sábado, 22 de agosto de 2015

PAS521. Voltei para te salvar

Tinha necessidade de a ver. De repente, sentiu que manter incógnita a sua verdadeira personalidade, era uma asneira. Ela odiava-o de qualquer maneira, mas podia sentir-se um pouco mais segura ao saber que o agente esperado já tinha chegado.
Lançou o cavalo a galope impaciente. Ao longe, o rancho da jovem desenhava-se já, envolvido em jorros de luz.
Pouco depois desmontava diante do alpendre. Não se via ninguém. Mas de repente, uma pequena figura surgiu correndo por uma das esquinas, assustada e chorosa. Soube logo que era o filho de Eula.
— Salva a minha mamã. Salva a minha mamã.
Ao mesmo tempo, no interior de casal ouviu-se um grito agudo de mulher.
Rurt deu um salto, e sem sequer pensar que podia ser uma emboscada, atirou-se contra a porta e ficou parado no umbral enquanto com o olhar percorria toda a sala.
O que viu, fez-lhe dar um salto e gritar de raiva:
- Hereford!
O rancheiro que quase tinha dominado a mulher, voltou-se rígido, e empurrou para o lado Eula. Ela, com a blusa feita em pedaços, os cabelos em desalinho e os braços cheios de vergões, perdeu o equilíbrio e caiu para trás, até que chocou contra a parede, cravando os olhos na figura salvadora.
Erguido no meio da sala, Rurt curvado, com as mãos muito próximas dos seus terríveis revólveres. Debaixo das abas do chapéu, os seus olhos parecia que tinham fogo.
— Cobarde, vil réptil rastejante... «Saca». Vou matar-te.
Hereford levantou as mãos, enquanto as suas pupilas se dilatavam ao reconhecer o homem que tinha na sua frente.
— Hasley.
— Claro que sou Hasley. Mas não pense que me fará, mudar de opinião nem por dez mil dólares. Vim matá-lo, Hereford. E fá-lo-ei tarde ou cedo. Apesar da sua equipa de pistoleiros e a sua perfeita fachada de rancheiro honrado. Vamos, decida-se a «sacar», valente.
O rancheiro não respondeu ao desafio que o texano lhe lançava em cara, e tentou falar:
— Tudo isso não são mais que acusações sem fundamento. E enquanto se arma em defensor de... dessa, lembro-lhe que é uma índia mexicana e tem um filho de certo pistoleiro que morreu às suas mãos.
Rurt rangeu os dentes.
— Naquele momento devia era tê-lo morto a si. Mas fá-lo-ei da próxima vez que o encontre. Embora. Antes que me arrependa e comece a dar ao gatilho.
Sem deixar de olhá-lo, Hereford saiu do rancho. Pouco depois, os cascos do seu cavalo perdiam-se ao longe.
Rurt voltou-se então para Eula, que acabava de deitar sobre a esfarrapada blusa uma jaqueta.
— Fez-lhe algum mal?
— Não— murmurou em voz tremente. — Obrigada por me ter defendido, Hasley. Nunca julguei que chegasse a tempo.
— Porque sou um pistoleiro?
— Porque depois do que lhe disse no gabinete de McCohen... Suponho que o terá feito por puro instinto.
— Talvez por alguma coisa mais.
Ela desviou o olhar e corou vivamente. Theron entrou naquele momento.
— Mamã, o homem mau foi-se embora — e a Rurt: — mandaste-o tu?
O pistoleiro abaixou-se, até que o seu rosto ficou ao nível do pequeno. Mostrou um daqueles sorrisos que tão bem lhe ficavam.
— Claro.
— Ouve, tu és esse papá que a mamã diz que virá qualquer dia? A minha mamã diz que estavas muito longe daqui e que não podias vir.
As mãos fortes do texano agarraram os/ ombros infantis. E Rurt Hasley fez o que na sua comprida carreira de pistoleiro nunca tinha feito: beijou as faces ternas do pequeno e disse:
— O teu papá não pôde vir e mandou-me a mim.
O pequeno saiu a correr e voltou a ir brincar com os seus montes de areia. Rurt levantou-se e o seu olhar cruzou-se com o de Eula. Não houve palavras entre eles. Mas os olhos femininos estavam cheios de lágrimas, e o seu sorriso— cálido e espontâneo chegou até ao fundo do coração do homem.
Durante uns segundos, Eula lutou contra um acesso de choro. Por fim, pôde balbuciar:
— Fique para comer, Rurt. Não aceito nenhuma negativa.
E saiu a correr para a sala contígua. Rurt atirou o chapéu para cima de uma cadeira e foi até ao alpendre. Meia hora depois, ele e Theron eram os melhores amigos do mundo.

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