Jenny moveu a cabeça com desespero. Ante a firmeza das palavras de Kaspar dava a impressão de ter perdido uma boa parte da sua arrogância inicial.
- Oh! Meu Deus! – exclamou com voz dorida. – Que deveria eu fazer para convencê-lo da minha inocência?! Senhor Graham, eu…
- Não é comigo que tem de discutir a sua inocência ou a sua culpabilidade. Isso é com o juiz e o delegado. Pode estar sossegada de que lhe proporcionarão todas as garantias que a Lei concede ao réu, mas entretanto, o seu lugar não é aqui: é na cadeia!
Jenny retrocedeu um passo, aturdida.
- Na cadeia! – repetiu, com semblante incrédulo.
As mãos da rapariga crisparam-se um momento, enquanto fechava os olhos, como que recapitulando toda a situação, antes de tomar uma decisão. Kaspar observava-lhe o rápido movimento do seio, subindo e baixando agitadamente sob o domínio da respiração aflita até que ela o encarou de novo mordendo os lábios com força, antes de falar:
- Oiça-me, Kaspar – disse, suprimindo a cerimónia de tratamento. – Você está enganado, mas não posso dizer-lhe o motivo do seu equívoco. Contudo, você e eu podemos chegar a um acordo.
- O quê? – respondeu ele, pasmado.
- Todo o homem tem um preço, Kaspar – prosseguiu a rapariga, serenando aos poucos – e você não pode ser a exceção à regra.
- Pretende subornar-me, Jenny? – berrou o rapaz, irritado.
- Sim, Vou suborná-lo pagando-lhe um preço que você nunca sonhou em toda a sua vida.
- Está a brincar, «senhorita». O sangue de Mackenna e de Scarles não tem preço.
A rapariga olhou-o desdenhosamente, já segura de si.
- Não falo dos mortos, mas dos vivos, quero dizer: de si e de mim. No entanto, ainda não se lembrou de me perguntar qual o preço que lhe ofereço pelo seu silêncio.
Kaspar deixou escapar um sorriso zombeteiro.
- Vamos ver isso – respondeu ele com fingido bom humor. – De qualquer maneira, vai ser inútil, embora… Bom, vejamos então qual é o preço do seu suborno…
Jenny vacilou um instante. Depois, inspirando profundamente, respondeu:
- Eu!
(Coleção Arizona, nº 53)
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