sábado, 12 de março de 2016

PAS598. Convite para dançar

Irresistivelmente atraído pelo buliçoso ambiente, Neumann esqueceu-se, por momentos, do assunto que ali levara e sentindo um frémito de entusiasmo percorre -lhe todo o corpo, e que os seus pés começavam a pular-lhe para a dança, procurou com os olhos uma moça galante para seu par.
Katie Parkington.
Era de presumir que ela estivesse na festa. Encontrava-se ali toda a gente. Nem um único habitante de Valongo ou dos arredores faltaria a uma festa da Câmara,
Katie!
Descobriu-a finalmente rindo num grupo de lindas raparigas, entre as quais a sua deslumbrante beleza sobressaia de forma extraordinária.
Katie Parkington também já o lobrigara a ele.
Para melhor dizer, desde que o forasteiro dera entrada no baile, Katie nem por um momento o perdera de vista. Apesar disso, quando se apercebeu de que Neumann a tinha descoberto e se dirigia ao seu encontro, fez de contas que o não tinha visto e procurou fazer-se desentendida...
Ao chegar junto do grupo das raparigas, Neumann descobriu-se, sorrindo timidamente.
— Muito boas noites — disse ele com um delicado acento de cortesia. — Como passa de saúde a menina Parkington?
Katie voltou-se, entre curiosa e surpreendida.
 — Como vê...
Adam Neumann sentiu-se parvo; estupidamente parvo.
Os olhos de todas as raparigas presentes estavam travados nele e os de Katie Parkington brilhavam com requintada malícia.
— Passo bem, senhor... como disse que é o seu nome ?
A pergunta tornou-o ainda mais nervoso do que já se encontrava.
Por fim, conseguiu dizer:
– Neumann. Adam Neumann.
 — Muito bem, senhor Neumann. Que o trouxe por aqui ?
— Bem... vim... vim apenas pedir desculpas pelo meu procedimento de ontem.
O trabalho que teve para dizer aquilo sem que a língua lie lhe entaramelasse... Só ele é que o sabia.
Katie sorriu-se. Sorriu-se com aquele riso feiticeiro que unicamente as mulheres bonitas sabem dirigir aos homens de quem gostam.
— Não era necessário. Não me apresentou as suas desculpas, ontem mesmo?
— Bem. Pensei... que estivesse ainda aborrecida comigo.
— Aborrecida! Porquê? Não foi o senhor, depois disso, tão amável?
Neumann não respondeu. Limitou-se a olhar imbecil-mente para a jovem como se não a tivesse diante de si.
Katie trocou um olhar com as suas amigas, algumas das quais se riram discretamente.
— Bem sei que fui muito rude e violento mas não me foi possível evitá-lo — sussurrou Neumann, como se estivesse falando consigo mesmo. — Fi-la cair, e...
Katie aproximou-se ainda mais do forasteiro e audaciosamente, colocou-lhe uma das suas delicadas mãos sobre um braço.
— Oiça, senhor Neumann: não será melhor que o senhor se esqueça de tudo isso e trate de se divertir? Não gosta do baile ?
Estava tão próxima dele que se sentiu embriagado com o perfume que dela se evolava.
— Como... como diz?...
— Estava convencida que tinha vindo aqui para se divertir, ou estarei enganada?
Neumann amaldiçoava-se mil vezes pelo seu acanhamento. Era verdadeiramente espantoso o que os olhos de uma mulher bonita podiam fazer a um homem. Ele que nunca vacilara diante de nada... nem diante de ninguém...
Mordeu os lábios. Se ao menos lhe fosse possível dizer «adeus» e escapulir-se para longe daquela endiabradamente lindíssima mulher!...
Não. Não queria ir-se embora. Na verdade estava ansioso para a convidar a dançar; por senti-la entre os seus braços... nem que fosse apenas um instante e dizer--lhe que...
Os seus olhos encontraram-se.
Katie deixou de sorrir. O olhar do forasteiro tornara-se repentinamente firme, sereno e perturbadoramente varonil. Percorreu toda a sua silhueta com os olhos ávidos desde o gracioso chapelinho até à extremidade dos elegantes sapatinhos, de um modo que fez estremecer e bater descompassadamente o pequenino coração da jovem.
— Pelo que vejo, também veio divertir-se, não é verdade, menina Katie?
Katie teve um instante de hesitação.
— Pois vim... Porque pergunta isso?
— É seu hábito andar acompanhada de um grupo de amigas com intriguinhas e bisbilhotices?
— Insolente!!
— Não seria preferível que se entretivessem apenas a dançar e a tornar a festa mais alegre, com esse belo palminho de cara que Deus lhes deu?
Katie olhou para Neumann com infinita surpresa.
— Afinal o senhor é tão grosseiro como qualquer pacóvio da província!
Neumann sorriu-se.
— Que outra coisa esperava de mim?
— Esperava simplesmente que fosse... um homem!
— Perdão! Um momento! Se não se tratasse de quem se trata, acredite que viria a lamentar ter dito o que disse. Como se trata de uma mulher... e, sobretudo, de uma mulher bonita, farei de contas que não ouvi nada...
Amedrontada perante o olhar daquele homem, Katie recuou, refugiando-se entre as suas amigas que, por sua vez, não estavam a achar a conversa divertida. Sentiam-se verdadeiramente desconcertadas pela súbita transformação operada naquele forasteiro que, em escassos segundos, pareceu agigantar-se de forma inverosímil.
Katie, entretanto, tratou de recuperar a serenidade.
— Oiça: se está convencido de que tem muita graça...
Neumann voltou a sorrir-se.
— Não olhe para mim dessa maneira. A única coisa que eu pretendo é que venha dançar comigo.
Katie purpureou-se.
— Como? Quer que eu...
— Sim.
Tentou recuar um passo mas Neumann deteve-a por um braço.
— Não vai dizer-me que não, não é verdade?...
— Mas...
— É verdade que vai dançar comigo, não é ? — disse aquelas palavras de uma forma tão estranha e ao mesmo tempo tão persuasiva...
Levantou rapidamente o braço livre, enlaçou-a pela cintura e atraiu-a a si, cravando os seus olhos ardentes nos olhos dela.
— Vamos?...
Todas as mulheres têm um limite de resistência.
Katie... era mulher.
— S…i…m..
 

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