Levou o cigarro aos lábios e aspirou-o. Apagara-se durante as suas reflexões. Acendeu-o de novo, e acabava de atirar o fósforo para o chão, quando ouviu o furioso galopar de alguns cavalos que se aproximavam.
Eram os seus três homens de confiança: Paulo, Nicasio e o Renato, e um outro tipo que dava pelo nome de Leónidas. Tinham ido buscar a "contribuição" e voltavam de mãos vazias e a galope. Desmontaram com os cavalos em movimento, e Paulo, suando em bica, disse, ofegante:
— Há sarilho, patrão. Creio que esses tipos do Barreal contrataram os serviços de pistoleiros. Só vimos dois, mas…
— Só dois? E vocês fogem como ratas assustadas?
— Queríamos que o soubesses, antes de passarmos à ação — mentiu, deliberadamente, Paulo.
— Isso explica por que motivo Raul e Roberto não regressaram. Quem eram esses tipos?
— Um deles chama-se Gringo Sonora.
Repentinamente, a atitude de Eudosio modificou-se. Gringo Sonora, o ianque mais conhecido ao Sul do Rio Grande. Uma súbita curiosidade, vencendo o inconsciente temor, apossou-se dele. Durante uns momentos, fumou em silêncio. Depois, atirando o cigarro para longe, ordenou secamente:
— Toda a gente a cavalo! Vamos brincar um pouco com esses cavalheiros.
Não se apressaram. Tinham tempo suficiente. Demoraram quase três horas e meia a percorrer as vinte milhas que os separavam do povoado.
Assim que chegaram ao Barreal, Eudosio meteu o cavalo a passo, enquanto os seus olhos esquadrinhavam em todas as direções.
No entanto a batalha não se produzia. Percorreram todas as ruas de Barreal sem qualquer oposição. Era estranho, muito estranho mesmo.
Lentamente, desmontou à porta do "saloon”, logo seguido por todos os seus homens. Na mesa do costume, começou a beber.
Pouco depois, despejada que foi a garrafa de tequila, rompeu a rir estrepitosamente.
Paulo olhou-o, com certa inquietação. Quando o chefe se embebedava, a coisa ia mal. Rindo ainda, Carbajal levantou-se e saiu do "saloon". Paulo, Nicasio e Renato seguiram-no como era habitual.
Cambaleando, alcançou a rua. Na primeira esquina, tropeçou com um mexicano franzino levando pela arreata um burro carregado de lenha.
— Escuta, imbecil. Procuro um cão chamado Gringo Sonora. Onde está.
— Não sei, senhor! — murmurou o pobre homem, transido de medo.
Carbajal, com o seu inseparável chicote preso ao pulso direito, agrediu-o selvaticamente. Quando se cansou, deu um passo atrás, berrando:
— Desaparece daqui, malvado! Eu encontrá-lo-ei, ainda que se tenha metido debaixo das saias da mãe.
Olhando como louco os seus homens, continuou a caminhar pela rua. Em breve se detinha frente à igreja. E, então, fez algo que deixou assombrados os bandidos. Sacando o revólver, disparou contra as imagens, colocadas por sobre a porta do templo.
Depois da façanha, sacudiu a cabeça, fazendo ondear as largas abas do chapéu.
O suor corria-lhe pelo moreno rosto. Tinha a roupa pegada ao corpo pela transpiração. Os seus homens julgavam-no valente quando o viam cometer semelhantes barbaridades, mas não podiam suspeitar que era o medo que o impelia àqueles actos. Um medo enorme, espantoso, indescritível.
— Vamos embora — resmungou. — Mais tarde, viremos buscar esse... Gringo Sonora.
Seguido pelos três sequazes, voltou ao "saloon". Dez minutos depois, o Barreai adquiria de novo o seu aspeto tranquilo. Mas ninguém poderia estar descansado. Carbajal ia-se embora, mas voltava sempre.
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