sábado, 23 de março de 2019

COL024.15 Fogo em Virgínia City

McPherson s
orriu, ao mesmo tempo que enchia um copo de whisky.
—É preferível ir preparado. Ninguém sabe quando vêm. Embora não acredite que demorem muito. Os outros dois empregados que tinham ficado junto do jovem também encheram os seus copos. Apenas Palmer permanecia imóvel, encostado no mostrador.
—Eu também acredito que venham cedo. Dentro duns instantes estarão aí. Fico-lhes muito grato pela vossa ajuda, mas deviam ter-se ido embora quando ainda estavam a tempo.
McPherson sorriu.
—Não te ponhas sentimental.
Lentamente passavam os minutos. E aguardavam que chegasse o momento do ataque, que para eles ia ser o último dia da sua existência.
Entretanto, na cantina, Baldwin viu como se reuniam com ele os guarda-costas que enviou para criar a agitação da cidade. Apresentaram-se sorrindo e satisfeitos, mas faltava um.
— Onde é que esse está?
— Ainda não chegou.
Naquele instante abriu-se a porta para dar passagem a Darnell, que sorria triunfalmente.


— Bem, quando começamos? Tenho várias contas que ajustar com Leroy. Há pouco matou um dos meus homens que veio à cidade divertir-se.
— Quantos te acompanham agora? — perguntou Baldwin.
— Doze. Um morreu as mãos de Leroy, quatro foram-se embora porque julgaram ter bastante com aquela prata reunida, e outro caiu num novo assalto. Mas vencê-lo-emos.
—E facilmente — respondeu Baldwin. — Vamos embora.
Os dezanove assassinos saíram à rua e encaminharam-se para o «Saloon Leroy». De repente Darnell perguntou:
—E se fugiu?
— Melhor. Assim pouparemos trabalho.
—Eu quero eliminá-lo. Quero derrubá-lo e tirar-lhe a vida — afirmou Darnell. — Não me basta que ele fuja.
Baldwin sorriu. Uma vez que fosse o dono da cidade, deveria libertar-se de Darnell. Não seria muito difícil. Avançavam para o saloon, cujas luzes continuavam acesas, em sinal de desafio. Deveriam lutar para vencê-lo, mas não acreditava Baldwin que pudesse ter reunido muitos voluntários.
—Vamos—animou Darnell. —Há que apanhá-lo vivo.
No interior do local, um dos empregados que estava de guarda avisou: —Já vêm aí.
Palmer e os outros correram para as janelas para se defender. Viam avançar ao longo da rua aqueles dezanove homens que iam dispostos a matá-los.
Leroy advertiu:
—Não disparem até eu dar ordem.
—Espera. Ainda sou sheriff—disse McPherson. E depois gritou: — Que procura por aqui?
—Procuramos Palmer Leroy. Vamos julgá-lo.
— Eu sou o sheriff e mando que se afastem.
— Destituo-te, McPherson —replicou Baldwin. —Entrega a estrela.
McPherson disparou em direção onde se ouvia a voz e gritou:
— Vem buscá-la. Um dos homens que marchava junto de Baldwin dobrou-se sobe si mesmo, soltando um grito. O mineiro soltou um palavrão em voz baixa e então Darnell propôs:
—Entretenham-nos aqui, e eu irei pelas traseiras. Conheço a casa e podemos assaltá-la. Será fácil enforcar McPherson, mas Leroy deve ser para mim.
Baldwin assentiu.
— De acordo. Podes fazê-lo.
Darnell chamou seis dos seus homens e afastou-se através das sombras. Os outros avançaram, bem protegidos e escondidos disparando sobre as janelas do edifício.
Palmer, imóvel, manteve ao alto o revólver. De repente disparou por duas vezes. Ao longe uns gritos de dor advertiram-no que tinha acertado. 

*

O guarda-costas de Baldwin esgrimiu o «Colt», apontando-o a Belinda, mas nesse momento sentiu uma coisa fria que se espetava nas suas costas. Proferiu um grito e deixou cair a arma, enquanto o mineiro sorria, apartando a faca com a qual o tinha ferido.
— Ainda está vivo, capitão—disse. — Queria matar a rapariga.
O assassino viu-se rodeado e compreendeu que aquela última tentativa tinha sido o seu maior erro.
— Não, não me matem. Direi tudo. É verdade o que a rapariga dizia. Devem estar já a assaltar o saloon de Leroy.
Overman retorceu o bigode e dirigiu-se para Belinda.
—As minhas desculpas, menina. Tinha razão. Vamos, rapazes. Temos de impedir esse crime. Que alguém vigie esse assassino. Dois mineiros apresaram o bandido, obrigando-o a sentar-se. Os outros encaminharam-se para a rua, puxando pelas suas armas. 

*

Palmer apontou outra vez, com precaução. Um disparo deixou-se ouvir na noite e outro homem caiu.
— Muito bem —gritou McPherson.
Baldwin começou a largar palavrões em voz baixa. Não havia maneira de vencê-lo e, porém, Leroy estava derrubando muitos dos seus homens. McPherson e os seus dois auxiliares, todos atiradores temíveis embora não tão perigosos como Leroy, tinham poupado as vidas dos bandidos.
Se Darnell não atacasse cedo pelas costas, ia encontrar-se numa posição muito difícil. Felizmente, Palmer ignorava com quantos homens contava Baldwin.
No andar superior, Darnell e os seus seis assassinos avançavam com precaução, depois de já ter forçado uma janela. Em breve chegariam à escada que dava acesso ao saloon e abririam fogo sobre as costas dos defensores. Darnell humedeceu os lábios ao pensar que aquele local voltaria a ser seu.
O tiroteio continuava violento e fechado. Os defensores nem reparavam que em breve lhe iam cair pelas costas os seus inimigos, e o triunfo destes parecia simples.  No exterior, Baldwin animava os seus:
—Disparem sobre as janelas. É preciso acabar duma vez com eles.
De repente ouviram um barulho nas suas costas. O mineiro virou-se surpreendido.
— Que há?
— Rende-te, Baldwin — gritou a voz do capitão Overman. — Vimos à tua procura. Um dos teus homens confessou tudo.
Os guarda-costas do mineiro repararam quão numerosa era a multidão dos que sobre eles avançava e fugiram nesse instante, perseguidos pelos disparos dos amigos de Overman e dos defensores do saloon.
Ao longo da rua caíram a maior parte deles atingidos pelos projéteis enquanto tentavam fugir. Baldwin viu-se rodeado de várias pessoas que lhe apontavam os seus revólveres. Viu Belinda junto de Overman e compreendeu que estava perdido.
—Ê a noiva de Palmer— disse. —Essa cadela enganou-me...
Overman fechou-lhe a boca com uma bofetada.
—No Sul não insultamos as mulheres.
Belinda gritou então:
—Palmer, viemos ajudar-te. Já não há perigo.
Naquele instante um dos homens de Darnell fez fogo, derrubando um dos empregados do saloon. McPherson e Leroy voltaram-se surpreendidos, e este último reparou numa sombra no alto da escada. Sem apontar, premiu o gatilho. Ouviu-se um grito, e um dos adversários caiu pela escada.
—Belinda —gritou então o jovem. —, rodeiem a casa e que não permitam sair ninguém.
—De acordo, Leroy —respondeu Overman.
Os cinco homens que acompanhavam Darnell olharam-se com espanto.
—Apanham-nos aqui— disse um deles. —Temos de fugir.
Darnell advertiu: — A nossa única oportunidade é precisamente ficarmos e capturá-lo. Assim podemos sair livres.
Palmer ordenou aos que estavam em baixo:
—Protejam-me. Vou procurar esses bandidos.
Enquanto McPherson e o seu acompanhante começaram a disparar, o jovem dirigiu-se a correr para a escada. Ouviram-se dois ou três gritos mais, e outros assassinos caíram ao chão atingidos pelos disparos do sheriff. Palmer estacou junto da escada e olhou para cima. Pôde divisar uma cabeça que espreitava com cuidado. Disparou novamente, e outro homem caiu escorregando pelos degraus da escada.
Então o jovem pulou pela escada acima, mantendo ao alto o seu revólver. Os seus adversários vê-lo-iam avançar, mas era preciso que se descobrissem para disparar sobre ele. Viu outra figura que assomava apontando-lhe, e o jovem disparou. O seu inimigo caiu sem ter podido fazer uso da pistola.
Estava já a metade do caminho da escada, e naquele momento Darnell ergueu-se, cego de ira e furioso.
—Até que enfim — disse. — Por fim tenho-te perante mim. Não recuperarei o saloon, mas, pelo menos, não há-de ser teu.
Palmer riu.
—Ainda não venceste.
Os dois levantaram o revólver ao mesmo tempo e os dois premiram o gatilho. Mas Leroy adiantou-se um décimo de segundo. A bala atingiu Brett no peito, que tropeçou e caiu para trás. Leroy continuou até que o seu inimigo, que estremecia a cada disparo, caiu sem vida sobre os degraus da escada. Depois desceu lentamente. Da rua chegou Belinda a toda a pressa, seguida pelo capitão Overman e outros homens. A rapariga estreitou nos seus braços o jovem.
— Desculpa-me pelo que te disse, meu amor. És tal e qual como eu sonhava.
Palmer apertou-a com paixão.
—  A ti devo-te a vida.
—Um dia salvaste a minha. Agora devolvo-te o favor. Podemos olhar um para o outro de igual para igual.
De repente ouviu-se uma gritaria na rua e Palmer perguntou:
—Que há?
—Estão a enforcar Baldwin —explicou Overman, —Confessou a verdade e também que Darnell assaltou as minas. — Sorriu, continuando: —Enforcaram-no na presença do nosso juiz e do nosso sheriff. Agora falta-nos reorganizar o Conselho Municipal. Fá-lo-emos amanhã.
Belinda sorriu.
— Palmer, defendendo a justiça conseguiste aquilo que te propunhas.
Ele concordou.
—E tu ensinaste-me a defendê-la.


FIM


Sem comentários:

Enviar um comentário