Baldwin entrou no escritório do jovem, sorrindo e estendendo-lhe a mão.
—Meu amigo, estimo muito vê-lo de novo por aqui. Claro que o senhor nunca abandona as suas obrigações.
—E preciso esforçar-me para continuar para a frente.
—Por esse motivo o aprecio tanto, Leroy. Sei que quando começa alguma coisa não a abandona com facilidade.
Palmer indicou-lhe uma cadeira, e quando o outro se sentou, perguntou:
— A que devo a sua visita, Baldwin? Não julgue que não folgo muito em vê-lo, mas o senhor é também um homem prático e não perde o tempo.
Kain concordou.
— Vim vê-lo para tratar do assunto que lhe falei no outro dia. Já pensou naquilo?
—Sim —respondeu Palmer. E relembrando aquilo que tinha acontecido no dia anterior, continuou: — E acho que devemos organizar o Conselho Municipal. Parece-me que nos apoiarão.
Kain sorriu satisfeito.
— Com certeza — continuou como se não lhe desse importância —, Brett Darnell encontra-se nas proximidades da cidade.
Pretendia com isto advertir o seu interlocutor de que lhe convinha muito mais colocar-se do seu lado, visto que tinha um inimigo nos arredores. Porém, guardou para melhor ocasião referir-lhe a revelação que o outro lhe tinha feito do passado de Leroy.
—Já o sabia — respondeu Palmer —, e acho também que reuniu um pequeno grupo.
Kain olhou-o surpreendido. Não imaginava que estivesse inteirado daquilo, visto que a atitude serena do seu interlocutor nada lhe fizera entender que sabia uma coisa daquelas.
— Bem — continuou o mineiro; —já chegou aos meus ouvidos o que fez o senhor com aquele forasteiro. Só por isso acho que o apoiarão. E já deve ter verificado que há bastantes bandidos para aí.
— Sim, acho que o senhor tem razão. Ê preciso que consigamos impor a lei e a ordem.
— O senhor mesmo poderia ser o sheriff.
—Não, visto que me interessa continuar com o saloon. Não o acho oportuno. Porém McPherson pode desempenhar o lugar perfeitamente.
— Como queira. Mas tenho outra ideia que talvez lhe convenha mais. Acho — continuou a dizer que em Virgínia City nos faz falta um Banco. E o senhor podia ser o presidente ideal.
Palmer, acostumado na mesa do jogo a não manifestar as suas emoções, não se alterou. — Isso dependerá dos acionistas —, disse.
—Não; é o senhor quem nos convém. E acho que seria conveniente que aceitasse também o lugar de Juiz. Eu limitar-me-ei a ser secretário se lhe parece bem e os outros estão de acordo.
— Primeiro — disse o jovem —, devemos saber quanta gente nos apoia. Depois, escolheremos os representantes. Fale o senhor com os mineiros e venha com os mais destacados. Eu farei o mesmo com os habitantes da cidade.
Logo que esteve só, Palmer pensou na proposta de Baldwin. Se tudo se desenvolvia como tinha projetado, não havia a menor dúvida de que representava um passo extraordinário na sua vida. Seria qualquer coisa mais relevante do que proprietário de saloon. Transformar-se-ia em juiz, o lugar mais importante da fronteira e também do diretor dum Banco, a personalidade mais destacada nos Condados com certo cunho de civilização.
Seria qualquer coisa que podia oferecer a Belinda, uma coisa diferente daquilo que ela conhecia. Com os tempos, talvez dentro duns dois anos, em Carson City poderiam receber as personalidades estaduais.
Pôs-se em pé, surpreendido perante as suas próprias ideias fantásticas. Ninguém o poderia ter adivinhado no dia em que saiu de Nova Orleãs para sempre. E, a continuar assim, poderia regressar àquela cidade, transformado noutra classe de homem. Chegaria a reunir uma fortuna, sentindo em seu redor o respeito e a admiração de todos.
*
Belinda olhava para a tia Agatha que por sua vez também a fitava fixamente.
—Bem, tia. O que é que há?
—Isso gostaria eu de saber. Que é que a ti te acontece? Vejo-te mais contente e mais satisfeita do que nunca.
Belinda começou a rir.
—Sim, tia; sou feliz como nunca tinha sido. Nunca me senti tão ditosa e radiante como agora.
A outra mulher examinou-a da cabeça aos pés e depois quis saber:
— Com certeza que Palmer Leroy está metido nisso.
Belinda correu a abraçar a sua tia e exclamou:
— Sim, tia; ama-me. Ama-me muito.
Agatha olhou-a preocupada e depois murmurou:
—Meu amigo, estimo muito vê-lo de novo por aqui. Claro que o senhor nunca abandona as suas obrigações.
—E preciso esforçar-me para continuar para a frente.
—Por esse motivo o aprecio tanto, Leroy. Sei que quando começa alguma coisa não a abandona com facilidade.
Palmer indicou-lhe uma cadeira, e quando o outro se sentou, perguntou:
— A que devo a sua visita, Baldwin? Não julgue que não folgo muito em vê-lo, mas o senhor é também um homem prático e não perde o tempo.
Kain concordou.
— Vim vê-lo para tratar do assunto que lhe falei no outro dia. Já pensou naquilo?
—Sim —respondeu Palmer. E relembrando aquilo que tinha acontecido no dia anterior, continuou: — E acho que devemos organizar o Conselho Municipal. Parece-me que nos apoiarão.
Kain sorriu satisfeito.
— Com certeza — continuou como se não lhe desse importância —, Brett Darnell encontra-se nas proximidades da cidade.
Pretendia com isto advertir o seu interlocutor de que lhe convinha muito mais colocar-se do seu lado, visto que tinha um inimigo nos arredores. Porém, guardou para melhor ocasião referir-lhe a revelação que o outro lhe tinha feito do passado de Leroy.
—Já o sabia — respondeu Palmer —, e acho também que reuniu um pequeno grupo.
Kain olhou-o surpreendido. Não imaginava que estivesse inteirado daquilo, visto que a atitude serena do seu interlocutor nada lhe fizera entender que sabia uma coisa daquelas.
— Bem — continuou o mineiro; —já chegou aos meus ouvidos o que fez o senhor com aquele forasteiro. Só por isso acho que o apoiarão. E já deve ter verificado que há bastantes bandidos para aí.
— Sim, acho que o senhor tem razão. Ê preciso que consigamos impor a lei e a ordem.
— O senhor mesmo poderia ser o sheriff.
—Não, visto que me interessa continuar com o saloon. Não o acho oportuno. Porém McPherson pode desempenhar o lugar perfeitamente.
— Como queira. Mas tenho outra ideia que talvez lhe convenha mais. Acho — continuou a dizer que em Virgínia City nos faz falta um Banco. E o senhor podia ser o presidente ideal.
Palmer, acostumado na mesa do jogo a não manifestar as suas emoções, não se alterou. — Isso dependerá dos acionistas —, disse.
—Não; é o senhor quem nos convém. E acho que seria conveniente que aceitasse também o lugar de Juiz. Eu limitar-me-ei a ser secretário se lhe parece bem e os outros estão de acordo.
— Primeiro — disse o jovem —, devemos saber quanta gente nos apoia. Depois, escolheremos os representantes. Fale o senhor com os mineiros e venha com os mais destacados. Eu farei o mesmo com os habitantes da cidade.
Logo que esteve só, Palmer pensou na proposta de Baldwin. Se tudo se desenvolvia como tinha projetado, não havia a menor dúvida de que representava um passo extraordinário na sua vida. Seria qualquer coisa mais relevante do que proprietário de saloon. Transformar-se-ia em juiz, o lugar mais importante da fronteira e também do diretor dum Banco, a personalidade mais destacada nos Condados com certo cunho de civilização.
Seria qualquer coisa que podia oferecer a Belinda, uma coisa diferente daquilo que ela conhecia. Com os tempos, talvez dentro duns dois anos, em Carson City poderiam receber as personalidades estaduais.
Pôs-se em pé, surpreendido perante as suas próprias ideias fantásticas. Ninguém o poderia ter adivinhado no dia em que saiu de Nova Orleãs para sempre. E, a continuar assim, poderia regressar àquela cidade, transformado noutra classe de homem. Chegaria a reunir uma fortuna, sentindo em seu redor o respeito e a admiração de todos.
*
Belinda olhava para a tia Agatha que por sua vez também a fitava fixamente.
—Bem, tia. O que é que há?
—Isso gostaria eu de saber. Que é que a ti te acontece? Vejo-te mais contente e mais satisfeita do que nunca.
Belinda começou a rir.
—Sim, tia; sou feliz como nunca tinha sido. Nunca me senti tão ditosa e radiante como agora.
A outra mulher examinou-a da cabeça aos pés e depois quis saber:
— Com certeza que Palmer Leroy está metido nisso.
Belinda correu a abraçar a sua tia e exclamou:
— Sim, tia; ama-me. Ama-me muito.
Agatha olhou-a preocupada e depois murmurou:
—Enfim; esperemos que seja verdade.
*
Os delegados que iam fazer parte do conselho da cidade tinham-se reunido numa das salas do saloon de Leroy. Este, McPherson e Baldwin ocupavam os lugares de maior importância.
— Bem, amigos — disse Baldwin—, acho que é importante a reunião deste conselho, visto que é o único que pode impor a lei e a ordem no território.
Todos concordaram e o mineiro continuou:
— Antes de mais nada, temos de eleger um secretário, que se encarregue de dirimir estas questões. Depois um juiz, um sheriff e os vogais.
Como todos concordaram, o mineiro propôs: —Bem; visto isto eu proponho para o lugar de sheriff o nosso amigo McPherson, aqui presente.
Houve um murmúrio aprovativo, embora de repente se pusesse em pé um homem alto e magro, que falava com sotaque do Sul. Tinha sido capitão da Divisão de Stuart.
—Nada tenho contra McPherson, que é um homem leal e sincero, mas acho que quem melhor poderia representar esse lugar seria Palmer Leroy.
— Overman — respondeu Baldwin —; tê-lo-ia proposto se não tivesse já previsto o lugar de juiz de Virgínia City para Palmer Leroy.
Overman sorriu.
—Nesse caso, estou de acordo.
Baldwin respirou aliviado. Sabiam todos que Overman, ao qual os seus amigos ainda chamavam capitão, tinha uma grande personalidade e uma grande influência na população. Um dos mineiros que ali tinha acudido, expôs então:
— Eu proponho Baldwin como secretário do Conselho.
Ninguém se opôs, e o recém-nomeado secretário pôs-se em pé para tomar juramento com os outros dois dignatários. Quando tinha concluído, entregou uma estrela a McPherson e disse-lhe:
— Boa sorte, sheriff. —Fez uma pausa e continuou: — Agora quero propor-lhes a criação dum banco mineiro, que terá o fim de conservar o nosso dinheiro e realizar empréstimos àqueles que precisem. Começaremos com o nosso dinheiro, naturalmente, que o Banco fará circular. Para dirigi-lo, eu proponho mais urna vez o nosso amigo, o juiz Palmer Leroy.
*
Belinda sorriu ao vê-lo.
— Bons dias, Excelentíssimo Juiz.
O jovem sorriu por sua vez, estendendo-lhe as mãos.
—E isso não é tudo, Belinda. Constituiu-se um Banco e vou ser o presidente.
A rapariga sentou-se nos seus joelhos e passou-lhe os braços pelo pescoço, ao tempo que o beijava na face.
—Palmer, estou tão satisfeita. Sinto-me muito orgulhosa de ti.
—Confio que a fronteira perdoar-me-á por ter-lhe arrebatado uma grande artista. Porém quando nos casarmos, deixarás os tablados para sempre. Não é justo que a esposa de um juiz se encarregue de divertir os mineiros.
A rapariga sorriu emocionada.
— Quando nos casaremos, Palmer?
Ia a responder o jovem, quando bateram à porta e Belinda pôs-se de pé num momento. Baldwin entrou então, sorridente e exuberante como de costume.
—Senhor Juiz, cumprimento-o. Como vai o presidente do nosso Banco?
Leroy sorriu, estendendo-lhe a mão. Então, para explicar a presença de Belinda ali, explicou: —Vamo-nos casar muito cedo e abandonará a sua profissão.
O mineiro felicitou-os e ficou um instante silencioso. Era o momento oportuno para continuar com os seus propósitos. E até podia ajudá-lo a presença da rapariga, que não desejaria expor-se a perder a posição que Leroy estava prestes a atingir.
— Meu amigo — começou a dizer — tenho em projeto uma disposição que desejaria que o senhor estudasse comigo. Considero-a interessante para a cidade.
Belinda fez um aceno como para se ir embora, mas o mineiro pediu:
—Não, por favor; fique. Como futura esposa de Leroy, os senhores não devem ter segredos. — Fez uma pausa e depois explicou: — Um dos inconvenientes das zonas mineiras é que um grande número de indesejáveis consegue dar um bom golpe e depois espalham a confusão pela cidade. A nós interessam-nos homens que levantem empresas sérias e eficazes. Por essa causa, proponho que não se permita a ninguém registar jazigos a menos que possa fazer um depósito de quinhentos dólares. Aquele que o fizer será homem honrado e trabalhador, que procurará que o jazigo não se perca.
Palmer arqueou as sobrancelhas surpreendido.
— Porém, quinhentos dólares são uma respeitável quantia, Baldwin. Haverá muitos que não conseguirão depositá-la. Os mineiros têm pouco dinheiro.
Kain sorriu satisfeito.
—Magnífico. Então aquele que encontrar um bom jazigo terá de procurar um sócio que lhe empreste o dinheiro ou vendê-lo a quem possua essa quantia.
Leroy olhou-o fixamente.
—E assim o senhor poderá ficar com tudo.
—O mesmo que você. Podem vir oferecer-lho como juiz ou como presidente do Banco.
Leroy refutou o plano.
— Não conte comigo. Isso significaria a ruína dos pobres prospetores. Oponho-me a essa disposição.
Baldwin contemplou-o por sua vez friamente.
— Convém-lhe mais não o fazer, Leroy. Até agora sempre fui seu amigo, mas como inimigo não sou recomendável.
— Se pretende assustar-me, aconselho-o a que se vá embora. Entre McPherson e eu poderíamos eliminar facilmente os dois guarda-costas que o acompanham.
Baldwin sorriu.
—Não; isso seria muito simples. Se o senhor não faz aquilo que lhe peço, revelaria a verdade sobre você. Contarei que o senhor foi chefe duma guerrilha durante a guerra. Veremos o que opinam então os outros quando saibam que o seu juiz é nada menos que «Blackie» Leroy, o guerrilheiro. — Fez uma pausa e continuou: — Esperarei dez minutos na cantina de Morrand. Se não vem antes, contarei a verdade e apresentá-lo-ei como reclamado pela justiça. Se concordar, nada mais falaremos deste assunto e ajudá-lo-ei a acabar com Darnell. Adeus.
«Prospector»: aquele que procura minas, aventureiro e nómada.
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