sábado, 15 de abril de 2023

CLT026.10 A fuga do bandido é o fracasso da missão

Blackfield fugiu, deixando que cada um se arranjasse como pudesse. Os «pistoleiros» estavam tão excitados que nem notaram a sua ausência. Pouco tempo depois julgaram que lhe tinha acontecido qualquer coisa.

Os «pistoleiros» não estavam a sair-se muito bem da peleja, pois a mortífera pontaria de Sam não lhes permitia grandes movimentações, e não vendo o seu chefe, optaram pela retirada, regressando de novo ao saloon, onde se encontraram perante a mais inesperada cena.

Norman Wright, sozinho, mantinha em respeito um bom número de gun-man, os quais não se atreviam a mover-se. Aqueles que se tinham atrevido a fazê-lo estavam por terra mortos ou feridos.

— Há algum médico por aqui?

Ninguém respondeu. Os «pistoleiros» que tinham entrado naquele momento passaram a notícia aos seus companheiros sobre o desaparecimento de Jules Blackfield. Foi mais um motivo de desanimação. Norman enfundou o revólver que empunhava na mão esquerda.

—Tu, criado! Traz urna garrafa de whisky! É para Laura Smiles. Blackfield mentiu, foi ele quem disparou contra ela. Quem está morto é Pat Owner e o seu camarada Ernie Skill e esse outro que chamam Rufus Blood atirei-o pela janela fora.

Elevou-se um clamor que indicava pasmo, admiração e medo. Não tardou em aparecer o cabo Sam ao lado de Norman. Trazia os dois revólveres nas mãos e prontos a disparar.

—Cuidado com o que fazem! —gritou Norman Wright. — Estamos autorizados a enforcar aqueles que o merecerem! Somos federais!

Sam olhou para Norman Wright e compreendeu. Sim, o melhor naquelas circunstâncias era falar claro. Já não tinham motivo para guardar a sua incógnita. A revelação de Norman causou grande sensação entre os «pistoleiros».

O criado que já trazia a garrafa de whisky na mão, correu para ele com rápida diligência. Os foragidos sabendo que Pat Owner, Ernie Skill e Rufus estavam fora de combate e ignorando o paradeiro de Jules Blackfield, tinham enfundado os seus revólveres e começavam a debandar.

Norman e Sam Pine voltaram para junto de Laura Smiles.

—Só podemos curá-la com whisky, menina—disse o veterano

— Obrigada..., Norman — esforçou-se para sorrir.

— Bebe um pouco, Laura...

— Sim, far-me-á bem...

— Tenho uma ideia. O melhor é que venhas connosco — propôs Norman.

— Para onde?

—Para o rancho Davis. Estou certo de que te acolherão bem.

O cabo Sam olhou para Norman de forma interrogativa.

—Trata-se de um amigo... — disse Norman.

—É muito longe...

— Não te preocupes, Laura, se for preciso sou capaz de roubar uma carruagem.

Um triste sorriso entreabriu os pálidos lábios de Laura Smiles.

—Vamos, eu levo-te em braços —disse Norman.

E juntando a ação às palavras, pegou nela como se fosse uma pena, apesar de ela ser bastante pesada. Desceram. O cabo empunhava os revólveres. Atravessaram o saloon, no meio de um impressionante silêncio. Já perto da porta, Norman dirigiu--se aos presentes:

—Com certeza que algum de vocês tem um carro lá fora. Peço-lhe que mo empreste.

Um homem alto, de cabelo cinzento, de idade já avançada destacou-se do grupo

— Sou o rancheiro Omow — olhou com simpatia para Norman Wright. —Venham comigo à minha casa, é perto daqui. Há muito tempo que estava fazendo falta um homem como você cá na cidade.

— Poderás aguentar, Laura?

—Farei o possível...

— Na minha casa trataremos de si, Laura. Você disse que precisava de um carro, não é assim, Wright?

— Exatamente. Tenho de levar Laura daqui, pois Blackfield é capaz de querer matá-la. Quero deixá-la num lugar seguro. Eu voltarei... E vocês seus bandidos — disse Norman dirigindo-se a um grupo de «pistoleiros» que pareciam cães encurralados — digam a Jules Blackfield que voltarei hoje mesmo ao cair da noite e que onde o encontrar mato-o!

A voz vibrante de Norman era impressionante. A ferida de Laura era grave, mas não tanto como em princípio se tinha temido. Ainda que com dificuldade, chegaram à casa de Omow. A mulher recebeu-os muito bem. Entretanto atrelaram a carruagem. Não tardaram em subir para ela Laura Smiles, Sam Pine e Norman Wright, sendo este quem conduzia.

— Podes suportar os balanços, Laura?

—Sim... menos mal... Creio que não é desta que morro... — disse sorrindo docemente.

Norman voltou-se para o cabo Sam Pine.

—Amigo — disse-lhe —, ainda não te pude abraçar. Quando ouvi a tua voz julguei que tinha sido uma ilusão dos meus sentidos! A tua intervenção foi providencial. Sem ela aqueles assassinos teriam conseguido o seu intento.

Um amplo sorriso iluminou o semblante de Sam Pine.

— Sempre me deixei guiar pelo coração, rapaz. Já tinha caminhado bastante quando me decidi... Já a trazia fisgada há muito. Já sei que vou ouvir uma tremenda reprimenda do capitão Sunsets, mas que diabo! Depois de tudo, acertei... não é verdade

— Foram os anjos que te inspiraram, cabo... Se não apareces tão depressa...

—Diz isso ao capitão, quando me chamar para me atirar com o regulamento à cara, estás a ouvir? Tenho absoluta confiança em ti, mas não fiquei tranquilo. Por isso vim. Não consegui dominar a minha inquietação. Parecia que tinha um formigueiro dentro de mim. No saloon vi-te subir. Esperei um momento para não levantar suspeitas. Já lá em cima, ouvi o barulho e não tardei em intervir. Foi urna grande sorte.

A carruagem avançava, puxada por um robusto garanhão, bem conduzida por Norman. Em continuação, o jovem, em breves palavras, narrou a Sam Pine toda a sua odisseia. Sam, silencioso, ouvia-o muito interessado. Norman expressava-se com modéstia, mas mesmo assim, o cabo compreendeu a sua fabulosa atuação.

— Bravo, rapaz! — exclamou entusiasmado.

Laura Smiles sentiu-se entusiasmada e emocionada ao saber exatamente a verdade referente a Norman. Não deixou de notar o tom que o jovem empregava ao referir-se a Jane Davis. Uma tristeza resignada tinha-se apoderado dela. Não podia revoltar-se contra o seu destino. Norman seria uma recordação agradável na sua vida. Nada mais.

—Imagina, Sam, a impressão que tive ao ver o cavalo branco, reconhecido imediatamente pelo rancheiro Davis como pertencendo a Bernard Holly. O pobre animal veio morrer a casa, cansado, ferido... O primeiro enigma que me tinha surgido ao chegar a Riverside estava resolvido. Olhei demoradamente para Blackfield, e ainda que o seu rosto não refletisse as suas emoções, eu lia nele como num livro aberto, porque estava certo da sua culpabilidade. Mais tarde contei udo ao rancheiro Davis.

—Com certeza que a sua surpresa não teve limites.

—Com efeito assim foi. Mas a sua dor foi ainda maior: Davis e Holly eram dois velhos e grandes amigos.

Norman e Sam não paravam de falar, tinham muitas coisas que dizer; mas nem por isso Norman reduziu a marcha. Tinha pressa em chegar e deixar Laura bem instalada e poder regressar a Riverside. Era necessário procurar Jules Blackfield. Este era astuto e tinha-se esfumado, para preparar um novo plano de ataque no qual pudesse levar vantagem. Não havia portanto tempo a perder.

Quando o rancheiro Patrick Davis e sua filha viram Norman, não puderam disfarçar os seus sentimentos. Tinham sofrido muito; além do duro golpe que representava para eles a morte de Holly temiam pela sorte de Norman Wright. O jovem teve de explicar os últimos acontecimentos, procurando ser conciso. Apresentou Sam Pine e Laura Smiles.

— Aqui estará em segurança, Laura — disse-lhe o rancheiro. Nada podia negar a Norman. — Bem-vindo a esta casal — estreitou cordialmente a mão que Sam lhe estendia.

Jane foi tratar do alojamento de Laura. Julgava que Norman estava apaixonado por ela e sentiu uma dor no coração, pois com a espontaneidade da juventude amava o jovem federal.

Laura agradecia todas as atenções de que estava a ser alvo e principalmente por parte da bela Jane, mas não podia evitar que aquela afortunada jovem conseguiria o amor de Norman. Sem terem descansado, Norman e Sam dispunham-se a regressar a Riverside.

—Oiçam—tentou dissuadir o rancheiro. — Não haverá outro caminho que o da violência? Esperem até amanhã. Talvez encontremos uma solução...

— O mal tem de ser cortado pela raiz — replicou Norman.

—O nosso dever é procurar Blackfield e apoderarmo-nos dele vivo ou morto. Agradecemos o seu interesse, por nós, senhor Davis — disse o cabo Sam com a sua habitual cordialidade.

— Em todo o caso só me resta desejar-lhes sorte e espero que regressem logo que tenham terminado a vossa missão, para a qual me ofereço tanto eu como os meus rapazes.

— Obrigado — agradeceu Norman —, mas o seu lugar é aqui. Quanto aos seus vaqueiros, não queremos ser responsáveis da sua morte. Sentiria que por nossa culpa algum desses jovens morresse. Até à vista! Estou certo de que venceremos...

Momentos depois partiam em direção de Riverside. Norman Wright e o cabo Sam, montados nos seus cavalos em desenfreado galope, pareciam dois ciclones ou melhor dois centauros alados.

Apesar disso os dois ginetes conservavam toda a sua calma, pretendendo chegar o mais depressa possível a Riverside. Tinham de cumprir uma missão inadiável. Seria uma luta de morte. Jules Blackfield era a meta...

Norman Wright desejava encontrar-se com ele cara a cara! Tinham acontecido tantas coisas em tão poucas horas! O medo não tinha lugar no coração do jovem, mas a incerteza torturava-o. Não estava só. Laura Smiles, Jane, o rancheiro Davis, Sam... Temiam por ele, se lhe acontecesse alguma coisa.

Os dois federais entraram na casa de Blackfield, no seu rancho, percorreram todas as tabernas, mas não deram com ele.

—Maldito cobarde! — mastigou Norman, indignado.

Estava impaciente e não podia dominar os seus nervos. O cabo Sam mordeu os lábios e os seus olhinhos expressaram contrariedade e nervosismo.

— Blackfield é astuto como um demónio! —disse. — Ninguém sabe o que ele será capaz de fazer num caso como este. Tanto pode ter fugido, como pode estar a preparar-nos uma armadilha ou sair-nos ao passo disparando o seu «Colt».

— Que havemos de fazer, Sam?

—Esperar…

— O pessoal de Blackfield parece desorientado, indeciso...

—As pessoas honradas confiam em nós, mas têm medo.

Voltaram ao Ranger's. À porta do saloon estava aglomerada grande multidão.

— Está por aqui Jules Blackfield? — perguntou Norman, com autoridade, engatilhando o seu revólver.

A resposta foi um prolongado silêncio. Os homens que ali se encontravam reconheceram os dois federais. Todos negaram com as cabeças. Nada sabiam de Blackfield.

Um vaqueiro adiantou-se. Era um rapaz jovem e parecia decidido:

— Você tinha razão. Jules Blackfield é um bicho mau, e vendo as coisas feias desapareceu. Pelo menos é o que comentam os seus homens. Os seus melhores «pistoleiros» estão mortos e ele teve medo.

Norman Wright olhou para Sam.

— Estou desolado, Sam...

— Compreendo, rapaz. O pássaro voou como tantas outras vezes.

—Sim, será muito duro voltar a Hot Meadows e enfrentar o capitão Sunsets.

—A mim, desta vez, fuzila-me...

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