Porfírio convalesceu rapidamente. A sua forte e jovem constituição conseguiu um verdadeiro milagre. Quinze dias depois de ser ferido, já conseguia montar.
Profunda transformação se operara em Barreal. O medo passara para sempre e os habitantes da povoação, libertos do peso de Carbajal, eram, agora, um grupo de mexicanos alegre e feliz.
Silver, à janela do quarto, contemplava o pátio do convento. Porfírio, na cama, descansava.
De súbito, uns passos soaram no corredor. Segundos depois, a bela Maria de Camporreal entrava no quarto.
— Há rurais na povoação — disse, excitada. — São três e dirigem-se precisamente para cá.
— Já os esperava — sorriu Silver. — Sempre que cruzo a fronteira, acabo por encontrá-los.
— As mãos para cima! — a voz chegou da porta, autoritária.
Silver limitou-se a olhá-los. Três rurais, com os alegres uniformes característicos, avançaram para o americano, com excessiva precaução.
Um deles empunhava uma espingarda de grande calibre. Os outros dois usavam as regulamentares pistolas.
Silver não esboçou qualquer defesa. Deixou-se desarmar. Depois, ante o assombrado olhar de Porfírio, um dos rurais, baixo e forte, colocou um par de algemas nos pulsos de Silver e retrocedeu um passo.
— Enfim! — disse. — Já não era sem tempo!
Silver deixou escapar um dos seus melhores sorrisos. Apesar de ter os pulsos presos, conseguiu extrair habilmente a bolsa de tabaco e começou a enrolar um cigarro.
— Aposto — observou tranquilamente, -- como esperava receber uma bala na cabeça ao passar a porta.
— E verdade, senhor! — o sorriso do mexicano era expressivo. — Mas nem por isso deixei de entrar. Agora... — interrompeu-se, levantando um braço.
Um rumor semelhante ao de um enorme enxame aproximava-se deles.
Um grupo de habitantes de Barreal apareceu à porta. Eram morenos, magros, mostrando umas alvas dentaduras.
— Para trás! — rugiu o gordo rural. — Ao primeiro que tentar...!
Tentaram-no todos ao mesmo tempo. Entraram de roldão pelo quarto, desarmaram os três surpreendidos rurais, devolveram os revólveres a Silver e levaram os agentes da Lei em bolandas.
— Estes rurais são muito impulsivos — filosofou Silver, carregando a Winchester e a espingarda de dois canos.
Depois, com um sorriso, abandonou também o quarto.
— Para que levará as armas? — perguntou Porfírio, levantando-se da cama e aproximando-se da janela.
— Vai-se embora — respondeu Maria, tristemente.
Minutos depois, o cavalo negro, oferta das gentes do povoado, estava no pátio, ajaezado já. Silver ajeitava os alforges, preparado, na realidade, para partir. Um dos rurais apareceu então, caminhando lentamente para ele.
— Venho em paz, senhor. Compreendo perfeitamente que toda a povoação esteja do seu lado, depois do que ouvi contar. No entanto, já sabe, senhor, a Lei é a Lei. Mas, de momento; nada farremos contra si. E sabe porquê? Porque o senhor voltará. Há algo no México que o atrai e que o perderá, senhor.
Silver viu aproximar-se o padre Alberto e o seu rosto fechou-se.
— Vai-se já embora, meu filho?
— Sim. Agora mesmo.
O padre nada disse, estendeu-lhe a mão, que Silver estreitou vigorosamente. Então, ante os olhares de Maria e Porfírio à janela, e ante o assombro do rural, Silver, o aventureiro que parecia forjado do mais duro aço, tirou o chapéu e pôs um joelho em terra.
— Dê-me a sua bênção, padre.
O padre Alberto fez o sinal da cruz sobre a sua cabeça e Silver levantou-se rapidamente, montando se um salto.
Levantou a mão para saudar Porfírio e Maria. Depois, esporeou ó cavalo e saiu pela grande porta, envolto numa nuvem de poeira. O sol, lá ao longe, vivia os seus últimos momentos daquele dia...
FIM
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