Deixou Milford para regressar a Lenox, antes que a noite o surpreendesse no caminho. Dentro da residência apenas se encontrava Chuck que se dispunha a preparar o jantar. Manuel tinha sido chamado por Sally e ainda não tinha regressado.
Não eram decorridos ainda cinco minutos, quando ouviu bater à porta com insistência. Era um rapazote dos seus doze anos, portador de um papel dobrado.
— O senhor é que é o xerife? — perguntou, olhando-o com curiosidade.
Mike acenou afirmativamente e o rapaz entregou-lhe o papel.
— Foi o senhor Simon quem mo entregou para vir trazê-lo aqui a toda a pressa.
Mike desdobrou o papel e leu:
Encontra-se aqui um mensageiro de Long. Tem o cavalo amarrado por detrás do pátio.
Voltou a colocar o cinturão e despediu o portador depois de o gratificar.
— Se Manuel regressar antes de mim, informa-o de que me encontro no «Veracruz» — disse ele a Chuck. —E muito possível que haja que fazer.
Saiu pela porta traseira e encaminhou-se para o «saloon» através das ruas menos concorridas. Cingiu-se com a parede e foi-se aproximando do pátio. Ainda ali se encontrava, efetivamente, o cavalo a que Simon se referia no bilhete. Estava selado e preparado, mas encontrava-se solto, o que era uma prova evidente de que, quem ali o deixara, previra a circunstância de ter de fugir ao menor sinal de perigo.
Aguardou durante cinco minutos. Não duvidava de que Simon procuraria entreter o enviado de Long todo o tempo que lhe fosse possível a fim de dar tempo a que ele chegasse.
De súbito viu um vulto abandonar a casa. Atravessou rapidamente o espaço que o separava do cavalo e, no momento 'exato, saiu-lhe Mike ao encontro, travando-lhe o passo.
— Alto! — intimou o xerife. — Um único passo em frente e estoiro-te a cabeça!
O outro deteve-se, surpreendido. Mas o revólver que Mike lhe apontava era bastante eloquente para que ele tivesse a veleidade de resistir.
— Vamos! Meia-volta e regressa à casa de onde saíste.
O homem obedeceu. Mal tinham chegado à porta traseira, quando esta se abriu e a figura de Simon surgiu entre os umbrais.
— Está aí, xerife?
— Tenho-o nas minhas mãos — respondeu. — Vai lá fora e toma conta do cavalo.
Mike obrigou o outro a entrar.
— A graça vai ficar-te cara, Simon — comentou ele, rugindo de raiva. — Sabes bem que Long não admite que se brinque com ele.
—Não estejas a preocupar-te com isso. As tuas ligações com a quadrilha de Loug terminaram.
— Aonde queres tu chegar com isso? — ripostou em ar de desafio.
— Já vais ter ocasião de o saber.
Segundos depois, Simon voltou a entrar.
— Condu-lo para a cavalariça — informou. — Ali ninguém o descobrirá. Quero interrogá-lo.
— Vieste sozinho? — perguntou Mike ao bandoleiro.
— Vim aqui unicamente para dar um recado a Simon.
— Que espécie de recado?
Desta vez foi o dono da casa quem respondeu:
— Loug mandou-o aqui para me prevenir de que quer que eu lhe entregue os quinhentos dólares antes de sábado.
— Onde está Loug?
O tom perentório de Mike acabou por decidi-lo.
— Ninguém sabe. Ele nunca se demora muito no mesmo sítio — respondeu o homem, encolhendo os ombros.
— Mas tem de haver maneira de se encontrar.
—Não te dê isso cuidado. Vê-lo-ás, quando menos o penses e desde já te previno que não te vai ser nada agradável encontrá-lo pela frente.
— Mas isso é o que eu quero, vem dar na mesma. Quer-me, no entanto, parecer que nem ele nem o vosso patrão estão na disposição de dar o corpo ao manifesto.
O prisioneiro começava a sentir-se alarmado.
— Que te propões fazer? — perguntou.
— Arranjar-te um alojamento que não será apenas para esta noite.
— Pensa primeiro naquilo que vais fazer. Loug espera que eu regresse dentro de meia hora.
— Deixa-te disso. Ele vai ter de esperar muito mais e pode até ir pensando em prescindir dos teus serviços para novas maroteiras. O prisioneiro sorriu-se de um modo sinistro.
Mike voltou-se então para o mexicano.
— Necessito de ter às minhas ordens uns quatro ou cinco homens decididos, a fim de acabar de vez com todas estas tropelias. Só devido à inércia de todos foi possível permitir que Lenox se tenha transformado num campo propício a todas as pilhagens e violências.
— Conheço três que se colocarão ao teu dispor logo que deles necessites. Um deles é Feller, o ferreiro.
— Com esse já eu contava.
— Os outros dois são Wilson e Jerry, dois jovens rancheiros que moram à saída da povoação.
— Prepara-te para os avisares de que necessito de falar com eles esta mesma noite.
— Vou no mesmo instante.
Mike levou o prisioneiro consigo e encerrou-o numa das celas do comissariado. Chuck não cabia em si de admiração pela maneira rápida como o xerife se apoderara do bandido.
— Receio bem que não decorra muito tempo sem que os companheiros deem sinais de vida — comentou o carcereiro meneando a cabeça.
— Sabes porventura mexer numa espingarda, Chuck? — perguntou Mike.
— Naturalmente que sei; mas prefiro entreter-me no meu serviço e...
— O trabalho não vai ser muito difícil. Trata-se apenas de meter todos estes figurões na cadeia ou exterminá-los como se fossem ratazanas.
O carcereiro encolheu-se.
—Bem — disse ele, pouco resoluto.
— Se não há outra solução...
— Não há outra solução.
O tom perentório de Mike, acabou por decidi-lo. Manuel, que chegou alguns minutos depois, pareceu ficar entusiasmado com a existência de um prisioneiro na cela.
— Anda para aí outro tipo que muito me agradaria ter trazido comigo para fazer companhia a este. Esteve esta tarde de visita ao pai de Sally.
— Já o tinhas visto antes disso?
-- Não, nunca. Parecia tratar-se de um homem distinto e mostrou-se muito interessado em comprar o rancho. Ofereceu quinze mil dólares.
— E Davies?
— Creio que está tentado a vender. Sara, porém, tenta por todos os meios fazê-lo desistir. A verdade é que deve ter esgotado toda a sua paciência. Conseguiu-se Apenas que ele protelasse a resposta até amanhã.
— Eu farei que ele espere mais alguns dias.
—Tens alguma maneira especial de o convencer?
— Estou confiado em que cheguem alguns trabalhadores de Milford. Suponho que consegui interessá-los no assunto.
—E se não vierem?
—Teremos de agir de outra forma. Estar de posse do rancho de «Sunrise», significa nada mais, nada menos, do que ter na mão a chave do desfiladeiro de Rattbone. Por ali se escoariam todas as reses roubadas na região e quando se desse pela sua falta, já elas estariam do outro lado da fronteira.
—Parece-te que seja Blitte quem dirige essa organização?
— Quem diz Blitte, diz Phil Moore ou qualquer outro dos muitos aventureiros que existem na região. Inclusivamente o próprio Dunn, o homem que foi visitar Davies esta tarde.
— Sabes de quem se trata? — perguntou o ajudante surpreendido.
— Já o sabia antes de vir para aqui. Apesar de que estou convencido que ele pretende efetuar a compra, não para ele, mas para Blitte ou, mesmo, para sua irmã.
Naquele momento soaram algumas pancadas à porta. Chuck foi abrir e deu de caras com dois mancebos de aspeto rústico.
— Simon foi avisar-nos de que querias falar connosco — disse o mais alto dos dois, de cabelo encrespado e cor de palha.
— O meu nome é Jerry.
— Eu chamo-me Wilson. Stuart Wilson — explicou o outro.
— Muito me alegra que tenham vindo — disse Mike, apertando a mão aos recém-chegados. — Está-se preparando um tremendo sarrabulho em Lenox e é indispensável saber com que gente posso contar.
— Por nós estamos dispostos para tudo o que for necessário, desde que se trate de correr com essa canalha daqui para fora.
— Jimmy Feller não deve tardar — disse o companheiro. — Ficou a acabar um trabalho urgente e deve estar a aparecer.
Mike ofereceu cadeiras aos visitantes e sentou-se à sua secretária.
— É forçoso organizar uma enérgica ação contra esses aventureiros que tornam impossível a vida à gente de toda esta região — disse. — Existem umas duas ou três pessoas que trabalham isoladamente e que apenas pretendem pescar nas águas turvas. A conclusão a que eu cheguei, após aturadas observações, é que existe um único cérebro a dirigir e orientar a organização de malfeitores que, com os seus latrocínios, atenta contra o sossego e a vida de toda a comarca.
— Talvez Doug Blitte — comentou Wilson com um sorriso.
— Doug Blitte não passa de um simples peão neste vasto tabuleiro de xadrez. Esse cérebro é uma mulher.
Os dois homens encararam-se incrédulos e surpreendidos pela inesperada declaração de Mike.
—Uma mulher?
— Sim. Uma mulher diabolicamente encantadora que maneja habilmente quantos lidam com ela. E a própria irmã de Blitte.
Houve um instante de silêncio que Mike interrompeu.
— Sara Blitte necessita do rancho de Davies para as suas inconfessáveis atividades e todos nós temos a obrigação moral de impedir que esse velho assustadiço caia na asneira de o vender.
— Se tanto for preciso, vai-se lá e fecha-se a sete chaves.
— Não é preciso tanto — replicou Mike. — Estou confiado em que tudo se conseguirá por meios pacíficos. O que não quer dizer que não devamos estar preparados para que aqueles que pretendem comprá-lo sejam impedidos de o fazer.
Todos os pormenores da ação foram meticulosamente discutidos, a fim de levantar uma barreira às atividades dos que ameaçavam estrangular o progresso de Lenox.
O ferreiro, chegado segundos antes, pôde também tomar conhecimento das deliberações tomadas.
Uma hora depois abandonaram o comissariado, enquanto um par de olhos ocultos na escuridão os observavam com a maior atenção. Não podiam admitir que Mike Mac Bride criasse uma frente de resistência capaz de despertar a consciência e a reação dos habitantes. E para isso nada havia melhor do que o terror.
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