PAS258. A paixão invade uma caravana de desesperados

Naquela noite, depois de cearem em silêncio, Estevão disse:

- Amanhã iremos inscrever-te, Spade. Todos confiamos em ti.

- Farei o melhor que puder … - respondeu o rapaz.

Viu Lilian sentada sobre um caixote, junto do seu carro, e encaminhou-se para ela. A jovem, ao vê-lo chegar, deu a volta ao carro e esperou-o encostada ao tronco de uma árvore.

Tyson parou, sentindo que o seu coração batia com violência. A luz do luar coava-se entre as ramagens, iluminando suavemente o rosto da rapariga, e Evan esteve quase a voltar para trás. Mas Lilian chamou-o.

- Anda cá…

Tyson aproximou-se, parando em frente dela. Lilian ficou calada durante uns momentos, e depois disse devagar:

- Sentes-te em condições de entrar amanhã no «rodeo»?... – perguntou. – Não gostaria que fizesses um papel ridículo por nossa causa.

- Não o farei… - respondeu ele convictamente. – Lembrar-me-ei de que precisam desse dinheiro, e espero… Lilian… - acrescentou, em voz rouca - …o meu maior desejo é pagar-lhes tudo o que fizeram por mim, e conquistar a vossa estima… sobretudo a tua.

Eram palavras que ele nunca deveria ter dito, mas que lhe subiram aos lábios irresistivelmente, tal como as pensava, porque Lilian era o laço que mais o prendia àquela caravana de homens sem esperança.

Lilian sorriu e todos os seus temores se dissiparam ante o sorriso de Tyson e a expressão que via nele.

De súbito rodeou-lhe o pescoço com os braços e encostou a cabeça ao peito dele, murmurando:

- Amo-te!

Instintivamente, Tyson apertou-a entre os seus braços, sentindo o corpo de Lilian vibrar contra o seu – mas recordou-se a tempo de que não devia deixar-se arrastar pelos impulsos da paixão e murmurou:

- Não, Lilian… Não tenho nada para te oferecer… Nem sequer sei se… se tenho o direito de amar-te… Quero dizer…

Ela afastou-se dele, devagar.

- Tens razão… - sussurrou, triste. – Não devemos deixar-nos arrastar... até termos a certeza de que…

Fugiu, a correr, na direção do seu carro. Tyson ficou a segui-la com o olhar, até que ela desapareceu, e deixou escapar um fundo suspiro ao pensar nos dias que ainda o esperavam, amargos, cheios de incertezas e dúvidas.

(Coleção Pólvora, nº 53)