Levantou-se a pouco e pouco sem o mais leve ruído. Ainda sentia fortes dores na ferida, mas já não era a dor de antes. A cabeça de Marlowe ia aparecendo aos poucos. O sheriff e Doris continuavam a falar confiada-mente.
— Graças a Lashwell vingaremos a morte de meu pai—disse ela. — Está furioso e desejando enforcar os seus assassinos.
—E você, menina Howland? — perguntou Fox com segunda intenção. — Que quer dizer?
Rush deslizou um pouco mais, sem, todavia, se levantar. A mesa protegia a sua manobra.
—Você entende-me. Entre eles está Jess.
— Jess! — a voz de Doris demonstrava ódio. —Esse comediante, fingindo bondade e amor, enquanto planeava a nossa ruína, e, mais tarde, a morte de meu pai. Desejo vê-lo pendurado no ramo mais alto, tão assombrado e indefeso como meu pai quando apanhou aquelas balas.
Rush ergueu-se totalmente com um salto felino, que sobressaltou ambos os interlocutores e fez Fox precipitar-se para a mesa. Mas chegou tarde uma fração de segundo.
A mão direita do jogador empunhava a coronha, e apoiando-se ainda na mesa, levantou o cano para eles com uma rapidez vertiginosa.
—Quietos, Fox! — ordenou secamente. —Não vacilarei em atirar nem sequer sobre uma mulher.
—Estás louco, Marlowe! —disse muito pálido, o sheriff —Enforcar-te-ei por isto.
O «Anjo» sorriu sem vontade nenhuma.
—E pela outra também, meu amigo. Liquidados os Milligan, não tardaria muito em segui-los também. Ou julgavas-me um menino de colo para acreditar em contos de fadas?
— Não escaparás, Marlowe.
— Tenta deter-me, velho, e não poderás aspirar à glória—brincou Rush, recuperando o seu habitual ar risonho. — Vou sair de Riverwood agora mesmo.
— Não tente detê-lo, sheriff — suplicou Doris, com expressão de horror. —É capaz de o assassinar.
Rush avançou até à saída, sem deixar de vigiar ambos. Quando passou junto de Doris Howland, passou um braço pelos seus ombros. Ela deu um gritinho, mas depois ficou imóvel.
—Vamos, menina Howland, você vai-me acompanhar—disse com fria determinação.
—Não, Marlowe, não farás isso! —rugiu o sheriff.
—Eu creio que sim—caminhou atrás da jovem que seguia aterrada, sem opor resistência. —A vida dela responde pela minha, e você não me persiga até passar um quarto de hora. Entendido?
Pálido e furioso, Fox inclinou a cabeça em sinal de concordância.
— Está bem, Marlowe. Ganhastes — aceitou abatido.
—Não esteja em cuidados por mim, sheriff —disse Doris serenamente, antes de sair. — Não serão capazes de come ter nenhuma canalhice comigo.
— Se se portar bem, garanto-lhe que não—prometeu Rush, alcançando a cancela de madeira.
Viu uma ampla porta junto ao escritório. Dela saía um penetrante cheiro a feno.
—Até breve, Fox!
Entrou por aquela porta, sem soltar Doris. Havia vários cavalos amarrados à parede do estábulo, mas só o primeiro interessou a Rush. Era um soberbo exemplar malhado, que relinchou ao sentir intrusos junto de si. Rush viu algumas selas amontoadas a um canto.
—Apanhe urna dessas selas e coloque-a nesse cavalo—ordenou o jovem afastando-se do umbral, de modo a dominar com a arma a entrada e o interior do estábulo.
Doris obedeceu silenciosamente. Rush estava tranquilo, porque sabia que o sheriff não tentaria nada enquanto a jovem estivesse em tão grave perigo.
Quando o cavalo ficou preparado, Rush fez um gesto com a pistola.
— Suba, rápido! — ordenou.
Doris saltou para o lombo do cavalo, desatando as rédeas da argola da parede.
Com um salto tão hábil como o dela, Rush alcançou a sela, junto às costas da jovem. Guardou o «Colt» no cinto, com uma mão agarrou nas rédeas e com o outro braço rodeou a cintura da jovem, fazendo o cavalo avançar no meio de relinchos agudos.
Quando o animal alcançou a rua, Rush viu Fox, junto da janela do seu escritório. O velho representante da Lei fez um gesto ameaçador com o punho.
— Havemos de nos encontrar, Marlowe! — gritou
—E celebrá-lo-ei muito, velho! —riu o jogador cravando os calcanhares nos flancos do cavalo, que se lançou desenfreadamente num galope vertiginoso.
O animal atravessou as ruas desertas de Riverwood em direção ao Norte, soando os seus cascos sobre o solo como um áspero bater de tambores. As patas finas e ágeis, sustinham o mesmo ritmo de marcha quando o aglomerado de edifícios de madeira ficou para trás e se internaram pela margem do Mississípi, até aos terrenos algodoeiros.
Agora longe, via-se o Mississípi Lady com as suas vigias luminosas refletindo nas águas. Diante deles, sombria e hostil, a noite envolvia os campos de algodão e os caminhos pedregosos, cujos cheiros se uniam ao ar húmido do rio.
— Para onde me leva? — disse em voz alta Dóris, para ser ouvida, por causa do galope e do barulho dos cascos e da velocidade do vento.
— Para «Cottan Land», menina Howland! —informou Rush Marlowe. — O nosso dever de «amigos» é informar Jess e os seus irmãos do que lhes preparam.
Não respondeu à ironia, fechando-se num brusco silêncio. Rush continuava rodeando com o braço a cintura da jovem, e pela primeira vez pensou que a posição era bastante agradável.
A figura de Doris Howland era um perfeito combinado de curvas, e nele não sobrava nem faltava nada. Quando, ao longe, um poste indicador assinalava o princípio dos vastos algodoeiros, Rush Marlowe soube que tinham alcançado «Cottan Land», a fazenda dos irmãos Milligan.
O sheriff Fox deu um murro na mesa encarando o grupo que o rodeava. Estavam ali, entre outros, os rostos agressivos de Lou Lashwell, o seu capataz Scott, Big Wilkes, o plantador Ted Barrel e o poderoso Larry Donlan, cujas terras se estendiam até aos Estados de Louisiana e Mississípi.
— Não pude fazer nada para o evitar, juro-lhes! — exclamou com voz de trovão. — Esse coiote indecente apanhou-me desprevenido e apoderou-se do revólver.
—E levou Doris! —rugiu Lashwell, lívido de ira. —Vejam o inútil sheriff que temos!
— Parece muito preocupado com o sequestro de Doris, hem? — ironizou Barrel com um sorriso.
— É uma jovem indefesa nas mãos de uns bandidos, Ted — protestou Lashwell. — Não é natural que me preocupe?
— Esse Marlowe não parece mau rapaz — interveio Larry Donlan passando uma mão pela branca cabeleira. — Creio que a jovem não corre perigo nenhum.
— Não, hem? — Big Wilkes adiantou-se, excitado. — Sabe que direção tomou esse Marlowe com o cavalo que roubou ao comissário Trenton? Para «Cotton Land»!
Reinou o silêncio. Donlan optou por calar-se, enquanto Lashwell exclamava:
—E vamos consentir que a filha da vítima seja vexada e maltratada agora por esse grupo de desalmados? Onde estão os homens desta cidade? Somos talvez um grupo de chorosas mulherezinhas indefesas?
A provocação era demasiado astuta. Os ânimos excitados acabaram por concordar com ela, e Jonathan Fox viu-se obrigado a gritar:
—Um momento! Sabem muito bem que não quero sangue na minha comarca, quando não seja derramado legalmente. E não tolero linchamento algum.
—E o nosso sangue? — inquiriu Scott. — Quem nos garante que não correrá como o de Matt Howland e o do meu amigo Burton?
Isto acabou de decidir a multidão, que com ruidosos alaridos se lançaram pela rua acima, à procura de cavalos para se dirigirem para «Cottan Land».
A Lei de Linch, com toda a sua selvagem crueldade reaparecia em Riverwood. Fox deu-se por vencido, e ficou só no alpendre, rodeado dos seus três leais comissários, Trenton, Bust e Rocky. Os quatro homens olharam-se abatidos.
—É inevitável, sheriff — grunhiu Trenton. —Essa gente despedaçará os Milligan.
— Não só a eles, mas também esse cabeçudo do Marlowe. Se me tivesse ouvido... A própria Doris Howland corre perigo.
—Não podemos ir protegê-los, depois de tudo... — objetou Rocky. — Cairíamos também nós.
Fox maldisse um sem fim de coisas entre dentes, e entrou no gabinete. Ali aguardava-o o juiz Benson, comodamente instalado numa cadeira. A máxima hierarquia judicial de Riverwood, tinha um débil sorriso nos lábios, e os seus olhos pequenos e vivos cravaram-se com um brilho estranho em Fox.
— Já está a massa em ação hem, sheriff? — comentou brincalhão.
Fox concordou contrariado.
—Sim, Benson, já os vi. São como uma manada de feras selvagens. Não pude contê-los.
—Deixe-os. Convém-nos que as coisas corram assim.
— Porquê? — Fox olhou com surpresa para o juiz, que ergueu a sua corpulenta figura da cadeira.
—Os Milligan cairão... e o caso Howland ficará arrumado.
— Mas não deve acabar assim.
— Cale-se e deixe-me falar — atalhou Benson. —Nós não sabemos se os Milligan mataram Matt. Sem dúvida, a população pensa que sim. Diga-me, Fox, que culpado pensa apresentar ao povo se se provar que os três irmãos estão inocentes?
O sheriff não respondeu. O juiz continuou:
— Estou apresentando uma possibilidade, não esqueça. Se eles não foram, não resta dúvida que algum homem influente daqui pode ser o assassino. Julga que poderíamos, você e eu, combater esse culpado e demonstrar a sua culpabilidade? Não, Fox, só conseguiríamos o fracasso e perder os nossos cargos por inúteis.
—É um modo muito egoísta de ver as coisas, Benson.
— Mas positivamente prático. Não se pode ir contra a corrente.
O velho sheriff guardou silêncio. Pensava em Rush Marlowe e em Doris Howland. Que lhes iria acontecer? De repente houve um borborinho na entrada do escritório. Ainda ouviu protestar Trenton e Rocky, mas duas pessoas romperam pela sala. Fox voltou-se, aborrecido, encarando com Jeannine Goulard e o velho Swane, ambos muito excitados e impetuosos.
— Oiça, sheriff — exclamou Jeannine com energia. — Que asneiras ouvi por aí a respeito de Rush?
— Se ouviu o que imagino, não são asneiras —replicou asperamente Fox. — O seu querido Rush Marlowe assassinou Burton, capataz de Lou Lashwell, com quem ele já discutira esta manhã no saloon de Wilkes, e acaba de fugir a cavalo depois de sequestrar a menina Doris Howland, em direção da fazenda dos seus cúmplices, os Milligan.
—Essa é a maior série de mentiras que jamais ouvi! —gritou Jeannine furiosa. — Devem estar todos loucos!
— O que ouviu é a verdade — interveio pacificamente o Juiz Benson. — E neste momento a maior parte dos homens de Riverwood avançam para a fazenda para linchar os seus moradores.
Jeannine empalideceu intensamente. Swane, também afetado, agarrou-a com firmeza. Por fim, a impetuosa mulher fitou o sheriff:
— Muito bem, sheriff Fox. Se pretende consumar a mais vil das ações, saiba que Deus não lho permitirá! E se Rush cair debaixo dos seus espirros, saiba que Jeannine Goulard chegará para fazer desaparecer até à última casa esta maldita cidade. Vamos, Swane.
E abandonaram o escritório. O sheriff e o juiz começavam a sentir-se preocupados
— Graças a Lashwell vingaremos a morte de meu pai—disse ela. — Está furioso e desejando enforcar os seus assassinos.
—E você, menina Howland? — perguntou Fox com segunda intenção. — Que quer dizer?
Rush deslizou um pouco mais, sem, todavia, se levantar. A mesa protegia a sua manobra.
—Você entende-me. Entre eles está Jess.
— Jess! — a voz de Doris demonstrava ódio. —Esse comediante, fingindo bondade e amor, enquanto planeava a nossa ruína, e, mais tarde, a morte de meu pai. Desejo vê-lo pendurado no ramo mais alto, tão assombrado e indefeso como meu pai quando apanhou aquelas balas.
Rush ergueu-se totalmente com um salto felino, que sobressaltou ambos os interlocutores e fez Fox precipitar-se para a mesa. Mas chegou tarde uma fração de segundo.
A mão direita do jogador empunhava a coronha, e apoiando-se ainda na mesa, levantou o cano para eles com uma rapidez vertiginosa.
—Quietos, Fox! — ordenou secamente. —Não vacilarei em atirar nem sequer sobre uma mulher.
—Estás louco, Marlowe! —disse muito pálido, o sheriff —Enforcar-te-ei por isto.
O «Anjo» sorriu sem vontade nenhuma.
—E pela outra também, meu amigo. Liquidados os Milligan, não tardaria muito em segui-los também. Ou julgavas-me um menino de colo para acreditar em contos de fadas?
— Não escaparás, Marlowe.
— Tenta deter-me, velho, e não poderás aspirar à glória—brincou Rush, recuperando o seu habitual ar risonho. — Vou sair de Riverwood agora mesmo.
— Não tente detê-lo, sheriff — suplicou Doris, com expressão de horror. —É capaz de o assassinar.
Rush avançou até à saída, sem deixar de vigiar ambos. Quando passou junto de Doris Howland, passou um braço pelos seus ombros. Ela deu um gritinho, mas depois ficou imóvel.
—Vamos, menina Howland, você vai-me acompanhar—disse com fria determinação.
—Não, Marlowe, não farás isso! —rugiu o sheriff.
—Eu creio que sim—caminhou atrás da jovem que seguia aterrada, sem opor resistência. —A vida dela responde pela minha, e você não me persiga até passar um quarto de hora. Entendido?
Pálido e furioso, Fox inclinou a cabeça em sinal de concordância.
— Está bem, Marlowe. Ganhastes — aceitou abatido.
—Não esteja em cuidados por mim, sheriff —disse Doris serenamente, antes de sair. — Não serão capazes de come ter nenhuma canalhice comigo.
— Se se portar bem, garanto-lhe que não—prometeu Rush, alcançando a cancela de madeira.
Viu uma ampla porta junto ao escritório. Dela saía um penetrante cheiro a feno.
—Até breve, Fox!
Entrou por aquela porta, sem soltar Doris. Havia vários cavalos amarrados à parede do estábulo, mas só o primeiro interessou a Rush. Era um soberbo exemplar malhado, que relinchou ao sentir intrusos junto de si. Rush viu algumas selas amontoadas a um canto.
—Apanhe urna dessas selas e coloque-a nesse cavalo—ordenou o jovem afastando-se do umbral, de modo a dominar com a arma a entrada e o interior do estábulo.
Doris obedeceu silenciosamente. Rush estava tranquilo, porque sabia que o sheriff não tentaria nada enquanto a jovem estivesse em tão grave perigo.
Quando o cavalo ficou preparado, Rush fez um gesto com a pistola.
— Suba, rápido! — ordenou.
Doris saltou para o lombo do cavalo, desatando as rédeas da argola da parede.
Com um salto tão hábil como o dela, Rush alcançou a sela, junto às costas da jovem. Guardou o «Colt» no cinto, com uma mão agarrou nas rédeas e com o outro braço rodeou a cintura da jovem, fazendo o cavalo avançar no meio de relinchos agudos.
Quando o animal alcançou a rua, Rush viu Fox, junto da janela do seu escritório. O velho representante da Lei fez um gesto ameaçador com o punho.
— Havemos de nos encontrar, Marlowe! — gritou
—E celebrá-lo-ei muito, velho! —riu o jogador cravando os calcanhares nos flancos do cavalo, que se lançou desenfreadamente num galope vertiginoso.
O animal atravessou as ruas desertas de Riverwood em direção ao Norte, soando os seus cascos sobre o solo como um áspero bater de tambores. As patas finas e ágeis, sustinham o mesmo ritmo de marcha quando o aglomerado de edifícios de madeira ficou para trás e se internaram pela margem do Mississípi, até aos terrenos algodoeiros.
Agora longe, via-se o Mississípi Lady com as suas vigias luminosas refletindo nas águas. Diante deles, sombria e hostil, a noite envolvia os campos de algodão e os caminhos pedregosos, cujos cheiros se uniam ao ar húmido do rio.
— Para onde me leva? — disse em voz alta Dóris, para ser ouvida, por causa do galope e do barulho dos cascos e da velocidade do vento.
— Para «Cottan Land», menina Howland! —informou Rush Marlowe. — O nosso dever de «amigos» é informar Jess e os seus irmãos do que lhes preparam.
Não respondeu à ironia, fechando-se num brusco silêncio. Rush continuava rodeando com o braço a cintura da jovem, e pela primeira vez pensou que a posição era bastante agradável.
A figura de Doris Howland era um perfeito combinado de curvas, e nele não sobrava nem faltava nada. Quando, ao longe, um poste indicador assinalava o princípio dos vastos algodoeiros, Rush Marlowe soube que tinham alcançado «Cottan Land», a fazenda dos irmãos Milligan.
O sheriff Fox deu um murro na mesa encarando o grupo que o rodeava. Estavam ali, entre outros, os rostos agressivos de Lou Lashwell, o seu capataz Scott, Big Wilkes, o plantador Ted Barrel e o poderoso Larry Donlan, cujas terras se estendiam até aos Estados de Louisiana e Mississípi.
— Não pude fazer nada para o evitar, juro-lhes! — exclamou com voz de trovão. — Esse coiote indecente apanhou-me desprevenido e apoderou-se do revólver.
—E levou Doris! —rugiu Lashwell, lívido de ira. —Vejam o inútil sheriff que temos!
— Parece muito preocupado com o sequestro de Doris, hem? — ironizou Barrel com um sorriso.
— É uma jovem indefesa nas mãos de uns bandidos, Ted — protestou Lashwell. — Não é natural que me preocupe?
— Esse Marlowe não parece mau rapaz — interveio Larry Donlan passando uma mão pela branca cabeleira. — Creio que a jovem não corre perigo nenhum.
— Não, hem? — Big Wilkes adiantou-se, excitado. — Sabe que direção tomou esse Marlowe com o cavalo que roubou ao comissário Trenton? Para «Cotton Land»!
Reinou o silêncio. Donlan optou por calar-se, enquanto Lashwell exclamava:
—E vamos consentir que a filha da vítima seja vexada e maltratada agora por esse grupo de desalmados? Onde estão os homens desta cidade? Somos talvez um grupo de chorosas mulherezinhas indefesas?
A provocação era demasiado astuta. Os ânimos excitados acabaram por concordar com ela, e Jonathan Fox viu-se obrigado a gritar:
—Um momento! Sabem muito bem que não quero sangue na minha comarca, quando não seja derramado legalmente. E não tolero linchamento algum.
—E o nosso sangue? — inquiriu Scott. — Quem nos garante que não correrá como o de Matt Howland e o do meu amigo Burton?
Isto acabou de decidir a multidão, que com ruidosos alaridos se lançaram pela rua acima, à procura de cavalos para se dirigirem para «Cottan Land».
A Lei de Linch, com toda a sua selvagem crueldade reaparecia em Riverwood. Fox deu-se por vencido, e ficou só no alpendre, rodeado dos seus três leais comissários, Trenton, Bust e Rocky. Os quatro homens olharam-se abatidos.
—É inevitável, sheriff — grunhiu Trenton. —Essa gente despedaçará os Milligan.
— Não só a eles, mas também esse cabeçudo do Marlowe. Se me tivesse ouvido... A própria Doris Howland corre perigo.
—Não podemos ir protegê-los, depois de tudo... — objetou Rocky. — Cairíamos também nós.
Fox maldisse um sem fim de coisas entre dentes, e entrou no gabinete. Ali aguardava-o o juiz Benson, comodamente instalado numa cadeira. A máxima hierarquia judicial de Riverwood, tinha um débil sorriso nos lábios, e os seus olhos pequenos e vivos cravaram-se com um brilho estranho em Fox.
— Já está a massa em ação hem, sheriff? — comentou brincalhão.
Fox concordou contrariado.
—Sim, Benson, já os vi. São como uma manada de feras selvagens. Não pude contê-los.
—Deixe-os. Convém-nos que as coisas corram assim.
— Porquê? — Fox olhou com surpresa para o juiz, que ergueu a sua corpulenta figura da cadeira.
—Os Milligan cairão... e o caso Howland ficará arrumado.
— Mas não deve acabar assim.
— Cale-se e deixe-me falar — atalhou Benson. —Nós não sabemos se os Milligan mataram Matt. Sem dúvida, a população pensa que sim. Diga-me, Fox, que culpado pensa apresentar ao povo se se provar que os três irmãos estão inocentes?
O sheriff não respondeu. O juiz continuou:
— Estou apresentando uma possibilidade, não esqueça. Se eles não foram, não resta dúvida que algum homem influente daqui pode ser o assassino. Julga que poderíamos, você e eu, combater esse culpado e demonstrar a sua culpabilidade? Não, Fox, só conseguiríamos o fracasso e perder os nossos cargos por inúteis.
—É um modo muito egoísta de ver as coisas, Benson.
— Mas positivamente prático. Não se pode ir contra a corrente.
O velho sheriff guardou silêncio. Pensava em Rush Marlowe e em Doris Howland. Que lhes iria acontecer? De repente houve um borborinho na entrada do escritório. Ainda ouviu protestar Trenton e Rocky, mas duas pessoas romperam pela sala. Fox voltou-se, aborrecido, encarando com Jeannine Goulard e o velho Swane, ambos muito excitados e impetuosos.
— Oiça, sheriff — exclamou Jeannine com energia. — Que asneiras ouvi por aí a respeito de Rush?
— Se ouviu o que imagino, não são asneiras —replicou asperamente Fox. — O seu querido Rush Marlowe assassinou Burton, capataz de Lou Lashwell, com quem ele já discutira esta manhã no saloon de Wilkes, e acaba de fugir a cavalo depois de sequestrar a menina Doris Howland, em direção da fazenda dos seus cúmplices, os Milligan.
—Essa é a maior série de mentiras que jamais ouvi! —gritou Jeannine furiosa. — Devem estar todos loucos!
— O que ouviu é a verdade — interveio pacificamente o Juiz Benson. — E neste momento a maior parte dos homens de Riverwood avançam para a fazenda para linchar os seus moradores.
Jeannine empalideceu intensamente. Swane, também afetado, agarrou-a com firmeza. Por fim, a impetuosa mulher fitou o sheriff:
— Muito bem, sheriff Fox. Se pretende consumar a mais vil das ações, saiba que Deus não lho permitirá! E se Rush cair debaixo dos seus espirros, saiba que Jeannine Goulard chegará para fazer desaparecer até à última casa esta maldita cidade. Vamos, Swane.
E abandonaram o escritório. O sheriff e o juiz começavam a sentir-se preocupados
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