Na manhã seguinte, Palmer encaminhou-se para o armazém geral para realizar umas compras. McPherson ia com ele, perguntando-se o que seria aquilo que se propunha o seu amigo, com quem tinha desafiado tantos perigos e que ainda não conhecia bem.
—Ouve — disse de repente — que é que tu pretendes?
Palmer olhou-o surpreendido e sorriu.
— Ainda não percebeste? Parece que não é tão difícil de descobrir. Virgínia City é uma cidade que oferece tudo quanto o homem pode desejar; dinheiro, poder e aventura. Vou tentar possuir tudo isso.
—Então, vamos transformar-nos em mineiros?
—Um pouco mais ou menos. Vamos tratar de arranjar um saloon. Gosto muito do «Hanrahan's».
Seguido pelo surpreendido McPherson, entraram no armazém. Ali adquiriram outra vez roupas, para se libertarem do que vestiam ao chegarem à cidade. Palmer vestiu-se de novo com a levita, o chapéu amplo e as brilhantes botas de montar. Conservou, porém, a pistola no cinto.
Ao sair à rua, ninguém poderia reconhecer naqueles dois homens vestidos com certo luxo, os esfarrapados que chegaram à cidade dois dias antes.
McPherson reparou que a gente observava com atenção Palmer e que o estudava com detenção. Sabia que era um dos homens mais famosos da cidade, embora essa popularidade lhe fosse ser muito cara. Deveriam ainda expor-se a muitos perigos antes de conseguirem o domínio que Leroy aspirava, e depois de conseguido teriam de continuar a lutar para conservá-lo. Porém, como soldado veterano, perguntou a si mesmo se queria viver eternamente.
—O que mais me interessa —explicou Leroy de repente — é saber como funciona esta cidade; se há alguma administração ou se simplesmente a governam aqueles que têm a força. Depois, procurarei situar-me e ampliar as minhas possibilidades.
McPherson não o olhava, mantendo a vista fixa no outro extremo da rua. De repente, exclamou:
—É preferível que repares nisto agora. Olha quem vem por ali.
Palmer obedeceu e viu quatro homens que avançavam ao seu encontro, com as mãos apoiadas no cinto. Um deles, era o pistoleiro que desarmara no saloon na noite anterior. Facilmente compreendia-se que tinha o propósito de matá-lo e que se tinham reunido para consegui-lo.
McPherson olhava distraidamente à direita e à esquerda, como se não lhe preocupasse a presença daqueles homens. Na realidade, assegurava-se de que os seus adversários não tinham colocado atiradores em lugares que pudessem derrubá-los à traição. Na rua e nas esquinas, viam-se só transeuntes que avançavam com bastante pressa.
Palmer contemplava o pistoleiro, que avançava decidido ao seu encontro, sentindo-se seguro ao ver-se protegido pelos outros três. De repente, Leroy advertiu:
— Disse-te que não queria voltar a ver-te nesta cidade.
O outro contraiu as feições.
—E eu estou decidido a permanecer aqui embora tu e o teu amigo queiram impedi-lo.
Leroy perguntou então:
— O que tem o meu amigo a ver neste assunto?
Um dos acompanhantes do indivíduo respondeu:
--Foi entre os dois que bateste nele ontem e agora...
— Estás a mentir e tu sabe-lo.
O outro sorriu, mostrando os dentes. Os seus companheiros deram um passo em frente dispostos a atacar.
— Isto é uma provocação — disse o pistoleiro.
Leroy, num tom muito mais alto do que se podia esperar, respondeu:
—Foram vocês que me provocaram e já o reconheceram. E vêm assassinar-me; quatro contra dois. Porém é boa altura para a cidade ver-se livre de indesejáveis como vocês.
Os adversários inclinaram-se levemente para trás, aproximando as mãos dos respetivos coldres. Palmer sorriu.
— Podem começar quando quiserem. Já fiz uma advertência a essa tarântula que os acompanha, e não sou homem que falte à minha palavra.
McPherson sorriu também, divertido pelo tom desdenhoso que o jovem usava e que, invariavelmente, enfurecia os seus inimigos. Por uns instantes os seis homens ficaram silenciosos, olhando-se cara a cara, esperando o momento de iniciar
o combate. A gente tinha fugido da rua deixando-lhes espaço livre. Um grande silêncio, presságio de morte, pesava sobre todos.
Sem aviso, os quatro puxaram dos revólveres, decididos a acabar com o jovem e o seu amigo. McPherson disparou sobre aquele que tinha mais próximo, que caiu sem poder ter feito uso da arma, e naquele preciso instante ressoaram dois disparos seguidos.
Dois dos adversários caíram também, como se um vento de morte os tivesse golpeado, e o pistoleiro encontrou-se sozinho frente a Palmer Leroy. Por um momento duvidou, sem saber aquilo que havia de fazer. Depois, aterrorizado, levantou o revólver e começou a disparar, enquanto tentava fugir para salvar-se daquele homem que parecia ser o único capaz de vencê-lo. Palmer nem sequer se mexeu, seguro como estava de que o medo ia prejudicar a boa pontaria do seu adversário, a quem todos temiam na povoação. Limitou-se a premir uma vez o gatilho. O assassino caiu para trás, com uma bala na testa, sem perder aquela expressão de medo. Leroy enfundou o «Colt» e virou-se para McPherson.
— Acho que podemos prosseguir.
O amigo continuou a seu lado. Era perigoso o jogo que o seu companheiro estava realizando ali, mas não havia a mínima dúvida do que unicamente por meio do risco se podia obter o triunfo. Podiam encontrar lá outros que, o mesmo que Hobbs, pudessem relatar coisas que não iam ser o agrado da povoação e que lhes podiam custar caras. E outros ainda que podiam demonstrar simplesmente que mentia. Mas valia a pena segui-lo.
Brett Darnell retorceu o espesso bigode e pigarreou com o seu tom duro e violento:
—Disse que não tolero brincadeiras desta espécie.
O cliente olhava-o surpreendido, sem chegar a acreditar que o estavam a ameaçar.
—O único que cheguei a dizer foi que neste local somos enganados.
— Bem; é isso mesmo que eu não tolero.
Darnell olhou-o de novo.
—Não o tolero —repetiu violento. —E vá-se embora imediatamente.
O cliente, um mineiro jovem, pôs-se em pé e comentou:
— Para encontrar um bocado de prata, expus-me durante muito tempo a que os índios ou os bandidos me matassem, o mesmo que me expus durante quatro anos durante a guerra civil. Agora venho aqui e não me dão licença para me divertir. Que espécie de saloon é este onde não se autoriza que se partam os espelhos?
— Fora daqui — gritou o outro.
O mineiro fez o gesto de se lançar sobre ele, mas Darnell, reparando-o, desferiu-lhe um terrível direto ao estômago. O mineiro lançou um gemido e dobrou-se sobre si mesmo. Então, com toda a frieza, Darnell puxou do «Colt» e fez fogo.
O mineiro caiu, ferido de morte. Outro mineiro adiantou-se, ao tempo que dizia:
— O que é isto? Isto é um assassinato!
Antes que tivesse acabado a frase, ressoou um estampido de revólver e o segundo mineiro caiu sem vida. Darnell, com uma luz de triunfo nos olhos, contemplou os adversários que tinha diante de si e perguntou:
— Alguém mais quer intervir?
Ninguém se atreveu a responder. Brett introduziu o revólver no coldre de novo e voltou-se para o chefe dos criados.
—Limpa isso.
Depois encaminhou-se para o seu escritório. Nele esperava-o um homenzinho de mais idade, magro e sujo.
— O que há?
—Leroy matou quatro homens e um deles era o teu empregado Holstein.
O proprietário do local soltou um palavrão, ao tempo que desferia um violento pontapé numa cadeira.
— Esse crioulo 1 acredita que é o dono da cidade. Mas parece-me que terei de lhe dizer duas palavras. —Se tudo continua assim, não resta a menor dúvida de que efetivamente vai-se fazer o dono. Já fez várias mortes desde que chegou, e inclusivamente dominou os teus homens. Isso, além de ganhar uma boa quantia nas tuas mesas de jogo.
Darnell disse então:
— Isto há-de acabar hoje mesmo. Não aceito enganos nem troças. — Fez uma pausa e continuou: —Tu és amigo de Lee Barrett?
O outro assentiu.
— Sim. Porque é que te interessa sabê-lo?
Darnell passou a mão pela face e depois respondeu, com tom irónico:
—Barrett teve sempre interesse em formar parte do pessoal da minha casa. Neste momento tem ocasião de consegui-lo. Ê uma oportunidade única, Moore. Holstein morreu. Devo substituí-lo, e acho que Barrett tem agora um meio de obter aquilo que deseja. Se me livrar desse crioulo, admiti-lo-ei no lugar de Holstein e dar-lhe-ei dois mil dólares.
Moore sorriu.
—Ê uma proposta encantadora. E o que é que eu ganho com tudo isso?
Darnell observou-o em silêncio.
— O que é que tu queres? Quero um bom benefício. Ao fim de contas eu exponho-me servindo-te, visto que se ganhasse Leroy e o soubesse, havia de passar mal.
—Se vence a Barrett, eu próprio ajustar-lhe-ei as contas. Dar-te-ei uma nota das grandes pelos teus serviços. Moore sorriu.
— Considera desde já eliminado Leroy.
—Ouve — disse de repente — que é que tu pretendes?
Palmer olhou-o surpreendido e sorriu.
— Ainda não percebeste? Parece que não é tão difícil de descobrir. Virgínia City é uma cidade que oferece tudo quanto o homem pode desejar; dinheiro, poder e aventura. Vou tentar possuir tudo isso.
—Então, vamos transformar-nos em mineiros?
—Um pouco mais ou menos. Vamos tratar de arranjar um saloon. Gosto muito do «Hanrahan's».
Seguido pelo surpreendido McPherson, entraram no armazém. Ali adquiriram outra vez roupas, para se libertarem do que vestiam ao chegarem à cidade. Palmer vestiu-se de novo com a levita, o chapéu amplo e as brilhantes botas de montar. Conservou, porém, a pistola no cinto.
Ao sair à rua, ninguém poderia reconhecer naqueles dois homens vestidos com certo luxo, os esfarrapados que chegaram à cidade dois dias antes.
McPherson reparou que a gente observava com atenção Palmer e que o estudava com detenção. Sabia que era um dos homens mais famosos da cidade, embora essa popularidade lhe fosse ser muito cara. Deveriam ainda expor-se a muitos perigos antes de conseguirem o domínio que Leroy aspirava, e depois de conseguido teriam de continuar a lutar para conservá-lo. Porém, como soldado veterano, perguntou a si mesmo se queria viver eternamente.
—O que mais me interessa —explicou Leroy de repente — é saber como funciona esta cidade; se há alguma administração ou se simplesmente a governam aqueles que têm a força. Depois, procurarei situar-me e ampliar as minhas possibilidades.
McPherson não o olhava, mantendo a vista fixa no outro extremo da rua. De repente, exclamou:
—É preferível que repares nisto agora. Olha quem vem por ali.
Palmer obedeceu e viu quatro homens que avançavam ao seu encontro, com as mãos apoiadas no cinto. Um deles, era o pistoleiro que desarmara no saloon na noite anterior. Facilmente compreendia-se que tinha o propósito de matá-lo e que se tinham reunido para consegui-lo.
McPherson olhava distraidamente à direita e à esquerda, como se não lhe preocupasse a presença daqueles homens. Na realidade, assegurava-se de que os seus adversários não tinham colocado atiradores em lugares que pudessem derrubá-los à traição. Na rua e nas esquinas, viam-se só transeuntes que avançavam com bastante pressa.
Palmer contemplava o pistoleiro, que avançava decidido ao seu encontro, sentindo-se seguro ao ver-se protegido pelos outros três. De repente, Leroy advertiu:
— Disse-te que não queria voltar a ver-te nesta cidade.
O outro contraiu as feições.
—E eu estou decidido a permanecer aqui embora tu e o teu amigo queiram impedi-lo.
Leroy perguntou então:
— O que tem o meu amigo a ver neste assunto?
Um dos acompanhantes do indivíduo respondeu:
--Foi entre os dois que bateste nele ontem e agora...
— Estás a mentir e tu sabe-lo.
O outro sorriu, mostrando os dentes. Os seus companheiros deram um passo em frente dispostos a atacar.
— Isto é uma provocação — disse o pistoleiro.
Leroy, num tom muito mais alto do que se podia esperar, respondeu:
—Foram vocês que me provocaram e já o reconheceram. E vêm assassinar-me; quatro contra dois. Porém é boa altura para a cidade ver-se livre de indesejáveis como vocês.
Os adversários inclinaram-se levemente para trás, aproximando as mãos dos respetivos coldres. Palmer sorriu.
— Podem começar quando quiserem. Já fiz uma advertência a essa tarântula que os acompanha, e não sou homem que falte à minha palavra.
McPherson sorriu também, divertido pelo tom desdenhoso que o jovem usava e que, invariavelmente, enfurecia os seus inimigos. Por uns instantes os seis homens ficaram silenciosos, olhando-se cara a cara, esperando o momento de iniciar
o combate. A gente tinha fugido da rua deixando-lhes espaço livre. Um grande silêncio, presságio de morte, pesava sobre todos.
Sem aviso, os quatro puxaram dos revólveres, decididos a acabar com o jovem e o seu amigo. McPherson disparou sobre aquele que tinha mais próximo, que caiu sem poder ter feito uso da arma, e naquele preciso instante ressoaram dois disparos seguidos.
Dois dos adversários caíram também, como se um vento de morte os tivesse golpeado, e o pistoleiro encontrou-se sozinho frente a Palmer Leroy. Por um momento duvidou, sem saber aquilo que havia de fazer. Depois, aterrorizado, levantou o revólver e começou a disparar, enquanto tentava fugir para salvar-se daquele homem que parecia ser o único capaz de vencê-lo. Palmer nem sequer se mexeu, seguro como estava de que o medo ia prejudicar a boa pontaria do seu adversário, a quem todos temiam na povoação. Limitou-se a premir uma vez o gatilho. O assassino caiu para trás, com uma bala na testa, sem perder aquela expressão de medo. Leroy enfundou o «Colt» e virou-se para McPherson.
— Acho que podemos prosseguir.
O amigo continuou a seu lado. Era perigoso o jogo que o seu companheiro estava realizando ali, mas não havia a mínima dúvida do que unicamente por meio do risco se podia obter o triunfo. Podiam encontrar lá outros que, o mesmo que Hobbs, pudessem relatar coisas que não iam ser o agrado da povoação e que lhes podiam custar caras. E outros ainda que podiam demonstrar simplesmente que mentia. Mas valia a pena segui-lo.
Brett Darnell retorceu o espesso bigode e pigarreou com o seu tom duro e violento:
—Disse que não tolero brincadeiras desta espécie.
O cliente olhava-o surpreendido, sem chegar a acreditar que o estavam a ameaçar.
—O único que cheguei a dizer foi que neste local somos enganados.
— Bem; é isso mesmo que eu não tolero.
Darnell olhou-o de novo.
—Não o tolero —repetiu violento. —E vá-se embora imediatamente.
O cliente, um mineiro jovem, pôs-se em pé e comentou:
— Para encontrar um bocado de prata, expus-me durante muito tempo a que os índios ou os bandidos me matassem, o mesmo que me expus durante quatro anos durante a guerra civil. Agora venho aqui e não me dão licença para me divertir. Que espécie de saloon é este onde não se autoriza que se partam os espelhos?
— Fora daqui — gritou o outro.
O mineiro fez o gesto de se lançar sobre ele, mas Darnell, reparando-o, desferiu-lhe um terrível direto ao estômago. O mineiro lançou um gemido e dobrou-se sobre si mesmo. Então, com toda a frieza, Darnell puxou do «Colt» e fez fogo.
O mineiro caiu, ferido de morte. Outro mineiro adiantou-se, ao tempo que dizia:
— O que é isto? Isto é um assassinato!
Antes que tivesse acabado a frase, ressoou um estampido de revólver e o segundo mineiro caiu sem vida. Darnell, com uma luz de triunfo nos olhos, contemplou os adversários que tinha diante de si e perguntou:
— Alguém mais quer intervir?
Ninguém se atreveu a responder. Brett introduziu o revólver no coldre de novo e voltou-se para o chefe dos criados.
—Limpa isso.
Depois encaminhou-se para o seu escritório. Nele esperava-o um homenzinho de mais idade, magro e sujo.
— O que há?
—Leroy matou quatro homens e um deles era o teu empregado Holstein.
O proprietário do local soltou um palavrão, ao tempo que desferia um violento pontapé numa cadeira.
— Esse crioulo 1 acredita que é o dono da cidade. Mas parece-me que terei de lhe dizer duas palavras. —Se tudo continua assim, não resta a menor dúvida de que efetivamente vai-se fazer o dono. Já fez várias mortes desde que chegou, e inclusivamente dominou os teus homens. Isso, além de ganhar uma boa quantia nas tuas mesas de jogo.
Darnell disse então:
— Isto há-de acabar hoje mesmo. Não aceito enganos nem troças. — Fez uma pausa e continuou: —Tu és amigo de Lee Barrett?
O outro assentiu.
— Sim. Porque é que te interessa sabê-lo?
Darnell passou a mão pela face e depois respondeu, com tom irónico:
—Barrett teve sempre interesse em formar parte do pessoal da minha casa. Neste momento tem ocasião de consegui-lo. Ê uma oportunidade única, Moore. Holstein morreu. Devo substituí-lo, e acho que Barrett tem agora um meio de obter aquilo que deseja. Se me livrar desse crioulo, admiti-lo-ei no lugar de Holstein e dar-lhe-ei dois mil dólares.
Moore sorriu.
—Ê uma proposta encantadora. E o que é que eu ganho com tudo isso?
Darnell observou-o em silêncio.
— O que é que tu queres? Quero um bom benefício. Ao fim de contas eu exponho-me servindo-te, visto que se ganhasse Leroy e o soubesse, havia de passar mal.
—Se vence a Barrett, eu próprio ajustar-lhe-ei as contas. Dar-te-ei uma nota das grandes pelos teus serviços. Moore sorriu.
— Considera desde já eliminado Leroy.
1 Crioulo: natural de Nova Orleãs, descendente dos antigos plantadores franceses ou espanhóis.
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