Tim pegou na garrafa e bebeu um fundo trago, sem convidar o visitante. Depois, limpou a boca com as costas da mão e voltou a pôr o «whisky» sobre o móvel.
- Dirás, Tex. Que queres de mim? Nada posso oferecer-te, porque nada tenho.
- Bem sei. E parte da culpa é minha.
- Porquê? Tu não foste culpado. Por algum motivo te tiraram da prisão, não?
- Tim, tu sabes que eu roubei esse dinheiro. Que esse dinheiro existe em qualquer parte e está à minha espera. E que, se voltei à Califórnia, foi por ele e por Nelly. Para o compartilharmos ela e eu.
- És franco, Tex… - Harlan olhou-o com os olhos muito abertos, uma expressão de espanto na cara pálida e triste. – Surpreendes-me. Nunca confessaste o teu delito a ninguém.
- Só a ti… - o olhar grave e intenso do texano que voltava continuava fixo em Harlan. – É o menos que mereces. Sei o que fizeste para devolver o dinheiro aos clientes do teu banco. Eu fui, então, tão estúpido e tão egoísta que pensei poder apoderar-me desse dinheiro sem que ninguém sofresse por isso. Um banco parece-nos sempre uma coisa impessoal. E não é assim. Roubei-te a ti, a Allbritton, a Carter, a McLeod, à filha de Rickle. Todos puseram o dinheiro que faltava. Depois tudo correu mal. E ficaram arruinados.
- Conheces bem a história… - disse amargamente Harlan. – Vens encarniçar-te ainda mais contra mim?
- Não. Disse-te que vinha para gozar o dinheiro. Um dinheiro que roubei. O produto de uma ação má que pratiquei e que, como tal, não me proporcionou qualquer satisfação. Nelly morreu. E eu vou devolver o dinheiro.
Um silêncio total pesou sobre eles. Tim Harlen olhava para Tex, sem acreditar no que ouvia.
- Vais… devolver?... – balbuciou. – Estás a troçar de mim, não é verdade?
- Não. Quatrocentos e vinte e dois mil dólares esperam a sua restituição. São vossos. E vão voltar para vocês. Todos.
- Tex… Harlan engoliu em seco. Estava mais pálido e tremiam-lhe as mãos. – Oh! Tex!
- Só vou pedir-te uma coisa em troca.
- Estou a ouvir-te. Pergunta o que quiseres.
- É apenas uma pergunta, Tim… - debruçou-se para a frente e falou com voz tensa. – Como foi que Nelly morreu? Tu… tu deves saber. Sei que cuidaste dela, que a fizeste enterrar em «Duas Ferraduras», segundo os seus próprios desejos. Que quiseste mesmo ficar com o rancho, mas te faltaram os meios para isso. Porquê tudo isso, Tim? Tu sabias que ela me esperava, a mim… que íamos viver com o dinheiro roubado no teu banco…
- Tinha de fazer isso, porque ela era uma boa rapariga. Cometeu o erro de se apaixonar por ti, mas era boa. E leal. Soube resistir bem… e morrer para não trair.
- Morrer para não me trair? Que queres dizer com isso, Tim?
- É preciso que o saibas, Tex. Alguma vez hás-de sabê-lo. Muitos querem ignorá-lo, mas no fundo todos sabem o que se passou. O medo é que os cala.
- Mas… de que estás a falar? Medo de quê? Porquê?
Tim Harlan engoliu em seco. Agarrou na garrafa lentamente. Depois, bruscamente, disse:
- Nelly foi assassinada, Tex. Assassinaram-na, depois de a torturarem brutalmente…
E bebeu um longo golo de licor, sem acrescentar mais palavras.
(Coleção Arizona, nº 56)
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