—Parece conhecer muito bem estas terras, Rush. Esteve aqui mais vezes?
—Estive. Mas há muito tempo. Não obstante, eu sempre conheci muito bem as margens do velho rio. Nasci junto dele.
— Aqui?
—Não. Em Louisiana. Os meus pais moravam no bairro francês de Nova Orleãs e ali vi a luz do dia. Depois cresci entre pântanos e arrozais, quando compraram umas plantações próximas de Lake Charles, banhado pelas águas do Calcasieu. Poderia contar-lhe muitas coisas da minha vida, mas não merece a pena. É a história de sempre. Podia ter sido um bom rapaz e não fui. Demasiado vulgar.
— Uma vida como a sua não pode ser vulgar, Rush.
Estavam olhando o céu azul, estendidos sobre a relva, com os olhos cravados no firmamento que a espessa ramagem deixava ver. A sua volta, fora do bosque, pressentia-se o calor sufocante àquela hora. O sol, a pino, queimava, implacavelmente, a terra amarelecida. Rush voltou a olhá-la.
—Está noiva de Jess Milligan?
—Não... concretamente. —Doris fechou os olhos. — Mas ele ama-me.
—E você?
—Meu pai zangava-se comigo por saber que nos víamos.
—E você, Doris, está enamorada dele? — insistiu.
Agora as pupilas serenas da jovem estavam fixas nele.
— Julgava estar. Mas já notei que não.
Rush mudou de assunto.
— Como se deu aquela tão oportuna explosão?
Ela pareceu surpreendida com aquela brusca mudança de conversa. Mas respondeu com suavidade:
—Vi que iam condená-los, Rush. E eu tenho muitos amigos em Riverwood. Enquanto um corria a avisar os seus amigos do barco para cooperar no golpe outros ajudaram-me a colocar, de forma aparentemente acidental, dois inocentes barris em frente da fachada principal do edifício. Esses barris continham pólvora suficiente para fazer voar a porta e provocar o pânico. Sabia que você ou alguns dos Milligan aproveitaria a oportunidade.
—E esperou só com um cavalo?
Ela sorriu.
—Contava que seria Rush Marlowe o mais decidido.
— Então acertou — Rush franziu a sobrancelha.
—Julga que correm perigo iminente os Milligan?
—As execuções em Riverwood são ao cair da tarde, Rush.
—Temos, portanto, seis horas. E o juiz Ma-thews não chegou e o pobre Fox está agonizante ou talvez já tenha morrido.
— Podemos recrutar gente nas minhas plantações e nas dos Milligan. Ainda é possível fazer alguma coisa.
— Sim, é possível. Mas continuaremos sendo todos proscritos. «Se houvesse um meio... —Fez uma pausa e olhou fixamente Doris. — Diga-me, Doris, porque julga que eliminaram o seu pai e querem eliminar também os Milligan?
— Não consigo perceber.
—Pense, Doris. Mesmo que seja algo que lhe pareça incompreensível, mas que pode ser o que procuramos. Os seus terrenos e os dos Milligan são, depois dos de Larry Donlan, os melhores desta região. E nem o seu pai nem eles os quiseram vender a Lou Lashwell. Pode ser esse o motivo?
— Pode ser, Rush. Lashwell... perseguiu-me incessantemente. Odeia Jess desde que soube... Bem, desde que soube que simpatizávamos um com o outro. E se ele ficasse com as plantações dos Milligan, passaria a ser o proprietário das suas por meio do casamento...
— Que grande jogada. Meia região seria sua e só lhe faltaria possuir a grande zona algodoeira de Larry Donlan, para ser o dono de todas as melhores plantações de Arkansas.
— Espere, Rush! —Doris falou excitadamente.
— Que se passa?
— O papá, uns dias antes da sua morte, escreveu para Litle Rocky, à Secção de Propriedades Algodoeiras do Estado, consultando não sei o quê acerca dos proprietários desta região. E no dia da sua morte, no correio, entreguei-lhe um envelope impresso dessa Secção, envelope que não apareceu entre as outras cartas quando as examinei depois de ter sido morto.
Rush olhou-a com os olhos brilhantes.
— Mais alguma coisa?
— Sim. O papá tinha estado relativamente tranquilo até então, sem vontade de sair da nossa fazenda. Repentinamente, sem prévio aviso, saiu a cavalo com rumo desconhecido, e nunca mais voltou.
— Ou seja, a leitura da carta provocou-lhe essa decisão.
—Isso mesmo. E sem dúvida, no cadáver não apareceu nem rasto da carta.
— Agora chegamos a alguma parte, Doris —Rush levantou-se olhando o céu. — Temos tempo de chegar a Arkansas City e procurar, de qualquer maneira, um juiz que possa anular as sentenças ditadas por Benson.
Ela pôs uma mão no braço de Rush.
—Rush, vai expor a sua vida por eles?
—Sim, são meus amigos, e tenho de jogar a última cartada na sua defesa.
—Só por isso?
Olhou-a intensamente, ao responder:
—Por isso... e por você, Doris.
Estavam demasiado chegados. Ela tinha levantado a cabeça, com os lábios entreabertas. Rush inclinou-se e beijou-os. Doris passou os braços em volta do pescoço do jogador e o beijo foi longo e intenso. Afastaram-se silenciosos, Rush estava levemente pálido.
— Não devia tê-lo feito, Doris, desculpe.
— Porquê, Rush? Tu amas-me.
—Sim, amo-te, e essa é a maior loucura que nos pode ter acontecido. Sou amigo de Jess e ele está louco por ti.
—Agora vejo, claramente, que não amo Jess.
Rush ia a dizer alguma coisa. Vacilou e mudou de ideia.
—Vamos, Doris! O tempo aperta.
Saíram do pequeno bosque sem pronunciar mais palavra. E pouco depois afastaram-se dali, num furioso galope, em direção a Arkansas City.
Às cinco e meia, as sombras iam-se já estendendo. Cada minuto que passava, aproximava cada vez mais a hora da execução. Através das barras de ferro da janela, Jess Milligan seguia com angústia a implacável marcha do tempo. Restavam-lhe escassos minutos de vida. Voltou-se para Slim e Harry, que permaneciam fechados num profundo silêncio.
—Isto está por pouco, irmãos.
—Diabos te levem! Não tens coisa melhor para dizer? — grunhiu Slim. — Isso já o sabemos todos.
—Posso dizer alguma coisa, ao menos? —interveio Harry. —Rush conseguiu escapar e a estas horas talvez já esteja completamente salvo.
—O Mississípi Lady continua ainda ancorado aqui.
—Talvez pense chegar a tempo de salvar-nos — disse agora Jess.
Slim aproximou-se também da janela da cela:
—Chegará tarde. Nem mesmo ele pode fazer milagres. Para nós é como se já tivéssemos a corda ao pescoço.
— Maldita sorte! — gritou Jess. — Será possível que esses canalhas se saiam bem em tudo?
— Se ao menos o sheriff Fox estivesse vivo...
— Ainda vive — comentou amargamente Harry. — Segundo o comissário Rocky, há agora mais possibilidades de se salvar. Mas isso não nos serve de nada.
—Está inconsciente e é muito grave. Não nos pode ajudar.
Voltou a fazer-se silêncio entre os três condenados, e assim passou meia hora aproximadamente. De repente ouviram-se passos aproximando-se pelo corredor da prisão. Slim empalideceu ligeiramente.
— Bem, irmãos, preparados — disse roucamente. Já aí vêm. Apareceram os comissários, com os rifles apontados, e com eles o juiz Benson, o sheriff provisório Larry Donlan e Lou Lashwell.
— Vamos, rapazes — disse com gravidade Donlan. — Chegou a hora.
Escoltados pela ameaça das armas os três Milligan caminharam para a saída. Na rua principal, uma grande multidão fazia círculo em volta de uma grande árvore que ia servir de forca aos três. De uma das suas mais grossas ramadas pendiam três laços de cânhamo. Embora os três irmãos conservassem a serenidade, Jess não pôde evitar um estremecimento ao vê-los.
Ouviram murmúrios hostis à passagem dos Milligan. Alguns dirigiram-lhes gargalhadas de insulto. Ao chegarem ao lugar da execução, o juiz Benson subiu ao estrado improvisado que tinham colocado ali, e fez-se silêncio entre a multidão, e a sua voz clara e potente falou em termos enérgicos:
— Nestes momentos de confusão, provocados por um lado pelo grave acidente sofrido pelo nosso amigo e primeira autoridade, o sheriff Fox, e por outro a causa da fuga do perigoso bandido Rush Marlowe, foi uma sorte para Riverwood que homens de comprovada honradez como Lou Lashwell e Larry Donlan — e assinalou o fazendeiro onde luzia acidentalmente a estrela de prata — tivessem tomado conta da lei colocando-se a meu lado. Eu só, talvez não tivesse podido controlar os ânimos e ter-se-ia cometido um linchamento, não imerecido, nas pessoas destes três desalmados, que, sem escrúpulos de espécie alguma, assassinaram um homem recto e nobre, como era Matt Howland, querido de todos nós. E ainda, também, são culpados do assassínio de Burton, um bom capataz, que não fazia mal a ninguém, de cumplicidade com o fugitivo Marlowe. Só desejo dizer-lhes, portanto, que me sinto satisfeito e orgulhoso de vocês. A Lei cumpre-se por fim, sem paixões nem violências censuráveis. Slim, Harry e Jess Milligan vão ser pendurados pelo pescoço até morrerem, e com isso voltará a esta pacífica terra a calma e a ordem que só eles alteraram. Deus tenha piedade das suas almas!
Fez um sinal, e os comissários conduziram os três condenados até junto dos três laços. Pálidos, mas tranquilos, os três esperavam.
—Cumpra-se a lei! — exclamou em tom radiante o juiz.
Os comissários avançaram com os laços, para colocá-los no pescoço dos réus, quando...
—Alto, juiz Benson! Suspenda essa execução.
A ordem era seca, como uma chicotada. Centos de olhos voltaram-se para o ponto donde tinha partido a ordem.
— Quem falou assim? — exigiu o juiz, alterado.
Todos abriram caminho, até formar uma rua humana para dar passagem a um grupo de cavaleiros, à frente do qual cavalgava o homem que tinha falado. Montava um cavalo preto como as suas roupas e tinha uma expressão dura e enérgica. Atrás dele, um homem com a estrela de sheriff e outro com o uniforme de militar, precediam vários homens armados e Rush Marlowe. Fechando a comitiva, Doris Howland. O homem de negro voltou a falar incisivamente.
— Esta execução é ilegal. Sou Benedict Mathew, juiz de Lide Rocky, e acompanham-me o sheriff de Arkansas City e o delegado militar John Talbot, do Governo Federal. Em nome da Lei, juiz Benson, ordeno que seja suspendida esta execução e solicito que me informem porque um telegrama assinado pelo sheriff Fox, fez suspender a minha viagem quando chegava a Arkansas City.
—Estive. Mas há muito tempo. Não obstante, eu sempre conheci muito bem as margens do velho rio. Nasci junto dele.
— Aqui?
—Não. Em Louisiana. Os meus pais moravam no bairro francês de Nova Orleãs e ali vi a luz do dia. Depois cresci entre pântanos e arrozais, quando compraram umas plantações próximas de Lake Charles, banhado pelas águas do Calcasieu. Poderia contar-lhe muitas coisas da minha vida, mas não merece a pena. É a história de sempre. Podia ter sido um bom rapaz e não fui. Demasiado vulgar.
— Uma vida como a sua não pode ser vulgar, Rush.
Estavam olhando o céu azul, estendidos sobre a relva, com os olhos cravados no firmamento que a espessa ramagem deixava ver. A sua volta, fora do bosque, pressentia-se o calor sufocante àquela hora. O sol, a pino, queimava, implacavelmente, a terra amarelecida. Rush voltou a olhá-la.
—Está noiva de Jess Milligan?
—Não... concretamente. —Doris fechou os olhos. — Mas ele ama-me.
—E você?
—Meu pai zangava-se comigo por saber que nos víamos.
—E você, Doris, está enamorada dele? — insistiu.
Agora as pupilas serenas da jovem estavam fixas nele.
— Julgava estar. Mas já notei que não.
Rush mudou de assunto.
— Como se deu aquela tão oportuna explosão?
Ela pareceu surpreendida com aquela brusca mudança de conversa. Mas respondeu com suavidade:
—Vi que iam condená-los, Rush. E eu tenho muitos amigos em Riverwood. Enquanto um corria a avisar os seus amigos do barco para cooperar no golpe outros ajudaram-me a colocar, de forma aparentemente acidental, dois inocentes barris em frente da fachada principal do edifício. Esses barris continham pólvora suficiente para fazer voar a porta e provocar o pânico. Sabia que você ou alguns dos Milligan aproveitaria a oportunidade.
—E esperou só com um cavalo?
Ela sorriu.
—Contava que seria Rush Marlowe o mais decidido.
— Então acertou — Rush franziu a sobrancelha.
—Julga que correm perigo iminente os Milligan?
—As execuções em Riverwood são ao cair da tarde, Rush.
—Temos, portanto, seis horas. E o juiz Ma-thews não chegou e o pobre Fox está agonizante ou talvez já tenha morrido.
— Podemos recrutar gente nas minhas plantações e nas dos Milligan. Ainda é possível fazer alguma coisa.
— Sim, é possível. Mas continuaremos sendo todos proscritos. «Se houvesse um meio... —Fez uma pausa e olhou fixamente Doris. — Diga-me, Doris, porque julga que eliminaram o seu pai e querem eliminar também os Milligan?
— Não consigo perceber.
—Pense, Doris. Mesmo que seja algo que lhe pareça incompreensível, mas que pode ser o que procuramos. Os seus terrenos e os dos Milligan são, depois dos de Larry Donlan, os melhores desta região. E nem o seu pai nem eles os quiseram vender a Lou Lashwell. Pode ser esse o motivo?
— Pode ser, Rush. Lashwell... perseguiu-me incessantemente. Odeia Jess desde que soube... Bem, desde que soube que simpatizávamos um com o outro. E se ele ficasse com as plantações dos Milligan, passaria a ser o proprietário das suas por meio do casamento...
— Que grande jogada. Meia região seria sua e só lhe faltaria possuir a grande zona algodoeira de Larry Donlan, para ser o dono de todas as melhores plantações de Arkansas.
— Espere, Rush! —Doris falou excitadamente.
— Que se passa?
— O papá, uns dias antes da sua morte, escreveu para Litle Rocky, à Secção de Propriedades Algodoeiras do Estado, consultando não sei o quê acerca dos proprietários desta região. E no dia da sua morte, no correio, entreguei-lhe um envelope impresso dessa Secção, envelope que não apareceu entre as outras cartas quando as examinei depois de ter sido morto.
Rush olhou-a com os olhos brilhantes.
— Mais alguma coisa?
— Sim. O papá tinha estado relativamente tranquilo até então, sem vontade de sair da nossa fazenda. Repentinamente, sem prévio aviso, saiu a cavalo com rumo desconhecido, e nunca mais voltou.
— Ou seja, a leitura da carta provocou-lhe essa decisão.
—Isso mesmo. E sem dúvida, no cadáver não apareceu nem rasto da carta.
— Agora chegamos a alguma parte, Doris —Rush levantou-se olhando o céu. — Temos tempo de chegar a Arkansas City e procurar, de qualquer maneira, um juiz que possa anular as sentenças ditadas por Benson.
Ela pôs uma mão no braço de Rush.
—Rush, vai expor a sua vida por eles?
—Sim, são meus amigos, e tenho de jogar a última cartada na sua defesa.
—Só por isso?
Olhou-a intensamente, ao responder:
—Por isso... e por você, Doris.
Estavam demasiado chegados. Ela tinha levantado a cabeça, com os lábios entreabertas. Rush inclinou-se e beijou-os. Doris passou os braços em volta do pescoço do jogador e o beijo foi longo e intenso. Afastaram-se silenciosos, Rush estava levemente pálido.
— Não devia tê-lo feito, Doris, desculpe.
— Porquê, Rush? Tu amas-me.
—Sim, amo-te, e essa é a maior loucura que nos pode ter acontecido. Sou amigo de Jess e ele está louco por ti.
—Agora vejo, claramente, que não amo Jess.
Rush ia a dizer alguma coisa. Vacilou e mudou de ideia.
—Vamos, Doris! O tempo aperta.
Saíram do pequeno bosque sem pronunciar mais palavra. E pouco depois afastaram-se dali, num furioso galope, em direção a Arkansas City.
Às cinco e meia, as sombras iam-se já estendendo. Cada minuto que passava, aproximava cada vez mais a hora da execução. Através das barras de ferro da janela, Jess Milligan seguia com angústia a implacável marcha do tempo. Restavam-lhe escassos minutos de vida. Voltou-se para Slim e Harry, que permaneciam fechados num profundo silêncio.
—Isto está por pouco, irmãos.
—Diabos te levem! Não tens coisa melhor para dizer? — grunhiu Slim. — Isso já o sabemos todos.
—Posso dizer alguma coisa, ao menos? —interveio Harry. —Rush conseguiu escapar e a estas horas talvez já esteja completamente salvo.
—O Mississípi Lady continua ainda ancorado aqui.
—Talvez pense chegar a tempo de salvar-nos — disse agora Jess.
Slim aproximou-se também da janela da cela:
—Chegará tarde. Nem mesmo ele pode fazer milagres. Para nós é como se já tivéssemos a corda ao pescoço.
— Maldita sorte! — gritou Jess. — Será possível que esses canalhas se saiam bem em tudo?
— Se ao menos o sheriff Fox estivesse vivo...
— Ainda vive — comentou amargamente Harry. — Segundo o comissário Rocky, há agora mais possibilidades de se salvar. Mas isso não nos serve de nada.
—Está inconsciente e é muito grave. Não nos pode ajudar.
Voltou a fazer-se silêncio entre os três condenados, e assim passou meia hora aproximadamente. De repente ouviram-se passos aproximando-se pelo corredor da prisão. Slim empalideceu ligeiramente.
— Bem, irmãos, preparados — disse roucamente. Já aí vêm. Apareceram os comissários, com os rifles apontados, e com eles o juiz Benson, o sheriff provisório Larry Donlan e Lou Lashwell.
— Vamos, rapazes — disse com gravidade Donlan. — Chegou a hora.
Escoltados pela ameaça das armas os três Milligan caminharam para a saída. Na rua principal, uma grande multidão fazia círculo em volta de uma grande árvore que ia servir de forca aos três. De uma das suas mais grossas ramadas pendiam três laços de cânhamo. Embora os três irmãos conservassem a serenidade, Jess não pôde evitar um estremecimento ao vê-los.
Ouviram murmúrios hostis à passagem dos Milligan. Alguns dirigiram-lhes gargalhadas de insulto. Ao chegarem ao lugar da execução, o juiz Benson subiu ao estrado improvisado que tinham colocado ali, e fez-se silêncio entre a multidão, e a sua voz clara e potente falou em termos enérgicos:
— Nestes momentos de confusão, provocados por um lado pelo grave acidente sofrido pelo nosso amigo e primeira autoridade, o sheriff Fox, e por outro a causa da fuga do perigoso bandido Rush Marlowe, foi uma sorte para Riverwood que homens de comprovada honradez como Lou Lashwell e Larry Donlan — e assinalou o fazendeiro onde luzia acidentalmente a estrela de prata — tivessem tomado conta da lei colocando-se a meu lado. Eu só, talvez não tivesse podido controlar os ânimos e ter-se-ia cometido um linchamento, não imerecido, nas pessoas destes três desalmados, que, sem escrúpulos de espécie alguma, assassinaram um homem recto e nobre, como era Matt Howland, querido de todos nós. E ainda, também, são culpados do assassínio de Burton, um bom capataz, que não fazia mal a ninguém, de cumplicidade com o fugitivo Marlowe. Só desejo dizer-lhes, portanto, que me sinto satisfeito e orgulhoso de vocês. A Lei cumpre-se por fim, sem paixões nem violências censuráveis. Slim, Harry e Jess Milligan vão ser pendurados pelo pescoço até morrerem, e com isso voltará a esta pacífica terra a calma e a ordem que só eles alteraram. Deus tenha piedade das suas almas!
Fez um sinal, e os comissários conduziram os três condenados até junto dos três laços. Pálidos, mas tranquilos, os três esperavam.
—Cumpra-se a lei! — exclamou em tom radiante o juiz.
Os comissários avançaram com os laços, para colocá-los no pescoço dos réus, quando...
—Alto, juiz Benson! Suspenda essa execução.
A ordem era seca, como uma chicotada. Centos de olhos voltaram-se para o ponto donde tinha partido a ordem.
— Quem falou assim? — exigiu o juiz, alterado.
Todos abriram caminho, até formar uma rua humana para dar passagem a um grupo de cavaleiros, à frente do qual cavalgava o homem que tinha falado. Montava um cavalo preto como as suas roupas e tinha uma expressão dura e enérgica. Atrás dele, um homem com a estrela de sheriff e outro com o uniforme de militar, precediam vários homens armados e Rush Marlowe. Fechando a comitiva, Doris Howland. O homem de negro voltou a falar incisivamente.
— Esta execução é ilegal. Sou Benedict Mathew, juiz de Lide Rocky, e acompanham-me o sheriff de Arkansas City e o delegado militar John Talbot, do Governo Federal. Em nome da Lei, juiz Benson, ordeno que seja suspendida esta execução e solicito que me informem porque um telegrama assinado pelo sheriff Fox, fez suspender a minha viagem quando chegava a Arkansas City.
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