quinta-feira, 22 de setembro de 2022

CLF050.03 Parker conhece a lista de assassinos

Cecil Parker chegou a tempo de ver como um homem, relativamente jovem, com aspeto de aventureiro, saía do umbral de uma porta onde se encontrava encostado, e segurava pelo pulso a uma linda rapariga que se encaminhava para a casa ao lado. 

— Olá, beleza! Fizeste-me esperar bastante... 

— Tire a mão, se faz favor. 

A jovem procurou soltar-se, mas o homem agarrou-a fortemente, tentando obrigá-la a entrar na casa a cuja porta surgira. 

— Tu e eu temos de falar. E nenhuma ocasião esta... 

A jovem gritou por socorro: 

— Pat! Pat! Tio! 

Foi um grito de angústia que chegou aos ouvidos de Parker, que animou o seu cavalo: 

— Vamos «First», não podemos consentir numa coisa destas. 

O cavalo voou sobre o terreno, encurtando rapidamente a distância. Da casa pegada àquela onde se desenrolava a cena, saiu um jovem a correr. Entretanto, a rapariga, ao sentir-se vencida, mordeu a mão do agressor. Este proferiu uma praga e teve de largar a rapariga, reparando então que Pat ia em auxílio da jovem. 

— Maldita gata! 

A rapariga, ao ver-se livre, tratou de fugir. Mas o homem agarrou-a com a mão esquerda, ao mesmo tempo que puxava de um «Colt» com a direita. Serviu-se da rapariga como escudo para estorvar a ação de Pat que tinha também puxado pela sua arma. 

A rapariga gritou assustada. Ouviram-se dois tiros quase simultaneamente. Pat estremeceu ao ser alcançado pelo projétil do facínora, enquanto ele não se atrevera a disparar com receio de ferir a jovem. 

Mas o malandrim, por sua vez, sofreu um forte abalo, afrouxou a pressão que fazia sobre o braço da rapariga e largou-a por fim. A arma, fumegante ainda, que ele segurava com a mão direita, caiu no solo. E o homem cambaleou, olhando com os olhos vidrados em direção de Parker que era quem, disparando em marcha, lhe metera no pescoço a bala que lhe estava a acabar com a vida. 

Exalou um profundo suspiro e caiu de borco no chão. A jovem teve de saltar para evitar que lhe caísse em cima. Quanto a Pat, tinha também deixado cair a arma e levou ambas as mãos às costas. Depois olhou em direção de Parker e murmurou: 

— Obrigado, Cecil... Chegaste mesmo a tempo... Conseguiste desviar a sua pontaria. 

A rapariga ficou imóvel durante uns instantes sem saber onde acudir e correu por fim para junto de Pat, cujas pernas vacilavam. 

— Estás ferido, Pat! 

— Creio que, graças a Parker, não passa de um arranhão... 

Parker saltou do cavalo ao chegar ao ponto onde se encontravam Pat e a rapariga. Antes de se aproximar, certificou-se de que o bandido já não constituía perigo, embora não tivesse ainda morrido. 

— Não me foi possível disparar antes, amigo. Ela corria perigo e vamos lá que consegui meter a bala pelo único lugar que havia realmente a descoberto. 

— Fizeste demasiado. 'Unicamente tu poderias fazer uma coisa assim... 

Da casa donde tinha surgido Pat, saiu um homem vestido de negro que se acercou a correr do grupo formado pelos jovens. 

— Que se passou? Estás ferido, Pat! 

— Não creio que seja nada de grave, graças ao meu amigo... 

E fez as apresentações: 

— Cecil Parker... O reverendo Whitney e sua sobrinha Oona Whitney, minha noiva... 

— Esse homem ainda está vivo. 

Vou ver se ainda posso fazer alguma coisa por ele... Leva Pat para dentro. Enquanto o padre Whitney se ocupava do bandido, Oona dispôs-se a levar Pat para casa. Parker pensou ajudá-los, mas deteve-se ao ver que dois homens avançavam rapidamente a cavalo procedentes da cantina. 

O reverendo voltou o ferido de barriga para cima e ergueu-o, dizendo: 

— Este homem está muito mal. Receio que não tenha remédio na Terra... 

— Não julgo que se perca grande coisa com isso — comentou Parker. 

— Compreendo. O senhor vê as coisas de um modo diferente do que eu. Tentarei fazer alguma coisa por ele no que se refere à sua alma... 

Os dois cavaleiros tinham chegado ao local do incidente. Tratava-se de Dean e Sanders, que haviam abandonado a cantina pouco depois de Parker. Dean deitou o chapéu para trás e exclamou: 

— É Simpson! Parece-me que lhe acertaram bem. Gostaria de saber... 

Parker, que se retirara ligeiramente, ficando fora da vista dos dois homens, avançou, colocando-se na frente deles. Dean e Sanders, que reconheceram o jovem que havia desarmado Amy Parson na cantina, desviaram o olhar dele e dirigiram-se ao reverendo Whitney. 

— Não perca tempo, reverendo. Simpson não queria nada com os padres e nós também não, Deixe-o em paz. 

— Mas... 

— Deixe-o. Era nosso amigo. Acaso lhe pode salvar a vida? 

Simpson teve um estremecimento e o reverendo respondeu: 

— Não é apenas a vida terrena que interessa. Temos de procurar a salvação da alma. E ele acaba de morrer. 

Os amigos do morto soltaram uma gargalhada. 

-- Pois se morreu, é deixá-lo em paz. Nós nos encarregaremos dele. 

Sanders foi o primeiro a saltar do cavalo, dirigindo-se para onde estava o tio de Oona. Preparou-se para afastar o pastor de Simpson, estendendo o braço ao mesmo tempo que dizia em tom de desprezo: 

— Afaste-se, velho, e não se meta onde não é chamado... 

Parker interrompeu-o, dizendo: 

— Cuidado! Não toques com as tuas mãos imundas no reverendo e trata-o com mais respeito. Se ele quer estar aí, deixa-o estar. Compreendes? 

O padre receou que os dois homens se envolvessem numa luta que terminaria pela morte de algum deles e afastou-se, enquanto dizia para Parker: 

— Por favor, eu já terminei. Orarei pela sua alma e isso posso fazê-lo em qualquer sítio. Gostaria de ter conseguido que se arrependesse em vida dos seus pecados, mas não foi possível. Ninguém conhece os desígnios de Deus. 

Enquanto se passava tudo isto, tinha escurecido rapidamente e era quase noite. Dean apeou-se, também, e ajudou Sanders a meter o corpo de Simpson dentro de casa. Fecharam depois a porta, afastando-se em direção da parte central da povoação. Quando os dois homens iam já longe, o reverendo Whitney disse para Cecil: 

— Meu filho. Pareceu-me ouvir que tinha salvo a vida a Pat. Temos muito que agradecer-lhe e atrevo-me a pedir-lhe que se vá embora quanto antes destas paragens... 

— Porquê, reverendo? 

— Simpson pertencia a uma quadrilha de aventureiros sem entranhas e não lhe perdoarão que o tivesse morto. Sim, já sei que foi em defesa de Pat e de minha sobrinha. Mas essa gente é assim... 

— Os dois que aqui estiveram também pertencem ao bando? 

— Sim, com certeza que viu logo de quem se tratava... 

— No entanto, padre, como viu, não me comeram. E nem sequer se atreveram a fazer o gesto de puxar por uma arma. 

— Observei tudo. Até reparei que os fez calar primeiro e retroceder depois. Mas hão-de tentar apanhá-lo de costas ou atacá-lo com um número suficiente de homens para o liquidar. 

— Ainda que me julgue um pouco fanfarrão, dir-lhe-ei que é coisa que não me vai tirar o sono. Mas, diga-me: aqui não há autoridades? 

— A cidade mais próxima é a de Lynndyl e fica muito longe... Mas já falaremos disso. Vou ver o que se passa com Pat. Não quer entrar? 

— Sim. Tem que se lhe extrair a bala do corpo. Não há um médico? 

— Não há cá nenhum médico. Não podemos pagar esses luxos. Há um ferrador que assegura ser veterinário. E quando lhe sai um «remendo» desses, como ele costuma dizer, também se acha apto para o fazer. 

— Nesse caso prefiro fazê-lo eu. Tenho uma certa prática... Vá andando que eu já o sigo. 

O tio de Oona meteu-se rapidamente em casa, enquanto Cecil levava o cavalo pelas rédeas até uma grade, cerca da porta, onde o atou. Preparava-se para entrar também na casa, quando viu avançar um cavaleiro que, devido à escuridão, não reconheceu nos primeiros momentos. 

— Aí vem alguém que parece ter pressa. É possível que tenha ouvido o barulho dos tiros e que queira saber o que se passou... 

Decidiu aguardar e não tardou em reconhecer a linda Amy, que se dirigiu a ele: 

— Um momento, por favor, senhor Parker. 

A jovem fustigou o cavalo e não tardou em juntar-se a Parker. 

— Em que posso servi-la? 

— Desta vez é quase certo que sou eu que o vai servir — respondeu ela, com um ligeiro tom de ironia na voz. 

A expressão de Parker refletiu certa desconfiança que fez corar Amy, apesar dela não ser pessoa para se perturbar facilmente. 

— Não receie, senhor Parker. Não procuro enganá-lo. 

— Eu não lhe disse que me queria enganar... 

— Mas pôs-se em guarda quando há pouco lhe disse que tinha um serviço a prestar-lhe. 

— É que não há muito tempo estava contra mim. E continua. 

— Tratou muito mal meu pai. 

— Ele não lhe disse que me sobram motivos para isso? 

Amy confessou: 

— Sim, disse. Mas, para mim, é meu pai. Compreende-me? 

— Perfeitamente. Você fala com toda a clareza e eu tenho pouco de tonto. Bem, diga lá do que se trata. 

— A sua vida corre perigo, senhor Parker, e eu apressei-me a vir pô-lo ao corrente do que se passa. 

— Muito agradecido, embora já soubesse que corro perigo. Há bastantes vidas que correm perigo... 

— Refere-se a meu pai? Nós vamos fugir dentro de poucas horas. A sua presença obriga-nos a recorrer a essa medida. 

Antes de Cecil poder replicar, Amy prosseguiu: 

— Mas esteja tranquilo. Antes de nos irmos embora, há-de saber os nomes que deseja conhecer. Mas aqui não estamos bem. Se me veem a falar consigo, não nos darão tempo para nos escaparmos. 

— Venha. Falaremos dentro de casa. 

— E o meu cavalo. Mal o vejam, saberão que estou aqui consigo, pois há pelo menos dois malandrins que conhecem o seu. 

— Refere-se a dois tipos que passaram por aqui há pouco tempo? 

— Precisamente a eles. 

— Que têm que ver com o nosso caso? 

— Também são da quadrilha, embora não tivessem interferido na morte de seu pai. 

— Prefere que levemos os cavalos para a cavalariça e que falemos lá dentro, ou quer que demos uma volta, fora dos olhos de toda a gente? 

Amy olhou com expressão desconfiada para o interior da casa dos Whitney e respondeu receosa: 

— Prefiro dar uma volta.

— Mas temos de andar depressa. 

A jovem assinalou com um gesto as casas que formavam a povoação, as primeiras das quais não distavam mais de duzentas jardas do local onde eles se encontravam. 

— Não tardarão em procurá-la e podem ver-nos... 

Parker apontou para um ponto onde havia um grupo de árvores. 

— Vá andando para ali, que eu não tardarei. Isto é, se confia em mim. 

— Porque não hei-de confiar? Sei que é um homem de bem, mas não julgue que eu não me sei defender. E não confie na vitória antes do tempo —acrescentou com um gesto que quis tornar duro. 

— Acho que não deve assustar-me, menina Parson. Podia fazer-me desanimar e tenho uma grande tarefa a cumprir — respondeu Cecil, trocista. 

— Não seja irónico. Não tenho feitio para aguentar impertinências e, no fim de contas, estou aqui para lhe prestar um favor. 

— Vá andando, que eu já a sigo. 

Cecil entrou rapidamente em casa do reverendo Whitney. Passou por uma pequena sala de entrada e dirigiu-se a uma habitação em que havia mais luz e onde se escutava o ruído de animada conversa. 

— Como vai isso? 

Pat Wind, pálido e sorridente, com o dorso nu, respondeu: 

— Consegui extrair a bala eu mesmo. E agora estão a desinfetar a ferida. Tive bastante sorte, pois não deve ter ofendido nenhum osso. O projétil resvalou e ficou alojado entre o osso e a pele. 

— Ótimo. Voltarei daqui a pouco. Tenho um assunto a tratar. 

Oona Whitney, que estava a preparar ligaduras para as colocar sobre a ferida de Pat, disse: 

— Não estava a falar com essa rapariga loira, filha de um dos pesquisadores de ouro? 

— Sim. 

— Não sei como ela pode resistir a este ambiente. 

— Acompanha o pai e trata dele. Não há muito que esteve prestes a matar-me para o defender. 

— Que horror! Sei que maneja as armas como se fosse um homem e, às vezes, até a vejo entrar na cantina. 

— É uma rapariga valente e fiel. E não tem mais ninguém no mundo, se não o pai. Se não precisam de mim aqui, vou falar com ela. Não me demoro... 

Pat comentou: 

— Cuidado com o que fazes. Isto é uma espécie de vulcão e, com a morte de Simpson, vai-te cair em cima todo o bando. 

— Já sei. E não me inquieta, asseguro-te. 

— Também sei isso. Mas é necessário que falemos. Voltarei tão depressa acabe de falar com a menina Parson. 

Cecil saiu de casa, montou a cavalo e pô-lo a galope atrás de Amy, alcançando-a quando ela estava quase a chegar à zona arborizada. Amy deteve então o cavalo. 

— É um bom lugar para falarmos. 

— Podemos apear-nos — propôs o jovem. 

— Como quiser. 

— Que se passa com os Whitney, menina Parson? 

— Nada. — Você olhou com ar receoso para o interior da casa. 

— A rapariga não me é simpática. Olha para mim como se eu fosse um bicho raro. 

— Não faça caso. Eia sabe que você vive entre gente rude, quase só no meio de homens... 

— Eu não me meto na vida dela. Não vive ela com o tio? Eu vivo com meu pai. Os outros não me interessam... 

— Calculo — atalhou ele, conciliador. 

— Porque é que calcula? Julga que não tenho atrativos? 

— Não se zangue. Você é explosiva... Calculo isso porque, apesar do ambiente em que vive e do seu terrível aspeto, tem uma cara de menina inocente. No seu olhar brilham a claridade e a pureza. 

— Obrigada — disse ela mais acalmada. 

— Bem, não sei porque falamos nisso. Não me interessa o que possa pensar da rapariga e tão pouco o que os outros possam pensar. 

— Já sei que você é uma rapariga muito valente. Caso contrário não viveria como vive. 

— Creia que não me agrada essa vida. Mas não quero deixar o meu pai sozinho. Essa rapariga vive bem, perfuma-se, enfeita-se, veste-se como uma senhorinha e é por isso que me olha de alto a baixo. 

— Não combinámos que tudo isso não tinha interesse. 

— E a mim não me interessa. Mas, ao mesmo tempo, faz-me raiva. Julga que eu não gostaria de ter a minha casa, de usar vestidos e de fazer a vida própria de uma rapariga? 

Fez uma breve pausa e prosseguiu em tom amargurado: 

-- Em contrapartida, tenho de andar assim arranjada, saber manejar as armas, impor-me com elas em mais de uma ocasião. Tenho de entrar na cantina para tirar de lá o meu pai. Noutras ocasiões tenho de permanecer lá pacientemente para que ele não se irrite e não se ponha pior... 

— Compreendo e lamento. Por minha vontade agarraria em seu pai pelas orelhas e arrancá-lo-ia dali... 

— Porque diz que lamenta, se é mentira? E agora vamos falar do que lhe interessa. 

— Vejamos… 

— Reparou num homem que se encontrava perto da entrada da cantina quando você entrou à procura de meu pai? 

— Um que estava a falar consigo? 

— O próprio. 

— Reparei que você o obrigou a pôr-se a andar. 

— Já sei que reparou. E reparou também em mim, não é verdade? — perguntou com certa coqueteria. 

— Sim, também reparei. Você é muito mais atrativa do que ele... 

Amy quase gritou: 

— Pois é como se não fosse... 

— Está bem, é como se não fosse... 

— Peço que me desculpe. Vivo um pouco excitada e este dia foi um dos piores para mim. Também reparei que estava disposto a intervir se ele não se fosse embora. 

— Exatamente. 

— Meu pai diz que você é muito boa pessoa e que seu pai também o era. 

— Sim... 

— Bem, aquele homem, que se chama Pete, foi quem matou o seu pai. 

— Esse bandido... 

— É preciso ter cuidado com ele. E o pior é que não está sozinho. São dez ou doze, pelo menos. E vai tê-los todos contra si. 

— Pouco antes de você chegar, matei um tal Simpson. Segundo me disse o reverendo Whitney, isso será o suficiente para que todos me caiam em cima... 

Amy assobiou com uma expressão admirativa e interrogou: 

— Matou Simpson? 

— Sim. 

— Então foram esses dois tiros que ouvi quando saía da minha barraca? 

— Exatamente. Não se ouviram outros, que eu saiba... 

— Esse Simpson era um patife. Também tive de o pôr à distância. Em determinada ocasião tirei-lhe o chapéu com um tiro e, como não se tivesse emendado, com a segunda bala raspei-lhe a orelha. Se visse o salto que ele deu!... 

— Pois parece que não lhe serviu de emenda e hoje meteu-se com a menina Whitney. 

— Agora compreendo... Então foi para isso que alugou essa casa que há ao lado da que os Whitney habitam. 

— Foi de lá que ele saiu e foi para lá que os amigos o meteram. 

— Bem. Já conta com um a menos e conhece três. É esse Pete e os outros dois, que se chamam Sanders e Dean. 

— Obrigado. 

-- Há mais dois que intervieram na morte de seu pai, embora não tivessem disparado. A um chamam-lhe Tyrone e ao outro Howard. Guardavam as costas de Pete. 

— Tanto faz. Creio que tenho de exterminar todo o bando. Vivem nas barracas dos pesquisadores de ouro, ou na povoação? 

— Quase todos eles vivem nas barracas, embora passem mais tempo na cantina e na povoação, do que nas minas. Se é que a isto se pode chamar minas... 

— Não há ouro? 

— Muito pouco. Tirando o filão de meu pai que, à força de trabalhar, extrai para viver e amealhar alguma coisa... 

— Obrigado pelas suas informações. Decidiram, então, ir-se embora? 

— Sim. Meu pai tem medo. Receia que o matem. por ter falado consigo. 

— Quer dizer que vim estragar-lhes a vida... 

— Eu já estou habituada a andar de um lado para o outro. 

— Você é uma joia de rapariga e há-de chegar o dia em que terá a sua casa e terá, também, a sua tranquilidade. 

— Não se compadeça, porque é coisa que detesto. E fique sabendo que aspiro a mais qualquer coisa do que ter uma casa. Não creia, por me ver assim, que me considero uma vencida. No pior dos casos podia ir a qualquer povoação e trabalhar corno professora porque sou diplomada. 

— Se se decidir, terá em mim um bom aluno. O pior é que faria concorrência à menina Whitney e aqui não há crianças para duas professoras. 

— Deixe-se de brincadeiras. Sabe de sobra, que não tenciono fazer isso. Agora estamos quites e suponho que não incomodará de novo meu pai. 

— Pode ficar tranquila. 

— Não creia... De qualquer modo, já o estou. Se me quisesse ver livre de si já o teria feito. Tive-o ao alcance da minha arma... 

— E porque não atirou? Seu pai teria ficado tranquilo e talvez esses tipos lhe tivessem pago bem... 

Amy encolheu os ombros. 

— Não o matei, porque seria um crime. Quanto a esses tipos, não pagam bem a ninguém e se, porventura, me tentassem pagar alguma coisa, atirar-lhes-ia o dinheiro à cara. 

— Quer conservar-se independente. Isso é magnífico. 

— Para mim a independência tem mais valor do que qualquer outra coisa. Se o diz em tom de troça, pior para você. 

— Por que razão havia de troçar? Em pouco mais de meia hora que nos conhecemos, você já ganhou o meu respeito. 

— Sério?... 

— Também não deve troçar. Defendeu o seu pai com risco da sua vida e atuou depois com lealdade e desinteresse. Você veio dar-me os nomes desses bandidos, não por receio do que eu pudesse fazer com seu pai, mas também porque o considerava um dever. 

— Como sabe tantas coisas, menino esperto? Acabará por me fazer chorar. 

— Não tente fazer-se má. Não lhe assenta bem esse papel. E vou-lhe pagar o serviço que me fez. 

— Não pretenderá dar-me ouro nem nada que se pareça. Julgo que lhe cuspiria na cara. 

— Tenho a certeza de que não pode adivinhar o que lhe vou dar... 

Falava a sério, facto em que Amy reparou e que a fez ficar um pouco desconcertada. 

— Eu sou menos esperta do que você. Mas se me disser, ficarei a saber. Vou dar-lhe a vida de seu pai... 

— A vida de meu pai? Que quer dizer? 

O rosto de Amy refletiu maior desconcerto ainda e uma certa dose de alarme. Cecil consultou o relógio e disse: 

-- Vamos. Não há tempo a perder. Depois lhe explicarei... 


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