quinta-feira, 2 de março de 2023

ARZ116.13 À procura de trabalhadores para manter o rancho

Montou a cavalo e encaminhou-se para casa de Arnold Davies. Sally não se encontrava junto de seu pai que continuava a coxear devido ao ferimento da perna, rogando pragas a todos os diabos do mundo.

— Sabe o que acabam de fazer-me esses cobardes? — exclamou, com o rosto congestionado e o braço estendido na direção de Lenox. — Deixaram-me completamente só! Todos me têm feito o mesmo. Declararam que iam em procura de trabalho aonde auferissem mais interesses. O que eles não disseram foi que a razão da sua retirada se chamava medo. Valentes ajudantes, não haja dúvida!

— Eu procurarei descobrir pessoal para substituir o que saiu — prontificou-se Mike.

—E acha que serão capazes de aceitar? Decorridos que sejam dois dias e depois de ouvirem meia dúzia de balas a zunir sobre as suas cabeças, voarão daqui como se lhes tivesse nascido um par de asas. Esta gente não tem espírito de luta.

— Procuraremos gente que esteja decidida a tudo.

— Que espécie de gente, não me dirá?

— Gente com ânimo suficiente para empunhar uma arma. 

Arnold Davies abanou a cabeça com desalento.

— Nada conseguirá. Já não tinto o menor desejo de aqui permanecer. Um rancho em semelhantes condições está fatalmente condenado à ruína. Hoje, oferecem-me por ele uma quantia que parece valer a pena. Amanhã, sabe-se lá se alguém estará disposto a comprá-lo!...

—Diligenciarei encontrar os homens de que necessita.

— Vai pedi-los emprestados a Blitte? — perguntou o rancheiro com ironia. - É a única pessoa que estaria disposta a cedê-los.

— Aguarde, pelo menos alguns dias. Entretanto, mandar-lhe-ei o meu ajudante.

— Que poderei eu fazer apenas com um homem?

--- É preferível um único homem da categoria de Manuel, do que três ou quatro serviçais dominados pelo medo.

Arnold Davies pareceu hesitar.

— Esperarei até ao próximo sábado — disse ele, um momento depois. —Lembre-se de que não vivo aqui sozinho e de que tenho uma filha que proteger.

—Compreendo— concordou Mike. — Encontraremos gente que não levantará quaisquer objeções à sua vinda para aqui.

Regressou a Lenox e mal tinha acabado de entrar na repartição quando lhe foi entregue uma carta chegada naquele instante. Rasgou o sobrescrito e verificou que era do juiz Grant, participando-lhe que decidira fazer uma viagem a Lenox a fim de fortalecer com a sua presença a autoridade de Mike, dando assim uma sólida sensação de segurança que viesse a influir no ânimo dos habitantes com vista às próximas eleições.

Mike deu algumas instruções a Manuel para que permanecesse no comissariado, seguindo ele para Milford aonde decorriam as obras do caminho de ferro. A aldeia estava quase deserta porque eram horas de trabalho, mas não demorou muito que não começassem a chegar alguns mineiros que trabalhavam na parte superior do rio e que vinham ao povoado em busca de provisões.

Mike penetrou no armazém que servia ao mesmo tempo de taberna e pediu alguma coisa de comer, ao mesmo tempo que ia observando a entrada de três pessoas que parecia chegarem de longe. Relancearam os olhos por toda a casa sem grandes preocupações e sentaram-se a uma mesa não muito distante da que ele ocupava.

— Doug terá ocasião de se recordar do que fez —ouviu ele dizer a um dos recém-chegados. — Ele, ontem à noite, devia estar prevenido por alguém que foi informá-lo de que nos encontrávamos na povoação.

— Ele devia ter logo previsto qual o caminho que havíamos de seguir e foi-lhe fácil sair-nos ao encontro.

— Será de crer que Bloony...

—Não sejas imbecil. Como poderia Bloony atraiçoar--nos se ele era um dos que patearam na árvore, juntamente com Roy?

— Tu é que não conheces Doug. É capaz de ir procurar aliados ao próprio inferno para logo a seguir os mandar novamente de presente ao diabo.

Mike tinha-se apoderado de um velho jornal que se encontrava perto dele, parecendo muito atento à sua leitura.

— Acreditas que ele irá ao «rodeo» de Clamden?

— É de supor que sim. Doug não é homem que perca uma das suas diversões mais favoritas.

— Então lá nos encontraremos.

—Mas não suponhas que a coisa vai ser muito fácil. Doug é daqueles que trazem os olhos sempre bem abertos.

— Mais fácil será então para nós, a tarefa de lhos fechar.

A conversa continuou depois num tom mais baixo, devido a terem entrado dois homens no estabelecimento com aspeto de fazendeiros ricos. Mike, porém, sabia já o suficiente. Acabou de comer a parca refeição, retirando-se os três homens um pouco antes dele.

Aquela conversa dera-lhe que pensar. Não havia qualquer espécie de dúvida de que aqueles três tipos eram Os sobreviventes do grupo que assaltara o «Veracruz» na noite antecedente e que haviam sido surpreendidos pelos pistoleiros de Blitte, a julgar pelo assunto da conversa.

Era evidente que existia uma tão funda rivalidade entre as duas quadrilhas de bandoleiros que se esforçavam por se exterminar uns aos outros. Esta circunstância vinha favorecer grandemente os seus planos e até a simplificá-los em certa medida.

Saiu a dar um curto passeio, regressando um pouco depois, quando os operários, terminado o seu trabalho, enchiam a taberna de lés a lés. Entreteve-se a deambular por entre as mesas, passando intencionalmente por junto de uma em que se discutia em voz alta.

— Por mim, não suporto mais — dizia um homenzarrão de cabelo ruivo. — O'Brien convenceu-se de que não passamos de uma cambada de inúteis e manda-nos trabalhar para o barranco, que é dos serviços mais violentos da obra. Ontem ficou lá o Elly estoirado e amanhã sabe Deus quem será. Se quiser que continuemos a trabalhar nos (rails» terá de nos pagar a dobrar.

— Eu nem por esse preço quero arriscar-me a partir a cabeça lá no fundo.

— Pode obrigar-te a isso.

—Não o conseguirá. Safo-me daqui antes que isso possa vir a acontecer e vou procurar trabalho noutra parte. E não é porque tenha medo de morrer. Não sou daqueles que se recusam a arriscar a vida com um revólver na mão; o que me não agrada é morrer, estupidamente, suspenso de uns andaimes sobre um barranco de quarenta metros de profundidade. Mike compreendeu imediatamente que se lhe oferecia uma excelente oportunidade e aproximou-se.

—Pagam bom salário por esse trabalho? —perguntou de súbito. Todos os presentes se puseram a olhá-lo com certo receio.

—Porquê? Estás na disposição de estoirar a cabeça?

—Não, naturalmente que não. Mas é de calcular que a paga seja razoável, uma vez que se trata de fazer exercícios de equilíbrio sobre o abismo.

O seu interlocutor sorriu-se com ironia.

— Se estás disposto a experimentar, não tens mais do que ires entender-te com Carley. Talvez as condições te agradem.

— Para mim não preciso. O que eu procuro é uns três ou quatro homens decididos que queiram trabalhar num rancho.

— Em que sítio é que isso fica? — perguntou um rapagão de uns vinte e dois anos.

— A umas quarenta milhas daqui, pouco mais ou menos.

— E ordenado?

— Quarenta dólares por mês, cama e mesa. Nenhum deles proferiu palavra, limitando-se a olhar uns para os outros meio indecisos.

— Quer dizer que não há quem queira trabalhar lá para esses lados? —perguntou um mineiro que se aproximara ao ouvir a conversa.

— Não há, porque impera ali o terror e anda toda a gente meio-morta de medo porque lhe falta a coragem para fazer frente a meia dúzia de parasitas que pretendem governar-se à custa alheia.

Ninguém formulou mais perguntas. Alguns voltaram a pegar nas cartas, enquanto outros se dirigiam para o balcão a molhar as goelas. Mike regressou à sua mesa. Sabia que, naquele momento, vários deles estavam a pensar na sua proposta. Ali não existia o receio das represálias como acontecia em Lenox. Eram homens habituados à luta, não se bandeando com partido algum. As suas ambições limitavam-se a trabalhar um dia mais tarde às suas terras, a fim de desfrutarem de algum descanso.

Decorrida meia hora levantou-se e dirigiu-se para o balcão a fim de liquidar a sua despesa.

— Como se chama esse tal rancho? — perguntou de novo o mesmo jovem.

— Chama-se «Sunrise». Fica junto do desfiladeiro de Rattbone. Ë no caminho de Lenox.

— São, portanto, quarenta dólares pelo trabalho. E pelo resto?

— Que é isso do resto?

— Para fazer as honras às visitas desagradáveis. Não é dessa coisa que por lá existe com abundância?

— Haverá vinte dólares extra por mês.

— Talvez me decida a dar uma volta por lá.

Mike puxou por urna nota do Banco e passou-a para a mão do empregado.

— Serve a estes homens o que eles quiserem beber -- disse.

Todos os circunstantes que se encontravam próximo se apressaram a correr para o balcão a fim de se aproveitarem do convite do mancebo. Antes de sair, Mike disse em voz alta:

— Há trabalho para quatro homens — declarou. – Quarenta dólares que poderão vir a ser sessenta se houver necessidade de correr com algumas feras. O dono do rancho chama-se Davies.

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