quinta-feira, 20 de agosto de 2015

PAS518. Matei o pai do teu filho, estás contente?

Amanheceu por fim.
Uma paisagem desolada era a única coisa que restava do rancho de Hayes. Ruínas calcinadas, pastos desertos e os cadáveres dos vaqueiros que tentaram resistir ao ataque.
E em sítio de honra, o cadáver de Theron Grey.
Rurt sentia-se cansado, como se naquela noite tivesse vivido dez anos da sua existência. Arrastando os pés como um sonâmbulo, aproximou-se de Hereford que contemplava com visível satisfação o cenário da sua vitória.
— Se não precisa de mim, dá-me licença que vá visitar determinada pessoa, chefe.
Hereford olhou-o.
— Ontem à noite portou-se como um verdadeiro pistoleiro, Hasley. Vá fazer essa visita. Depois falaremos da gratificação.
Rurt sacudiu o chapéu, montou o seu cavalo e afastou-se.
O rancho de Eula Jones parecia ainda adormecido debaixo dos primeiros raios de sol. Mas não dormia. De unia chaminé surgiu uma leve coluna de fumo, e Rurt desmontou no alpendre, atou o seu cavalo a uma barra horizontal, subiu as escadas a três e três e parou um momento junto da porta.
«Talvez ela me receba de maus modos. Mas por nada deste mundo, quero que seja outro a dar-lhe a notícia de que Hayes e os seus pistoleiros não a incomodarão mais.»
Empurrou a porta e entrou. Eula estava no vestíbulo, empunhando o rifle. Vestia umas calças masculinas, e em volta da cintura um cinturão repleto de balas e um volt 45. Devido à jovem ser muito magra, já se notavam nela as linhas da sua próxima maternidade.
— Bom dia, Eula.
Ela voltou-se como um raio.
— Que faz aqui?
— Vim dar-lhe uma boa notícia. Hayes e os seus pistoleiros não voltarão a incomodá-la mais.
Contra tudo o que esperava, viu-a empalidecer como se aquilo fosse alguma coisa de terrível para ela.
— Que se passou? — perguntou a medo.
— Fizemos uma boa partida no rancho de Hayes. Tiveram que se render. Foi pena é que tivesse sido obrigado a matar num duelo Theron Grey, o pistoleiro californiano. Não queria tê-lo feito.
Eula estava já tão branca que o seu rosto se confundia com a parede.
— Matou Theron Grey?
— Sim, mas não creio que isso...
— Disse há pouco que começava a apaixonar-se por mim ? — perguntou em voz estranha.
— Não creio que...
— Disse?
— Sim, disse. E era verdade, ainda que seja doloroso confessá-lo. Tinha começado a apaixonar-me por você como um idiota.
— Mentira! — gritou ela com força.
Nas negríssimas pupilas femininas brilhava uma luz selvagem.
— Você não é mais que um pistoleiro sanguinário, matador de homens, incapaz de amar alguém. Você não tem alma, nem coração e só pode sentir afeto pelos seus revólveres! Sabe quem era Theron Grey ? O pai do meu filho! O meu amante, se é que quer dizer de maneira crua. E você... você matou-o. Ia casar-se comigo, e você matou-o! ASSASSINO!
Rurt tinha ficado completamente sem fala. Pareceu--lhe que um ferro em brasa lhe queimava o rosto. Theron e Eula ! E o seu filho !
Avançou um passo para ela.
— Oiça, eu não sabia...
A negra boca da «Winchester» olhava-o ameaçadoramente.
— Fora daqui. Saia, maldito pistoleiro. Toda a minha vida o amaldiçoarei pelo que fez. Fora! Como um sonâmbulo, Rurt deu meia volta e saiu, montou o seu cavalo e foi-se.

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