A diligência costumava chegar a Los Alamos de manhã, mas naquele dia atrasou-se bastante. Eram cinco da tarde quando o velho e chirreante veículo percorreu a rua principal e parou diante do «saloon» de James Farrell, que explorava a carreira. Os que estavam no passeio tiveram de virar as costas e de fechar os olhos, para que a poeirada levantada pelos cavalos não lhes chegasse aos pulmões.
— Por que te demoraste tanto, Gay? Tiveste algum encontro?
O cocheiro respondeu alegremente, da boleia:
— Entretive-me a pescar trutas no rio, patrão...
O gordo e calvo Farrell estava habituado aos gracejos. Por isso, não fez comentários. Aproximou-se da boleia e perguntou:
— Trazes passageiros?
— Só um.
—E alguma notícia nova?
—Isso pode ver o senhor mesmo — redarguiu, rindo, cocheiro, enquanto saltava para o chão.
Abrira-se a porta do veículo e um homem procurava descer. Os que se agrupavam em torno da diligência, dispostos a satisfazer a sua curiosidade ociosa, ficaram com os olhos fixos ali.
O passageiro era um homem de trinta anos, magro, muito alto. Vestia um fato preto, justo, e usava laço na camisa branca. Mas esta vestimenta, que o faria parecer um elegante noutras ocasiões, quase lhe dava um aspeto lamentável. Não só porque o pó se amontoara no tecido, mas também, sobretudo, porque o casaco e as calças estavam demasiado usados.
Viam-se-lhe os punhos puídos, assim como os fundilhos e os cotovelos, faltavam-lhe botões e havia muito tempo que necessitava de uma boa engomadela. O homem moveu-se desajeitadamente diante do degrau. Segurou a porta com o cotovelo e estendeu com muito cuidado uma perna, até alcançar o estribo. Depois, estendeu a mão direita para o solo, armada de uma bengala.
As pessoas olhavam-no sem tentarem ajudá-lo. Ninguém. Nem o cocheiro, nem o dono do veículo. O passageiro também não o devia esperar, pois continuou a arranjar-se como pôde, até conseguir pôr-se em pé no caminho. O seu rosto ergueu-se então para o grupo que o rodeava, e os seus olhos cinzentos, sérios, percorreram descaradamente o círculo humano.
Tinha feições pouco comuns. Distinguia-se dos demais. E não porque houvesse alguma coisa na sua cara que o assinalasse. Mas a expressão profunda dos seus olhos, as rugas verticais que lhe rodeavam as comissuras dos lábios firmes, davam-lhe uma personalidade muito acentuada.
Gay, o cocheiro, tirara de dentro do veículo uma volumosa bolsa de couro, de asa dupla, e atirou-lhe aos pés, com muito pouca amabilidade.
— Aí tem a sua bagagem — disse-lhe.
Havia provocação no tom das suas palavras. Assim como nos olhos de todos os presentes. Mas o passageiro pareceu não dar por nada. Inclinou-se para apanhar o saco de viagem e, ajudado pela bengala, caminhou para o círculo de espectadores.
James Farrell não se pôde conter. Ao ver que se ia embora, exclamou:
— Este carro volta a Santa Fé amanhã. Será melhor que se vá embora e se esqueça de Los Alamos.
O viajante deteve-se. Virou a cabeça para o gordo, como se fosse dizer alguma coisa, mas não pronunciou palavra. Devia ter pensado melhor, pois continuou a avançar pela rua, sem tentar subir para o passeio. Ao passar por entre os curiosos, um homem novo agarrou-o com força por um braço e puxou-o para si, até lhe pôr o rosto ameaçador diante do nariz.
— Não ouviu? — pergunto. — Não o queremos cá. Vá-se embora!
— Por que veio? — perguntou outro, com tão maus modos como o primeiro.
Os restantes começaram a agitar-se, animados pela atitude dos primeiros. Continuavam a chegar homens e mulheres que se aglomeravam à roda do homem de fato puído. Ele, porém, mantinha-se calmo. Como se não visse os gestos insultantes nem ouvisse as palavras ameaçadoras. Soltou-se da mão que lhe segurava o braço e seguiu o seu caminho. As pessoas afastavam-se dele com maus modos.
Um estendeu o pé e desviou-lhe a bengala, quando ele a ia apoiar no solo para dar um passo. Falhou-lhe a perna e caiu no chão, em cima do saco de viagem.
Fez-se de novo o silêncio. O recém-chegado nem sequer levantou a cabeça para ver quem o fizera cair. Este aproximou-se até se colocar justamente diante dele.
— Caiu? — perguntou-lhe em tom zombeteiro.
O outro assentiu com a cabeça. Estava muito pálido e tinha os lábios apertados com força, mas nada na sua atitude indicou que tencionasse tirar desforço. Pelo contrário, começou a levantar-se com muito custo.
Todos esperavam que se pusesse de novo em pé. Em silêncio. E o que o fizera cair colocou-se diante dele, com ar provocante. Era um tipo corpulento, com o rosto arrepanhado numa careta zombeteira e de desprezo.
— Que tem na perna, doutor? — perguntou-lhe. — Parece que não anda muito bem. E pena. Veja lá se cai outra vez...
— Sim — murmurou o do fato coçado, falando pela primeira vez. — É possível...
— É o mais certo. Por isso o aconselhamos a subir outra vez para a diligência e a esperar que ela parta amanhã para Santa Fé.
— Obrigado pelo seu interesse... mas prefiro que saia daí e me deixe passar.
— E se não quiser sair, que sucederá?
Cruzara os braços e abrira as pernas, para estar mais firme. O recém-chegado pensou um segundo. Notava-se que travava uma terrível luta íntima.
Por fim, com um suspiro de resignação, deu a volta e dirigiu-se para outro lado. Mas mal dera dois passos, quando uma bota lhe passou uma rasteira e foi de cabeça ao chão, pela última vez.
— Pense bem — disse-lhe alguém. — Não resta dúvida de que em Los Alamos não se vai divertir muito, doutor.
— Sobretudo — acrescentou uma voz irónica —, tendo essa perna tão fraca, em que quase não se consegue aguentar. Antes de o caído procurar levantar-se, ouviram-se passos e uma voz firme ordenar:
— Fora daqui!... Não me ouviram? Era Bill Daniels, o xerife, que abria caminho à cotovelada por entre o grupo.
Daniels era um homem de costas enormes e pernas curtas. O vigor personificado. Tinha braços tremendamente fortes e pescoço para o qual não encontrava camisa que lhe servisse. Por isso, andava sempre com o colarinho desabotoado. Não contava mais de trinta e cinco anos, embora aparentasse ter mais, talvez devido à quadratura do seu rosto achatado e enérgico ou às muitas rugas que lhe circundavam os olhos azuis. O povo tinha-lhe um profundo respeito, e ele bem o sabia. Portanto, tratava-o a pontapés.
Todos se apressaram a abrir-lhe caminho, até que pôde chegar junto do caído.
— Venha daí! Vamos! — resmungou, fazendo gestos expressivos com os seus braços de urso.
E agarrou o coxo pelas axilas e levantou-o com incrível facilidade.
— Que surpresa voltar a vê-lo por esta terra, doutor! — exclamou, estendendo-lhe a bengala.
Também ele não parecia muito satisfeito por o ver, antes pelo contrário. O que passara a primeira rasteira disse:
— Obrigue-o a ir-se embora, xerife. Não o queremos ver por cá.
— Cala-te, Pickard — redarguiu Daniels, ameaçador. — Sei o que tenho de fazer. Portanto, fecha a boca. Ou queres que to peça de outra maneira ?
A sua firmeza fez que se começasse a dissolver o grupo, embora de má vontade. As pessoas ainda não estavam convencidas. De boa vontade teriam espancado o recém-chegado. O xerife virou-se de novo para o coxo, que estava a sacudir com as mãos o pó das calças.
— Quer dizer-me por que voltou? — inquiriu.
— Vivo aqui — respondeu o outro — e não fui desterrado. Posso voltar a minha casa quando quiser, suponho.
Bill Daniels franziu os lábios.
— A Lei não lho impede, claro — admitiu. — Mas eu aconselhá-lo-ia...
— Obrigado; não preciso de conselhos.
— Tem a certeza? Pois vou-lhos dar, apesar de tudo, doutor.
— Não me trate por doutor, xerife. Já não sou médico. Não lho disseram?
— Sim, sei que lhe retiraram a licença. Fui eu mesmo que o pedi.
— Nesse caso, trate-me por Frey. É o meu nome.
— Está bem, Frey. Ouça o meu conselho, ou, melhor dizendo, a minha advertência: não tenciono impedi-lo de ficar na povoação, desde que não exerça clínica. Mas também não vou andar atrás de si como uma ama seca. Não quero saber para nada do que lhe aconteça.
— Não lhe pedi auxilio.
— Bem sei. Mas talvez venha a, pedir-mo breve. E perderá o tempo. Se o povo lhe tornar a vida impossível, não mexerei um dedo para o evitar. Estão no seu direito.
Frey perguntou:
— Parece-lhe ?
— Se me parece! Eu procederia do mesmo modo, se não trouxesse esta estrela ao peito. Portanto, pense bem, Frey.
— Já pensei.
— E fica?
— Sim.
Daniels encolheu os enormes ombros.
— Muito bem — disse. — Isso é consigo. Não gostaria de estar na sua pele. Garanto-lhe isto. Bom... garanto--lhe que procederei contra quem o tentar, e nada mais. No entanto, repito-lhe: vá-se embora quanto antes. É o melhor que pode fazer.
Como única resposta, John Frey pegou no seu saco de couro e começou a andar pela rua adiante. Amparava-se com a bengala, mas não devia ser muito grave o que tinha na perna.
O povo, dos passeios, via-o passar com visível desagrado. Ninguém tinha prazer com a sua presença. Ninguém o cumprimentou. Todos o conheciam. Mas a ele parecia importar muito pouco tudo isso. Ou talvez importasse, mas tivesse preocupações mais importantes na cabeça. A verdade é que os seus olhos cinzentos continuavam a olhar em frente, sem se dar ao trabalho de olhar para os lados.
— Olá! — exclamou um homem que saiu da barbearia com a cara meio ensaboada e uma toalha branca presa ao pescoço. — Temos de ir felicitar o coveiro; o «Doutor Uísque» regressou.
Os músculos contraíram-se-lhe e apertou mais os lábios. Mas seguiu em frente, sem virar a cabeça.
— Por que te demoraste tanto, Gay? Tiveste algum encontro?
O cocheiro respondeu alegremente, da boleia:
— Entretive-me a pescar trutas no rio, patrão...
O gordo e calvo Farrell estava habituado aos gracejos. Por isso, não fez comentários. Aproximou-se da boleia e perguntou:
— Trazes passageiros?
— Só um.
—E alguma notícia nova?
—Isso pode ver o senhor mesmo — redarguiu, rindo, cocheiro, enquanto saltava para o chão.
Abrira-se a porta do veículo e um homem procurava descer. Os que se agrupavam em torno da diligência, dispostos a satisfazer a sua curiosidade ociosa, ficaram com os olhos fixos ali.
O passageiro era um homem de trinta anos, magro, muito alto. Vestia um fato preto, justo, e usava laço na camisa branca. Mas esta vestimenta, que o faria parecer um elegante noutras ocasiões, quase lhe dava um aspeto lamentável. Não só porque o pó se amontoara no tecido, mas também, sobretudo, porque o casaco e as calças estavam demasiado usados.
Viam-se-lhe os punhos puídos, assim como os fundilhos e os cotovelos, faltavam-lhe botões e havia muito tempo que necessitava de uma boa engomadela. O homem moveu-se desajeitadamente diante do degrau. Segurou a porta com o cotovelo e estendeu com muito cuidado uma perna, até alcançar o estribo. Depois, estendeu a mão direita para o solo, armada de uma bengala.
As pessoas olhavam-no sem tentarem ajudá-lo. Ninguém. Nem o cocheiro, nem o dono do veículo. O passageiro também não o devia esperar, pois continuou a arranjar-se como pôde, até conseguir pôr-se em pé no caminho. O seu rosto ergueu-se então para o grupo que o rodeava, e os seus olhos cinzentos, sérios, percorreram descaradamente o círculo humano.
Tinha feições pouco comuns. Distinguia-se dos demais. E não porque houvesse alguma coisa na sua cara que o assinalasse. Mas a expressão profunda dos seus olhos, as rugas verticais que lhe rodeavam as comissuras dos lábios firmes, davam-lhe uma personalidade muito acentuada.
Gay, o cocheiro, tirara de dentro do veículo uma volumosa bolsa de couro, de asa dupla, e atirou-lhe aos pés, com muito pouca amabilidade.
— Aí tem a sua bagagem — disse-lhe.
Havia provocação no tom das suas palavras. Assim como nos olhos de todos os presentes. Mas o passageiro pareceu não dar por nada. Inclinou-se para apanhar o saco de viagem e, ajudado pela bengala, caminhou para o círculo de espectadores.
James Farrell não se pôde conter. Ao ver que se ia embora, exclamou:
— Este carro volta a Santa Fé amanhã. Será melhor que se vá embora e se esqueça de Los Alamos.
O viajante deteve-se. Virou a cabeça para o gordo, como se fosse dizer alguma coisa, mas não pronunciou palavra. Devia ter pensado melhor, pois continuou a avançar pela rua, sem tentar subir para o passeio. Ao passar por entre os curiosos, um homem novo agarrou-o com força por um braço e puxou-o para si, até lhe pôr o rosto ameaçador diante do nariz.
— Não ouviu? — pergunto. — Não o queremos cá. Vá-se embora!
— Por que veio? — perguntou outro, com tão maus modos como o primeiro.
Os restantes começaram a agitar-se, animados pela atitude dos primeiros. Continuavam a chegar homens e mulheres que se aglomeravam à roda do homem de fato puído. Ele, porém, mantinha-se calmo. Como se não visse os gestos insultantes nem ouvisse as palavras ameaçadoras. Soltou-se da mão que lhe segurava o braço e seguiu o seu caminho. As pessoas afastavam-se dele com maus modos.
Um estendeu o pé e desviou-lhe a bengala, quando ele a ia apoiar no solo para dar um passo. Falhou-lhe a perna e caiu no chão, em cima do saco de viagem.
Fez-se de novo o silêncio. O recém-chegado nem sequer levantou a cabeça para ver quem o fizera cair. Este aproximou-se até se colocar justamente diante dele.
— Caiu? — perguntou-lhe em tom zombeteiro.
O outro assentiu com a cabeça. Estava muito pálido e tinha os lábios apertados com força, mas nada na sua atitude indicou que tencionasse tirar desforço. Pelo contrário, começou a levantar-se com muito custo.
Todos esperavam que se pusesse de novo em pé. Em silêncio. E o que o fizera cair colocou-se diante dele, com ar provocante. Era um tipo corpulento, com o rosto arrepanhado numa careta zombeteira e de desprezo.
— Que tem na perna, doutor? — perguntou-lhe. — Parece que não anda muito bem. E pena. Veja lá se cai outra vez...
— Sim — murmurou o do fato coçado, falando pela primeira vez. — É possível...
— É o mais certo. Por isso o aconselhamos a subir outra vez para a diligência e a esperar que ela parta amanhã para Santa Fé.
— Obrigado pelo seu interesse... mas prefiro que saia daí e me deixe passar.
— E se não quiser sair, que sucederá?
Cruzara os braços e abrira as pernas, para estar mais firme. O recém-chegado pensou um segundo. Notava-se que travava uma terrível luta íntima.
Por fim, com um suspiro de resignação, deu a volta e dirigiu-se para outro lado. Mas mal dera dois passos, quando uma bota lhe passou uma rasteira e foi de cabeça ao chão, pela última vez.
— Pense bem — disse-lhe alguém. — Não resta dúvida de que em Los Alamos não se vai divertir muito, doutor.
— Sobretudo — acrescentou uma voz irónica —, tendo essa perna tão fraca, em que quase não se consegue aguentar. Antes de o caído procurar levantar-se, ouviram-se passos e uma voz firme ordenar:
— Fora daqui!... Não me ouviram? Era Bill Daniels, o xerife, que abria caminho à cotovelada por entre o grupo.
Daniels era um homem de costas enormes e pernas curtas. O vigor personificado. Tinha braços tremendamente fortes e pescoço para o qual não encontrava camisa que lhe servisse. Por isso, andava sempre com o colarinho desabotoado. Não contava mais de trinta e cinco anos, embora aparentasse ter mais, talvez devido à quadratura do seu rosto achatado e enérgico ou às muitas rugas que lhe circundavam os olhos azuis. O povo tinha-lhe um profundo respeito, e ele bem o sabia. Portanto, tratava-o a pontapés.
Todos se apressaram a abrir-lhe caminho, até que pôde chegar junto do caído.
— Venha daí! Vamos! — resmungou, fazendo gestos expressivos com os seus braços de urso.
E agarrou o coxo pelas axilas e levantou-o com incrível facilidade.
— Que surpresa voltar a vê-lo por esta terra, doutor! — exclamou, estendendo-lhe a bengala.
Também ele não parecia muito satisfeito por o ver, antes pelo contrário. O que passara a primeira rasteira disse:
— Obrigue-o a ir-se embora, xerife. Não o queremos ver por cá.
— Cala-te, Pickard — redarguiu Daniels, ameaçador. — Sei o que tenho de fazer. Portanto, fecha a boca. Ou queres que to peça de outra maneira ?
A sua firmeza fez que se começasse a dissolver o grupo, embora de má vontade. As pessoas ainda não estavam convencidas. De boa vontade teriam espancado o recém-chegado. O xerife virou-se de novo para o coxo, que estava a sacudir com as mãos o pó das calças.
— Quer dizer-me por que voltou? — inquiriu.
— Vivo aqui — respondeu o outro — e não fui desterrado. Posso voltar a minha casa quando quiser, suponho.
Bill Daniels franziu os lábios.
— A Lei não lho impede, claro — admitiu. — Mas eu aconselhá-lo-ia...
— Obrigado; não preciso de conselhos.
— Tem a certeza? Pois vou-lhos dar, apesar de tudo, doutor.
— Não me trate por doutor, xerife. Já não sou médico. Não lho disseram?
— Sim, sei que lhe retiraram a licença. Fui eu mesmo que o pedi.
— Nesse caso, trate-me por Frey. É o meu nome.
— Está bem, Frey. Ouça o meu conselho, ou, melhor dizendo, a minha advertência: não tenciono impedi-lo de ficar na povoação, desde que não exerça clínica. Mas também não vou andar atrás de si como uma ama seca. Não quero saber para nada do que lhe aconteça.
— Não lhe pedi auxilio.
— Bem sei. Mas talvez venha a, pedir-mo breve. E perderá o tempo. Se o povo lhe tornar a vida impossível, não mexerei um dedo para o evitar. Estão no seu direito.
Frey perguntou:
— Parece-lhe ?
— Se me parece! Eu procederia do mesmo modo, se não trouxesse esta estrela ao peito. Portanto, pense bem, Frey.
— Já pensei.
— E fica?
— Sim.
Daniels encolheu os enormes ombros.
— Muito bem — disse. — Isso é consigo. Não gostaria de estar na sua pele. Garanto-lhe isto. Bom... garanto--lhe que procederei contra quem o tentar, e nada mais. No entanto, repito-lhe: vá-se embora quanto antes. É o melhor que pode fazer.
Como única resposta, John Frey pegou no seu saco de couro e começou a andar pela rua adiante. Amparava-se com a bengala, mas não devia ser muito grave o que tinha na perna.
O povo, dos passeios, via-o passar com visível desagrado. Ninguém tinha prazer com a sua presença. Ninguém o cumprimentou. Todos o conheciam. Mas a ele parecia importar muito pouco tudo isso. Ou talvez importasse, mas tivesse preocupações mais importantes na cabeça. A verdade é que os seus olhos cinzentos continuavam a olhar em frente, sem se dar ao trabalho de olhar para os lados.
— Olá! — exclamou um homem que saiu da barbearia com a cara meio ensaboada e uma toalha branca presa ao pescoço. — Temos de ir felicitar o coveiro; o «Doutor Uísque» regressou.
Os músculos contraíram-se-lhe e apertou mais os lábios. Mas seguiu em frente, sem virar a cabeça.
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