Ao pisar o último degrau da escada que conduzia aos quartos para viajantes do hotel anexo ao «Inferno Saloon», viu uma figura que lhe era familiar. A especial configuração das costas femininas e os cabelos loiros serviram-lhe para identificar Marion.
Decidido, foi até à porta pela qual ela tinha desaparecido chamou suavemente com o n6 dos dedos.
Não havia ninguém no corredor e se fosse surpreendido sempre poderia dizer que se tinha enganado, pois ele habitava a outra ao lado.
A porta abriu-se.
O rosto de Marion expressava surpresa e inquietação ao mesmo tempo.
— Você?
— Está só?
— Que deseja?
— Esperei por si algum tempo na elevação, mas você não apareceu. Desejava agradecer-lhe.
Ela olhou para fora, receosa e depois retrocedeu:
— Entre rápido.
Ele não se fez rogar e entrou no quarto habitado pela formosa mulher. O seu perfume muito pessoal tinha-se entranhado nas roupas e nos móveis.
Notou-a perturbada e tratou de acalmá-la.
— Fez por mim uma coisa que eu não esperava de ninguém.
— Não fale disso. Está melhor?
— Sim.
— Ainda bem. E agora...
Ele fez um gesto de surpresa.
— Manda-me embora?
Marion entrelaçou os dedos.
-- Não gostaria que pensasse aquilo que não deve.
— Tem medo.
Não era uma pergunta e ela assentiu.
— Para quê? Há umas semanas...
— Você estava ferido; era um acto de humanidade. E não podia ser perigoso.
— Hoje, no entanto, sim.
A mulher não respondeu, o que equivalia a uma afirmação.
— Ouvi umas coisas a seu respeito disse, depois de uns momentos de hesitação.
Estavam ambos em pé, frente a frente, muito perto da porta. A entrevista não podia ser mais forçada e, no entanto, Pete sabia que ela não estava segura, como se temesse deixar uma fresta na sua cerrada defesa. Aquela posição era, portanto, premeditada.
— Que coisas?
Ela levantou a cabeça, suplicante.
— Por favor...
— Disseram-lhe talvez que sou um pistoleiro, não? E também um mulherengo? Talvez lhe tenham dito também que vivo pendente das armas? Ou inclusivamente que não conheço outro código que o meu capricho?
Marion estava pálida e aquela rápida conversação masculina ainda a tinha posto mais nervosa.
— Entendido: você pensa que não sou uma pessoa recomendável.
— Suplico-lhe...
— E até me considera capaz de querer abusar da minha força.
O olhar de Kelly era rude, estava zangado e não desejava ocultá-lo.
Voltou-lhe as costas bruscamente.
— Foi um erro voltar; lamento — disse ele, pondo a mão no puxador da porta. De repente ouviram-se passos no corredor e um som metálico, como o de um sabre ao roçar com as anilhas na bainha.
Quase no mesmo momento bateram na porta.
— Marion! Estás aí?
A rapariga vacilou e esteve a ponto de cair no chão. Uma palidez cadavérica nublou o seu rosto e Pete, dando conta da gravidade da situação, correu para a janela na intenção de saltar por ela ainda que com risco da própria vida, mas compreendeu que era impossível fazê-lo. Em baixo, frente à porta do hotel, estava parte da companhia que era comandada pelo capitão Dixon.
—Marion! Não me ouves? — chamou imperiosamente o marido.
Por fim, a rapariga recobrou o domínio sobre si mesma.
— Meta-se no armário-roupeiro. Frank não deve saber que está aqui. Seria terrível!...
Empurrou-o para um grande armário que ocupava toda uma parede e obrigou-o a entrar rapidamente para em seguida fechá-lo à chave. Nos primeiros segundos, Kelly sentiu-se asfixiado pelos inúmeros vestidos que estavam pendurados nos cabides, todos eles cheirando fortemente ao perfume de Marion.
Finalmente, Marion foi abrir a porta.
— Que acontecia, que não podias abrir a porta? — perguntou Dixon asperamente, ao mesmo tempo que entrava no quarto.
— Estava a descansar...
— E precisaste de tanto tempo para te levantares e vi abrir? — Os passos pesados do militar ressoavam no quarto
— Desculpa.
Bruscamente, Dixon resmungou:
— Bem, deixemos isso. Vou sair com os meus homens para dar uma batida por aí. Não abandones o teu quarto
— Mas...
— Há alguma coisa que chame a tua atenção fora daqui?
— Oh, Frank, és...
— Que sou? Vamos, diz, que sou? Estou farto de te ver coquetear com todos, isso é tudo! Não tenho o mínimo desejo de que se divirtam à minha custa.
— Frank! Como te atreves?...
Ela protestava o seu orgulho ferido.
— Sou o teu marido, Marion, não te esqueças. E usas meu apelido.
— Será que pensas que não sou digna de o usar? — Ela tinha perdido o controle sobre si mesma e gritava, enfur cida. — És um miserável, falando-me nesse tom!
— Não percas o controle dos nervos.
— És ruim e miserável! Vivo toda a minha vida fechada como que sequestrada e ainda és capaz de cometer a impor doável grosseria de... Deveria ser verdade aquilo que temes
Zás!
A bofetada soou fortemente, cortando a explosão colérica da rapariga. A voz de Frank fez-se ouvir, fria:
— Se isso acontece, mato-te.
Saiu e deu uma violenta pancada com a porta. Pete Kelly, encolhido no armário, estava furioso e notava que o sangue lhe circulava raivosamente nas veias, pela vilania que tinha presenciado.
Durante uns minutos não deu sinais da sua presença, sabendo a humilhação que sofria Marion por ter sido testemunha, no seu esconderijo, do infamante trato.
Por fim, ela meteu a chave na fechadura e abriu o armário. Já não chorava e tinha posto pó de arroz sobre o sinal deixado pela bofetada.
Saiu em silêncio e de cabeça baixa, para não ferir com o seu olhar a sua amiga, e dirigiu-se para a porta.
-- Lamento de verdade — disse ele, de costas voltadas, num sussurro. — E apesar do que tenha ouvido dizer de mim, sei compreender os sentimentos de uma verdadeira senhora. Desculpe-me.
Ouviu o soluço feminino e voltou-se. Marion não tinha podido conter-se e mostrava uma expressão desconsolada. Pete avançou uns passos e, suavemente, acariciou os cabe-los femininos.
— Se eu puder fazer qualquer coisa... Tirou-lhe as mãos que ela tinha posto a tapar a cara e olhou-a de frente.
— Porque suporta estas humilhações? — insistiu.
-- Que outra coisa posso fazer? — tentou acalmar-se. — Além disso, é o meu marido...
— Não tem o direito...
— Não posso discutir isso com um estranho.
Decidido, foi até à porta pela qual ela tinha desaparecido chamou suavemente com o n6 dos dedos.
Não havia ninguém no corredor e se fosse surpreendido sempre poderia dizer que se tinha enganado, pois ele habitava a outra ao lado.
A porta abriu-se.
O rosto de Marion expressava surpresa e inquietação ao mesmo tempo.
— Você?
— Está só?
— Que deseja?
— Esperei por si algum tempo na elevação, mas você não apareceu. Desejava agradecer-lhe.
Ela olhou para fora, receosa e depois retrocedeu:
— Entre rápido.
Ele não se fez rogar e entrou no quarto habitado pela formosa mulher. O seu perfume muito pessoal tinha-se entranhado nas roupas e nos móveis.
Notou-a perturbada e tratou de acalmá-la.
— Fez por mim uma coisa que eu não esperava de ninguém.
— Não fale disso. Está melhor?
— Sim.
— Ainda bem. E agora...
Ele fez um gesto de surpresa.
— Manda-me embora?
Marion entrelaçou os dedos.
-- Não gostaria que pensasse aquilo que não deve.
— Tem medo.
Não era uma pergunta e ela assentiu.
— Para quê? Há umas semanas...
— Você estava ferido; era um acto de humanidade. E não podia ser perigoso.
— Hoje, no entanto, sim.
A mulher não respondeu, o que equivalia a uma afirmação.
— Ouvi umas coisas a seu respeito disse, depois de uns momentos de hesitação.
Estavam ambos em pé, frente a frente, muito perto da porta. A entrevista não podia ser mais forçada e, no entanto, Pete sabia que ela não estava segura, como se temesse deixar uma fresta na sua cerrada defesa. Aquela posição era, portanto, premeditada.
— Que coisas?
Ela levantou a cabeça, suplicante.
— Por favor...
— Disseram-lhe talvez que sou um pistoleiro, não? E também um mulherengo? Talvez lhe tenham dito também que vivo pendente das armas? Ou inclusivamente que não conheço outro código que o meu capricho?
Marion estava pálida e aquela rápida conversação masculina ainda a tinha posto mais nervosa.
— Entendido: você pensa que não sou uma pessoa recomendável.
— Suplico-lhe...
— E até me considera capaz de querer abusar da minha força.
O olhar de Kelly era rude, estava zangado e não desejava ocultá-lo.
Voltou-lhe as costas bruscamente.
— Foi um erro voltar; lamento — disse ele, pondo a mão no puxador da porta. De repente ouviram-se passos no corredor e um som metálico, como o de um sabre ao roçar com as anilhas na bainha.
Quase no mesmo momento bateram na porta.
— Marion! Estás aí?
A rapariga vacilou e esteve a ponto de cair no chão. Uma palidez cadavérica nublou o seu rosto e Pete, dando conta da gravidade da situação, correu para a janela na intenção de saltar por ela ainda que com risco da própria vida, mas compreendeu que era impossível fazê-lo. Em baixo, frente à porta do hotel, estava parte da companhia que era comandada pelo capitão Dixon.
—Marion! Não me ouves? — chamou imperiosamente o marido.
Por fim, a rapariga recobrou o domínio sobre si mesma.
— Meta-se no armário-roupeiro. Frank não deve saber que está aqui. Seria terrível!...
Empurrou-o para um grande armário que ocupava toda uma parede e obrigou-o a entrar rapidamente para em seguida fechá-lo à chave. Nos primeiros segundos, Kelly sentiu-se asfixiado pelos inúmeros vestidos que estavam pendurados nos cabides, todos eles cheirando fortemente ao perfume de Marion.
Finalmente, Marion foi abrir a porta.
— Que acontecia, que não podias abrir a porta? — perguntou Dixon asperamente, ao mesmo tempo que entrava no quarto.
— Estava a descansar...
— E precisaste de tanto tempo para te levantares e vi abrir? — Os passos pesados do militar ressoavam no quarto
— Desculpa.
Bruscamente, Dixon resmungou:
— Bem, deixemos isso. Vou sair com os meus homens para dar uma batida por aí. Não abandones o teu quarto
— Mas...
— Há alguma coisa que chame a tua atenção fora daqui?
— Oh, Frank, és...
— Que sou? Vamos, diz, que sou? Estou farto de te ver coquetear com todos, isso é tudo! Não tenho o mínimo desejo de que se divirtam à minha custa.
— Frank! Como te atreves?...
Ela protestava o seu orgulho ferido.
— Sou o teu marido, Marion, não te esqueças. E usas meu apelido.
— Será que pensas que não sou digna de o usar? — Ela tinha perdido o controle sobre si mesma e gritava, enfur cida. — És um miserável, falando-me nesse tom!
— Não percas o controle dos nervos.
— És ruim e miserável! Vivo toda a minha vida fechada como que sequestrada e ainda és capaz de cometer a impor doável grosseria de... Deveria ser verdade aquilo que temes
Zás!
A bofetada soou fortemente, cortando a explosão colérica da rapariga. A voz de Frank fez-se ouvir, fria:
— Se isso acontece, mato-te.
Saiu e deu uma violenta pancada com a porta. Pete Kelly, encolhido no armário, estava furioso e notava que o sangue lhe circulava raivosamente nas veias, pela vilania que tinha presenciado.
Durante uns minutos não deu sinais da sua presença, sabendo a humilhação que sofria Marion por ter sido testemunha, no seu esconderijo, do infamante trato.
Por fim, ela meteu a chave na fechadura e abriu o armário. Já não chorava e tinha posto pó de arroz sobre o sinal deixado pela bofetada.
Saiu em silêncio e de cabeça baixa, para não ferir com o seu olhar a sua amiga, e dirigiu-se para a porta.
-- Lamento de verdade — disse ele, de costas voltadas, num sussurro. — E apesar do que tenha ouvido dizer de mim, sei compreender os sentimentos de uma verdadeira senhora. Desculpe-me.
Ouviu o soluço feminino e voltou-se. Marion não tinha podido conter-se e mostrava uma expressão desconsolada. Pete avançou uns passos e, suavemente, acariciou os cabe-los femininos.
— Se eu puder fazer qualquer coisa... Tirou-lhe as mãos que ela tinha posto a tapar a cara e olhou-a de frente.
— Porque suporta estas humilhações? — insistiu.
-- Que outra coisa posso fazer? — tentou acalmar-se. — Além disso, é o meu marido...
— Não tem o direito...
— Não posso discutir isso com um estranho.
Sem comentários:
Enviar um comentário