Sinais de raiva mal contida surgiam no semblante do mascarado. O pouco que se podia ver da sua fisionomia dava-lhe o ar de ser ainda bastante jovem, a despeito dos esforços que fazia para dissimular a identidade. Com brusquidão, recuou um passo e levantou a arma, gritando:
- De uma vez por todas! Quem de entre vós é Charlie Mannigan? Vamos, falem ou disparo!
Ouviu-se um suspiro incontido. Ao lado de Kaspar, Mackenna murmurou:
- Não se aborreça mais, amigo. Mannigan não veio nesta diligência.
- Como é que você o sabe? Quem lho disse?
- Ele próprio, antes da partida…
- Maldito! – o chefe dos bandoleiros brandiu o revólver e elevou a voz para prosseguir. – Você conhece-o?
- Certamente – esclareceu Mackenna. – Caso contrário…
Deste vez, Mackenna, capataz do maior rancho de Alamitos, ficou calado para sempre. O mascarado apertou o gatilho e uma detonação forte e seca rebentou. Mackenna abriu os olhos desmedidamente como se não acreditasse que a bala lhe tinha atravessado o crânio. Novo tiro soou, enquanto o bandido dava um passo para trás. Mais um, o terceiro, estalou sem tardança, abrindo um buraco no chapéu de Mackenna quando este já se revolvia no chão, no estertor da morte.
- Isto é o que costumo fazer aos amigos de Mannigan. E é o que lhe hei-de fazer logo que o veja – grunhiu iradamente o salteador, com tremores na voz e gestos desvairados, conforme Kaspar compreendeu facilmente.
Kaspar Graham contemplou com pesar o pó que se levantava lentamente debaixo do corpo de Mackenna. Encarando de frente o assassino, observou-lhe com voz metálica:
- Muito bem! Bonita maneira de deixar esse Mannigan sem os seus amigos, hem?
- Cale-se! – berrou o outro.
Kaspar deitou-lhe um olhar desdenhoso.
- Tenho a certeza de que não se atreveria a fazer uma coisa dessas noutras circunstâncias se não estivesse protegido por quatro canalhas da sua espécie. Sozinhos, frente a frente, Mackenna era capaz de o obrigar a dar uma boa corrida apenas com o simples gesto de fingir que puxava pelo revólver. Cobarde!...
Os dentes do mascarado rilharam com ruído. Saltando para Kaspar, agarrou-lhe a camisa à altura do peito, com a mão esquerda, enquanto levantava a direita, que segurava a arma. A coronha do «Colt» bateu duramente na fronte do rapaz.
- Toma, atrevido!
Kaspar não resistiu ao golpe e caiu. Antes, porém, de ficar inconsciente aproveitou um ligeiríssimo lapso de tempo para captar um rápido pensamento. Que diabo podia significar aquele anel enorme que o bandido trazia na mão esquerda, com uma estranha gravura de que não conseguiu ver a forma completamente?
De repente, o Sol desapareceu antes da hora e Kaspar mergulhou numa noite inteiramente desprovida de estrelas. Tinha perdido os sentidos.
(Coleção Arizona, nº 53)
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