Umas após outras, Adam Neumann e Katie Parkington dançaram ininterruptamente uma série de bailados, ante a estupefação e a expectativa das beldades presentes que, ao seu enorme espanto, aliavam a sua pontinha de inveja.
Formavam, sem dúvida, um bonito par.
Um par a princípio tímido e receoso mas que, à medida que o tempo decorria se foi animando e tornando tão íntimo que o diálogo travado entre os dois dava a impressão de que se tratava de pessoas de grande intimidade.
Chegado o intervalo, o homem que tocava a trompete lançou no espaço uma vibrante harmonia que foi entusiasticamente aplaudida e acompanhada em coro pelos assistentes.
— Oh! É a «pinhata» -- exclamou Katie com o maior entusiasmo.
— A «pinhata»? — replicou Neumann. — Que diabo significa isso, Katie?
A jovem apercebeu-se de que, pela primeira vez, o forasteiro a tratava pelo seu nome. Uma alegria luminosa brilhou nos seus olhos.
— Vai já ver, Adam; é um velho costume nosso. Em determinado momento interrompe-se o baile para que as crianças possam tomar parte no jogo da «pinhata» e...
— E que mais ?...
— Bem, a segunda parte diz respeito aos mais crescidos.
-- Os adultos também brincam com a «pinhata»?
— Ah! Não! Os de maior idade não necessitam de quebrar a panela de barro para ir procurar as suas prendas. Todos os homens as trazem consigo nas algibeiras... para as oferecer às damas com quem dançam.
— Compreendo. Um presente...
Katie fez-se muito vermelha.
— Bem, no seu caso... Como o senhor é forasteiro... Não conhece os usos e costumes da terra e, portanto... não está obrigado a coisa alguma, sabe?
Neumann passou a mão pelo queixo, olhou à sua volta e vendo que todos os cavalheiros brindavam as damas com os seus presentes, exclamou:
— E porque não? Eu também trago comigo uma prenda para si, Katie.
— Está a falar a sério?
— O mais sério possível.
O rosto da jovem iluminou-se.
Com a maior seriedade, Neumann tirou do bolso o estojo que continha o bracelete de brilhantes que ganhara na noite anterior na partida de «poker», e estendeu-o à jovem.
— A verdade é que não se trata de um brinde, Katie — disse ele. — Isto... é pertença sua, não é?
Katie Parkington ficou perturbada ao contemplar a joia. Alternadamente, com a maior surpresa, os seus olhos olhavam ora para a refulgente joia, ora para o grave rosto de Neumann.
— É... o bracelete de minha mãe — disse um tanto confusa. — Como é que isto se encontra em seu poder, senhor Neumann?
Neumann reparou que Katie tinha empregado a palavra «senhor» com uma entoação acentuadamente negativa para as suas nascentes relações.
— Foi alguém que a arriscou numa aposta, durante uma partida de «poker», e eu tive a sorte de a ganhar — retorquiu Neumann, evitando pronunciar o nome de John Parkington.
— Uma aposta de «poker»! Quer dizer que John... Não é possível!...
A voz de Katie baixou de tom, ao mesmo tempo que os seus belos olhos se arrasavam de lágrimas.
Foi apenas um instante.
— Foi meu irmão... foi John quem fez a aposta, não foi ? Desceu ao ponto de se utilizar das joias de minha mãe numa coisa tão baixa como um jogo de cartas!
Neumann sentiu-se impressionado pela profunda dor manifestada pela jovem. Era evidente que esse tal John era um irmão indigno...
— Não se aflija, Katie. Pode restituí-la quando quiser. Compreende?
Katie mordeu os lábios. Estava intensamente pálida.
Mas disse com a maior firmeza:
— Bem haja, senhor Neumann. O senhor não pode avaliar o que isto significa para mim.
Adam Neumann sorriu-se.
— Bem, não tem nada que agradecer-me, Katie — disse ele, pegando-lhe ternamente numa das mãos. — O bracelete é seu; e eu ofereço-lhe em troca de...
Da palidez intensa que mostrava, Katie Parkington passou para um vermelho de fogo.
— Pretende impor-me condições, senhor Neumann? — disse a jovem em tom brusco.
— E porque não? Acabo de descobrir que tem o bracelete em tanta estimação que bem posso arriscar-me a pedir-lhe que...
-- Ah! não! Tome, guarde a «sua» jóia — disse a jovem, interrompendo-o com rudeza.
Urna ligeira tremura de angústia sacudiu a encolerizada voz de Katie, quando acrescentou:
— O senhor não passa de um miserável. Um homem sem escrúpulos. Eu... nunca esperei isto de si. Nunca o esperei. Jamais me convenci que viria a receber um semelhante ultraje da sua parte!
Neumann ficou como pregado no solo, olhando estupefacto para a mulher.
Quando lhe foi possível reagir, murmurou desajeitadamente:
-- Mas... estou vendo que me não compreende, Katie! Eu nunca poderia ofendê-la... ainda que o quisesse.
Katie, porém, não o escutava.
Muito direita, muito digna, a jovem afastava-se rapidamente por entre os pares que ocupavam o salão, em direção a um grupo de pessoas entre as quais se encontrava o velho Stefan Parkington, juntamente com o xerife e outros cavalheiros.
Formavam, sem dúvida, um bonito par.
Um par a princípio tímido e receoso mas que, à medida que o tempo decorria se foi animando e tornando tão íntimo que o diálogo travado entre os dois dava a impressão de que se tratava de pessoas de grande intimidade.
Chegado o intervalo, o homem que tocava a trompete lançou no espaço uma vibrante harmonia que foi entusiasticamente aplaudida e acompanhada em coro pelos assistentes.
— Oh! É a «pinhata» -- exclamou Katie com o maior entusiasmo.
— A «pinhata»? — replicou Neumann. — Que diabo significa isso, Katie?
A jovem apercebeu-se de que, pela primeira vez, o forasteiro a tratava pelo seu nome. Uma alegria luminosa brilhou nos seus olhos.
— Vai já ver, Adam; é um velho costume nosso. Em determinado momento interrompe-se o baile para que as crianças possam tomar parte no jogo da «pinhata» e...
— E que mais ?...
— Bem, a segunda parte diz respeito aos mais crescidos.
-- Os adultos também brincam com a «pinhata»?
— Ah! Não! Os de maior idade não necessitam de quebrar a panela de barro para ir procurar as suas prendas. Todos os homens as trazem consigo nas algibeiras... para as oferecer às damas com quem dançam.
— Compreendo. Um presente...
Katie fez-se muito vermelha.
— Bem, no seu caso... Como o senhor é forasteiro... Não conhece os usos e costumes da terra e, portanto... não está obrigado a coisa alguma, sabe?
Neumann passou a mão pelo queixo, olhou à sua volta e vendo que todos os cavalheiros brindavam as damas com os seus presentes, exclamou:
— E porque não? Eu também trago comigo uma prenda para si, Katie.
— Está a falar a sério?
— O mais sério possível.
O rosto da jovem iluminou-se.
Com a maior seriedade, Neumann tirou do bolso o estojo que continha o bracelete de brilhantes que ganhara na noite anterior na partida de «poker», e estendeu-o à jovem.
— A verdade é que não se trata de um brinde, Katie — disse ele. — Isto... é pertença sua, não é?
Katie Parkington ficou perturbada ao contemplar a joia. Alternadamente, com a maior surpresa, os seus olhos olhavam ora para a refulgente joia, ora para o grave rosto de Neumann.
— É... o bracelete de minha mãe — disse um tanto confusa. — Como é que isto se encontra em seu poder, senhor Neumann?
Neumann reparou que Katie tinha empregado a palavra «senhor» com uma entoação acentuadamente negativa para as suas nascentes relações.
— Foi alguém que a arriscou numa aposta, durante uma partida de «poker», e eu tive a sorte de a ganhar — retorquiu Neumann, evitando pronunciar o nome de John Parkington.
— Uma aposta de «poker»! Quer dizer que John... Não é possível!...
A voz de Katie baixou de tom, ao mesmo tempo que os seus belos olhos se arrasavam de lágrimas.
Foi apenas um instante.
— Foi meu irmão... foi John quem fez a aposta, não foi ? Desceu ao ponto de se utilizar das joias de minha mãe numa coisa tão baixa como um jogo de cartas!
Neumann sentiu-se impressionado pela profunda dor manifestada pela jovem. Era evidente que esse tal John era um irmão indigno...
— Não se aflija, Katie. Pode restituí-la quando quiser. Compreende?
Katie mordeu os lábios. Estava intensamente pálida.
Mas disse com a maior firmeza:
— Bem haja, senhor Neumann. O senhor não pode avaliar o que isto significa para mim.
Adam Neumann sorriu-se.
— Bem, não tem nada que agradecer-me, Katie — disse ele, pegando-lhe ternamente numa das mãos. — O bracelete é seu; e eu ofereço-lhe em troca de...
Da palidez intensa que mostrava, Katie Parkington passou para um vermelho de fogo.
— Pretende impor-me condições, senhor Neumann? — disse a jovem em tom brusco.
— E porque não? Acabo de descobrir que tem o bracelete em tanta estimação que bem posso arriscar-me a pedir-lhe que...
-- Ah! não! Tome, guarde a «sua» jóia — disse a jovem, interrompendo-o com rudeza.
Urna ligeira tremura de angústia sacudiu a encolerizada voz de Katie, quando acrescentou:
— O senhor não passa de um miserável. Um homem sem escrúpulos. Eu... nunca esperei isto de si. Nunca o esperei. Jamais me convenci que viria a receber um semelhante ultraje da sua parte!
Neumann ficou como pregado no solo, olhando estupefacto para a mulher.
Quando lhe foi possível reagir, murmurou desajeitadamente:
-- Mas... estou vendo que me não compreende, Katie! Eu nunca poderia ofendê-la... ainda que o quisesse.
Katie, porém, não o escutava.
Muito direita, muito digna, a jovem afastava-se rapidamente por entre os pares que ocupavam o salão, em direção a um grupo de pessoas entre as quais se encontrava o velho Stefan Parkington, juntamente com o xerife e outros cavalheiros.
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