quarta-feira, 23 de março de 2016

PAS603. 100 chicotadas num homem

A lua cheia estendia os seus raios prateados pela paisagem, iluminando-a de uma ténue luz azulada, permitindo ver os objetos situados a certa distância.
Harry Melou apeou-se do cavalo, atou-o ao tronco de uma árvore e decidiu fazer o resto do caminho a pé.
A sua corpulenta estatura foi absorvida pelas sombras do arvoredo próximo do rancho «Quatro Barras».
Avançou com infinitas precauções até se encontrar em frente do enorme edifício. Estendeu-se no solo e começou a arrastar-se lentamente.
A escuridão que a rodeava era tão completa que nem deu conta de ter passado' sobre uru monte de folhas secas que estalaram sob o peso do seu corpo.
Subitamente, algo caiu sobre ele: era um homem oculto entre as ramadas duma árvore.
Começou um feroz combate. Harry para se livrar de quem cavalgava às suas costas, e o outro procurando dominá-lo.
A voz do seu inimigo atraiu imediatamente os outros homens postados nas imediações. Harry não esperava aquela surpresa e poucos minutos depois sucumbia ante a força numérica.
Com as mãos atadas, levaram-no à presença de Celeste. Encontrava-se esta na casa de jantar, prodigalizando carinhosas frases à tia Nora, que, como sempre, chorava desconsoladamente a desaparição do cunhado e a trágica morte do sobrinho.
— Caçámos Harry Aldon, patroa! — disse um vaqueiro, aparecendo de súbito.
Celeste pôs-se de pé. O rosto iluminou-se de satânica alegria, não dando crédito aos seus ouvidos.
— Onde está o criminoso?
Imediatamente lho apresentaram. Tinha no rosto vários hematomas em consequência dos golpes que lhe tinham prodigalizado e um fio de sangue deslizava-lhe pela comissura dos lábios.
— Finalmente! — disse satisfeita. — Estás na minha frente. Durante todos estes dias tenho pensado aplicar-te tantos tormentos que neste momento não me ocorre nenhum. Dêem-lhe cem chicotadas!
Os dois jovens fixaram-se frente a frente.
Os olhos da jovem estavam carregados de ódio enquanto os de Harry, sob as suas pálpebras inchadas, pareciam recordar com doce nostalgia os dias não distantes em que tinham jurado amor eterno.
— Ganhaste, Celeste.
— Miserável!
— Se esperas que com o castigo eu confesse u crime que não cometi, perderás o tempo. Tão-pouco os meus lábios proferirão urna queixa.
— Quando tiveres o corpo ferido pelas chicotadas, ordenarei que to esfreguem com sal e vinagre.
— Servirá para as desinfetar. Não sei como agradecer-te.
— E amanhã morrerás degolado, aos pés da sepultura de meu irmão.
— Sempre foste generosa, Celeste. Repeti-to muitas vezes. Mais vale morrer assim do que enforcado.
— Ainda brincas?
— Que posso fazer com uma estúpida como tu?
Os homens que sujeitavam Harry arrastaram-no para o exterior a fim de começar o castigo,
— Quietos! — gritou. — Os criminosos são cobardes e este reagirá como os outros. Não quero que de noite me molestem os seus gritos e lamúrias, embora ele diga o contrário.
— Não temas, Celeste, deixar-te-ei dormir tranquila. Vamos, rapazes; tenho frio e necessito de que me aqueçam o corpo.
— Fechem-no na cave! Amanhã dedicar-nos-emos a ensaiar na sua carne várias espécies de tormentos. Veremos se não terminará pedindo clemência. Tu, Morgan, coloca uma sentinela à vista, de arma aperrada. Ao menor ruído que ouça, dispare sem compaixão.
— De acordo, patroa — respondeu o capataz.
— Depois de lhe termos arrancado a existência, entregar-lhes-ei os quinze mil dólares, para os repartirdes, mas tem de ficar para amanhã.
Tiraram-no aos sacões do refeitório. Minutos depois estava encerrado na cave.
— Agora poderás levantar o espírito, tia Nora. Ternos em nosso poder o assassino de Monty.
— Sim, filha, sim. Para morrer tranquila só me falta conhecer a sorte do teu desgraçado pai.

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