(ameaças do advogado, explosão no rancho, captura da bela Sara, desespero do rancheiro, contacto com irmão do juiz Grant)
Phil Moore apresentou-se naquela manhã, muito cedo, na repartição do xerife, precisamente quando Mike se preparava para dar a ração aos cavalos.
—Há alguma novidade, senhor Moore? — perguntou o jovem, admirado de o ver ali a hora tão matutina.
— Vou partir para Leyton e queria desempenhar-me de uma diligência de que fui incumbido não há ainda meia hora.
—Uma diligência, disse?
— Trata-se de um certo prisioneiro que se encontra no calabouço.
— Falaram já consigo acerca disso? — perguntou Mike, surpreendido.
— Foi um amigo do preso. Veio solicitar os meus serviços de advogado e, como é de supor, não me era lícito recusá-los. Venho pedir que o preso seja posto em liberdade por falta de provas.
Mike passou a mão pelo queixo, pensativo.
— Sabe, porventura, de quem se trata?
— Não sei. Sei apenas que se trata de um homem que se encontrava no desempenho da missão de que fora encarregado.
— Quer dizer de uma coação junto de Simon, o proprietário do «Veracruz».
— Não constitui delito oferecer proteção a alguém, a fim de evitar vinganças.
— Pode saber-se o nome de quem o enviou?
— Eu próprio o ignoro. Não venho aqui defender a pessoa; o que eu pretendo é demonstrar a inexistência de qualquer delito. Para já, basta-me a sua liberdade sob fiança.
— Por mim nada posso fazer. Deve dirigir-se ao juiz Grant.
— A esse inútil? Sei de antemão a resposta que vai dar-me.
—Ë a única pessoa com as indispensáveis atribuições para atender o seu pedido.
— Seria incapaz de pedir fosse o que fosse a um homem que é meu concorrente às eleições.
— Perdão. Não deve esquecer-se que veio aqui como advogado e em representação de um cliente.
— Esse homem não está ainda processado e foi detido apenas por simples suspeitas. O juiz não tem absolutamente nada a ver com isto.
— Pois se o caso depende de mim, desde já lhe digo que não sairá da prisão. Tenho a convicção de que se encontra a soldo de uma quadrilha de ladrões e de assassinos e é precisamente isso que eu pretendo averiguar.
Moore estava visivelmente nervoso.
— A proceder deste modo, nada me admirará que venha a criar dificuldades ao bom desempenho do seu cargo — observou o outro com ironia. — Dificuldades que não deverão ser pequenas.
— Vim aqui, precisamente, para as resolver.
— Até à vista — disse Moore, voltando as costas em despedida. — Muito bons dias.
— Muito bons dias, senhor Moore.
Moore não tinha hesitado em ir procurá-lo, comprometendo assim a sua posição, o que tornava evidente as suas ligações íntimas com Blitte e com os seus apaniguados. Agora já não tinha dúvidas de que devia defender-se de semelhante personagem que não vacilaria, na primeira oportunidade, em determinar que ele fosse eliminado, como já havia acontecido com os seus antecessores.
Uma carta chegada pela última diligência fê-lo esquecer-se de todas aquelas contrariedades, criando-lhe, aliás, uma grande inquietação.
Grant informava-o de que marcara para o próximo sábado a sua viagem a Lenox. Era seu propósito dar a compreender a toda a população que não se escondia deles e que depositava a maior confiança no homem que ele mesmo arvorara em xerife.
O que mais preocupava Mike, porém, era o facto de Rosália se ter empenhado em fazer companhia a seu pai. Necessitava, pois, de assegurar a tranquilidade dos visitantes, criando um ambiente de paz e de segurança.
Resolveu ir em demanda de Feller e dos seus amigos Jerry e Stuart Wilson que, como era de esperar, não lhe regatearam o seu incondicional apoio, pondo inclusivamente às suas ordens alguns dos seus homens mais dedicados.
Um pouco mais tranquilo, decidiu-se a ir visitar o rancheiro Davies no intuito de o fazer desistir dos seus propósitos. Ao chegar, porém, a cerca de um quilómetro do rancho, foi surpreendido por uma tremenda explosão, a que se seguiu uma densa coluna de fumo.
Esporeou fortemente o seu cavalo, deparando-se-lhe, segundos depois, um grupo de quatro cavaleiros que parecia virem daquelas bandas e dirigirem-se para o norte.
Compreendeu imediatamente que havia qualquer coisa de anormal naquela veloz corrida. Desviou-se do caminho e lançou-se diagonalmente em direção ao desfiladeiro por onde pretendiam desaparecer.
Subitamente, porém, um dos cavaleiros, que devia ter--se apercebido da sua presença, destacou-se do grupo e correu ao seu encontro a fim de impedir o seu avanço.
Mike deliberou então pôr de lado a perseguição, para se lançar em veloz corrida contra ele. A manobra deixou o outro de tal forma atrapalhado que, em vez de aguardar a sua aproximação, deliberou dar meia-volta e tentar reunir-se ao resto do grupo. A distância que os separava era agora sensivelmente mais pequena.
O estampido de um tiro ressoou no ambiente suave e calmo da manhã. A bala passou a larga distância. A intenção do bandido limitava-se a suster a perseguição por parte de Mike, mas como não lhe foi possível conseguir os seus propósitos, começou a disparar furiosamente o seu revólver.
Mike ripostou, procurando dar aos seus tiros a orientação conveniente. As balas deviam silvar ameaçadoramente em redor do fugitivo pelo que este, sentindo-se pouco seguro, resolveu abrigar-se num lugar de onde lhe fosse possível enfrentar a perseguição que tão de perto o ameaçava.
Mike apercebeu-se no mesmo instante das suas intenções, que eram, nada mais, nada menos, do que obrigá-lo a parar a fim de permitir que os outros se pusessem a salvo. Tinha de arranjar forma de poder continuar em perseguição dos três fugitivos, deixando momentaneamente de lado aquele, cujos evidentes intuitos eram proteger a fuga de alguma personagem importante.
Desviou habilmente a sua montada acicatando-a com violência, a fim de conseguir obter dela a maior velocidade Passando como uma flecha a cerca de vinte metros do abrigo onde o outro se ocultava e disparando ininterruptamente as suas armas, conseguiu alcançar o seu objetivo.
Apenas alguns tiros isolados soaram atrás de si, observando, segundos depois, que o seu inimigo saíra detrás dos rochedos, ficando paralisado e sem saber que atitude tomar.
De súbito um dos três fugitivos deteve-se à entrada do desfiladeiro, esperando que ele se aproximasse, enquanto os dois restantes prosseguiam na sua marcha. Esse facto não obstou, porém, a que Mike continuasse na sua vertiginosa corrida. Manteve sempre aquela velocidade endiabrada até chegar a cerca de trinta metros do homem que o esperava.
Com um hábil movimento deixou-se escorregar do cavalo, ficando suspenso do flanco esquerdo e protegido pelo corpo do animal. Quando o outro se apercebeu da manobra, lançou-se a toda a velocidade no seu encalço, correndo a colocar-se do lado oposto para o apanhar desprotegido e poder liquidá-lo com segurança.
O tiro era difícil naquela posição, mas Mike tentou a sorte apertando duas vezes o gatilho. Atingido por uma das balas, o homem fez uma pirueta e rolou por terra. Segundos depois, quando Mike passou a cerca de uns sete passos, pôde certificar-se de que o bandoleiro ficara estendido entre dois penhascos, se não ferido de morte, pelo menos posto fora de combate.
Agora só lhe restavam dois homens do grupo. Estes, tendo-se apercebido de que as coisas não marchavam à medida dos seus desejos, cavalgavam um atrás do outro, em virtude da estreiteza da quebrada.
Cerca de uns quinhentos metros mais adiante, estendia-se uma extensa planície e à esquerda surgia uma série de montanhas gradualmente escalonadas. Foi para ali que os fugitivos se encaminharam ao saírem do desfiladeiro.
Mike ia ganhando terreno. Não era por acaso que o seu cavalo era considerado o melhor animal que até ali se criara nas planícies de Kentucky, não tendo aparecido, até àquela data, nenhum outro que com ele rivalizasse.
Inesperadamente os fugitivos separaram-se, seguindo cada um na sua direção. Não restavam dúvidas que se tratava de uma manobra para o atrapalhar. Mike, porém, não hesitou.
Deixando-se levar pela sua intuição e por certas circunstâncias que o advertiam de que estava a caminho de decifrar o enigma que o preocupava desde a sua chegada a Lenox, o jovem prosseguiu sem hesitar. Tomou pela direita.
Durante cerca de duzentos metros, a distância manteve-se a mesma. Quando olhou para o lado, verificou que o outro fugitivo acabara por se deter, seguindo agora atrás de si, sem, no entanto, se aproximar demasiado. Este facto veio confirmar as suas suspeitas. Estava realmente dentro do bom caminho e havia que prosseguir nele até ao fim.
Ao atingir os primeiros contrafortes da serra, meteu--se por uma brecha do lado esquerdo e desapareceu. Mike achava-se bastante próximo e compreendeu imediatamente que o seu perseguido se preparava para lhe fazer uma espera, procurando para isso um lugar de segurança.
Chegou junto da entrada e parou a montada, pondo-se à escuta. Nenhuma espécie de ruído de passos de cavalo chegou aos seus ouvidos.
Saltou do cavalo e prendeu-o a uma árvore, avançando logo a seguir, cautelosamente, de revólver em punho até à entrada da apertada brecha.
Uma bala, disparada a curta distância, levantou um punhado de terriço à sua direita. Agachou-se e continuou a avançar até se colocar ao abrigo de um penhasco.
Uma segunda bala lhe foi dirigida a seguir. O seu adversário ocupava um lugar bastante mais elevado, a cerca de uns cinquenta metros da entrada. O cavalo fora deixado um pouco afastado, mas em condições de poder ser utilizado no momento oportuno.
Começou a ouvir um ruído que se ia aproximando pela parte detrás. Mike compreendeu rapidamente os seus intuitos. Tinham escolhido propositadamente aquele ponto para que ele ficasse metido num beco sem saída.
Não se afastou, mas saltou para o rochedo mais próximo. O tiro que se seguiu deu-lhe a entender que o fugitivo lhe seguia todos os movimentos. Disparou na direção de onde provinham as balas, o que lhe permitiu melhorar a sua posição.
Naquele momento começou a ser atacado pelo outro que deixara para trás. Mantinha-se a certa distância, aparecendo e desaparecendo com rapidez, com o evidente propósito de embaraçar os seus movimentos. Pareceu não se preocupar com ele e procurou aproximar-se do outro.
Subitamente o seu companheiro começou a correr para ele, disparando sem cessar. Mike arrojou-se ao solo, de costas para baixo, e ripostou com três tiros bem calculados. Ouviu um grito e o agressor desapareceu.
Não seria descabido chegar à conclusão de que o tinha alcançado, apesar de isso não significar que o pusera fora de combate. Mas fora o suficiente para que o seu companheiro se convencesse de que teria de bastar-se a si próprio.
E a prova mais cabal foi que, sem se dar ao trabalho de esperar muito tempo, saiu do seu esconderijo deitando a correr para o cavalo.
Mike foi-lhe na cola. A questão era agora apenas entre cavalgaduras e dependia da velocidade maior ou menor que cada uma delas pudesse alcançar.
A corrida fazia-se por terreno pouco acidentado, mas que não dispensava a habilidade do cavaleiro. E nesse particular era Mike um consumado perito. Fora devido a isso que em pouco mais de cinco minutos Mike se colocara muito perto do fugitivo que voltava frequentemente a cabeça, sem deixar de fustigar furiosamente a sua montada. Já não disparava. Não podia pensar em recarregar as armas porque isso equivaleria a não prestar atenção ao cavalo e a perder nisso um tempo precioso. Por outro lado, encontrava-se à mercê do seu adversário e o alvo que o seu corpo lhe oferecia não permitiria que ele falhasse a pontaria.
Um último esforço do admirável animal e Mike achou-se junto do flanco do adversário. Um momento depois, num movimento rápido de impressionante precisão, saltou sobre ele e rodeando-lhe o corpo com os braços obrigou-o a cair por terra.
Rolaram, enlaçados, numa extensão de alguns metros, após o que Mike se pôs rapidamente em pé. De revólver em punho, ficou-se especado, contemplando o seu rival. Apesar das suspeitas que havia formulado, não pôde dissimular o seu assombro ao ver que, caída de gatas e sem ousar levantar-se, tinha na sua frente uma mulher. Deixara cair o chapéu, descendo-lhe a farta cabeleira pelos ombros abaixo.
— Era isto, precisamente, o que eu supunha vir encontrar — disse o mancebo, avançando alguns passos. — Podes levantar-te?
A jovem obedeceu. Os seus olhos despediam chamas. O peito arfava-lhe agitadamente devido ao esforço despendido, enquanto mordiscava o lábio inferior com os alvos dentes, até escorrer sangue.
— Achas que não tens nada que dizer? — perguntou Mike.
— Não podes ir muito longe — foi a resposta. — Além de atrevido és imprudente. Não mediste as consequências do que acabas de fazer.
— Apenas caçar uma pantera furiosa. Quase que o esperava.
— Será melhor para ti que desapareças. Deveria ter-te matado há pouco, quando te avistei.
—E porque o não fizeste? — perguntou com ironia.
— Porque não trouxe a minha espingarda. Podes dar-te por muito feliz, porque te tinha derrubado ao primeiro tiro.
Deus alguns passos, coxeando e balançando um dos braços, enquanto esfregava com a outra mão a parte magoada.
— Monta a cavalo e segue-me. Tenho de levar-te para Lenox.
— Para quê?
— Sabê-lo-ás dentro em pouco. Temos de conversar de coisas muito interessantes. De ti, de teu irmão e, possivelmente, de Willy.
Os negros olhos da mulher cravaram-se nos do mancebo.
— Que sabes tu acerca da minha vida? — perguntou em tom ameaçador.
— Bastante mais do que possas imaginar. Quando cheguei a Lenox já possuía algumas informações a teu respeito. Depois fui tomando conhecimento de coisas muito curiosas.
— Não tardará que te arrependas de saberes tanto — disse a rapariga, tentando sorrir. — Vocês, os homens, costumam ser bastante teimosos. E é isso que vos perde. Queres amarrar-me os pulsos? — disse a jovem, estendendo-lhe as mãos juntas.
— Por enquanto não será necessário. Depois mandarei averiguar o destino dos teus cúmplices.
— Nenhum deles é digno de se encontrar vivo — disse com desprezo. — Nunca me vi tão mal protegida como hoje.
Dirigiu-se para o sítio onde estava o cavalo, montou, e ordenando à jovem que marchasse na sua frente, situou-se a pouca distância dela. Não trocaram uma única palavra. Encerrou-a na cela que se encontrava vaga, ante a perplexidade de Chuck que perguntava a si próprio como e onde fora o xerife descobrir aquela surpreendente e encantadora prisioneira.
— Ficas responsável por ela — disse Mike, entregando-lhe uma espingarda. — Eu regresso sem demora.
— Houve alguma coisa de novo?
— E está para haver muitas mais. Serás capaz de vigiar essa fera?
— Estou convencido que sim.
— Vai nisso a integridade da tua cabeça. Abre bem esses olhos e que ninguém aqui entre enquanto eu não voltar.
— Entendido — confirmou Chuck, verificando a carga da arma.
Mike abandonou a repartição e dirigiu-se para o rancho de Davies. Encontrou ali Manuel e um dos rancheiros que residiam nas proximidades. O reservatório da água e outras instalações anexas, não eram mais do que um montão de destroços horrível. As dependências existentes junto dos estábulos fumegavam ainda, mas encontravam-se quase totalmente destruídos pelo fogo.
— Apresentaram-se aqui uns tipos na altura em que Davies se encontrava só — explicou Manuel, que havia chegado minutos antes. — Um deles apontou-lhe o revólver, enquanto os outros se davam a tarefa de colocar cargas explosivas em diversos pontos para destruir as instalações.
— Quantos eram?
— Quatro. Nenhum deles proferiu palavra nem lhe deram tempo para se defender. Concluíram a façanha em poucos minutos e dirigiram-se para o norte.
— Cruzei-me com eles quando me dirigia para aqui — esclareceu Mike.
— Conseguiste vê-los?
— E ripostar aos tiros com que me alvejaram. Pus dois deles fora de combate e estou convencido de que o primeiro ainda deve estar no mesmo sítio onde caiu.
— Não verificaste quem era?
— Não estive para perder tempo. Continuei em perseguição do cabecilha. Deu-me bastante que fazer, mas acabamos por chegar a um acordo.
— Deixaste-o ir embora?
— Sim, mas a caminho da prisão. Tenho essa autêntica fera guardada à vista, bolsando insultos e ameaças contra mim.
— Luck?
— Não, a irmã de Doug Blitte. Uma galante amazona portadora de dois revólveres e com cinquenta quilos de dinamite nas veias, mais astuta e cruel do que um tigre a espreitar a presa. São ela e seu irmão que se dedicam a semear o terror em toda esta região.
—E meteste uma mulher dessas na prisão? Fazes ideia da tempestade que isso vai fazer desabar sobre nós?
— Estou à espera disso mesmo. É por essa razão que temos de regressar.
— E o velho?
— Não venderá. Aliás o assunto já me não preocupa demasiado. Os que pretendem comprá-lo têm agora outras coisas mais complexas que os preocupem.
Davies estava completamente furioso, mas o medo apossara-se já do seu fraco espírito.
— Não quero conservar-me neste inferno por nada deste mundo, porque não estou disposto a ariscar a pele — dizia ele, absolutamente, aniquilado. — Não tardará que tudo isto esteja transformado num montão de ruínas. Até da água me privaram esses miseráveis!
— Duvido que haja alguém que volte a persegui-lo — disse Mike, aproximando-se. — Sabem já que conseguimos desmascará-los e a sua preocupação, agora, é apenas a de se esconderem.
— E que vou eu agora fazer? Nem sequer me é possível levar o gado a pastar. Todos os meus homens me desampararam. Tudo que existia nos celeiros foi destruído. Dentro em pouco não ficará pedra sobre pedra. Nem sombras do «Sunrise».
— Espero que, antes do fim da semana, venha gente nova para ajudar a reconstruí-lo. — Pensas que ainda há gente maluca? — perguntou ele, incrédulo. — O que é necessário é que não tenha medo. Quase posso garantir-lhe que ninguém mais voltará a incomodá-lo.
— Não! — continuou o velho, desalentado. — Vou procurar Moore e fechar o contrato. Por enquanto ainda poderei receber alguma coisa. Daqui para o futuro ninguém o compraria nem por compaixão.
Mike e Manuel trocaram um olhar de inteligência.
— É preciso recolher o gado e conduzi-lo a um lugar seguro — disse o mancebo dirigindo-se ao seu ajudante. — Regresso a seguir e ficas por aqui aguardando a chegada do pessoal que queira contratar-se.
—E a respeito da tal mulher que conseguiste caçar? Sabes que me aguçaste a curiosidade de a ver?
— Vê-la-ás quando te aprouver—replicou Mike, dando--lhe uma palmada nas costas. — Será conveniente reservar essas emoções para quando estejas preparado para elas.
Deu-lhe uma piscadela de olho e montou de novo para regressar a Lenox. Chuck encontrava-se nervoso e visivelmente inquieto.
— Andou por aqui um tipo que parecia vigiar a casa — explicou o carcereiro, apontando com a mão o passeio fronteiro. — Passou a cavalo para um lado e para o outro, parou junto do poste e enrolou um cigarro. Sentou-se num degrau e começou a olhar para as janelas.
—Há muito tempo?
— Há talvez uns vinte minutos. Depois afastou-se e dirigiu-se para o lado da praça. Voltou minutos depois, mas não voltei a vê-lo depois disso.
— Isso significa que nos preparam uma visita. Cá estaremos para os receber.
Apesar do que se supunha, nada de novo se passou nesse dia. Já próximo da noite parou um cavaleiro em frente do edifício. Desmontou e bateu à porta. Mike foi abrir e deu de caras com Willy Grant.
— Boas noites, Mac Bride — disse o visitante, tirando o chapéu. — Necessito de falar-lhe.
— Não me surpreende a sua visita — disse Mike, desviando-se para o lado. — Já o esperava.
— Sabe o que aqui me traz?
— Vem por causa de uma mulher.
— É minha noiva.
— Lamento não poder felicitá-lo pela escolha.
— Não lhe dê cuidado. As escolhas que faço dependem exclusivamente do meu gosto pessoal.
Mike fechou a porta, mas não convidou o seu visitante a entrar para o gabinete. Demonstrava claramente o desejo de acabar com a entrevista o mais rapidamente possível.
— Esta tarde o senhor saiu ao encontro de Sara, sem que alguma coisa o justifique. Ia em companhia de três homens que tinham ido esperá-la ao limite de Flint Canyon.
— E todos juntos fizeram ir pelos ares o rancho de Davies.
— Como pode o senhor provar que Sara esteve ali?
— Vinham todos daquela direção. Davies descreveu como as coisas se passaram e não há dúvidas de que era ela quem comandava a expedição.
— Será obrigado a prová-lo.
— Prová-lo-ei.
Willy Grant começou a aparentar grande nervosismo.
— Talvez haja uma maneira de resolver o assunto. Como vou adquirir o rancho de Davies, pagarei todos os prejuízos que ali houver.
— Isso não modifica a natureza do delito.
— Dirigir-me-ei a Sam. O juiz não poderá recusar-se a pô-la em liberdade.
— Seu irmão não fará semelhante coisa.
— E se eu o obrigar?
— Terá também de me obrigar a mim. E entre nós não há quaisquer laços de sangue.
— O senhor sente-se demasiado importante no cargo para que o nomearam — disse Grant, em tom de ameaça. — Posso obrigá-lo a sair daqui quando eu quiser. Sabe porque ainda continua vivo?
— Porque tenho o costume de dormir com os olhos abertos. Não será, certamente, porque não tenham tentado liquidar-me.
— Eu tenho intervindo muitas vezes para que o não incomodem. No dia em que deixe de me interessar, será baleado na primeira esquina.
— Tenha vergonha do poder de que desfruta à sombra de um miserável como Blitte.
— Apenas tenho tentado conseguir que eles cometam o menor número de desmandos. Mas não admito que se intrometam com Sara.
Mike puxou lentamente pelo relógio preso a uma corrente de prata.
— Destinei-lhe três minutos para o escutar, tempo que vai muito além do que costumo dispensar às pessoas cuja presença me não é agradável. Boas noites, senhor Grant.
Willy Grant fixou no jovem os seus olhos cinzentos e esboçou um sorriso maldoso.
— Não tardará que seja o senhor a vir solicitar-me que me digne recebê-lo.
Voltou as costas e saiu de rompante, atirando violentamente com a porta. Mike chamou Chuck e ordenou-lhe que fechasse as portas com a maior segurança. Acabou de jantar, apossou-se da espingarda e postou-se junto da janela que dava para a parte posterior.
De madrugada Chuck veio revezá-lo, ficando assente que o avisaria logo que observasse fosse o que fosse de anormal. A noite, porém, decorreu sem qualquer novidade.
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