O cavalo pisava agora o verde tapete de erva. Seus cascos sobre ela não produziam qualquer ruído. E estacou quando o arroio surgiu junto dele. O animal baixou a cabeça para beber e, O'Hara, sobre a cela, permaneceu na mesma atitude pensativa. Um grito, procedente das águas, obrigou-o a erguer subitamente a cabeça, enquanto seus pensamentos se esfumavam.
Porque ali, na sua frente, estava uma visão maravilhosa. O'Hara viu primeiro a ondulação duma cabeleira brilhando ao sol como oiro, depois um rosto de deusa... e o sangue converteu-se em fogo.
Porque ali, na sua frente, estava uma visão maravilhosa. O'Hara viu primeiro a ondulação duma cabeleira brilhando ao sol como oiro, depois um rosto de deusa... e o sangue converteu-se em fogo.
«Quem era aquela diabólica beleza feminina que ele não conhecia? Acaso seria a deusa do pequeno bosque, ou talvez das águas?»
E justamente quando o jovem fazia a si mesmo a última pergunta, ela gritou novamente:
— Saia daí. Desapareça... seu rufião... Que pretende?
Por instantes, O'Hara franziu o sobrolho. Depois ergueu a cabeça e voltou a fitar as águas. A mulher, nadando ~tente com a cabeça fora de água, acercava-se da margem.
O'Hara estava esperando que ela chegasse. O seu primeiro impulso fora retirar-se dali, mas o insulto que ela proferira obrigou-o a mudar de ideias.
A mulher, que mais não teria do que uns vinte anos, estava agora junto da margem. O'Hara admirou o seu rosto, agora crispado pela mais diabólica fúria, aqueles olhos belos, rasgados, verdes como uma pedra de jade, de longas e desenhadas pestanas ruivas, seu rosto maravilhoso de faces rosadas como um fruto maduro, o nariz fino e recto de deusa pagã.
Os lábios... O'Hara pensou por instantes que nunca tinha visto nada semelhante, e num estranho contraste com os seus anteriores pensamentos, também naquele momento recordou Noemi, a mulher que tinha fingido ser cega para cumprir uma vingança e que fora sua mulher durante três anos; três anos que para ele mais lhe pareciam ter sido três dias.
O jovem fitou-os de uma maneira insistente. Carnudos e vermelhos como uma cereja madura. Incitantes, convidando ao beijo, húmidos pela água e de si mesmos, trémulos agora pela fúria que também se refletia na sua boca, um tanto grande, seu pequeno queixo com uma covinha ao centro, e seus diminutos e brancos dentes, quais pérolas brilhando ao sol.
O'Hara prosseguiu, olhando a garganta branca com brilho de nácar, levemente rosada, a brancura imaculada de um dos seus ombros, enquanto a água cobria o outro. Olhou mais ainda e desviou o rosto para encarar aquelas duas fúrias verdes que, por seu turno, o fitavam refletindo o desejo de matar.
— Quer afastar-se ou não, vaqueiro?
— Antes disso temos ainda outra coisa, menina. Se não retira o que disse, receio bem que o seu banho se vai prolongar por muito tempo.
— Patife! Canalha! Saia daqui... por favor.
E O'Hara sorriu levemente, fitando as águas e pensando no duro contraste que havia entre os insultos que ela tinha proferido com a sua petição final. Vou sair:
— Quer afastar-se, ou não? Se o fizer, prometo que esqueço isto! Se não...
— Diga...
— Vai pagar muito caro, seu ordinário! Meto-lhe no corpo tanto chumbo que não poderá digeri-lo.
— Por mim, não há problema. Pode sair, quando entender que não sou eu quem a vai impedir. O rosto da jovem refletiu por instantes toda a fúria que sentia. Depois empalideceu, pensando que estava metida num verdadeiro apuro. Aquele homem não safa dali. Afinal, que pretendia ele? E pensando nisto suas faces ficaram extremamente ruborizadas. Em seguida, fitou-o com temor e O'Hara percebeu isso. Finalmente, veio a pergunta:
— O que... quer de mim?
— Nada. Quero simplesmente contemplar algo maravilhoso que até hoje jamais tinha visto.
— Maldito seja. Terá notícias de Jayne Sinclair.
Pela primeira vez na sua vida, O'Hara sentia-se divertido perante a fúria de uma mulher, apesar de lhe dar toda a razão. Estava verdadeiramente encantado com aqueles olhos e o brilho quase satânico deles, assim como com a sua boca. Fitou seguidamente a sua garganta e as águas e então o jovem concluiu que era melhor deixá-la em paz. Voltou-se, ficando de costas, e a sua voz soou enrouquecida quando disse:
— Pode sair quando quiser. Não me volto..., mas quero vê-la depois. Um rosto como o seu, deve ter um complemento adequado.
Ela permaneceu uns segundos hesitante, inquieta e plena de fúria que lhe fazia ferver o sangue nas veias como se fosse um vulcão.
Depois, muito lentamente, saiu da água com o rosto voltado para as costas de O'Hara, que se tinha apeado. Caminhando descalça, Jayne alcançou o espesso tufo de artemisa onde tinha deixado ficar a roupa, sem afastar os olhos do jovem.
Nem se preocupou em limpar-se. O'Hara mantinha-se impassível, de costas, até que escutou o rápido deslisar de seus pés sobre a almofada de erva.
Voltou-se para encarar aquela rapariga que avançava na sua direção, lamentando-se de não ter consigo um «Colt», no preciso instante de a apanhar nos seus braços que a cingiram pela cintura, aprisionando-lhe os dela, evitando que as suas mãos, como duas garras, o atingissem , no rosto.
Jayne Sinclair debateu-se como uma serpente, ou pelo menos era isso que ele estava pensando ao sentir contra o seu corpo o calor da jovem que continuava vociferando surdamente:
— Canalha! Bandido! Patife!... Largue-me; está a magoar-me! Porco!...
O'Hara não fazia caso. Pelo contrário. Lentamente começou a apertar e Jayne sentiu que pouco a pouco a respiração lhe fugia do corpo. Ainda assim, por uns minutos debateu-se, até que ficou exausta.
A jovem permaneceu vacilante e respirando entrecortadamente; O'Hara fitou-a, não no rosto, claro.
E ficou sem saber o que fazer perante a selvática beleza que emanava daquele corpo maravilhoso e felino como um gato ou um tigre.
Suas pernas, embora cobertas, eram bem traçadas, altas e proporcionadas. O'Hara parecia adivinhar, assim como concluiu, que não podiam ter comparação possível com as de qualquer estrela dos diversos «saloons» que tinha encontrado no seu caminho, embora fossem inúmeros.
Mas a ele só lhe restava apreciar o que estava mesmo vendo. Que a blusa era decotada e, depois... bem, tudo quanto se seguia. Ainda que quisesse continuar na sua observação, não teve outro remédio senão fitá-la no rosto atendendo a que ela já tinha recobrado o fôlego e exclamava já:
— Vai pagar muito caro tudo isto, se pensa ficar nesta terra, vaqueiro. E não esqueço facilmente. O senhor...— e O'Hara pensou que ela morreria sufocada se tivesse outro ataque de fúria. — Viu-me de cima e desceu — e o jovem olhou fascinado o bem torneado braço que, erguido agora, apontava o cume do monte por onde ele tinha descido. — Isso ninguém o faria... a não ser um indivíduo da sua espécie.
Jayne calou-se por instantes e com os olhos plenos de fogo acercou-se dele até quase lhe tocar. O'Hara preparou-se, mas a jovem limitou-se a perguntar:
— Que foi que viu... seu rufião? Gos...?
Bob O'Hara ficou sem saber o que ela ia para dizer. Subitamente, ela levantou a mão e levada pela cólera que cada vez mais sentia, agrediu-o por duas vezes.
O jovem nada pôde fazer para evitar a agressão e os estalos soaram como duas detonações. Jayne voltou a tomar posição, mas desta vez O'Hara foi mais rápido do que ela. Moveu-se para o lado e quando a jovem perdeu o equilíbrio, ao falhar a agressão, para seguidamente se voltar como um fogoso felino, O'Hara agarrou-a pelas mãos.
Durante uns segundos teve-a à sua mercê contra o seu peito, enquanto ela procurava a todo o custo agredi-lo com os seus pés descalços, fitando aqueles lábios maravilhosos, o belo rosto erguido para ele onde os olhos verdes ressaltavam poderosamente, cheio ainda de gotas de água que, como pérolas, emprestavam a este um encanto ainda maior.
E subitamente O'Hara sentiu-se arrebatado. Acima de tudo por aquela boca que se movia trémula, como se quisesse murmurar qualquer coisa.
Então, sentindo uma estranha sensação por todo o seu corpo, o jovem colou os seus lábios aos dela, sentindo no mesmo instante o suave odor a sálvia e artemisa que se desprendia dela.
E quando Jayne sentiu os lábios masculinos nos seus, deixou de se debater. Ficou extremamente calma entre os braços de O'Hara, tanto que a sua mente se transformou num caos.
E quando uma ideia começou surgindo, dando-lhe a entender o que estava sucedendo, o jovem afastou-a de si mantendo-a ainda presa pelas mãos.
Jayne sentiu-se incapacitada de pensar, ao vê-lo agora com as suas feições alteradas, como se estivesse horrorizado. Depois...
E com um violento empurrão, lançou-a sobre a erva. Logo de seguida afastou-se, voltando-lhe as costas.
A jovem ficou ali mesmo, feita num novelo, com a mão junto da boca e uma estranha indefinível expressão no rosto, enquanto O'Hara montava no seu cavalo, desaparecendo pouco depois por entre o arvoredo.
E justamente quando o jovem fazia a si mesmo a última pergunta, ela gritou novamente:
— Saia daí. Desapareça... seu rufião... Que pretende?
Por instantes, O'Hara franziu o sobrolho. Depois ergueu a cabeça e voltou a fitar as águas. A mulher, nadando ~tente com a cabeça fora de água, acercava-se da margem.
O'Hara estava esperando que ela chegasse. O seu primeiro impulso fora retirar-se dali, mas o insulto que ela proferira obrigou-o a mudar de ideias.
A mulher, que mais não teria do que uns vinte anos, estava agora junto da margem. O'Hara admirou o seu rosto, agora crispado pela mais diabólica fúria, aqueles olhos belos, rasgados, verdes como uma pedra de jade, de longas e desenhadas pestanas ruivas, seu rosto maravilhoso de faces rosadas como um fruto maduro, o nariz fino e recto de deusa pagã.
Os lábios... O'Hara pensou por instantes que nunca tinha visto nada semelhante, e num estranho contraste com os seus anteriores pensamentos, também naquele momento recordou Noemi, a mulher que tinha fingido ser cega para cumprir uma vingança e que fora sua mulher durante três anos; três anos que para ele mais lhe pareciam ter sido três dias.
O jovem fitou-os de uma maneira insistente. Carnudos e vermelhos como uma cereja madura. Incitantes, convidando ao beijo, húmidos pela água e de si mesmos, trémulos agora pela fúria que também se refletia na sua boca, um tanto grande, seu pequeno queixo com uma covinha ao centro, e seus diminutos e brancos dentes, quais pérolas brilhando ao sol.
O'Hara prosseguiu, olhando a garganta branca com brilho de nácar, levemente rosada, a brancura imaculada de um dos seus ombros, enquanto a água cobria o outro. Olhou mais ainda e desviou o rosto para encarar aquelas duas fúrias verdes que, por seu turno, o fitavam refletindo o desejo de matar.
— Quer afastar-se ou não, vaqueiro?
— Antes disso temos ainda outra coisa, menina. Se não retira o que disse, receio bem que o seu banho se vai prolongar por muito tempo.
— Patife! Canalha! Saia daqui... por favor.
E O'Hara sorriu levemente, fitando as águas e pensando no duro contraste que havia entre os insultos que ela tinha proferido com a sua petição final. Vou sair:
— Quer afastar-se, ou não? Se o fizer, prometo que esqueço isto! Se não...
— Diga...
— Vai pagar muito caro, seu ordinário! Meto-lhe no corpo tanto chumbo que não poderá digeri-lo.
— Por mim, não há problema. Pode sair, quando entender que não sou eu quem a vai impedir. O rosto da jovem refletiu por instantes toda a fúria que sentia. Depois empalideceu, pensando que estava metida num verdadeiro apuro. Aquele homem não safa dali. Afinal, que pretendia ele? E pensando nisto suas faces ficaram extremamente ruborizadas. Em seguida, fitou-o com temor e O'Hara percebeu isso. Finalmente, veio a pergunta:
— O que... quer de mim?
— Nada. Quero simplesmente contemplar algo maravilhoso que até hoje jamais tinha visto.
— Maldito seja. Terá notícias de Jayne Sinclair.
Pela primeira vez na sua vida, O'Hara sentia-se divertido perante a fúria de uma mulher, apesar de lhe dar toda a razão. Estava verdadeiramente encantado com aqueles olhos e o brilho quase satânico deles, assim como com a sua boca. Fitou seguidamente a sua garganta e as águas e então o jovem concluiu que era melhor deixá-la em paz. Voltou-se, ficando de costas, e a sua voz soou enrouquecida quando disse:
— Pode sair quando quiser. Não me volto..., mas quero vê-la depois. Um rosto como o seu, deve ter um complemento adequado.
Ela permaneceu uns segundos hesitante, inquieta e plena de fúria que lhe fazia ferver o sangue nas veias como se fosse um vulcão.
Depois, muito lentamente, saiu da água com o rosto voltado para as costas de O'Hara, que se tinha apeado. Caminhando descalça, Jayne alcançou o espesso tufo de artemisa onde tinha deixado ficar a roupa, sem afastar os olhos do jovem.
Nem se preocupou em limpar-se. O'Hara mantinha-se impassível, de costas, até que escutou o rápido deslisar de seus pés sobre a almofada de erva.
Voltou-se para encarar aquela rapariga que avançava na sua direção, lamentando-se de não ter consigo um «Colt», no preciso instante de a apanhar nos seus braços que a cingiram pela cintura, aprisionando-lhe os dela, evitando que as suas mãos, como duas garras, o atingissem , no rosto.
Jayne Sinclair debateu-se como uma serpente, ou pelo menos era isso que ele estava pensando ao sentir contra o seu corpo o calor da jovem que continuava vociferando surdamente:
— Canalha! Bandido! Patife!... Largue-me; está a magoar-me! Porco!...
O'Hara não fazia caso. Pelo contrário. Lentamente começou a apertar e Jayne sentiu que pouco a pouco a respiração lhe fugia do corpo. Ainda assim, por uns minutos debateu-se, até que ficou exausta.
A jovem permaneceu vacilante e respirando entrecortadamente; O'Hara fitou-a, não no rosto, claro.
E ficou sem saber o que fazer perante a selvática beleza que emanava daquele corpo maravilhoso e felino como um gato ou um tigre.
Suas pernas, embora cobertas, eram bem traçadas, altas e proporcionadas. O'Hara parecia adivinhar, assim como concluiu, que não podiam ter comparação possível com as de qualquer estrela dos diversos «saloons» que tinha encontrado no seu caminho, embora fossem inúmeros.
Mas a ele só lhe restava apreciar o que estava mesmo vendo. Que a blusa era decotada e, depois... bem, tudo quanto se seguia. Ainda que quisesse continuar na sua observação, não teve outro remédio senão fitá-la no rosto atendendo a que ela já tinha recobrado o fôlego e exclamava já:
— Vai pagar muito caro tudo isto, se pensa ficar nesta terra, vaqueiro. E não esqueço facilmente. O senhor...— e O'Hara pensou que ela morreria sufocada se tivesse outro ataque de fúria. — Viu-me de cima e desceu — e o jovem olhou fascinado o bem torneado braço que, erguido agora, apontava o cume do monte por onde ele tinha descido. — Isso ninguém o faria... a não ser um indivíduo da sua espécie.
Jayne calou-se por instantes e com os olhos plenos de fogo acercou-se dele até quase lhe tocar. O'Hara preparou-se, mas a jovem limitou-se a perguntar:
— Que foi que viu... seu rufião? Gos...?
Bob O'Hara ficou sem saber o que ela ia para dizer. Subitamente, ela levantou a mão e levada pela cólera que cada vez mais sentia, agrediu-o por duas vezes.
O jovem nada pôde fazer para evitar a agressão e os estalos soaram como duas detonações. Jayne voltou a tomar posição, mas desta vez O'Hara foi mais rápido do que ela. Moveu-se para o lado e quando a jovem perdeu o equilíbrio, ao falhar a agressão, para seguidamente se voltar como um fogoso felino, O'Hara agarrou-a pelas mãos.
Durante uns segundos teve-a à sua mercê contra o seu peito, enquanto ela procurava a todo o custo agredi-lo com os seus pés descalços, fitando aqueles lábios maravilhosos, o belo rosto erguido para ele onde os olhos verdes ressaltavam poderosamente, cheio ainda de gotas de água que, como pérolas, emprestavam a este um encanto ainda maior.
E subitamente O'Hara sentiu-se arrebatado. Acima de tudo por aquela boca que se movia trémula, como se quisesse murmurar qualquer coisa.
Então, sentindo uma estranha sensação por todo o seu corpo, o jovem colou os seus lábios aos dela, sentindo no mesmo instante o suave odor a sálvia e artemisa que se desprendia dela.
E quando Jayne sentiu os lábios masculinos nos seus, deixou de se debater. Ficou extremamente calma entre os braços de O'Hara, tanto que a sua mente se transformou num caos.
E quando uma ideia começou surgindo, dando-lhe a entender o que estava sucedendo, o jovem afastou-a de si mantendo-a ainda presa pelas mãos.
Jayne sentiu-se incapacitada de pensar, ao vê-lo agora com as suas feições alteradas, como se estivesse horrorizado. Depois...
E com um violento empurrão, lançou-a sobre a erva. Logo de seguida afastou-se, voltando-lhe as costas.
A jovem ficou ali mesmo, feita num novelo, com a mão junto da boca e uma estranha indefinível expressão no rosto, enquanto O'Hara montava no seu cavalo, desaparecendo pouco depois por entre o arvoredo.
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