sexta-feira, 14 de agosto de 2015

PAS516. Um anjo e um pistoleiro apanhados em flagrante

Quando terminou a sua refeição, deixou a importância da despesa em cima da mesa e fez um cigarro antes de se levantar para sair. Acendia-o quando viu através da janela uma coisa que lhe chamou a atenção.
Sem pensar duas vezes, levantou-se e saiu do local para ir atrás da esbelta figura de Marion.
Pôs-se ao seu lado e disse:
— Não esperava encontrá-la aqui.
Ela abrandou o passo.
— Oh, você... — olhava-o com expressão de dúvida. —Pensei que era algum aborrecido.
-- Que faz você em Dell City?
-- A mesma coisa poderia perguntar-lhe eu — replicou Marion, que acrescentou: —Como sempre, acompanhando o meu marido.
Pete segurou-a pelo cotovelo e parou frente a ela, olhando-a na cara. Lamento ter que o dizer, mas o seu marido é um canalha.
Marion corou.
— Não lhe consinto...
Ele não fez caso e olhou para as marcas do rosto feminino.
— Por que suporta essa vida? Você não lhe deve consentir...
Deteve-se. Marion chorava desconsolada e via-se que estava atemorizada.
Tendo analisado a situação pegou-lhe pelo braço e ajudou-a a caminhar.
— Vamos.
Caminharam com certa pressa e saíram da cidade. Em todo o caminho não tinham dito uma só palavra. Marion que tinha lutado para conter as lágrimas, uma vez a sós deu largas à sua dor.
— Não posso suportá-lo mais.
— Por que não o abandona?
— Nunca tive suficiente coragem...
— Ama-o?
— Não! — a resposta parecia uma explosão. — Creio que nunca o amei. Quando me casei era demasiado jovem e não sabia o que fazia. O meu pai tinha morrido pouco tempo antes e casei-me para ter um refúgio. Não tardei em dar conta do meu erro, e... — mordeu os lábios. — Não devo continuar. Devo conservar a minha dignidade.
— Pode confiar em mim.
Vacilou, mas acabou por ceder, impelida pela angústia que a embargava.
— Ele tão pouco me ama... Há muito que somos dois estranhos... sem a menor intimidade... mas ele gosta de me ter perto para descarregar a sua cólera.
Pete segurou-a pelos ombros, sentindo-se ferver de indignação.
— Miserável... –
— Intimamente os seus maus tratos têm aumentado e decidi fugir do seu lado, mas não sei como.
— Eu posso ajudá-la. Acariciou-a suavemente e ela apoiou-se no seu peito viril. Pete roçou-lhe os cabelos com os lábios e ao senti-lo ela recuou vivamente.
— Não! Isso não! — protestou. — Desculpe-me mas devo regressar para junto do meu marido.
— Marion! Você não pode fazer isso — disse, retendo-a pela mão enquanto ela tentava escapar-se. Kelly acabou por soltá-la. — Entendido. Você continua a pensar que eu sou um foragido.
— Eu...
— Sim; acredita que é verdade tudo quanto se diz de mim. Eu poderia justificar-me, mas ainda não chegou o momento. Não cometa uma loucura irreparável, Marion, eu posso ofe-recer-lhe a felicidade se tiver um pouco de paciência... Amo-te, Marion — sussurrou com íntima entoação. — Entraste-me no meu coração... — Agarrou-a entre os seus braços e ela de olhos fechados, admitiu mansamente a aproximação masculina. Desde o dia em que nos encontrámos na meseta sabias que seriamos um do outro e...
Beijou-a nos lábios, numa carícia cheia de carinho e amor.
Foi então que soou perto deles aquela maldição seguida de um rugido ameaçador:
—'Malditos sejam. Vim atrás de vós...
O capitão Frank Dixon estava atrás deles, empunhando o seu «'Colt» militar.
Marion retocedeu dando um grito e Pete apertou os lábios.
— Tinha desejos de o encontrar para lhe cuspir na cara todo o meu nojo pelo trato que tem dado a Marion...
O militar fez uma careta.
— Converteu-se em confidente dela, eh? Uma situação bonita para ambos. Eu sempre disse, Marion que eras uma...
Kelly saltou para a frente, cego pela cólera, sem pensar no perigo que corria. Só deu conta disso quando ouviu o estampido e o zumbir da bala muito perto da sua cabeça. Dixon, assustado pela acometida inesperada do rapaz, tinha desviado ligeiramente o braço, o suficiente porém para falhar o tiro.
Pete bateu-lhe na cara com brutalidade e depois no estômago sem lhe dar um segundo de repouso. Dixon tombou e Pete continuou a bater com ódio até que Marion acudiu para o conter.
— Basta, Pete, já basta! Vais matá-lo...
Conseguiu afastá-lo do capitão, que bufava e gemia no chão. A violenta cena não tinha tido testemunhas, afortunadamente para Pete Kelly por que de outra maneira ter-se-ia arriscado a ser julgado por um tribunal militar. Dixon foi a primeira coisa de que se lembrou, mas na realidade não podia mandar o rapaz a um Tribunal Militar.
— Matá-lo-ei, do mesmo modo. Matá-lo-ei — ameaçou sangrando abundantemente da boca.
Keli deixou cair as mãos ao longo do corpo.
— Estou à sua disposição agora mesmo, se quiser, cobarde — insultou.
— Não me enfrentarei com um pistoleiro como você... Mandarei alguém muito melhor para que não tenha possibi-lidade de escapar...
Cobardemente voltou as costas e desapareceu por detrás das primeiras casas do povoado.
Pete agarrou o braço de Marion e disse:
— Não voltarás para o lado dessa ruína humana. Procuraremos a maneira de anular esse casamento. Até então ficarás alojada no hotel.

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