A porta da repartição do xerife acabara de chegar, ofegante, um dos empregados de Simon.
— Loug encontra-se no «saloon»! — exclamou no meio da maior excitação. — Entrou acompanhado de Luck, de Harry Gul e demais dois!
— Que estão fazendo esses ilustres visitantes? — perguntou Mike, apoderando-se calmamente do cinturão.
— Por enquanto nada, mas é evidente que se preparam para fazer alguma das suas. Toda a gente se encontra apavorada.
— Avisa Feller, Jerry e Wilson. Eu lá aparecerei.
— Quer ir para lá sozinho?
— Muitos outros aparecerão logo que alguém bata o pé a esses miseráveis.
— Simon não fica certamente de braços cruzados. E é evidente muita gente quererá tomar parte no baile, se chegar a organizar-se a festa.
O mensageiro partiu correndo e Mike deu as instruções indispensáveis a Chuck.
— Não deixes aproximar seja quem for. Se alguma coisa de mau me acontecer, és livre de fazer aquilo que mais te convier.
— O senhor vai voltar aqui. Tenho a certeza. Tanta ou tão pouca que vou já tratar de preparar uma refeição de estalo. A noite vai ser falada.
Mike verificou minuciosamente os revólveres, as cargas e a bolsa das munições. Chegara o momento decisivo para que Lenox se libertasse do ciclo de violências de que vinha sendo vítima. Agia com toda a calma, sem o mais pequeno sinal de nervosismo. Sentia-se tão tranquilo como se se dispusesse a dar um simples passeio pelas ruas da povoação.
Quando concluiu o arranjo da indumentária, pegou no chapéu e abandonou a repartição. A rua estava completamente deserta. Não se ouvia o mais insignificante ruído nem uma simples réstia de luz através das janelas das residências. O «saloon Veracruz», habitualmente tão concorrido e animado, parecia encontrar-se deserto. O silêncio era tal que, enquanto não chegou à porta, seria capaz de jurar que não se encontrava ali sombra de gente.
Só ao penetrar no estabelecimento é que pôde verificar o ambiente que ali reinava. Os clientes que ocupavam as mesas não desviavam os olhos e jogavam ou bebiam em silêncio. Nas salas especialmente destinadas ao jogo sucedia a mesma coisa: atitudes serenas, troca de palavras que não eram mais do que um murmúrio, acompanhados de olhadelas receosas.
A entrada de Mike pareceu atrair sobre ele todas as atenções. O jovem, porém, apenas dedicava a sua atenção aos cinco homens que, encostados ao balcão, pareciam dominar e vigiar toda a gente que se encontrava dentro das quatro paredes do «saloon».
Mike, entretanto, não pareceu ficar surpreendido com o ambiente pesado que ali reinava. Passou por entre as mesas, olhando despreocupadamente para um ou outro frequentador. Deu um relance de olhos pelos parceiros que se entregavam ao jogo e dirigiu-se para o balcão, encarando de frente os cinco homens que ali se encontravam.
Os homens, por seu turno, olhavam fixamente para o recém-chegado sem que a sua calma expressão se alterasse.
— Parece que hoje há por aqui caras novas — disse Mike.
— Caras novas? — comentou o homem que encontrava mais próximo, um tipo alto, de feições magras, com um olhar que fazia lembrar o das serpentes.
— Somos velhos clientes da casa.
— Estão de passagem?
— Não. Viemos para ficar, a convite de uns amigos que necessitam de nós.
— Já estiveram com eles?
— Encontrá-los-emos quando sairmos. Estão encerrados na prisão.
— Ah, sim, compreendo. Fiéis servidores de Doug Blitte. Mas acabam de fazer uma viagem em vão. Os vossos amigos não sairão tão depressa como supõem.
— Viemos aqui, precisamente, para os ajudar.
Mike observou que os dois mais afastados se deslocavam de junto do balcão. Aquela troca de palavras provocou uma reação de pânico em toda a assistência. Abandonaram repentinamente as mesas, correndo em tropel em direção da porta e das janelas, derrubando mesas, cadeiras e tudo o mais que lhes estorvava o caminho.
A explosão foi quase instantânea.
Mike, apercebendo-se das intenções do seu interlocutor, empunhou vertiginosamente os «Colts» que despediram raios de fogo e de morte.
Long, que era o que situava na sua frente, recebeu a carga em cheio antes que pudesse desfechar o gatilho.
Harry Guld que se encontrava por detrás de Loug, viu-se obrigado a saltar para o lado, a fim de se defender. Disparou em desequilíbrio e a bala foi cravar-se nas tábuas do balcão, perto da cabeça de Mike. O segundo tiro não pôde ser já disparado. Mike destroçara--lhe o braço, fazendo-o soltar um uivo de dor.
A partir daquele momento a confusão redobrou. Através das janelas começaram a ser disparados tiros sobre tiros. Os bandoleiros, que não esperavam uma tal reação, sentiram-se completamente desconcertados e procuraram a salvação na fuga.
Um deles caiu varado antes de poder sair do «saloon»; outro conseguiu saltar por uma das janelas, mas o revólver de Stuart Wilson frustrou-lhe os intentos, derrubando-o com um tiro na coxa. Três pares de braços dominaram-no e imobilizaram-no no mesmo instante.
O último a cair foi Luck. Tinha-se entrincheirado por detrás do balcão e procurava escapar-se pela porta das traseiras logo que se apercebeu do cariz que as coisas tomavam. Simon, porém, que estava à espreita, recebeu-o com uma garrafa que lhe arremessou à cabeça com violência, deixando-o estatelado e sem sentidos.
A calma foi imediatamente restabelecida. Todos os sequazes de Blitte tinham sido postos fora de combate de maneira radical.
Mike levantou-se, mantendo os revólveres em ação. Não voltaram a ser necessários. Eram supérfluas as suas precauções. Os homens que Mike mandara avisar entraram naquele instante.
Ainda o jovem não tivera tempo para fazer um relato dos acontecimentos, quando se ouviu o estampido de alguns tiros. Calaram-se todas as bocas, voltando-se as atenções gerais para as insólitas explosões.
— Que poderá ter sido? — perguntava um.
— Não foi muito longe daqui — dizia outro.
— É necessário ir saber.
Quase todos se propuseram acompanhar o xerife. Mal tinham chegado junto da ponte, quando viram a figura de uma mulher que se aproximava correndo.
— Rosália! — exclamou Mike.
A jovem lançou-se-lhe nos braços, chorando de alegria.
— O papá está ali! — explicou, apontando para trás das costas. — O tio Willy bateu-se valentemente contra Doug Blitte e contra os outros que nos vigiavam. Parece-me que estão todos mortos, inclusivamente o tio Willy...
Os corpos de dois dos bandidos estavam estendidos, no terreno. Um pouco mais distante, jazia o cadáver de Willy Grant; e do outro lado do caminho, encontrava-se o corpo de Blitte, caído de bruços e de braços abertos em cruz. Samuel Grant sentara-se junto do cadáver de seu irmão e contemplava-o, silencioso e comovido.
— Teve um fim digno da confiança que sempre depositei nele — murmurou, meneando a cabeça.
— Lutou e morreu como um valente — concordou Mike.
A tarefa que tinha ainda na sua frente para resolver era longa e trabalhosa, pensava Mike. Mas tinham sido já quebradas as algemas que manietavam a liberdade daquela perdida aldeia.
Dal por diante, porém, contava com o auxílio e a confiança dos seus habitantes. Levaria a sua tarefa até ao fim, estava certo disso, porque além do apoio do povo, dispunha agora do amor da mulher que tinha ali a seu lado.
F I M
Sem comentários:
Enviar um comentário