Os gritos pedindo auxílio sucediam-se e não demorou que Norman conhecesse o seu motivo. O que viu foi um impressionante urso cinzento e à sua direita, sobre um tronco de uma nogueira, uma jovem com os olhos dilatados pelo terror.
O urso, com os seus pesados movimentos, não tardaria em atacar a sua vítima.
Ao fundo, um cavalo relinchava aterrorizado. Norman ficou espantado e ainda não tinha tido tempo de reagir quando o urso, mais ágil daquilo que podia pensar, decidiu atacar a sua presa.
Norman disparou duas vezes consecutivas e as duas balas foram direitas aos olhos da fera, que caiu aparatosamente, sem vida.
Norman correu em direção da rapariga, que estava muito pálida e prestes a desmaiar. Efetivamente, Norman recebeu-a nos braços. Tinha os olhos fechados e respirava com dificuldade.
Não sabia o que fazer para a reanimar; por fim decidiu levá-la para o ribeiro, o que fez com rapidez. Desastradamente, borrifou-lhe a cara com água. A jovem começou a reanimar.
Norman deitou-a, colocando o seu casaco a servir de almofada. Um tom rosado começou a estender-se pelas pálidas faces da jovem, a sua respiração tornou-se mais regular. O federal respirou mais tranquilo.
— Menina! Menina!
Esperou preocupado pela resposta, a jovem esforçava-se por falar. Tinha aberto os olhos.
—Foi... terrível... — disse por fim.
— Já nada tem a recear. Matei o feroz urso.
—Se não... fosse... o senhor... a estas horas... estaria... morta.
— Sente-se melhor?
A rapariga tentou sorrir, os seus lábios começaram a tomar cor e abriu mais os olhos, que eram límpidos como o céu.
— Sim... Obrigada...
—Dentro de momentos estará em condições de voltar para sua casa. Mas... o que fazia por estes sítios? É estranho que não traga armas.
— Depois lhe explicarei — disse. — Agora, vou pedir-lhe um favor...
— Farei com gosto o que me mandar.
— Oh! — exclamou a jovem.
Acabava de ver o aspeto de Norman, com o peito a descoberto e uma marca de sangue no ombro esquerdo.
— Sangue!
—Sim... Fui ferido... Mas faça o favor de dizer o que desejava...
— O meu cavalo. Fugiu assustado. Não queria que se perdesse...
— Está bem. — Norman levantou-se para ir buscar o cavalo.
O inteligente animal vinha caminhando lentamente, pressentindo que o perigo tinha passado.
Norman levou-o para junto da jovem. A alegria brilhou nos olhos da rapariga.
— Não esquecerei isto enquanto for viva.
— Estou satisfeito por ver que já pode falar depressa.
— Sim, realmente sinto-me muito melhor. Vi tão perto a morte! Que horror! Faço hoje vinte anos!
— Muitos parabéns... — Meu nome é Jane.
— Muito bonito.
— Jane Davis.
— Eu chamo-me Norman Wright — acrescentou passados breves segundos.
—É o meu salvador.
— Peço-lhe que não dê muita importância a isso. Qualquer pessoa teria feito a mesma coisa... — disse Norman com sincera modéstia.
— Não se esqueça que está ferido.
— Um simples arranhão...
—Deixe ver... Permita que lhe ponha a ligadura... Não parece coisa séria, é superficial.
Momentos depois caminhavam ambos juntos ao lado de suas montadas.
—Chegou o momento -de nos despedirmos—disse Norman, com tristeza.
— Porque não me acompanha a casa? Meu pai gostará de o conhecer.
—É que eu…
— Insisto — sorriu Jane de forma encantadora. — Não se esqueça que posso tornar a encontrar outro urso...
— Não posso negar-me... Direi com a máxima franqueza que tinha pena de a deixar.
Quando os viu chegar, o pai de Jane estranhou. Quem seria aquele desconhecido que acompanhava a sua filha? Esta não demorou a explicar ao pai tudo quanto havia sucedido. A medida que Jane ia falando, o rancheiro não deixava de olhar com crescente admiração e afeto para Norman.
— Oh! Amigo! — exclamou, estendendo a mão. —Nunca poderei agradecer tudo o que fez pela Jane!
Wright apertou com força a mão amiga do rancheiro.
—O importante foi eu estar presente no momento oportuno.
— Foi realmente providencial, pai. Se não fosse Norman, o urso tinha-me despedaçado.
— Depois de ter morto o urso — disse o rapaz—aceitei satisfeito o meu destino, bom ou mau, que me levou até lá.
— Ele está ferido, pai...
— Ferido?
—Sim, mas não é nada... fui perseguido por três «pistoleiros», e um tiro atingiu-me de raspão...
—Como se livrou deles? Matando dois e ferindo o outro, que fugiu. Queriam vingar-se de mim, julgo eu. Ontem à noite, dois bandidos provocaram-me no saloon e eu venci-os. Devem fazer parte do mesmo bando.
O rancheiro olhou para Norman com expressão sincera.
— Ouvi falar da luta de ontem à noite, a um dos meus vaqueiros. Você é Norman Wright, não é certo?
— Sim, senhor.
— Olhe, rapaz: eu chamo-me Patrick Davis e esta é a minha casa. Vou dizer-lhe uma coisa. Se está atrapalhado, fique. A minha filha é tudo para mim, não é preciso dizer mais nada... Embora por aí digam que você é um gun-man, eu considero-o um excelente rapaz.
— Obrigado, senhor Davis, pela sua confiança. Gostaria que acreditasse em mim, não sou um gun-man.
— Acredito. Os «pistoleiros» não o largarão, até matá-lo.
— Não se vá embora, Norman — parecia suplicar o olhar de Jane.
— Preciso voltar à cidade.
O rancheiro olhou para Norman com atenção.
—Você sabe melhor do que nós o que deve fazer, rapaz. Mas gostaria que nos acompanhasse hoje, pelo menos. A verdade é que salvou a vida da minha filha, e hoje, precisamente, Jane faz vinte anos. Não quererá celebrá-los connosco?
Norman respondeu:
— O seu convite honra-me muito, senhor Davis, e aceito. Irei à cidade mais tarde.
— Muito bem! — disse o rancheiro esfregando as mãos de satisfeito. — Hoje será um dia de felicidade, não achas Jane?
— Estou muito contente. Norman parece um velho amigo da casa.
— Bem merece, filha... Gostaria de tomar um whisky, Norman?
O sorriso do jovem era de satisfação, apesar dos muitos problemas que tinha e que nem mesmo naquele momento fugiam da sua cabeça.
—Sim, obrigado. Far-me-á bem.
—Entremos. Para mais temos de ver como vai essa ferida.
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