vontade de rir.
O primeiro a descer da diligência foi o cocheiro, que imediatamente abriu a porta para que os passageiros descessem.
Apeou-se uma mulher de certa idade, depois um empregado da «Wells Fargo», um técnico da Companhia Mineira e o último foi Buck Morrow.
Era um homem de trinta e quatro anos, de compleição robusta e rosto frio e repulsivo. Possuía feições corretas, mas prejudicadas pelos olhos, cruéis, de assassino sem entranhas.
Um profundo silêncio reinou diante dos escritórios da Companhia «Wells Fargo»... o silêncio que se guarda num enterro.
O primeiro a quebrá-lo foi o próprio Buck. Aproximou-se do xerife, que ainda continuava encostado ao poste, parou diante dele e disse:
— Olá, Bremer. Estivemos muito tempo sem nos vermos.
Tinha voz rouca e sem tonalidades agradáveis. As suas mãos encontravam-se muito perto dos coldres dos dois «Colts». Todo o seu aspeto era ameaçador, mas Bremer pareceu ignorá-lo quando respondeu:
— Sim, mas não o suficiente.
— Que queres dar a entender com essas palavras?
— Muito simples, Buck: que precisarias de estar outros dez anos na cadeia para aprenderes a ser uma pessoa decente.
O pistoleiro sorriu sinistramente ao replicar:
— Mas ficaste com os desejos, Bremer. Estou aqui e não me irei embora enquanto não realizar um pequeno trabalho.
— Não posso correr contigo da povoação, pelo menos por ora. Mas assim que cometeres um delito dentro da minha jurisdição, fica certo de que o farei.
— Não o farás, Bremer. És muito velho e falta-te a coragem.
— Não experimentes, Buck. Nós, os velhos, temos um grande defeito. Como já não esperamos muito da vida, estamos prontos a jogá-la numa só cartada.
— Bater no xerife é crime? — perguntou ironicamente Buck.
— Ë.
— Nesse caso, já podes prender-me — replicou o pistoleiro, batendo no rosto de Bremer com o punho fechado.
A pancada foi suficiente para que o xerife caísse de bruços no solo.
Pôs-se em pé devagar, ao mesmo tempo que dizia:
— Buck, estás preso até que o juiz Zachary te julgue.
O pistoleiro começou a rir estrepitosamente e as suas mãos sacaram os dois «Colts», que disparou acto contínuo contra o xerife.
Este recebeu o primeiro projétil no ombro esquerdo, o segundo no peito e o terceiro no ventre.
De novo foi ao solo e o seu corpo estremeceu devido às balas que continuavam a atingi-lo.
Quando Buck se cansou de disparar virou-se para os presentes, empunhando os «Colts» fumegantes e com o desejo de continuar a matar refletido claramente nos olhos frios:
— Alguém tem alguma coisa a dizer?
Ninguém respondeu e a maioria dos homens pousaram os olhos na ponta das botas. Buck era perigoso... e um assassino.
Somente o desarmado Craig Larsen se moveu. Devagar, afastou-se do poste a que estava encostado e inclinou-se sobre o corpo do xerife Bremer.
Este ficara estendido de cabeça para cima e as suas roupas estavam completamente empapadas do sangue que lhe brotava das feridas.
Procurou sorrir ao ver Larsen a seu lado, e embora um véu começasse a toldar-lhe os olhos, reconheceu o único homem que se atrevera a aproximar-se do corpo de um moribundo.
— Olá... Craig... Eu sabia... que ia— acontecer... isto.
— Posso fazer alguma coisa por si, xerife? — perguntou Craig, levantando a cabeça de Bremer.
— Não... nada... Os velhos... não deviam lutar... com os novos.
Craig Larsen sentiu que a cabeça do xerife Bremer se tornava rígida e viu-a pender para um lado. O xerife Alfred Bremer estava morto.
Com todo o cuidado, encostou a cabeça grisalha no pó que cobria a rua e, pondo-se em pé, colocou-se diante de Buck, que já metera os revólveres nos coldres, depois de os carregar.
— Eu tenho qualquer coisa a dizer.
Meia hora depois chegaria a diligência procedente de Denver e tudo estaria terminado.
Abriu uma gaveta da secretária e tirou um «Smith & Wesson» de calibre 45.
Sem pressas, como se estivesse a realizar um acto de grande importância, verificou o seu perfeito funcionamento.
Por seis vezes consecutivas deixou cair o percutor sobre o cilindro vazio. Só então extraiu seis projéteis do seu cinturão-cartucheira e começou a carregar a arma.
Meteu-a no coldre e assegurou-se de que saia sem dificuldade. Olhou à sua volta e saiu para a rua.
Fechou a porta à chave e atravessou a rua com passo lento, mas firme e seguro.
A povoação de Sparkville encontrava-se situada junto do rio Arkansas, na margem esquerda e no meio das Montanhas Rochosas.
Os invernos eram muito duros em Sparkville e não existia nem gado nem agricultura. Todas as fontes de receita dos seus habitantes provinham da mineração e das peles.
Uma mina de ouro, uma refinaria de produtos auríferos e outras três minas improdutivas constituíam toda a riqueza mineira da povoação.
Quatrocentos homens trabalhavam na única mina produtiva. Viviam na povoação com as suas famílias e somente desejavam economizar uns dólares para fugirem de Sparkville.
O xerife Bremer entrou num dos dois «saloons» que existiam na terra, aproximou-se do balcão e encostou-se a ele.
— Olá! — disse ao rapaz que limpava os copos.
— Bons dias, xerife. Uísque? — perguntou o jovem.
— Não. Toma a chave do escritório. Se me acontecer alguma coisa, entrega-a ao juiz. Outro ocupará o meu lugar.
— Que lhe pode acontecer? — perguntou o rapaz, olhando fixamente para o xerife.
Este era um homem de mais de cinquenta anos e tanto o seu cabelo como o seu bigode tinham uma cor grisalha. Nos olhos lia-se-lhe enorme cansaço.
— Uma coisa apenas, Roy: matarem-me -- respondeu o xerife com um triste sorriso.
O rapaz pegou na chave que lhe entregava o xerife e uma estranha sensação de angústia se apoderou de si quando o representante da Lei deixou o «saloon».
Alfred Bremer viu as horas no seu velho relógio de bolso e murmurou:
— Ainda falta um quarto de hora...
Levantou a vista para o céu e sorriu ao ver que este se apresentava limpo e que o sol começava a aquecer. Estavam nos princípios da Primavera e a vida começava nas montanhas.
O xerife desceu a rua principal e dirigiu-se diretamente para os escritórios da «Wells Fargo».
Antes de chegar cruzou-se com um numeroso grupo de mineiros e alguns deles cumprimentaram-no amigavelmente.
Bremer correspondeu ao cumprimento e continuou o seu caminho para a paragem das diligências.
Ao chegar encostou-se a um poste e com mão firme começou a enrolar um cigarro.
— Bons dias, xerife. Espera algum amigo?
Bremer fitou o homem que lhe fizera a pergunta. Era Alvin Ruel, o dono do único armazém de Sparkville.
— Olá, Alvin. Sim, estou à espera de um amigo... de um velho amigo.
— Já vendi quase toda a existência e quero fazer uma nova encomenda para Pueblo.
Todas as provisões consumidas na povoação eram compradas na localidade de Pueblo e transportadas em pesados carroções.
Bremer recordava-se de que durante alguns invernos a comida escasseara e todos os habitantes de Sparkville tinham passado fome. Os caminhos, no Inverno, ficavam sempre bloqueados pela neve.
— Mas agora estamos na Primavera — murmurou.
— Disse alguma coisa, xerife? — perguntou Alvin.
— Não, apenas que está um lindo dia.
— Tem razão. Com certeza tem havido poucos como este durante os seus 'quinze anos de xerife, não é verdade?
— Poucos... e como este nenhum.
— Conheço o seu amigo, xerife? — perguntou Alvin, que como bom comerciante que era não podia estar muito tempo calado.
Alfred Bremer desejava estar só e recordar algumas coisas do seu passado. Por isso, respondeu:
— Sim, conhece-o. É Buck Morrow.
A cara de Alvin passou por uma brusca transformação. As suas feições pareceram ficar geladas e o sorriso que se lhe esboçara nos lábios converteu-se numa careta.
— Mas esse homem jurou que assim que saísse da cadeia o mataria! — conseguiu dizer por fim.
— Precisamente por isso estou aqui à espera. Há dez anos que o prendi por ter assaltado o Banco de Sparkville e agora regressa para me matar... e não posso permitir que ande à minha procura todo o dia ou que me espere a uma esquina e dispare contra mim. Não concorda, Alvin?
— Sim... claro... enfim, como a diligência ainda demorará vou dar uma vista de olhos ao armazém. Até logo, xerife.
Bremer viu Alvin afastar-se rapidamente e não pôde evitar um sorriso.
O nome de Buck Morrow bastava para afastar os curiosos. Buck era um perigoso pistoleiro e somente regressava a Sparkville para matar o homem que o prendera.
Bremer perdera muitas faculdades durante os dez anos que Buck permanecera encarcerado. Até mesmo a vista já não era tão boa, e quanto à sua rapidez com os revólveres não tinha ilusões.
Buck era um pistoleiro profissional e mais ainda: um assassino frio e sem sentimentos. Sentiria verdadeiro prazer em disparar contra o xerife.
«Quando um homem se toma velho tudo são dificuldades», disse Bremer de si para si.
Quinze anos atrás, quando Sparkville não passava de um pequeno grupo de casas erguidas caprichosamente, chegara ali ele. Bom atirador, dispunha de merecida fama como representante da Lei... mas os anos tinham passado e cada um deles pesava-lhe agora sobre os ombros.
O xerife deitou fora o cigarro meio consumido e durante uns instantes esteve a observar o fumo que se erguia para o céu.
Depois desviou a vista e fixou-a no poeirento caminho que conduzia a Denver, e a nuvem de pó que descobriu deu-lhe a conhecer que a diligência estava a chegar.
Alguns homens foram aparecendo, mas nenhum se aproximou de Bremer. Todos sabiam que esperava Buck e não queriam estar perto quando as balas varressem a rua.
A diligência, puxada por seis mulas, entrou na povoação no meio de um barulho ensurdecedor. Gritos do cocheiro, matraquear de rodas e estrépito de cascos.
Rangendo com fragor, deteve-se diante dos escritórios da «Wells Fargo».
No mesmo instante em que parava, Alfred Bremer descobriu Craig Larsen.
Este encontrava-se encostado ao outro poste e tinha as mãos metidas nas algibeiras das calças. Vestia completamente de cinzento, exceto o chapéu, que era preto... e não trazia armas.
Não podia usá-las. Era um perigoso pistoleiro que fora perseguido pelos xerifes de diversos condados. Quando o Colorado passara a fazer parte da União, em 1876, o governador do novo estado indultara-o, mas com a condição de não usar armas... e Craig Larsen cumpria a palavra dada. Fora indultado havia quatro meses e ninguém o vira empunhar um «Colt».
«Deve ter vindo ver matarem-me», pensou Bremer, e durante uns segundos ficou a pensar nas pesadas ironias do destino.
Ali estava Craig Larsen, um dos melhores pistoleiros do Oeste, sem armas... e ali estava ele, armado, mas sem rapidez para sacar.
«Poderíamos trocar...», continuou a pensar, e a ideia deu-lhe vontade de rir.
O primeiro a descer da diligência foi o cocheiro, que imediatamente abriu a porta para que os passageiros descessem.
Apeou-se uma mulher de certa idade, depois um empregado da «Wells Fargo», um técnico da Companhia Mineira e o último foi Buck Morrow.
Era um homem de trinta e quatro anos, de compleição robusta e rosto frio e repulsivo. Possuía feições corretas, mas prejudicadas pelos olhos, cruéis, de assassino sem entranhas.
Um profundo silêncio reinou diante dos escritórios da Companhia «Wells Fargo»... o silêncio que se guarda num enterro.
O primeiro a quebrá-lo foi o próprio Buck. Aproximou-se do xerife, que ainda continuava encostado ao poste, parou diante dele e disse:
— Olá, Bremer. Estivemos muito tempo sem nos vermos.
Tinha voz rouca e sem tonalidades agradáveis. As suas mãos encontravam-se muito perto dos coldres dos dois «Colts». Todo o seu aspeto era ameaçador, mas Bremer pareceu ignorá-lo quando respondeu:
— Sim, mas não o suficiente.
— Que queres dar a entender com essas palavras?
— Muito simples, Buck: que precisarias de estar outros dez anos na cadeia para aprenderes a ser uma pessoa decente.
O pistoleiro sorriu sinistramente ao replicar:
— Mas ficaste com os desejos, Bremer. Estou aqui e não me irei embora enquanto não realizar um pequeno trabalho.
— Não posso correr contigo da povoação, pelo menos por ora. Mas assim que cometeres um delito dentro da minha jurisdição, fica certo de que o farei.
— Não o farás, Bremer. És muito velho e falta-te a coragem.
— Não experimentes, Buck. Nós, os velhos, temos um grande defeito. Como já não esperamos muito da vida, estamos prontos a jogá-la numa só cartada.
— Bater no xerife é crime? — perguntou ironicamente Buck.
— Ë.
— Nesse caso, já podes prender-me — replicou o pistoleiro, batendo no rosto de Bremer com o punho fechado.
A pancada foi suficiente para que o xerife caísse de bruços no solo.
Pôs-se em pé devagar, ao mesmo tempo que dizia:
— Buck, estás preso até que o juiz Zachary te julgue.
O pistoleiro começou a rir estrepitosamente e as suas mãos sacaram os dois «Colts», que disparou acto contínuo contra o xerife.
Este recebeu o primeiro projétil no ombro esquerdo, o segundo no peito e o terceiro no ventre.
De novo foi ao solo e o seu corpo estremeceu devido às balas que continuavam a atingi-lo.
Quando Buck se cansou de disparar virou-se para os presentes, empunhando os «Colts» fumegantes e com o desejo de continuar a matar refletido claramente nos olhos frios:
— Alguém tem alguma coisa a dizer?
Ninguém respondeu e a maioria dos homens pousaram os olhos na ponta das botas. Buck era perigoso... e um assassino.
Somente o desarmado Craig Larsen se moveu. Devagar, afastou-se do poste a que estava encostado e inclinou-se sobre o corpo do xerife Bremer.
Este ficara estendido de cabeça para cima e as suas roupas estavam completamente empapadas do sangue que lhe brotava das feridas.
Procurou sorrir ao ver Larsen a seu lado, e embora um véu começasse a toldar-lhe os olhos, reconheceu o único homem que se atrevera a aproximar-se do corpo de um moribundo.
— Olá... Craig... Eu sabia... que ia— acontecer... isto.
— Posso fazer alguma coisa por si, xerife? — perguntou Craig, levantando a cabeça de Bremer.
— Não... nada... Os velhos... não deviam lutar... com os novos.
Craig Larsen sentiu que a cabeça do xerife Bremer se tornava rígida e viu-a pender para um lado. O xerife Alfred Bremer estava morto.
Com todo o cuidado, encostou a cabeça grisalha no pó que cobria a rua e, pondo-se em pé, colocou-se diante de Buck, que já metera os revólveres nos coldres, depois de os carregar.
— Eu tenho qualquer coisa a dizer.
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