O primeiro contacto que teve com os pistoleiros do bando contrário foi naquele mesmo sábado ao anoitecer.
Quase toda a povoação de Hill City se tinha juntado na rua, aproveitando a véspera, de festa para fazer algumas compras e passear. Viam-se muitos vaqueiros que tinham vindo com a autorização de Hayes e Hereford, e ainda que se olhassem uns aos outros cmn receio, todos se comportavam de maneira a nao provocar sarilho. Não eram homens de armas, mas sim tratadores de vacas. A habilidade com o revólver nao era precisamente o seu forte.
Sem dúvida, os pistoleiros já eram outra coisa. Pavoneavam-se de um extremo ao outro da povoação, e adivinhava-se que de um momento para o outro os tiros começariam pelo mais fácil pretexto.
Rurt nao viu Theron em nenhum sitio. Meteu-se no saloon de Mac, e aproximando-se do balcão onde Lottie ria das graças de dais ou três elegantes, pôs uma moeda sabre o balcão.
— Cerveja. E ri-te um pouco comigo, querida, que venho muito triste.
Ela serviu-lhe o que tinha pedido e dedicou-lhe um perturbador sorriso.
— Assim?
— Diabos, não tanto. De contrário nao vou resistir à tentação de pregar-te um beijo no centro da boca.
– Prendiam-te por escândalo público.
Riram-se os dais, enquanto Lottie corria a servir os clientes recém-chegados. Rurt, com a sua calma habitual, começou a sorver a pequenos golos a cerveja, ao mesmo tempo que olhava para o espelho que tinha na sua frente, vendo quem saía e entrava no estabelecimento.
Os batentes abriram-se mais uma vez para dar passagem a um grupo de homens que arrastavam qualquer coisa entre eles. Algo que se debatia e gritava bastante.
Uma mulher.
Todos os músculos de Rurt se puseram tensos. Apenas viu da mulher uma cabeleira negra coma a noite, em desalinho pela violência da luta. E a saia curta do fato de montar.
Depois chegou-lhe a sua voz.
– Malditos! Custar-lhes-á caro! Juro que os matarei um a um. Canalhas.
Com dois empurrões, um dos homens langou a mulher contra o balcão, onde ficou apoiada, olhando-os com os olhos fulgurantes e o cabelo sobre a cara.
— Dan Hayes não tem na sua equipa mais do que assassinos a soldo — silabou ela entredentes. — Mas já sei o que tenho a fazer quando qualquer de vocês meter o nariz nas minhas terras, atirarei a matar, e perguntarei depois.
Rurt fixou-se então no cinturão negro que lhe cingia as ancas, ainda que no coldre não tivesse nenhum revólver. Depois fixou-se nos homens. Pistoleiros. Altos, jovens e um deles até bonito. Mas com uma luz especial no fundo dos olhos.
Da equipa de Dan Hayes... Rurt começou a sentir um formigueiro na ponta dos dedos!
Um dos recém-chegados começou a rir de forma desagradável.
— Pombinha, vamos falar a sério. Como nunca desces ao povoado para te admirarmos, nenhum to pode dizer galanteios. És muito orgulhosa, sabes? – olhou-a de cima a baixo com insolência. — Muito orgulhosa e muito bonita, sim senhor. Com certeza aspiravas a casar com uma alta personagem do Este, para viver como uma rainha. Mas não está bem que desprezes os homens do Oeste só por sermos mais pobres. Nao sabes que, quando nos levam a mal, somos terríveis?
— Quando alguma coisa é levada a mal, são piores do que hienas— disse ela com raiva.
— É uma grande honra que uma beldade como tu seja dessa opinião. Mas agora terminaram as galanterias. Sabes o que podemos fazer contigo num dos reservados do saloon?
O corpo da mulher estremeceu.
— Não se atreverão!
— E por que não? Ninguém tentara opor-se aos homens de Dan Hayes. Nao disseste antes que éramos assassinos a soldo. Ninguém quer arriscar-se para salvar-te. Seria como um suicídio. Vamos, pomba! Vamo-nos divertir um bocado.
Estendeu o braço para agarrar de novo a mulher.
Nao chegou a tocar-lhe. Uma voz metálica advertiu:
— Deixa a senhora.
Os quatro pistoleiros de Hayes voltaram a cabeça. Encontraram-se com os olhos cinzentos de Rurt, e o seu sorriso gelado que fazia pensar um pouco no sorriso da morte.
– Oiga, amigo! Quem o convidou para este enterro?
— Convidei-me eu próprio. E nao me chame amigo, por favor. Nao gosto que ninguém me insulte.
No saloon tinha-se feito um silêncio de morte. Lottie olhava a cena com interesse. Os outros afastaram-se rapidamente da trajetória das balas.
Nunca ninguém tinha desafiado daquela maneira os pistoleiros de Hayes.
Mas Rurt era Rurt. Sorriu e acrescentou:
--Se não pedem perdão à senhora, mato-os.
— À senhora ? — respondeu um dos quatro. — É uma maldita mestiça mexicana. Não tem sangue branco mais do que metade.
-- Nao me importa o pigmento. Pede-lhe perdão ou nao responderei pelas vossas vidas.
Os quatro pistoleiros nao responderam. Consultaram--se com o olhar uns momentos, e depois tentaram os quatro «sacar», esperando apanhar desprevenido aquele louco tipo que se atrevia a enfrentá-los.
Mas sem dúvida foram demasiado lentos para Rurt. Apenas tiveram tempo de empunhar as armas. Quando se punham em posição de tiro, os revólveres do texano entraram em ação, vomitando chumbo e logo pelas suas bocas.
Um recebeu a bala no meio da cabeça, caindo para trás. Outro no coração. Dobrou-se para a frente e ficou feito num novelo, enquanto o sangue ia formando urn chore° debaixo dele.
O terceiro encaixou o projétil do 45 no meio do rosto. Rolou até uma mesa das mais próximas.
O último quis trincar um bocado de chumbo, mas este era mais duro que os seus dentes. A bala entrou pela boca e saiu-lhe pela nuca. Caiu sobre a mesa e ficou ali, atravessado numa posição grotesca.
Fez-se um silêncio de morte.
Rurt volteou os seus revólveres e colocou-os nos coldres. Sem olhar sequer os que acabava de motor, aproximou-se da mestiça, inclinando-se atencioso diante dela.
— Encontra-se bem.
Sentiu-se atravessado por dois olhos negros, profundos e misteriosos como nunca tinha visto na sua vida. Esteve quase a perder a fala e disse para Lottie:
— Serve dois copos de conhaque.
A mestiça atalhou:
– Não, não... Garanto-lhe...
— Está a precisar. Vai cair-lhe bem.
E aproveitou para continuar a devorá-la com os olhos.
Era bastante alta. Muito mais que Lottie. Mas as suas proporções eram perfeitas. Tinha o nariz bem feito, os lábios um pouco grossos, muito atrativos, e as macas do rosto salientes. Era jovem. Bastante jovem e muito bonito. Com uma beleza ardente, misteriosa, vulcânica, diferente de Lottie, mas muito mais verdadeira.
Uma mulher dos pés a cabeça.
Uma mulher perturbadora, capaz de acender o inferno no coração de um homem. Lottie colocou dois copos, e ainda que nunca bebesse álcool, Rurt bebeu de um só trago e apontou o outro a jovem morena:
— Devia imitar-me. Encontra-se muito pálida e isto reanimá-la-á.
— Obrigada, senhor — disse ela num sopro de voz.
Apanhou o copo e bebeu. Os seus olhos encheram-se de lágrimas devido ao licor ser forte, mas aguentou bem e um tom vermelho invadiu as suas faces. Rurt pensou que assim era muito mais atrativa.
— Repito os meus agradecimentos pelo que fez — murmurou então, estendendo uma mão pequena e fina. — Sou a dona do «Duplo Circulo Cruz».
— Chamo-me Rurt. Acompanhá-la-ei até lá fora.
– Não! Não faz falta que se incomode por tão-pouco. Eu...
— Acompanhá-la-ei.
E foi atrás dela apesar dos seus protestos.
La fora estava parado um pequeno carro puxado por um soberbo cavalo. Rurt examinou ambas as coisas com os olhos críticos e disse:
— Não está mal. A julgar pela amostra, deve ser uma mulher rica.
Ela sorriu com amargura.
— Quando Hayes e Hereford me deixem, serei.
Subiu de um salto para o carro. Empunhava as rédeas quando a mão de Rurt a deteve.
— Ouça, gostaria de aclarar isso que acaba de dizer. Será que Hayes e Hereford lhe fazem a vida impossível?
— Só Hayes, que quer apropriar-se das minhas terras para fundar não sei que império de gado com o meu, o seu e do de Hereford. Está louco... Os seus pistoleiros visitam-me constantemente, espantando o meu gado e metendo o medo no corpo dos meus homens para que abandonem a região. Os vaqueiros recusaram-se continuar comigo por medo das represálias, e encontro-me só. Mas não saio daqui.
— Hereford também segue os mesmos métodos?
— Honra lhe seja feita, não. Fez-me várias ofertas em dinheiro bastante vantajosas, mas recusei vender — a sua voz tinha uma entoação de ternura. — Estas terras pertenceram a meus pais e a meus avós... São uma espécie de legado familiar, e queria que algum dia fossem dos meus filhos. Para o bem ou para o mal. Sou um pouco fatalista, compreende? O que está escrito tem de acontecer. Mas não saio daqui.
Rurt pensou que aquela mulher era digna de lutar e vencer por ela. Alegrou-se de que Hereford não tivesse enviado os seus pistoleiros com fins pouco amistosos, e decidiu de repente que ia lutar por alguma coisa mais do que os dez mil dólares que tinham fixado como prémio dos seus serviços.
Ia lutar também por aquela formosa e valente mulher.
— Posso saber o seu nome, menina ?
— Eula Jones.
— Pois bem, Eula, irei vê-la de vez em quando.
Os lábios femininos tremeram.
— Rurt, estou-lhe muito agradecida pelo que fez hoje por mim, mas será melhor que não me vá ver. Esqueça-se de mim. Não posso aceitar a sua amizade.
— Teme que os homens de Hayes me matem por qualquer coisa do estilo? Tenho a pele muito dura, garanto-lhe!
— Não é por isso, é... — inclinou-se um pouco para ele, com um olhar suplicante no fundo dos seus magníficos olhos. — Por favor, não me obrigue a dizê-lo.
— É um segredo?
— Sim, Rurt, é um segredo e não me pertence inteiramente. Não posso falar. Lamento.
Rurt sorria tratando de ocultar a sua deceção. No seu íntimo estava pensando que não renunciaria tão facilmente à luta, havendo pelo meio uma mulher como Eula.
Mas os seus lábios disseram:
— Está bem. Como queira. Adeus e boa sorte, Eula. Prometo-lhe não pensar em si.
— Obrigada.
Puxou as rédeas ao cavalo e o carro arrancou a toda a velocidade até ao extremo da rua.
Rurt ficou no meio da rua, vendo-a partir.
«Não pensarei em ti, Eula. Mas creio que verei o teu rosto em todas as partes!»
Quase toda a povoação de Hill City se tinha juntado na rua, aproveitando a véspera, de festa para fazer algumas compras e passear. Viam-se muitos vaqueiros que tinham vindo com a autorização de Hayes e Hereford, e ainda que se olhassem uns aos outros cmn receio, todos se comportavam de maneira a nao provocar sarilho. Não eram homens de armas, mas sim tratadores de vacas. A habilidade com o revólver nao era precisamente o seu forte.
Sem dúvida, os pistoleiros já eram outra coisa. Pavoneavam-se de um extremo ao outro da povoação, e adivinhava-se que de um momento para o outro os tiros começariam pelo mais fácil pretexto.
Rurt nao viu Theron em nenhum sitio. Meteu-se no saloon de Mac, e aproximando-se do balcão onde Lottie ria das graças de dais ou três elegantes, pôs uma moeda sabre o balcão.
— Cerveja. E ri-te um pouco comigo, querida, que venho muito triste.
Ela serviu-lhe o que tinha pedido e dedicou-lhe um perturbador sorriso.
— Assim?
— Diabos, não tanto. De contrário nao vou resistir à tentação de pregar-te um beijo no centro da boca.
– Prendiam-te por escândalo público.
Riram-se os dais, enquanto Lottie corria a servir os clientes recém-chegados. Rurt, com a sua calma habitual, começou a sorver a pequenos golos a cerveja, ao mesmo tempo que olhava para o espelho que tinha na sua frente, vendo quem saía e entrava no estabelecimento.
Os batentes abriram-se mais uma vez para dar passagem a um grupo de homens que arrastavam qualquer coisa entre eles. Algo que se debatia e gritava bastante.
Uma mulher.
Todos os músculos de Rurt se puseram tensos. Apenas viu da mulher uma cabeleira negra coma a noite, em desalinho pela violência da luta. E a saia curta do fato de montar.
Depois chegou-lhe a sua voz.
– Malditos! Custar-lhes-á caro! Juro que os matarei um a um. Canalhas.
Com dois empurrões, um dos homens langou a mulher contra o balcão, onde ficou apoiada, olhando-os com os olhos fulgurantes e o cabelo sobre a cara.
— Dan Hayes não tem na sua equipa mais do que assassinos a soldo — silabou ela entredentes. — Mas já sei o que tenho a fazer quando qualquer de vocês meter o nariz nas minhas terras, atirarei a matar, e perguntarei depois.
Rurt fixou-se então no cinturão negro que lhe cingia as ancas, ainda que no coldre não tivesse nenhum revólver. Depois fixou-se nos homens. Pistoleiros. Altos, jovens e um deles até bonito. Mas com uma luz especial no fundo dos olhos.
Da equipa de Dan Hayes... Rurt começou a sentir um formigueiro na ponta dos dedos!
Um dos recém-chegados começou a rir de forma desagradável.
— Pombinha, vamos falar a sério. Como nunca desces ao povoado para te admirarmos, nenhum to pode dizer galanteios. És muito orgulhosa, sabes? – olhou-a de cima a baixo com insolência. — Muito orgulhosa e muito bonita, sim senhor. Com certeza aspiravas a casar com uma alta personagem do Este, para viver como uma rainha. Mas não está bem que desprezes os homens do Oeste só por sermos mais pobres. Nao sabes que, quando nos levam a mal, somos terríveis?
— Quando alguma coisa é levada a mal, são piores do que hienas— disse ela com raiva.
— É uma grande honra que uma beldade como tu seja dessa opinião. Mas agora terminaram as galanterias. Sabes o que podemos fazer contigo num dos reservados do saloon?
O corpo da mulher estremeceu.
— Não se atreverão!
— E por que não? Ninguém tentara opor-se aos homens de Dan Hayes. Nao disseste antes que éramos assassinos a soldo. Ninguém quer arriscar-se para salvar-te. Seria como um suicídio. Vamos, pomba! Vamo-nos divertir um bocado.
Estendeu o braço para agarrar de novo a mulher.
Nao chegou a tocar-lhe. Uma voz metálica advertiu:
— Deixa a senhora.
Os quatro pistoleiros de Hayes voltaram a cabeça. Encontraram-se com os olhos cinzentos de Rurt, e o seu sorriso gelado que fazia pensar um pouco no sorriso da morte.
– Oiga, amigo! Quem o convidou para este enterro?
— Convidei-me eu próprio. E nao me chame amigo, por favor. Nao gosto que ninguém me insulte.
No saloon tinha-se feito um silêncio de morte. Lottie olhava a cena com interesse. Os outros afastaram-se rapidamente da trajetória das balas.
Nunca ninguém tinha desafiado daquela maneira os pistoleiros de Hayes.
Mas Rurt era Rurt. Sorriu e acrescentou:
--Se não pedem perdão à senhora, mato-os.
— À senhora ? — respondeu um dos quatro. — É uma maldita mestiça mexicana. Não tem sangue branco mais do que metade.
-- Nao me importa o pigmento. Pede-lhe perdão ou nao responderei pelas vossas vidas.
Os quatro pistoleiros nao responderam. Consultaram--se com o olhar uns momentos, e depois tentaram os quatro «sacar», esperando apanhar desprevenido aquele louco tipo que se atrevia a enfrentá-los.
Mas sem dúvida foram demasiado lentos para Rurt. Apenas tiveram tempo de empunhar as armas. Quando se punham em posição de tiro, os revólveres do texano entraram em ação, vomitando chumbo e logo pelas suas bocas.
Um recebeu a bala no meio da cabeça, caindo para trás. Outro no coração. Dobrou-se para a frente e ficou feito num novelo, enquanto o sangue ia formando urn chore° debaixo dele.
O terceiro encaixou o projétil do 45 no meio do rosto. Rolou até uma mesa das mais próximas.
O último quis trincar um bocado de chumbo, mas este era mais duro que os seus dentes. A bala entrou pela boca e saiu-lhe pela nuca. Caiu sobre a mesa e ficou ali, atravessado numa posição grotesca.
Fez-se um silêncio de morte.
Rurt volteou os seus revólveres e colocou-os nos coldres. Sem olhar sequer os que acabava de motor, aproximou-se da mestiça, inclinando-se atencioso diante dela.
— Encontra-se bem.
Sentiu-se atravessado por dois olhos negros, profundos e misteriosos como nunca tinha visto na sua vida. Esteve quase a perder a fala e disse para Lottie:
— Serve dois copos de conhaque.
A mestiça atalhou:
– Não, não... Garanto-lhe...
— Está a precisar. Vai cair-lhe bem.
E aproveitou para continuar a devorá-la com os olhos.
Era bastante alta. Muito mais que Lottie. Mas as suas proporções eram perfeitas. Tinha o nariz bem feito, os lábios um pouco grossos, muito atrativos, e as macas do rosto salientes. Era jovem. Bastante jovem e muito bonito. Com uma beleza ardente, misteriosa, vulcânica, diferente de Lottie, mas muito mais verdadeira.
Uma mulher dos pés a cabeça.
Uma mulher perturbadora, capaz de acender o inferno no coração de um homem. Lottie colocou dois copos, e ainda que nunca bebesse álcool, Rurt bebeu de um só trago e apontou o outro a jovem morena:
— Devia imitar-me. Encontra-se muito pálida e isto reanimá-la-á.
— Obrigada, senhor — disse ela num sopro de voz.
Apanhou o copo e bebeu. Os seus olhos encheram-se de lágrimas devido ao licor ser forte, mas aguentou bem e um tom vermelho invadiu as suas faces. Rurt pensou que assim era muito mais atrativa.
— Repito os meus agradecimentos pelo que fez — murmurou então, estendendo uma mão pequena e fina. — Sou a dona do «Duplo Circulo Cruz».
— Chamo-me Rurt. Acompanhá-la-ei até lá fora.
– Não! Não faz falta que se incomode por tão-pouco. Eu...
— Acompanhá-la-ei.
E foi atrás dela apesar dos seus protestos.
La fora estava parado um pequeno carro puxado por um soberbo cavalo. Rurt examinou ambas as coisas com os olhos críticos e disse:
— Não está mal. A julgar pela amostra, deve ser uma mulher rica.
Ela sorriu com amargura.
— Quando Hayes e Hereford me deixem, serei.
Subiu de um salto para o carro. Empunhava as rédeas quando a mão de Rurt a deteve.
— Ouça, gostaria de aclarar isso que acaba de dizer. Será que Hayes e Hereford lhe fazem a vida impossível?
— Só Hayes, que quer apropriar-se das minhas terras para fundar não sei que império de gado com o meu, o seu e do de Hereford. Está louco... Os seus pistoleiros visitam-me constantemente, espantando o meu gado e metendo o medo no corpo dos meus homens para que abandonem a região. Os vaqueiros recusaram-se continuar comigo por medo das represálias, e encontro-me só. Mas não saio daqui.
— Hereford também segue os mesmos métodos?
— Honra lhe seja feita, não. Fez-me várias ofertas em dinheiro bastante vantajosas, mas recusei vender — a sua voz tinha uma entoação de ternura. — Estas terras pertenceram a meus pais e a meus avós... São uma espécie de legado familiar, e queria que algum dia fossem dos meus filhos. Para o bem ou para o mal. Sou um pouco fatalista, compreende? O que está escrito tem de acontecer. Mas não saio daqui.
Rurt pensou que aquela mulher era digna de lutar e vencer por ela. Alegrou-se de que Hereford não tivesse enviado os seus pistoleiros com fins pouco amistosos, e decidiu de repente que ia lutar por alguma coisa mais do que os dez mil dólares que tinham fixado como prémio dos seus serviços.
Ia lutar também por aquela formosa e valente mulher.
— Posso saber o seu nome, menina ?
— Eula Jones.
— Pois bem, Eula, irei vê-la de vez em quando.
Os lábios femininos tremeram.
— Rurt, estou-lhe muito agradecida pelo que fez hoje por mim, mas será melhor que não me vá ver. Esqueça-se de mim. Não posso aceitar a sua amizade.
— Teme que os homens de Hayes me matem por qualquer coisa do estilo? Tenho a pele muito dura, garanto-lhe!
— Não é por isso, é... — inclinou-se um pouco para ele, com um olhar suplicante no fundo dos seus magníficos olhos. — Por favor, não me obrigue a dizê-lo.
— É um segredo?
— Sim, Rurt, é um segredo e não me pertence inteiramente. Não posso falar. Lamento.
Rurt sorria tratando de ocultar a sua deceção. No seu íntimo estava pensando que não renunciaria tão facilmente à luta, havendo pelo meio uma mulher como Eula.
Mas os seus lábios disseram:
— Está bem. Como queira. Adeus e boa sorte, Eula. Prometo-lhe não pensar em si.
— Obrigada.
Puxou as rédeas ao cavalo e o carro arrancou a toda a velocidade até ao extremo da rua.
Rurt ficou no meio da rua, vendo-a partir.
«Não pensarei em ti, Eula. Mas creio que verei o teu rosto em todas as partes!»
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