Palmer e o seu amigo saíam do hotel. Dispunham-se a enfrentar-se com a cidade, no caso que estivesse enfurecida pelo sucedido, ou a estudar as suas possibilidades no caso de que estivesse esquecida.
Avançaram em silêncio pela rua principal de Virgínia City, contemplando as luzes dos saloons e ouvindo a música que deles saía. Unia bizarra multidão misturava-se com os dois amigos, que olhavam à direita e à esquerda para se assegurarem de que não iam receber uma bala à traição.
Encontravam-se ali mexicanos, chilenos, chineses, índios, alemães gigantescos, italianos de rosto expressivo, espanhóis morenos, ingleses fleumáticos, irlandeses violentos, texanos frios e perigosos, yankees rudes, sudistas orgulhosos, e toda a gama de homens que acudiam àquela comarca à chamada do ouro e da prata.
De repente, McPherson tocou-lhe no ombro.
— Ninguém repara em nós. Isto parece-me um bom sinal.
— Espera um pouco. Ainda não repararam que nós tínhamos saído à rua. Talvez mais adiante se mude a situação.
Continuaram a andar. Como se o jovem o tivesse surpreendido, notaram que a gente, conforme os iam reconhecendo, afastava-se com cautela e admiração para permitir-lhes a passagem.
Lee Barrett, entretanto, encontrava-se oculto numa esquina. Seco, mal-encarado, espiava os dois amigos, decidido a acabar com eles. Mas não desejava expor-se. Já tinha visto que Palmer Leroy era um homem muito perigoso para ser desafiado de frente. Por outra parte, tão pouco desejava que o linchassem. Entrou na taberna mais próxima e falou a três de seus amigos.
— Há dinheiro para todos — disse. — O único que precisamos é de decisão
.
Os três concordaram.
—Então é para já.
Palmer continuava à frente, junto com McPherson, em direção ao saloon «Hanrahan's». Tinha uma ideia a propósito da maneira como poderia tornar-se dono da população, mas resultava difícil e não acreditava que o momento tivesse chegado.
De repente, um disparo arrebatou-lhe o chapéu. A multidão revolveu-se assustada, correndo de um lado para outro para evitar que aqueles misteriosos agressores pudessem causar dano aos que nada tinham a ver com aquela luta.
Palmer puxou o «Colt» e enfrentou-se com os seus adversários ao tempo que McPherson fazia o mesmo, olhando para o outro lado.
Naquele instante, um pistoleiro escondido detrás dum poste que sustinha o pórtico duma casa tentou fazer fogo. McPherson disparou adiantando-se, e derrubou-o. Palmer reparou que ante si tinha vários inimigos que tinham escolhido posições estratégicas para agredi-lo. Devia, portanto, resguardar-se se não queria que a cilada tivesse sucesso.
Levantou o revólver, e disparando em forma de leque para proteger-se, correu para o outro extremo da rua enquanto gritava:
— Cobre-te, Mac.
O outro imitou-o, ocultando-se detrás de outro poste. Momentaneamente tinham-se salvo, mas faltava ver os atacantes, que sem nenhum género de dúvida pretendiam matá-los.
Viu de repente outro homem que desde o outro passeio apontava para McPherson, no momento em que o seu amigo não reparava. Fez fogo rapidamente. O pistoleiro caiu morto. Ignorava quantos adversários ficavam em pé, mas estava disposto a acabar com aqueles que fossem. Outra vez McPherson disparou, derrubando um adversário.
— Estamos quites, Palmer.
Leroy sorriu. Era preciso acabar. O inimigo parecia ter perdido o ânimo inicial e não se advertiam nem sombras nem movimentos suspeitos, mas estava seguro que alguém mais estava emboscado.
Levantou o revólver esperando o momento propício, e de repente viu uma sombra que fugia, a correr, aproveitando-se da escuridão. Palmer saltou atrás dele, convencido que era o único dos atacantes que ficara com vida. McPherson recolheu o chapéu do jovem e seguiu-o, assegurando-se que não havia mais ninguém pelas costas deles.
Leroy viu que a figura do fugitivo entrava no saloon de Hanrahan's, como que buscando proteção. Se aquilo significava o que estava a imaginar, não havia menor dúvida de que tinha chegado o momento decisivo para pôr em prática os seus planos.
Quando entrou no saloon, os clientes já se estavam a afastar de modo que o perseguido ficou sozinho, revólver na mão, com o semblante contraído pelo terror.
— Darnell! Darnell! — gritou. — Ajuda-me!
Palmer deteve-se contemplando-o. Os dois tinham o revólver na mão e os dois sabiam que não havia apelação possível. Levantaram o «Colt» ao mesmo tempo e ressoaram vários disparos. Lee Barrett, pois era ele, tropeçou, como se tivesse sido golpeado por um punho de ferro, e caiu morto no chão. McPherson entrou naquele momento, entregando o chapéu ao seu amigo.
—Parece que não havia mais inimigos pelas redondezas! — explicou.
Palmer depositou o revólver no coldre e procurou com o olhar o proprietário do local. Este, algo inquieto e bastante furioso por aquilo que acontecera, preparou-se para a luta.
— Desejaria saber uma coisa — disse Leroy — porque é que o chamava esse homem?
Brett largou um palavrão e encolheu os ombros.
— Nada sei de tudo isso. Barrett veio para cá porque... porque... porque quis — juntou triunfalmente.
— Acho que terei de acreditar nas suas palavras —disse Palmer.
Darnell deu um grito.
— Ninguém se atreveu a duvidar nunca daquilo que eu digo.
— Bem, farei o mesmo que os outros — continuou Palmer reparando que levava uma grande vantagem, sobre o outro ao ter adivinhado as suas intenções. — Porém desafio-o para uma partida de cartas.
Darnell olhou-o com surpresa.
—Uma partida de cartas?
— Sim. Será que tem medo ou vai negar-se? No outro dia exigiram-mo, porque tinha ganho, que desse a desforra. Hoje venho oferecê-la a si que é o dono.
Todos os que se encontravam ali tinham escutado esta conversa com muito interesse. Não havia a menor dúvida de que aquele encontro ia ser sensacional e que qualquer coisa ia surgir daquela partida. Ninguém falava e todos continham até o alento para não perder uma só palavra. Darnell grunhiu.
—Está bem. Aceito. Ainda não nasceu quem se possa rir de mim.
Seguidos da maior parte dos clientes da casa e dos empregados, encaminharam-se para a mesa do jogo. McPherson sorriu, enquanto se colocava junto do seu amigo, de modo que pudesse defendê-lo em caso de perigo. Advertiu McPherson que a maior parte do público se mostrava mais excitada do que é normal e que falavam entre si. Liza, que estava a seu lado, murmurou:
—Quase todos desejam que ganhe o teu amigo. Odeiam Darnell.
Brett sentou-se e pediu um baralho novo. Palmer aceitou-o sem protestos e repartiram-se as cartas. Leroy puxou dinheiro do bolso e colocou-o sobre a mesa.
— São quinhentos.
Brett fez o mesmo. Em continuação, Palmer mostrou o seu jogo. Tinha ganho.
A partida continuava apesar de terem já passado várias horas. Ninguém dos que se encontravam ali se mexia, embora fosse já muito tarde. Damell tinha despido a levita e afrouxado a gravata, e secava o suor que lhe escorria pela fronte. Estava nervoso e inquieto. Palmer, porém, parecia tão sereno como no princípio. Mantinha o seu comportamento e o seu ar tranquilo.
— Vai tudo — disse empurrando o dinheiro para o centro da mesa.
Brett ordenou:
—Traz todo o dinheiro que haja na casa.
Um dos criados obedeceu imediatamente e colocou as notas e as moedas junto do capital de Leroy. Este estendeu as suas cartas sobre a mesa. Era um poker de ases. Brett não tinha mais do que um trio. Houve um murmúrio de espanto em redor de-deles, e Darnell, furioso e derrotado, apoiou os seus grandes punhos sobre o tapete verde. Durante toda a noite Palmer tinha estado a jogar com habilidade, permitindo que o outro ganhasse de quando em quando, embora, com uma grande superioridade no poker, dominando a situação. Tinha arruinado o seu adversário.
— Darnell —disse-lhe ao fim: —estou disposto a dar-lhe a desforra. Todo o dinheiro que tenho à frente contra este saloon.
Brett deu um salto na cadeira.
— Contra o saloon?
— Sim, é uma boa aposta. Está disposto a aceitá-la?
O outro concordou.
— De acordo.
—Bem; mas não será mais ao poker. Apostaremos na carta alta. Quem ganhar, fica com tudo, dinheiro e saloon.
Darnell recusou.
—Não; é demasiado arriscado.
Palmer, que tinha aprendido a conhecê-lo a fundo, sorriu.
—Tem medo?
— Leroy — advertiu Brett furioso; —não torne nunca a pronunciar essas palavras.
—Então, demonstre-o aceitando. Um bom jogador nunca se acobarda.
Darnell duvidou uns instantes. Todos compreenderam muito bem aquilo que sentia. No caso de perder, seria um vagabundo, um homem sem nenhuma posição. No caso de ganhar, recuperaria tudo aquilo que era seu, e aquele triunfo venceria a aversão que por ele sentiam todos.
—Bem; aceito.
Palmer sorriu de novo.
—Isto honra-o, Darnell. Você demonstra com isso ter qualquer coisa a que na fronteira damos muito valor: espírito de jogador.
Inclinou-se sobre a mesa e baralhou com consciência. A seguir disse:
— O senhor primeiro.
O proprietário do local estendeu a mão até colocá-la sobe as cartas, mas não se atreveu a tomar nenhuma. Sua a e sentia-se inquieto.
Todos sabiam o que se passava então pelo seu ânimo. Os inumeráveis esforços duma vida agitada estavam sobre tapete, e se continuava a sorte do seu adversário tudo poderia perder.
Tomou também as cartas e baralhou-as com cuidado. Depois, voltou a deixá-las sobre a mesa. Transpirava copiosamente e as veias do seu pescoço inchavam-se, e
pareciam prestes a explodir.
— Vamos — disse Palmer —, tome uma carta.
Mas o outro negou.
— Comece o senhor.
Leroy encolheu os ombros e estendeu uma mão até puxar uma carta que depositou sobre a mesa, destapada. Era o sete de ouros. Então, sem perder a sua compostura, fez um aceno indicando o seu adversário. Este compreendeu que não tinha outro remédio e cortou o baralho, levantando a carta que ficou a descoberto. Era o cinco de paus. Um murmúrio levantou-se em redor do jovem perante a enorme derrota que aquilo representava para Darnell.
Este ficou pálido e depois outra vez rubro, aterrorizado. Significava a sua ruína total. Por um momento pareceu disposto a puxar pelo seu revólver, mas o jovem olhou-o fixamente, limitando-se a dizer:
— Outro dia terá mais sorte. Não deseja beber nada para celebrar esta interessante partida?
Brett negou com a cabeça, e puxando o casaco saiu do local a toda a pressa, cego de cólera e de desespero.
Leroy contemplou os que se encontravam ali e disse sorrindo:
— Meus senhores, considerar-me-ei muito honrado se aceitarem uma bebida. É por conta da casa.
Não teve necessidade de repeti-lo. Todos correram para o bar, enquanto os criados se dispunham a servi-los. Alguém murmurou, conversando com o seu acompanhante:
—Parece-me que ganhámos com a mudança.
McPherson aproximou-se do jovem.
—Bem; conseguiste o teu propósito. O saloon é teu. Queres dizer nosso. Juntos chegámos aqui e juntos continuaremos.
McPherson sorriu.
—Obrigado, Palmer. Mas desejava dizer-te que Darnell não esquecerá e que vai fazer tudo quanto lhe seja possível para recuperar este saloon. Havemos de ver se o consegue.
Avançaram em silêncio pela rua principal de Virgínia City, contemplando as luzes dos saloons e ouvindo a música que deles saía. Unia bizarra multidão misturava-se com os dois amigos, que olhavam à direita e à esquerda para se assegurarem de que não iam receber uma bala à traição.
Encontravam-se ali mexicanos, chilenos, chineses, índios, alemães gigantescos, italianos de rosto expressivo, espanhóis morenos, ingleses fleumáticos, irlandeses violentos, texanos frios e perigosos, yankees rudes, sudistas orgulhosos, e toda a gama de homens que acudiam àquela comarca à chamada do ouro e da prata.
De repente, McPherson tocou-lhe no ombro.
— Ninguém repara em nós. Isto parece-me um bom sinal.
— Espera um pouco. Ainda não repararam que nós tínhamos saído à rua. Talvez mais adiante se mude a situação.
Continuaram a andar. Como se o jovem o tivesse surpreendido, notaram que a gente, conforme os iam reconhecendo, afastava-se com cautela e admiração para permitir-lhes a passagem.
Lee Barrett, entretanto, encontrava-se oculto numa esquina. Seco, mal-encarado, espiava os dois amigos, decidido a acabar com eles. Mas não desejava expor-se. Já tinha visto que Palmer Leroy era um homem muito perigoso para ser desafiado de frente. Por outra parte, tão pouco desejava que o linchassem. Entrou na taberna mais próxima e falou a três de seus amigos.
— Há dinheiro para todos — disse. — O único que precisamos é de decisão
.
Os três concordaram.
—Então é para já.
Palmer continuava à frente, junto com McPherson, em direção ao saloon «Hanrahan's». Tinha uma ideia a propósito da maneira como poderia tornar-se dono da população, mas resultava difícil e não acreditava que o momento tivesse chegado.
De repente, um disparo arrebatou-lhe o chapéu. A multidão revolveu-se assustada, correndo de um lado para outro para evitar que aqueles misteriosos agressores pudessem causar dano aos que nada tinham a ver com aquela luta.
Palmer puxou o «Colt» e enfrentou-se com os seus adversários ao tempo que McPherson fazia o mesmo, olhando para o outro lado.
Naquele instante, um pistoleiro escondido detrás dum poste que sustinha o pórtico duma casa tentou fazer fogo. McPherson disparou adiantando-se, e derrubou-o. Palmer reparou que ante si tinha vários inimigos que tinham escolhido posições estratégicas para agredi-lo. Devia, portanto, resguardar-se se não queria que a cilada tivesse sucesso.
Levantou o revólver, e disparando em forma de leque para proteger-se, correu para o outro extremo da rua enquanto gritava:
— Cobre-te, Mac.
O outro imitou-o, ocultando-se detrás de outro poste. Momentaneamente tinham-se salvo, mas faltava ver os atacantes, que sem nenhum género de dúvida pretendiam matá-los.
Viu de repente outro homem que desde o outro passeio apontava para McPherson, no momento em que o seu amigo não reparava. Fez fogo rapidamente. O pistoleiro caiu morto. Ignorava quantos adversários ficavam em pé, mas estava disposto a acabar com aqueles que fossem. Outra vez McPherson disparou, derrubando um adversário.
— Estamos quites, Palmer.
Leroy sorriu. Era preciso acabar. O inimigo parecia ter perdido o ânimo inicial e não se advertiam nem sombras nem movimentos suspeitos, mas estava seguro que alguém mais estava emboscado.
Levantou o revólver esperando o momento propício, e de repente viu uma sombra que fugia, a correr, aproveitando-se da escuridão. Palmer saltou atrás dele, convencido que era o único dos atacantes que ficara com vida. McPherson recolheu o chapéu do jovem e seguiu-o, assegurando-se que não havia mais ninguém pelas costas deles.
Leroy viu que a figura do fugitivo entrava no saloon de Hanrahan's, como que buscando proteção. Se aquilo significava o que estava a imaginar, não havia menor dúvida de que tinha chegado o momento decisivo para pôr em prática os seus planos.
Quando entrou no saloon, os clientes já se estavam a afastar de modo que o perseguido ficou sozinho, revólver na mão, com o semblante contraído pelo terror.
— Darnell! Darnell! — gritou. — Ajuda-me!
Palmer deteve-se contemplando-o. Os dois tinham o revólver na mão e os dois sabiam que não havia apelação possível. Levantaram o «Colt» ao mesmo tempo e ressoaram vários disparos. Lee Barrett, pois era ele, tropeçou, como se tivesse sido golpeado por um punho de ferro, e caiu morto no chão. McPherson entrou naquele momento, entregando o chapéu ao seu amigo.
—Parece que não havia mais inimigos pelas redondezas! — explicou.
Palmer depositou o revólver no coldre e procurou com o olhar o proprietário do local. Este, algo inquieto e bastante furioso por aquilo que acontecera, preparou-se para a luta.
— Desejaria saber uma coisa — disse Leroy — porque é que o chamava esse homem?
Brett largou um palavrão e encolheu os ombros.
— Nada sei de tudo isso. Barrett veio para cá porque... porque... porque quis — juntou triunfalmente.
— Acho que terei de acreditar nas suas palavras —disse Palmer.
Darnell deu um grito.
— Ninguém se atreveu a duvidar nunca daquilo que eu digo.
— Bem, farei o mesmo que os outros — continuou Palmer reparando que levava uma grande vantagem, sobre o outro ao ter adivinhado as suas intenções. — Porém desafio-o para uma partida de cartas.
Darnell olhou-o com surpresa.
—Uma partida de cartas?
— Sim. Será que tem medo ou vai negar-se? No outro dia exigiram-mo, porque tinha ganho, que desse a desforra. Hoje venho oferecê-la a si que é o dono.
Todos os que se encontravam ali tinham escutado esta conversa com muito interesse. Não havia a menor dúvida de que aquele encontro ia ser sensacional e que qualquer coisa ia surgir daquela partida. Ninguém falava e todos continham até o alento para não perder uma só palavra. Darnell grunhiu.
—Está bem. Aceito. Ainda não nasceu quem se possa rir de mim.
Seguidos da maior parte dos clientes da casa e dos empregados, encaminharam-se para a mesa do jogo. McPherson sorriu, enquanto se colocava junto do seu amigo, de modo que pudesse defendê-lo em caso de perigo. Advertiu McPherson que a maior parte do público se mostrava mais excitada do que é normal e que falavam entre si. Liza, que estava a seu lado, murmurou:
—Quase todos desejam que ganhe o teu amigo. Odeiam Darnell.
Brett sentou-se e pediu um baralho novo. Palmer aceitou-o sem protestos e repartiram-se as cartas. Leroy puxou dinheiro do bolso e colocou-o sobre a mesa.
— São quinhentos.
Brett fez o mesmo. Em continuação, Palmer mostrou o seu jogo. Tinha ganho.
A partida continuava apesar de terem já passado várias horas. Ninguém dos que se encontravam ali se mexia, embora fosse já muito tarde. Damell tinha despido a levita e afrouxado a gravata, e secava o suor que lhe escorria pela fronte. Estava nervoso e inquieto. Palmer, porém, parecia tão sereno como no princípio. Mantinha o seu comportamento e o seu ar tranquilo.
— Vai tudo — disse empurrando o dinheiro para o centro da mesa.
Brett ordenou:
—Traz todo o dinheiro que haja na casa.
Um dos criados obedeceu imediatamente e colocou as notas e as moedas junto do capital de Leroy. Este estendeu as suas cartas sobre a mesa. Era um poker de ases. Brett não tinha mais do que um trio. Houve um murmúrio de espanto em redor de-deles, e Darnell, furioso e derrotado, apoiou os seus grandes punhos sobre o tapete verde. Durante toda a noite Palmer tinha estado a jogar com habilidade, permitindo que o outro ganhasse de quando em quando, embora, com uma grande superioridade no poker, dominando a situação. Tinha arruinado o seu adversário.
— Darnell —disse-lhe ao fim: —estou disposto a dar-lhe a desforra. Todo o dinheiro que tenho à frente contra este saloon.
Brett deu um salto na cadeira.
— Contra o saloon?
— Sim, é uma boa aposta. Está disposto a aceitá-la?
O outro concordou.
— De acordo.
—Bem; mas não será mais ao poker. Apostaremos na carta alta. Quem ganhar, fica com tudo, dinheiro e saloon.
Darnell recusou.
—Não; é demasiado arriscado.
Palmer, que tinha aprendido a conhecê-lo a fundo, sorriu.
—Tem medo?
— Leroy — advertiu Brett furioso; —não torne nunca a pronunciar essas palavras.
—Então, demonstre-o aceitando. Um bom jogador nunca se acobarda.
Darnell duvidou uns instantes. Todos compreenderam muito bem aquilo que sentia. No caso de perder, seria um vagabundo, um homem sem nenhuma posição. No caso de ganhar, recuperaria tudo aquilo que era seu, e aquele triunfo venceria a aversão que por ele sentiam todos.
—Bem; aceito.
Palmer sorriu de novo.
—Isto honra-o, Darnell. Você demonstra com isso ter qualquer coisa a que na fronteira damos muito valor: espírito de jogador.
Inclinou-se sobre a mesa e baralhou com consciência. A seguir disse:
— O senhor primeiro.
O proprietário do local estendeu a mão até colocá-la sobe as cartas, mas não se atreveu a tomar nenhuma. Sua a e sentia-se inquieto.
Todos sabiam o que se passava então pelo seu ânimo. Os inumeráveis esforços duma vida agitada estavam sobre tapete, e se continuava a sorte do seu adversário tudo poderia perder.
Tomou também as cartas e baralhou-as com cuidado. Depois, voltou a deixá-las sobre a mesa. Transpirava copiosamente e as veias do seu pescoço inchavam-se, e
pareciam prestes a explodir.
— Vamos — disse Palmer —, tome uma carta.
Mas o outro negou.
— Comece o senhor.
Leroy encolheu os ombros e estendeu uma mão até puxar uma carta que depositou sobre a mesa, destapada. Era o sete de ouros. Então, sem perder a sua compostura, fez um aceno indicando o seu adversário. Este compreendeu que não tinha outro remédio e cortou o baralho, levantando a carta que ficou a descoberto. Era o cinco de paus. Um murmúrio levantou-se em redor do jovem perante a enorme derrota que aquilo representava para Darnell.
Este ficou pálido e depois outra vez rubro, aterrorizado. Significava a sua ruína total. Por um momento pareceu disposto a puxar pelo seu revólver, mas o jovem olhou-o fixamente, limitando-se a dizer:
— Outro dia terá mais sorte. Não deseja beber nada para celebrar esta interessante partida?
Brett negou com a cabeça, e puxando o casaco saiu do local a toda a pressa, cego de cólera e de desespero.
Leroy contemplou os que se encontravam ali e disse sorrindo:
— Meus senhores, considerar-me-ei muito honrado se aceitarem uma bebida. É por conta da casa.
Não teve necessidade de repeti-lo. Todos correram para o bar, enquanto os criados se dispunham a servi-los. Alguém murmurou, conversando com o seu acompanhante:
—Parece-me que ganhámos com a mudança.
McPherson aproximou-se do jovem.
—Bem; conseguiste o teu propósito. O saloon é teu. Queres dizer nosso. Juntos chegámos aqui e juntos continuaremos.
McPherson sorriu.
—Obrigado, Palmer. Mas desejava dizer-te que Darnell não esquecerá e que vai fazer tudo quanto lhe seja possível para recuperar este saloon. Havemos de ver se o consegue.
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