O silêncio era denso, mortal. Viu-se o rosto de Benson perder a cor. Lashwell, de pé junto ao surpreendido Larry Donlan, mordeu os lábios de ira, enquanto os seus olhos bailavam inquietos nas suas órbitas.
Rocky, Burton e Trenton, os comissários de Riverwood, baixaram as suas armas sem vacilar. Eles, antes de tudo respeitavam a Lei, e naquele momento, por estranho que parecesse, chegara uma Lei superior à cidade... ainda que fosse acompanhada pelo fugitivo Rush Marlowe.
O juiz Benson apontou com frenesim o sorridente Rush.
— Esse homem é um fugitivo da justiça! — exclamou. — Exijo a sua imediata entrega, juiz Ma-thews!
Matthews olhou para Marlowe. Este fez avançar o seu cavalo com dramática lentidão, até chegar junto ao estrado. Regozijava-se ao ver a cor cadavérica de Benson e Lashwell. Ao chegar em frente deles, a sua voz dura e vibrante soou em toda a rua:
—Terminou a farsa, juiz Benson! Mathews recebeu ontem um telegrama de Fox, pelo menos aparentemente, com a sua assinatura, dizendo que já não era necessário a sua presença aqui. Isso era o que vocês queriam. Julgar-nos conforme os vossos planos e enforcar quatro pessoas que sabiam demasiado. Bonita aliança a sua! Lou Lashwell e o juiz Benson, futuros proprietários de toda a zona algodoeira de Riverwood. Assassinado Matt Howland, eliminados os Milligan, tudo seria facilmente vosso. Bastava casar-se com Doris, ou comprar-lhe as terras por baixo preço ou eliminá-la também. Umas possessões que separavam incluso as de Larry Donlan. Que magnífico plano se eu não viesse estragá-lo!
—Isso é uma vil calúnia, Marlowe—rugiu Benson lívido.
— Sim? —Rush desatou a rir. — Então o que é este registo que foi efetuado pelo delegado Talbot e o sheriff Cave de Arkansas City, encontrado agora mesmo em sua casa?
Rush exibia uns documentos no ar. Toda a gente viu o olhar espantado de Benson e Lashwell. Começavam a ver que o jogador do Mississípi Lady acusava com provas.
—Isto é a prova, Benson. Um contrato de Lashwell cedendo-lhe a você parte das suas terras e de futuras aquisições! Em troca da sua ajuda, claro! E de umas informações sobre as terras de Howland e dos Milligan, com os dados exatos de produção. Tudo muito significativo e muito...
—Cuidado, Rush!
O grito de Doris salvou a vida ao jogador. Este deixou-se cair sobre o pescoço do cavalo, ao mesmo tempo que dois disparos passavam por cima dele. Correu velozmente, sem manobrar o cavalo, empunhando o seu «Colt». Viu entre a multidão fugir Scott, o capataz de Lashwell.
O seu revólver vomitou chumbo com mortífera pontaria. Scott deteve-se de repente, vacilou, deu dois ou três passos e depois tombou sem vida, ante a surpresa dos espectadores, que apenas chegaram a ver a rapidíssima cena.
Já Lou Lashwell sacava com agilidade as suas armas, quando o sheriff de Arkansas City começou a disparar com diabólica velocidade, de cima do seu cavalo. Cinco, seis balas, alojaram-se no corpo do fazendeiro, que rolou como uma bola de borracha contra os degraus do estrado, caindo por fim no chão com o aspeto esfarrapado e desarticulado de uma marionete.
Benson aproveitou a confusão. Saltou rapidamente do estrado, pisou o corpo ensanguentado do seu cúmplice e alcançou agilmente o seu cavalo, empreendendo uma veloz correria e desaparecendo da vista de todos por uma travessa adjacente.
—O juiz foge! —gritou Donlan, que não soube atuar a tempo e corria agora para um cavalo.
Quando o alcançou e saltava para a sela, Rush Marlowe adiantou-se-lhe a todo o galope, gritando ao passar:
— Não se preocupe, Donlan! É meu!
Mas o sheriff provisório de Riverwood queria assegurar a caça e saiu atrás de Marlowe esporeando a sua montada sem piedade alguma.
Entretanto, na rua principal, os partidários e homens de Lashwell que pretendiam lutar, eram capturados pelo sheriff Cave e pelos seus homens. Slim, Harry e Jess Milligan não podiam crer em nada de tudo o que se estava a passar à sua volta. Era demasiado fantástico, para ser verdade.
Jess dirigiu o seu primeiro olhar para Doris. Ela, embora o olhasse com um animoso sorriso, nesse momento estava pensando em Rush, que corria atrás do odioso juiz Benson.
O cavalo do juiz era muito rápido, mas o de Rush não lhe ficava atrás, e a distância entre ambos — quando chegaram aos arredores da cidade —e empreenderam a corrida em direção ao Oeste, até à confluência do Washita e do Saline, que separava a zona algodoeira do Mississípi dos terrenos petrolíferos do El Dourado—ia diminuindo cada vez mais.
Rush olhou um momento para trás, e sorriu ao ver que o tenaz Donlan continuava a esporear o seu cavalo de modo a não perder contacto com eles. Os três homens pareciam componentes de uma corrida hípica, já que entre si apenas existiam distâncias não superiores a cem ou cento e cinquenta jardas.
O terreno, levemente ondulado e cada vez mais seco, era propício ao galope dos animais. E era o que Rush montava quem ia ganhando terreno, sempre com galope certo e regular.
Benson voltou a cabeça, e viu que a distância se ia reduzindo em relação aos seus perseguidores. Sacou o revólver e disparou loucamente contra Rush. As balas assobiaram muito afastadas do jogador.
Rush sorriu, pensando no fácil que seria acertar no juiz se quisesse. Mas a sua intensão era alcançá-lo e levá-lo vivo para Riverwood. Voltou a olhar para trás, para Donlan. O provisório sheriff estava tirando a sua pesada «Winchester». Alarmado, Rush fez uma paragem brusca e gritou:
—Não atire, Donlan! Precisamos dele vivo!
Donlan olhou-o estupidamente e fez um gesto de incompreensão. Rush voltou a gritar com igual resultado negativo. Então, ao ver Donlan levar a espingarda à cara, gritou para o juiz:
—Cuidado, Benson! Abaixe-se!
Benson ouviu e voltou a cabeça tentando perceber o porquê dessa ordem rara vinda do seu inimigo. Foi o seu erro. Rush maldisse a sua lentidão e o juiz olhou com um estúpido terror a espingarda de Donlan. Quis fazer voltar a sua montada, mas era tarde.
O disparo de Donlan, mortiferamente certeiro, acertou em cheio. A pesada bala da «Winchester» penetrou na cabeça do juiz Benson, que se manteve ainda sobre o lombo do cavalo, embora já fosse um cadáver sem utilidade alguma.
Rush alcançou o seu perseguidor e agarrou nas rédeas do cavalo até fazê-lo parar. O corpo de Benson então deslizou da sela, e ficou de bruços no poeirento solo. O jogador saltou em terra e voltou o corpo, para ver se ainda tinha algum sopro de vida. Nenhum. Os olhos muito abertos do maligno juiz olhavam-no sem o ver. Piedosamente, Rush fechou-lhos.
Donlan chegou junto do corpo ainda com o rifle fumegante entre as mãos. Sem descer do cavalo, olhou o corpo imóvel.
Rocky, Burton e Trenton, os comissários de Riverwood, baixaram as suas armas sem vacilar. Eles, antes de tudo respeitavam a Lei, e naquele momento, por estranho que parecesse, chegara uma Lei superior à cidade... ainda que fosse acompanhada pelo fugitivo Rush Marlowe.
O juiz Benson apontou com frenesim o sorridente Rush.
— Esse homem é um fugitivo da justiça! — exclamou. — Exijo a sua imediata entrega, juiz Ma-thews!
Matthews olhou para Marlowe. Este fez avançar o seu cavalo com dramática lentidão, até chegar junto ao estrado. Regozijava-se ao ver a cor cadavérica de Benson e Lashwell. Ao chegar em frente deles, a sua voz dura e vibrante soou em toda a rua:
—Terminou a farsa, juiz Benson! Mathews recebeu ontem um telegrama de Fox, pelo menos aparentemente, com a sua assinatura, dizendo que já não era necessário a sua presença aqui. Isso era o que vocês queriam. Julgar-nos conforme os vossos planos e enforcar quatro pessoas que sabiam demasiado. Bonita aliança a sua! Lou Lashwell e o juiz Benson, futuros proprietários de toda a zona algodoeira de Riverwood. Assassinado Matt Howland, eliminados os Milligan, tudo seria facilmente vosso. Bastava casar-se com Doris, ou comprar-lhe as terras por baixo preço ou eliminá-la também. Umas possessões que separavam incluso as de Larry Donlan. Que magnífico plano se eu não viesse estragá-lo!
—Isso é uma vil calúnia, Marlowe—rugiu Benson lívido.
— Sim? —Rush desatou a rir. — Então o que é este registo que foi efetuado pelo delegado Talbot e o sheriff Cave de Arkansas City, encontrado agora mesmo em sua casa?
Rush exibia uns documentos no ar. Toda a gente viu o olhar espantado de Benson e Lashwell. Começavam a ver que o jogador do Mississípi Lady acusava com provas.
—Isto é a prova, Benson. Um contrato de Lashwell cedendo-lhe a você parte das suas terras e de futuras aquisições! Em troca da sua ajuda, claro! E de umas informações sobre as terras de Howland e dos Milligan, com os dados exatos de produção. Tudo muito significativo e muito...
—Cuidado, Rush!
O grito de Doris salvou a vida ao jogador. Este deixou-se cair sobre o pescoço do cavalo, ao mesmo tempo que dois disparos passavam por cima dele. Correu velozmente, sem manobrar o cavalo, empunhando o seu «Colt». Viu entre a multidão fugir Scott, o capataz de Lashwell.
O seu revólver vomitou chumbo com mortífera pontaria. Scott deteve-se de repente, vacilou, deu dois ou três passos e depois tombou sem vida, ante a surpresa dos espectadores, que apenas chegaram a ver a rapidíssima cena.
Já Lou Lashwell sacava com agilidade as suas armas, quando o sheriff de Arkansas City começou a disparar com diabólica velocidade, de cima do seu cavalo. Cinco, seis balas, alojaram-se no corpo do fazendeiro, que rolou como uma bola de borracha contra os degraus do estrado, caindo por fim no chão com o aspeto esfarrapado e desarticulado de uma marionete.
Benson aproveitou a confusão. Saltou rapidamente do estrado, pisou o corpo ensanguentado do seu cúmplice e alcançou agilmente o seu cavalo, empreendendo uma veloz correria e desaparecendo da vista de todos por uma travessa adjacente.
—O juiz foge! —gritou Donlan, que não soube atuar a tempo e corria agora para um cavalo.
Quando o alcançou e saltava para a sela, Rush Marlowe adiantou-se-lhe a todo o galope, gritando ao passar:
— Não se preocupe, Donlan! É meu!
Mas o sheriff provisório de Riverwood queria assegurar a caça e saiu atrás de Marlowe esporeando a sua montada sem piedade alguma.
Entretanto, na rua principal, os partidários e homens de Lashwell que pretendiam lutar, eram capturados pelo sheriff Cave e pelos seus homens. Slim, Harry e Jess Milligan não podiam crer em nada de tudo o que se estava a passar à sua volta. Era demasiado fantástico, para ser verdade.
Jess dirigiu o seu primeiro olhar para Doris. Ela, embora o olhasse com um animoso sorriso, nesse momento estava pensando em Rush, que corria atrás do odioso juiz Benson.
O cavalo do juiz era muito rápido, mas o de Rush não lhe ficava atrás, e a distância entre ambos — quando chegaram aos arredores da cidade —e empreenderam a corrida em direção ao Oeste, até à confluência do Washita e do Saline, que separava a zona algodoeira do Mississípi dos terrenos petrolíferos do El Dourado—ia diminuindo cada vez mais.
Rush olhou um momento para trás, e sorriu ao ver que o tenaz Donlan continuava a esporear o seu cavalo de modo a não perder contacto com eles. Os três homens pareciam componentes de uma corrida hípica, já que entre si apenas existiam distâncias não superiores a cem ou cento e cinquenta jardas.
O terreno, levemente ondulado e cada vez mais seco, era propício ao galope dos animais. E era o que Rush montava quem ia ganhando terreno, sempre com galope certo e regular.
Benson voltou a cabeça, e viu que a distância se ia reduzindo em relação aos seus perseguidores. Sacou o revólver e disparou loucamente contra Rush. As balas assobiaram muito afastadas do jogador.
Rush sorriu, pensando no fácil que seria acertar no juiz se quisesse. Mas a sua intensão era alcançá-lo e levá-lo vivo para Riverwood. Voltou a olhar para trás, para Donlan. O provisório sheriff estava tirando a sua pesada «Winchester». Alarmado, Rush fez uma paragem brusca e gritou:
—Não atire, Donlan! Precisamos dele vivo!
Donlan olhou-o estupidamente e fez um gesto de incompreensão. Rush voltou a gritar com igual resultado negativo. Então, ao ver Donlan levar a espingarda à cara, gritou para o juiz:
—Cuidado, Benson! Abaixe-se!
Benson ouviu e voltou a cabeça tentando perceber o porquê dessa ordem rara vinda do seu inimigo. Foi o seu erro. Rush maldisse a sua lentidão e o juiz olhou com um estúpido terror a espingarda de Donlan. Quis fazer voltar a sua montada, mas era tarde.
O disparo de Donlan, mortiferamente certeiro, acertou em cheio. A pesada bala da «Winchester» penetrou na cabeça do juiz Benson, que se manteve ainda sobre o lombo do cavalo, embora já fosse um cadáver sem utilidade alguma.
Rush alcançou o seu perseguidor e agarrou nas rédeas do cavalo até fazê-lo parar. O corpo de Benson então deslizou da sela, e ficou de bruços no poeirento solo. O jogador saltou em terra e voltou o corpo, para ver se ainda tinha algum sopro de vida. Nenhum. Os olhos muito abertos do maligno juiz olhavam-no sem o ver. Piedosamente, Rush fechou-lhos.
Donlan chegou junto do corpo ainda com o rifle fumegante entre as mãos. Sem descer do cavalo, olhou o corpo imóvel.
— Está morto, Rush? — perguntou.
—Sim. Disse-lhe que não atirasse. — Oh! Lamento-o, não entendi. Precisava dele vivo?
—Claro. Ele podia dizer-nos quem era o seu chefe.
—O seu chefe? — Donlan olhou-o com surpresa. — Não o entendo.
— É fácil. Nem ele nem Lashwell planearam esta bonita expropriação de terrenos. Há alguém em Riverwood que dirigia o complot na sombra. E essa é a pessoa a quem não conseguimos desmascarar... Todavia.
O sheriff provisório estava cada vez mais intrigado.
— Quer dizer que já tem suspeitas de quem é essa pessoa?
— Não suspeito, mas... — Rush sorriu procurando nos seus bolsos. — Mas já uma vez esse homem teve de matar para evitar que Howland lhe descobrisse publicamente. Tudo por uma carta como esta,
O jogador mostrou um envelope azul-claro, timbrado, da Sociedade Central Algodoeira, Litle Rocky. Os olhos de Donlan fixaram-se naquele envelope com intensidade.
— Que é isso?
— O motivo de um crime, Donlan— explicou Rush com calma. —São informações privadas a um membro da Sociedade Central Algodoeira de Arkansas, pedidas por Howland. Julgava ele que os Milligan estavam à beira da ruína e por isso procuravam adquirir as suas produtivas terras. Então soube que não era assim, e que os Milligan tinham uns bons algodoeiros e não tinham dívidas, não havia motivo para que fossem eles os incendiários. Lashwell também estava em magnífica situação económica. Só um grande fazendeiro da região tinha hipotecas sobre as suas propriedades e devia milhares de dólares à Central Algodoeira.
—Quem?
Rush sorriu.
— Esta informação pedida por mim nos escritórios da Sociedade em Arkansas City esta mesma tarde, diz que esse fazendeiro é você, Donlan.
— Deite essa carta ao chão e levante os braços, Rush!
A ordem de Larry Donlan não admitia discussão. Era apoiado numa «Winchester» cujo cano negro não admitia vacilações. Rush Marlowe atirou a carta, que foi cair sobre o corpo sem vida do juiz Benson. Os olhos frios de Donlan cravaram-se no jogador.
—Sabe demasiado, Rush. Devia tê-lo adivinhado antes, quando desmascarou o juiz e Lashwell perante toda a gente. Mas julguei-me a coberto.
— Foi o seu terceiro erro. O primeiro foi querer demasiado. Pensava ficar com os terrenos de Howland, dos Milligan e até do próprio Lashwell, a quem teria eliminado mais tarde em companhia de Benson. Já não precisava deles.
—E o segundo erro?
—Demonstrar tanta inquietação ao perder uns milhares comigo no barco, na partida de poker. Se era tão rico como diziam, a sua atitude era absurda. Mas se estava arruinado... E cometeu um quarto erro.
—Qual?
— Matar o juiz. Até agora não estava certo de nada.
— Era igual. Tinha a carta.
Rush desatou a rir.
— Nunca acredite num jogador, Donlan. Existem bluffs muito hábeis. Essa carta não é nada, meu amigo. Meras suspeitas envoltas num anzol. É um simples papel em branco com um envelope timbrado da Sociedade. Doris disse-me que no dia da morte do seu pai, quando recebeu a correspondência no correio, você estava lá e pôde ver os envelopes. Julga difícil a dedução?
—E que conseguiu com isso, Rush? As cartas que valem nesta jogada são as minhas e...
—Valiam até à bocado. Agora passou o tempo, e já não...
—Não, Slim, não dispare! — Rush gritou esta ordem com o olhar fixo num ponto nas costas de Donlan.
Este engoliu em parte o truque, pois tudo nele era receio. Donlan vacilou uma fração de segundo. Uma só, que era o suficiente para um homem como Rush Marlowe. As suas mãos voaram para os coldres das suas armas, e nenhuns olhos humanos teriam conseguido seguir os seus movimentos, de precisão e velocidade incríveis.
As suas armas lançaram fogo e chumbo, sem interrupção, numa dupla descarga, repetida três ou quatro vezes. Rush vacilou ao receber uma mordidela de uma bala da pesada «Winchester» tardiamente disparada por Donlan, quando no seu corpo já se encontravam alojados os projéteis fazendo-o vacilar na sela. O disparo saiu baixo, salvando a vida a Rush.
Donlan oscilou, antes de cair crivado de balas. O sangue brotava aos borbulhões de sete ou oito buracos e Rush não sentiu piedade alguma ao vê-lo a seus pés como um boneco destroçado. A vista enevoava-se-lhe.
Também o sangue humedecia já de um vivo escarlate a sua perna. Soltou as armas, ainda quentes, e teve um débil sorriso para as figuras de três cavaleiros que, seguidos de vários, assomavam agora no horizonte. Depois dobraram-se-lhe os joelhos e caiu com um sorriso doloroso no rosto. Bons rapazes os Milligan, pensou entre brumas. Apenas desta vez se tinham atrasado um pouco.
—Sim. Disse-lhe que não atirasse. — Oh! Lamento-o, não entendi. Precisava dele vivo?
—Claro. Ele podia dizer-nos quem era o seu chefe.
—O seu chefe? — Donlan olhou-o com surpresa. — Não o entendo.
— É fácil. Nem ele nem Lashwell planearam esta bonita expropriação de terrenos. Há alguém em Riverwood que dirigia o complot na sombra. E essa é a pessoa a quem não conseguimos desmascarar... Todavia.
O sheriff provisório estava cada vez mais intrigado.
— Quer dizer que já tem suspeitas de quem é essa pessoa?
— Não suspeito, mas... — Rush sorriu procurando nos seus bolsos. — Mas já uma vez esse homem teve de matar para evitar que Howland lhe descobrisse publicamente. Tudo por uma carta como esta,
O jogador mostrou um envelope azul-claro, timbrado, da Sociedade Central Algodoeira, Litle Rocky. Os olhos de Donlan fixaram-se naquele envelope com intensidade.
— Que é isso?
— O motivo de um crime, Donlan— explicou Rush com calma. —São informações privadas a um membro da Sociedade Central Algodoeira de Arkansas, pedidas por Howland. Julgava ele que os Milligan estavam à beira da ruína e por isso procuravam adquirir as suas produtivas terras. Então soube que não era assim, e que os Milligan tinham uns bons algodoeiros e não tinham dívidas, não havia motivo para que fossem eles os incendiários. Lashwell também estava em magnífica situação económica. Só um grande fazendeiro da região tinha hipotecas sobre as suas propriedades e devia milhares de dólares à Central Algodoeira.
—Quem?
Rush sorriu.
— Esta informação pedida por mim nos escritórios da Sociedade em Arkansas City esta mesma tarde, diz que esse fazendeiro é você, Donlan.
— Deite essa carta ao chão e levante os braços, Rush!
A ordem de Larry Donlan não admitia discussão. Era apoiado numa «Winchester» cujo cano negro não admitia vacilações. Rush Marlowe atirou a carta, que foi cair sobre o corpo sem vida do juiz Benson. Os olhos frios de Donlan cravaram-se no jogador.
—Sabe demasiado, Rush. Devia tê-lo adivinhado antes, quando desmascarou o juiz e Lashwell perante toda a gente. Mas julguei-me a coberto.
— Foi o seu terceiro erro. O primeiro foi querer demasiado. Pensava ficar com os terrenos de Howland, dos Milligan e até do próprio Lashwell, a quem teria eliminado mais tarde em companhia de Benson. Já não precisava deles.
—E o segundo erro?
—Demonstrar tanta inquietação ao perder uns milhares comigo no barco, na partida de poker. Se era tão rico como diziam, a sua atitude era absurda. Mas se estava arruinado... E cometeu um quarto erro.
—Qual?
— Matar o juiz. Até agora não estava certo de nada.
— Era igual. Tinha a carta.
Rush desatou a rir.
— Nunca acredite num jogador, Donlan. Existem bluffs muito hábeis. Essa carta não é nada, meu amigo. Meras suspeitas envoltas num anzol. É um simples papel em branco com um envelope timbrado da Sociedade. Doris disse-me que no dia da morte do seu pai, quando recebeu a correspondência no correio, você estava lá e pôde ver os envelopes. Julga difícil a dedução?
—E que conseguiu com isso, Rush? As cartas que valem nesta jogada são as minhas e...
—Valiam até à bocado. Agora passou o tempo, e já não...
—Não, Slim, não dispare! — Rush gritou esta ordem com o olhar fixo num ponto nas costas de Donlan.
Este engoliu em parte o truque, pois tudo nele era receio. Donlan vacilou uma fração de segundo. Uma só, que era o suficiente para um homem como Rush Marlowe. As suas mãos voaram para os coldres das suas armas, e nenhuns olhos humanos teriam conseguido seguir os seus movimentos, de precisão e velocidade incríveis.
As suas armas lançaram fogo e chumbo, sem interrupção, numa dupla descarga, repetida três ou quatro vezes. Rush vacilou ao receber uma mordidela de uma bala da pesada «Winchester» tardiamente disparada por Donlan, quando no seu corpo já se encontravam alojados os projéteis fazendo-o vacilar na sela. O disparo saiu baixo, salvando a vida a Rush.
Donlan oscilou, antes de cair crivado de balas. O sangue brotava aos borbulhões de sete ou oito buracos e Rush não sentiu piedade alguma ao vê-lo a seus pés como um boneco destroçado. A vista enevoava-se-lhe.
Também o sangue humedecia já de um vivo escarlate a sua perna. Soltou as armas, ainda quentes, e teve um débil sorriso para as figuras de três cavaleiros que, seguidos de vários, assomavam agora no horizonte. Depois dobraram-se-lhe os joelhos e caiu com um sorriso doloroso no rosto. Bons rapazes os Milligan, pensou entre brumas. Apenas desta vez se tinham atrasado um pouco.
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