domingo, 14 de abril de 2019

BUF004.09 Uma lição de vida para o jovem Tommy

Viu Evelyn entrar nos Correios, passada já meia manhã. Minutos mais tarde viu-a sair e abandonar a praça por uma rua lateral. Gostaria de a ter seguido; todos os impulsos o empurravam para ela; mas revestiu-se de paciência e permaneceu no seu posto, vigiando.
Pouco depois, observou como um jovem de pouco mais de dezassete anos abria a porta da repartição oficial e olhava à direita e esquerda.
— Quem é? — perguntou a Trimmer.
— Aquele? Tommy, o filho do encarregado dos Correios.
— Que espécie de rapaz?
O taberneiro formulou um gesto de desprezo.
— Que posso dizer-lhe? — respondeu. — Que me alegro de que seja filho de quem é?
— Porquê?
— Assim não poderá ser meu.
— Não é bom, então?
—É uma rata. São boas as ratas?
O rapaz, entretanto, havia adotado uma decisão e começou a andar rapidamente para a direita. Entrou no amplo portal de uma cavalariça.
— Onde irá?
— Vai buscar um cavalo, sem dúvida, para ir até ao campo. Costuma fazê-lo algumas vezes.
— Sim?... E até onde costuma ir?
— Para o Oeste, para aquelas montanhas.  Vê-as?
Barry fez um gesto de assentimento.


— Bem, Trimmer — disse. — Sei que você é amigo e agradeço-lhe. Adeus.
— Onde diabo pensa você ir agora?
— Para o Oeste, para aquelas montanhas. Quero ver o que há por ali.
— Pois não há dúvida de que deve haver alguma coisa. O que já não asseguro é que o deixem ver. Eu, no seu lugar, esperaria pela noite, e sairia acompanhado por toda essa gente sã que antes esteve aqui.
— Não. Vou só e sem esperar pela noite.
— Porque tem de fazer isso, Mílo?
— Porque, de noite, não se veem bem as coisas. Adeus.
Barry cavalgou velozmente durante meia hora até transpor um monte. Não queria que Tommy o visse, e calculava que o jovem havia saído da povoação tomando o mesmo caminho. Olhou em redor e tampouco viu alguma coisa que lhe despertasse receio.
A direita, e a poucos metros, havia um pequeno planalto em que cresciam grande quantidade de árvores. Desmontou e prendeu o animal a um tronco, deixando-o bastante solto para que o animal pudesse pastar num amplo círculo.
Empoleirou-se no alto e estendeu-se em terra, dominando o caminho por onde esperava ver vir o rapazinho.
Decorreram cinco, dez minutos e este não se tornava visível. A espera pareceu-lhe, por momentos, mais angustiosa. Se se tivesse enganado nos seus cálculos. Depois de outros cinco minutos renunciou e ergueu-se do seu observatório com um sentimento de derrota.
Lentamente dirigiu-se para o cavalo... Parou subitamente para observar o animal, o qual havia deixado de pastar e levantava a cabeça, olfatando o ar. Era um estupendo exemplar da raça equina, e nas suas veias corria sangue de tampões.
Havia servido fielmente Barry durante quatro anos e acompanhara o seu dono na interminável fuga, quando o xerife Milo Kerigan o perseguira. Juntos haviam padecido fome e sede e suportado terríveis jornadas em que não podiam conceder-se um momento de repouso.
O animal era inteligente como uma pessoa: depressa compreendeu o carácter furtivo que deviam ter os seus passos e muitas vezes avisava o seu amo da proximidade de outros cavaleiros, inadvertidos ainda para Barry. Costumava fazê-lo por meio de um suave resfolegar, voltando a cabeça e estendendo o pescoço em sinal de advertência. E agora fez o mesmo, quando viu aproximar-se Barry: estendeu o pescoço e resfolegou suavemente.
Barry deu-lhe uma carinhosa palmada nas ancas. Aquilo significava para o animal que a sua advertência tinha sido compreendida e que deveria manter-se quieto e em silêncio. O cavalo havia olfatado o ar orientando a cabeça para o Este. Por ali, sem dúvida, se apresentava a ameaça... se é que era uma ameaça.
Avançou cautelosamente, de árvore em árvore, amparando-se atrás dos troncos após cada pequeno avanço. E pôde, quase imediatamente, perceber o ruído de uma pessoa que avançava em sentido contrário, também com precauções, embora estas fossem bastante desajeitadas.
Rapidamente, Barry retrocedeu. Convinha-lhe esperar perto do cavalo, na previsão de um apuro e para ter a retirada pronta. Imobilizou-se atrás de um tronco e esperou com refreada impaciência.
Ouviu o estalido de um ramito seco ao ser pisado. Depois um leve pontapé contra qualquer coisa saliente do solo. A inexperiência de quem assim se conduzia fê-lo adivinhar de quem se tratava: era o rapazito, filho do encarregado dos Correios, e sem dúvida o objetivo do seu avanço era constituído pelo pequeno planalto que dominava os caminhos.
Em poucos minutos alcançou o rapaz a árvore atrás da qual se encontrava Barry, detendo-se subitamente e afogando uma exclamação de surpresa. Não havia visto o homem que ficava atrás dele, mas vira o cavalo.
Barry viu o rapaz baixar a mão até ao seu revólver, muito rápido, mas não o suficiente para se enfrentar com um atirador. O revólver de Barry apontava-lhe já, diretamente enfiado contra o seu peito.
— Quieto, rapaz! — ordenou o nosso jovem —. Não toques no revólver.
Tommy empalideceu mais ainda, mas um sentimento de despeito e de cólera fez com que os olhos chispassem e houve um momento em que pareceu ir tomar impulso para se arriscar. Barry atalhou-o com a palavra.
— Não o faças, rapaz. Convêm-te esperar alguns anos, até amadureceres. Levanta as mãos. as mãos. Assim! Belo, rapaz! Obediente.
Arrancou-lhe o revólver do coldre. Desdenhosamente atirou a arma ao solo e guardou a sua. O rapaz manteve-se imóvel, com os lábios apertados.
— Bem, não fiques aí parado, olhando-me como um tonto. Fala.
— Não tenho nada a dizer.
— Oh, sim, creio que tens. E vais-me dizer tudo.
— Não compreendo.
Barry agarrou-o por um braço, sacudindo-o violentamente.
— Fala! — ordenou.
Os lábios do rapazito cerraram-se ainda mais, depois de dizer
— Repito que não compreendo!
Barry sorriu duramente. Logo, subitamente, levantou a mão e aplicou-lhe uma sonora bofetada.
— Ba... bateu-me! — exclamou Tommy, atónito.
Parecia não compreender que aquilo pudesse ter acontecido.
— Isso mesmo! — disse Barry —. Ou nunca te tinham batido? O teu pai nunca o fez?
— Não... não se atreveria — murmurou surdamente o rapaz.
— Isso é um erro. Mas eu atrevo-me. E continuarei a fazê-lo até que te decidas a falar. Vamos!
O rapaz lançou-se repentinamente contra Barry, com um grito de raiva histérico, quase feminino. O «cowboy» deteve-o com outra tremenda bofetada.
— Disse-te para falares! E deixa-te de tolices. Vamos, rápido!
Tommy olhava-o ainda com uma expressão de incredulidade. Começou a chorar quando Barry menos o esperava, e chorava com uns soluços que lhe sacudiam todo o corpo, correndo-lhe as lágrimas pelas faces, como um menino.
— Isso era o que estavas necessitando há muito tempo — disse Barry —. Os meninos devem chorar... ou convertem-se em monstros. Agora dize-me a quem te dirigias para dizer o conteúdo da carta. Eu digo-te. Era... — inclinou-se sobre o ouvido do rapaz, murmurando-lhe um nome.
Enquanto o fazia não pôde notar a atitude do seu cavalo, que novamente erguia a cabeça, olfatando o ar.
— Decide-te, Não quero voltar a bater-te. Não julgues que gostei de o fazer. Dize-me se acertei no nome.
O cavalo resfolegava agora, com a inteligente cabeça voltada para o seu dono.
— Acertei?
— Sim — murmurou Tommy surdamente.
— Houve outra carta antes desta. Foi a mesma pessoa que então te subornou para que lhe dissesses o seu conteúdo, não é verdade?
O rapaz parecia esmagado sob o peso enorme da vergonha.
— Fala!
— Sim, sim!... Já sabe tudo! Deixe-me, deixe--me ir embora! Ou dê-me um tiro!
Oxalá o fizesse! Sinceramente o desejava naquele instante. O seu desgosto era tão insuportável!
Mas não era ele só. O cavalo também estava desgostado. Escarvou o solo com impaciência e resfolgou de novo, agora fortemente. Desta vez ouviu-o o seu dono, que lançou mão ao revólver com uma celeridade espantosa. Mas já era tarde. Uma voz ordenou-lhe:
— Não toque na pistola! Está sob fogo.
Barry tornou-se rígido. Haviam-no tomado de surpresa e ele sabia-o. Teve de vencer o seu instinto que o impelia a puxar pelo revólver e a disparar, ainda à custa de receber alguma bala, mas não seria uma só, mas sim várias. Tommy limpou o rosto com a mão, enxugando as lágrimas.
— Don Crater! — exclamou.
— Tira-lhe o revólver, imbecil! — ordenou a mesma voz, nas costas de Barry.
O rapaz obedeceu desajeitadamente. Aquilo também o envergonhava sem saber porquê. Barry ouviu desmontarem os homens que o haviam tomado de surpresa e voltou-se para os encarar.
Eram três. Um deles, Don Crater, o gigantesco gorila que servia no «Doble Z». Outro, um indivíduo delgado como um chicote, que se movia com uma agilidade felina. E o terceiro, um tipo indefinível, com uma gentileza artificial na sua figura. Este último levava o rosto coberto com uma mascarilha, feita simplesmente com um lenço onde haviam dois orifícios para os olhos. O seu trajo era negro, parecido ao que «Grand Fox» costumava usar sempre.
— Don Crater! — disse Barry, encarando-o com desprezo e desgosto —. Então é você?
— Sim, Don Crater. De que se admira?
— De nada. Desde o primeiro momento que o supus um traidor.
— Engana-se. Não sou eu o traidor, e por o ter dito vai levar a maior tareia da sua vida. O traidor é você.
— Eu?
— Sim. Você não é Milo Kerigan, Sabemo-lo. Sabemos que...
O mascarado atalhou as palavras do gigante:
— Silêncio, Crater! Falas demasiado.
O gigante murmurou uma obscura ameaça, entre dentes. O mascarado perguntou então a Tommy:
— Que te fazia?
Tommy pestanejou sem se decidir a responder.
— Não ouves? Tens de nos dizer o que aconteceu.
— Bateu-me! — respondeu o rapaz com voz velada pela vergonha —. Bateu-me... na cara! Ele... queria saber o que eu aqui vinha fazer.
— Disseste-lhe?
— Não!... Não disse nada- — negou Tommy, desesperadamente — É verdade, que não lhe disse? — dirigia-se a Barry e havia na sua pergunta uma ânsia de que este também mentisse, de que o salvasse da vergonha definitiva.
— Não. Não me disse. Tem coragem o cachorro, maldito seja! — corroborou Barry, que compreendia os sentimentos do rapaz.
— E bateu-te? — perguntou Crater com um sorriso azedo.
— Sim. E não foi só uma vez. — Pois agora podes tu bater-lhe a ele. Não se moverá. Anda, Tommy, toma a desforra! Sacode-lhe a cara sem medo.
O rapaz aproximou-se de Barry que permanecia imóvel. Levantou a mão, mas este olhou-o e, ao impacto do gelado olhar do homem, o menino que ainda havia em Tommy deteve-se.
— Porque hesitas? Digo-te que não se moverá. Não é verdade, homem valente, que vais ficar quietinho?
Crater havia-se aproximado também, enchendo o peito com ar truculento. O indivíduo delgado que havia seguido a cena em silêncio, pôs a mão sobre o revólver, acrescentando esta ameaça à derivada pela atitude do gigante.
— Não, não vou mover-me contra o rapaz —prometeu Barry. E acrescentou, sem separar o seu olhar de Tommy —. Nem tampouco vou chorar.
Aquilo foi uma alfinetada que despertou a cólera no rapazinho. O que fez com que a sua mão caísse imediatamente sobre o rosto do seu torturador, que aguentou a pancada sem pestanejar.
Don Crater começou a rir-se com malvado regozijo. E então, sem nada que o fizesse prever, o punho de Barry saiu disparado de baixo para cima. Teve sorte. Alcançou em cheio o queixo do gigante, que tinha a boca aberta pelo riso, cerrando-a com o embate do tremendo golpe, com o sinistro estalido de ossos partidos.
O indivíduo delgado puxou o revólver com a celeridade de raio, mas o mascarado agarrou-o pelo braço com a mesma rapidez, formulando ao mesmo tempo um gesto negativo.
— Espera — disse em voz baixa —. Tenho curiosidade em ver o que se passa agora.
Tommy havia retrocedido instintivamente e contemplava Barry com espanto. Temera, sem dúvida, que o soco fosse destinado a ele.
Don Crater, estremeceu, sem saber o que lhe tinha acontecido. Cuspiu, e da sua boca saíram partículas brancas de ossos: dentes quebrados em estilhas. Por momentos moveu a cabeça, ausente do lugar onde estava, O gigante possuía, na entanto, formidáveis reservas de energia e, passados apenas dois ou três segundos, a atonia foi desaparecendo da sua expressão.
Barry tivera tempo de socar de novo, e impunemente, até abater por completo o seu temível adversário; mas os seus atos obedeciam a um plano concebido num raio de clarividência. Sabia exatamente o que tinha a fazer e convinha-lhe que Don Crater se recobrasse do golpe, ainda que só em parte.
— Estúpido! -- gritou o mascarado —. Que te pareceu isso?... Compreendes agora o que aconteceu a «Grand Fox»? Tu e «Grand Fox» os homens terríveis!... Esperava que algum dia viesse alguém a baixar-vos os fumos!... Ah! Ah! Ah!
Atento às reações do gigante, Barry ouviu o riso e pensou vagamente que não lhe era desconhecido. Mas Don Crater sacudia já a cabeça, despejando as névoas do seu cérebro. Os seus olhos sanguinolentos divisavam finalmente o seu inimigo, imóvel na sua frente.
— Tu, grande cão! — rugiu. — Agora... agora vou matar-te!
Precipitou-se sobre Barry como um furacão, descarregando potentes golpes com ambos os braços, mas estes careciam da precisão necessária, e o nosso jovem foi-se esquivando habilmente, enquanto retrocedia na direção que havia fixado de antemão.
O gigante, vendo retroceder o seu inimigo, babou-se de contente, tal como um animal selvagem ante a presa já vencida, que se oferece à sua ferocidade. Teve Barry de calcular exatamente a distância. Havia já alcançado o ponto proposto.
Deixou de retroceder e manteve-se firme; esquivou um brutal soco, dirigido agora com maior precisão. E respondeu com um tremendo direto ao abdómen de Crater. O golpe sacudiu todo o braço de Barry, pois o corpo do seu contrário era uma massa sólida de músculos endurecidos. Esquivou--se novamente, balanceando-se para a direita e esquerda, esperando que lhe desaparecesse a caibra no braço. Depois, demorou por uma fração infinitesimal de tempo, uma esquiva necessária, e o punho do inimigo alcançou-o no peito.
O nosso jovem caiu ao solo, de costas, mas a queda iniciou-se antes que o gigante disparasse o braço, e o embate foi assim muito reduzido. Apenas as suas costas tocaram o solo, Barry distendeu as pernas com todas as forças que conseguiu reunir e os altos tacões das suas botas incrustaram-se no ventre de Crater, fazendo-o experimentar uma sensação como se um duplo petardo lhe tivesse rebentado subitamente nas entranhas.
O gigante não caiu imediatamente, mas a dor era tão espantosa que se dobrou em dois, como uma navalha; com as mãos oprimia a parte maltratada, e acabou por fincar a cabeça no solo, à semelhança de uma rês que cai tropeçando nas patas dianteiras.
Barry, depois do golpe com as pernas, não se deteve a observar o resultado. Pelo contrário, deixou de atender ao seu adversário e as suas mãos percorreram avidamente o solo. Sabia que naquele lugar, precisamente, caíra o revólver de Tommy-...
Por um momento de enlouquecedora derrota julgou ter errado no local, até que os seus dedos tocaram a arma, oculta à vista pela erva que cobria o terreno.
— Cuidado! Está procurando alguma coisa no solo!
O mascarado deu a voz de alarme, e o indivíduo alto e delgado baixou a mão ao coldre com a velocidade de um felino. Barry, no entanto, tinha já agarrado o revólver e apertou o gatilho uma e outra vez. Também os outros dispararam uma só vez, antes de morrerem.
A bala do homem delgado mordeu a terra, e Barry ouviu-a zumbir apenas a uns centímetros do seu ouvido. A do mascarado foi pior dirigida, e o nosso jovem nunca soube em qual dos troncos se havia incrustado.
Barry ergueu-se lentamente. O assunto já estava solucionado, e ele livre, pelo momento, de ameaças. E agora, precisamente, foi quando o sacudiu um estremecimento de horror. Aproximou-se do indivíduo magro.
Antes de olhar sabia já que a sua bala estava alojada no cérebro do bandido. A segunda, dirigida contra o mascarado, havia feito um orifício no peito do incógnito personagem que ainda não morrera, mas estava expirando, com os olhos abertos, estranhamente fixos no rosto de Barry. Parecia querer dizer-lhe qualquer coisa. Barry agachou-se.
— Primeiro... foi «Grand Fox». Depois... Don Crater. E agora... nós dois. As coisas devem ser bem feitas... Não sei quem és... mas és um homem! Oxalá... te tivesse conhecido... a tempo.
A voz do mascarado soou apenas como um sopro. E o seu pescoço pareceu quebrar-se repentinamente como o frágil talo de uma planta. A sua cabeça descansou suavemente sobre a terra.
Barry fixou então a vista em Tommy. O rapaz estava imobilizado pelo terror, e contemplava Barry com olhos espantados, como ao protagonista de um incrível milagre.
— Quem são ? — perguntou-lhe Barry, apontando para os dois cadáveres.
— Ahn?... — o aterrado rapazito pareceu descer a terra. — Quem são? Conhecia-los?
— Esse — e apontou para o que aparecia com o rosto descoberto —. Esse... chamava-se Frank Dexer. Trabalhava no «Doble, Z», com Don Crater. Era um pistoleiro... muito bom.
— Pois, estás a vê-lo. Não há bons pistoleiros. Todos são maus alguma vez.
— Sim... Sim, senhor. E este? — disse Barry, apontando para o mascarado.
— Não sei quem é, vi-o uma vez com a mesma máscara, nunca a tirava.
— Vejamos, então.
Agachou-se rapidamente e arrancou a máscara do cadáver. Um grito de surpresa escapou da sua garganta.
—Florence!... É Florence!... Uma mulher!... Eu... eu não o podia supor!
Tommy assentiu, com os olhos espantados. Aquela cena de sangue era demasiado terrível para o seu espírito. ainda não temperado na crua realidade da luta entre os homens. Talvez pela primeira vez tivesse compreendido que o uso das armas não era coisa de brincadeira.
— Vai-te embora. Afasta-te daqui, e mantém a boca fechada — ordenou-lhe Barry —. Tu não viste nada, percebes?... Nada sabes do ocorrido.
— Sim... Sim, senhor.
— Então vai. Rápido!
— Sim, senhor. Sinto... sinto o que fiz. Foi porque eles me empurraram. Eu bati-lhe... a si!
— Não tem importância. Eu não sinto tê-lo feito contigo. Precisavas.
O rapaz baixou o olhar.
— Creio que tem razão — concordou —. Adeus, senhor.
Barry fez um gesto respondendo à vacilante despedida do rapaz. Este afastou-se por entre as árvores com passos cada vez mais apressados.

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