quinta-feira, 1 de setembro de 2022

CLF036.05 Em busca de duas mulheres

Anthony dirigiu-se diretamente para Las Vegas, sem mais altos que para descansar. A mina e o rancho eram coisas secundárias que poderiam esperar, pois o mais importante de momento era encontrar a família de Murray para a tranquilizar sobre a sorte do rancheiro, assim como também proporcionar-lhe recursos até que tudo se resolvesse.

Em Caliente, primeiro lugar habitado e com linha de diligências, que encontrou no seu caminho, deixou duas cartas para Ely. Uma para o filho do rancheiro mais importante da região; rapaz que se tinha feito engenheiro de minas por gosto, mas que não conseguia encontrar trabalho porque o seu pai o queria no rancho, e a segunda para outro amigo, trabalhador do mesmo rancho, que sabia de gado muito mais que o próprio capataz, mas que não contava com as simpatias do patrão porque tinha o descaramento de lhe cortejar a filha.

Marcava encontro aos dois em Bunkerville, explicando-lhes o que desejava deles, pelo que estava certo de que acorreriam a rebenta cavalos. Chegou à cidade ao entardecer, a tempo de depositar o ouro num Banco, e depois de encontrar uma cavalariça onde deixar os cansados cavalos saiu em busca do hotel onde deveria encontrar a mulher e a filha de Murray.

O estabelecimento era conhecido e estava situado na parte central da cidade, pelo que não tardou a encontrá-lo, e com barba de três dia coberto de pó devido ao longo caminho percorrido atravessou o amplo vestíbulo detendo-se junto ao balcão de receção.

Um homem de pequena estatura e de meia-idade, calvo e com óculos, vestindo uma velha sobrecasaca negra e camisa bordada, aproximou -se no mesmo instante, solícito.

— Boas tardes, senhor.

— Boas tardes.

— Em que posso servi-lo?

— A senhora Murray, está?

O melífluo sorriso do homenzinho desvaneceu -se, ao mesmo tempo que sofria um percetível sobressalto e se punha, evidentemente nervoso.

— Pois... não sei... — tartamudeou. — Pergunta por...

Mills pôs-se em guarda, certo de que ali ocorria algo que não apresentava bom cariz.

— Pergunto pela senhora Murray — disse com voz fria e cortante como um punhal.

— Não me recordo... Tem a certeza de que essa senhora se deveria alojar aqui?

— Absoluta — respondeu secamente.

— Talvez não encontrasse quartos e esteja noutro hotel. Há ocasiões...

— Deixaram-na aqui instalada — cortou Mills.

— Se é assim... — murmurou o empregado, cada vez mais nervoso. — Permita-me um momento.

Agarrou o grosso livro de registos que estava sobre o balcão, como se fosse a folheá-lo, mas o jovem não lhe deu tempo, seguro já de que ali havia gato escondido, e estendendo o braço agarrou o homenzinho pela camisa, atraindo-o a si com grande facilidade.

— Deixe-se de histórias, amigo — silabou ameaçador. — Quero saber onde estão a senhora Murray e a filha, e vai-me dizer agora mesmo.

— Eh! Que faz você?

As vozes e o ruido de passos que se aproximavam rapidamente, fizeram Tony voltar a cabeça, vendo então que o forte porteiro por quem tinha passado um instante antes, se aproximava correndo.

— Joe, livre-me dele! — gritou o empregado guinchando como uma rata.

— Não se aproxime — avisou o jovem, embora estivesse desejando guerra.

Mas o tal Joe, longe de seguir tão prudente conselho, investiu como um búfalo, com a cabeça baixa, apertando os punhos, grandes como maças.

Tony soltou então a sua presa e girando violentamente a cintura no momento preciso, disparou-lhe um direto carregado de dinamite, que alcançando o homem num lado do queixo, o atirou, de costas, fazendo-o rolar pelo chão.

O empregado estava então procurando qualquer coisa numa gaveta, e como Mills não tinha tempo a perder, limitou-se a dar-lhe com as costas da mão, enviando-o contra a parede do fundo, transformado num farrapo.

Dois rápidos passos levaram-no junto do porteiro, que começava a erguer-se, e enviou-o para o país dos sonhos com uma seca pancada na nuca dada com a mão de través e, agarrando-o pelo colarinho da camisa arrastou-o até um cadeirão próximo onde o atirou de qualquer maneira, submetendo-o a uma rápida revista que deu como resultado um revólver curto, enfiado num coldre sob o sovaco.

Depois, não lhe ligou mais importância, voltando-se para o empregado, que gemia no seu canto.

— Onde está a senhora Murray? — repetiu ameaçadoramente, entrando dentro do balcão.

O homenzinho olhou-o apavorado.

— Não sei. Juro-lhe que não sei! Ela e a filha desapareceram um dia sem deixarem rasto.

Aquilo parecia verdade, pois o sujeito estava muito assustado não tendo vontade de mentir. No entanto, também não devia ser tudo. Devia haver algo mais. De outro modo, para quê as reticências de um momento antes? Ali havia qualquer coisa suja, sem dúvida alguma, e necessitava averiguá-lo.

— Conte-me tudo, se não quer que lhe rompa os ossos.

— Sim, sim — tartamudeou o desgraçado. — Mas juro-lhe que não tive nada a ver com isso.

A certeza de que qualquer coisa de mau tinha ocorrido à família do seu amigo endureceu Tony, que sem pena alguma agarrou o homem pela levita, erguendo-o de um puxão para o apoiar contra a parede, pois de outro modo teria voltado a cair, incapaz de se suster nas trémulas pernas.

— Vamos, fale de uma vez.

— A menina Murray é muito bonita e o dono do hotel quis obrigá-la a trabalhar num dos seus «saloons», valendo-se de que tinham ficado sem dinheiro e lhe deviam determinada quantia. Mas uma noite desapareceram levando uma parte da sua bagagem. Isto é tudo quanto sei. Sabíamos que alguém viria buscá-las e para evitar complicações deram-me ordem de esquecer que tinham estado aqui.

O sangue fervia a Tony ao pensar que alguém tivesse pretendido abusar das duas mulheres indefesas e sem recursos.

— Há quanto tempo aconteceu isso? — perguntou duramente.

— Há coisa, de um mês. Já vieram perguntar por elas antes e por isso julgávamos o assunto terminado.

— Como? — perguntou o jovem, surpreendido.

— Não sei nada mais — afirmou o empregado, alarmado, receando que ele não o acreditasse.

— Quem perguntou por elas?

— Asseguro-lhe que não sei. Não deu o nome nem eu o conhecia.

Aquilo era estranho, mas não parecia ser possível averiguar mais.

— Bem, eu já vou ver se isso me pode conduzir a alguma parte, mas quero que me diga como se chama o dono do hotel e onde o poderei encontrar.

— Butte, e encontrá-lo-á no «Merry». Não está longe e eu mesmo o posso acompanhar.

A voz soou nas costas de Mills e este voltou-se vivamente, vendo como um nutrido grupo de pessoas seguia a cena com interesse. Aquele que tinha falado era um homem alto e seco, de boa presença.

— Porque havia de fazê-lo? — perguntou Anthony, sem cordialidade alguma, desconfiado de tão amável e inesperado oferecimento.

— É fácil de explicar — replicou o outro, serenamente. — Foi no tugúrio de Butte que um filho meu perdeu um dinheiro que não lhe pertencia, matando-se depois. Na realidade não culpo de todo essa casa de jogo, pelo que aconteceu, mas mão me é simpática, compreende?

A explicação era suficientemente boa demais para uma improvisação, e Mills não necessitou de mais.

— Está bem. Vamos.

Saíram juntos e atrás deles algumas outras pessoas, que não pareciam estar dispostas a perder os próximos acontecimentos.

O «saloon» estava perto, efetivamente, e não tardaram a chegar a ele. Anthony mal teve tempo de reparar no estabelecimento, porque ao entrar, o seu companheiro chamou-lhe a atenção para o tipo que procurava

—À direita, aquele da levita negra que está de pé junto da roleta.

Imediatamente localizou um homem alto, de perfil aquilino, negro, cabelo ondulado e excessivamente cuidado todo ele. Deu um passo em frente, mas sentiu-se agarrado por um braço.

— Há mais — disse-lhe o homem que o conduzira até ali. — Repare no sujeito que nos olha apoiado ao extremo do balcão. Vê-o?

— Sim.

— É o guarda-costas de Butte e diz-se que não há melhor pistoleiro na cidade.

— Obrigado pelo aviso — disse Tony.

E desprendendo o seu braço da mão que o agarrava, avançou pausadamente para a roleta. O homem do balcão, era um sujeito baixinho, com uma cabeça que parecia um ovo e orelhas pontiagudas, mas o que mais se destacava era a sua camisa de um amarelo gritante. Saiu-lhe ao encontro, intercetando-lhe o passo.

— Onde vai, rapaz? Não anda em boa companhia e talvez esteja mal aconselhado.

Era inevitável um choque com o pistoleiro, dados os seus propósitos, e Mills não estava de humor para contemporizar. Assim, pois, decidiu acabar quanto antes. No fim de contas, sempre tinha sentido uma grande aversão por todos os assassinos de ofício, e, depois do que sucedeu a seu irmão, fazia todos eles partícipes do seu ódio.

— É curioso — disse olhando detidamente para o «gun-man». — É a primeira vez que ouço um ovo falar.

Aquela saída, exposta sem qualquer recato, foi ouvida por muita gente, e o facto de não se ter escutado qualquer risada foi boa prova de quo o homenzinho tinha uma reputação terrível.

No entanto, corou como um ser normal e soltou um jorro de palavrões tão sortidos como o poderio ter feito o mais bruto dos cocheiros.

—Asquerosa rata! — guinchou fora de si, no final do seu extenso reportório. — Puxa pelo revólver, maldito!

Já empunhava o seu antes de terminar, mas, embora tivesse sido endiabradamente rápido, não o foi suficientemente. Talvez a sua própria raiva lhe tivesse tirado faculdades, mas o caso é que estava terminando de puxar o percutor do seu longo e prateado «Colt», quando uma pancada no peito o obrigou a dar desordenadamente meia-volta.

Não sentiu dor alguma, mas notou perfeitamente que alguém tinha sido mais rápido do que ele, e isto produziu-lhe grande surpresa.

E isso foi tudo. Alcançado em pleno coração, estava morto antes de chegar ao chão.

O homenzinho nem sequer chegou a saber que o seu tiro, muito desviado, alcançou um sujeito que não considerou necessário ocultar-se por crer que estava suficientemente afastado da linha de tiro, e que esteve dois meses de cama como consequência do seu erro.

Tony não teve mais que uma olhadela para o pistoleiro e, guardando o revólver fumegante, dirigiu-se diretamente ao dono do hotel.

— Butte? — perguntou secamente ao chegar junto dele.

O homem estava perplexo e tardou algum tempo a responder.

— Sim — disse finalmente.

— Um recado de «miss» Murray — disse Tony.

E nunca na sua vida o jovem deu um soco com mais vontade. Disparou o braço direito apoiado em todo o seu peso e o jogador foi projetado, batendo de lado contra um pesado candelabro de pé alto, que caiu ao solo arrastando duas cadeiras e um homem que não se afastou com suficiente rapidez e que começou a guinchar como uma rata ao cair-lhe a mesa sobre a espinha, e que depois de dar um par de voltas pelo chão ficou imóvel.

A agressão foi tão rápida que Butte não disse nada. Não pôde dizer nada! Com os lábios rachados e todos os dentes partidos em consequência do tremendo soco, além de uma costela fraturada, fruto da pancada contra o candelabro, esteve inconsciente durante três dias e passou muito tempo antes que pudesse articular palavras com nexo.

Mills olhou à sua volta, e convencido de que não corria perigo, dirigiu-se para a porta.

— Mereceu a pena — ouviu dizer ao homem alto que o tinha acompanhado até ali, mas não fez caso dele e abandonou o estabelecimento. Desafogada a sua raiva e enquanto deambulava sem rumo fixo, a mente do jovem estava concentrada em procurar uma solução para o problema de como encontrar a família do seu amigo.

— Elas esperam-no — pensou —, e como no hotel não podiam deixar a sua direção, não lhes deve ter restado outra alternativa além de voltar a Bunkerville, seguras de que Mills terá de aparecer por ali. Tanto mais que a rapariga está decidida a casar-se com Donovan, se não tiver outro remédio.

Chegado a esta conclusão, o resto foi imediato. Não havia tempo a perder e decidiu partir naquela mesma madrugada.

Deixaria o ouro ali, porque não ia passá-lo por todo o Estado, e como tinha levantado do Banco um grosso monte de nota para as entregar à senhora Murray, teria suficiente para os primeiros gastos, e enquanto lhe faziam uma transferência.

Assim, pois, dirigiu-se imediatamente à procura de uma pousada onde pudesse descansa] algumas horas, o que boa falta lhe fazia.

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