domingo, 4 de julho de 2021

BIS088.02 Combate entre pistoleiros: um contra todos

O homem caminhava lentamente. Os seus olhos claros fixavam a silhueta daqueles dois que, caminhando pausadamente sobre o pavimento térreo da calçada, avançavam com certa segurança, a segurança que o manejo perfeito das armas lhes proporcionava.

A ampla rua de Glendale City (Arizona) apresentava-se deserta. Por vezes, um ou outro curioso assomava e contemplava a cena, com a certeza de que, de um momento para o outro, o estampido das armas de fogo romperia a quietude aparente da povoação.

Das portas de alguns locais de bebidas, os habitantes, dominados por uma terrível tensão nervosa, espiavam. Todos eles concordavam numa só coisa: que o homem que sozinho enfrentava dois dos irmãos Wells era um suicida, um louco desmedido, um sujeito no qual o senso comum primava pela ausência.

Era certo que Bob McCoy era rápido, felino, com uma visão perfeita do perigo. E até os mais ousados compreendiam que algo de estranho e terrível devia ter acontecido entre McCoy e os Wells, para que a amizade que sempre os unira se rompesse, para que de um dia para o outro chegassem a converter-se em inimigos mortais.

Os Wells tinham chefiado uma quadrilha de ladrões de gado. Eram temíveis, duros e implacáveis, e McCoy formou com eles o estado maior de um bando de foragidos capazes das maiores atrocidades.

Junto deles moviam-se outros homens de valor experimentado, pistoleiros da turbulenta fronteira da União. Mas havia que distinguir neste aspeto Teddy Sharp e Thomas Drolet. Os dois tinham desertado do Exército havia já alguns anos e ambos completaram o grupo de comando de Jim Wells e dos seus irmãos Sandy e Cliff, e continuaram unidos a estes, dispostos a cumprir todas as suas ordens, mesmo que estas implicassem um assassínio pelas costas. Parecia estranho que apenas Sandy e Cliff Wells estivessem presentes naquela manhã, na cidade.

Nem sempre os irmãos Wells se separavam para tornar a iniciativa de um assunto. E na maioria das vezes iam resguardados por aqueles dois terríveis colossos do revólver que acabámos de mencionar.

McCoy tinha deixado cair as mãos ao longo do corpo. Caminhava ainda. As pesadas botas de montar, cobertas de pó, não produziam nenhum ruído, tal como se o homem que as calçava apenas tocasse com ele, no solo duro e avermelhado da rua. Os seus olhos azuis cravavam-se na silhueta dos dois irmãos. Parecia querer adivinhar os seus pensamentos, ler no mais profundo da sua mente, antes que as ideias se convertessem em realidade. Nem sequer por um instante voltava a cabeça para qualquer outro lado. A lei da fronteira mandava que ninguém se intrometesse nos assuntos dos outros, quando eles estivessem sobre o campo, num duelo de cara a cara, embora nesta ocasião a superioridade numérica dos Wells contra um único pistoleiro inclinasse para eles o fiel da balança.

Muitos dos que observavam aquela cena, que ia converter-se em tragédia, viram um grupo de cavaleiros que se detinha à entrada da praça de Glendale City. Todos eles desmontaram do respetivo cavalo, e avançaram com passo tranquilo, para ficarem a umas quinhentas jardas do ponto que os Wells ocupavam naquele momento.

Ninguém se atreveu a deitar mãos às armas de fogo, nem sequer a avançar mais, para tomar parte naquele duelo. No entanto, três dentre eles permaneceram na expectativa, trocando olhares inteligentes com o que os comandava. Teddy Sharp, musculoso, de rosto picado pelas bexigas, com as roupas cobertas de pó e suor, carregou a carabina 44 e permaneceu em posição vigi lance e atenta. Os demais continuaram impassíveis, sem moverem as mãos para os coldres, onde se encontravam as armas e sem que dos seus lábios brotasse uma só sílaba.

A tensão nervosa que dominava aqueles homens era manifestada pela posição dos lábios, pelo franzir das sobrancelhas e pelo remexer dos pés sobre a areia. Só a voz de um deles, de Jim, Wells, rompeu o silêncio embaraçoso, dizendo:

— Não devemos preocupar-nos, rapazes. Cliff e Sandy darão boa conta desse palito.

— McCoy é rápido, Jim — afirmou Teddy, com um sorriso hipócrita.

— Duvidas do valor e da rapidez dos meus irmãos, Sharp?

— Quando os homens se defrontam com as armas e em igualdade de condições, duvido de tudo. Nem sequer o mais certeiro e veloz deles está seguro de que a carta que joga seja a que ganha. Limitei-me a dizer que McCoy é muito rápido e, além disso, dos que não perdem o domínio dos nervos quando chega o momento de jogar a vida. Por isso preparei-me. Seria engraçado que a minha «44» acabasse com ele!

— Cala-te, ouviste?

Teddy sorriu de novo. Os seus pequeninos olhos cinzentos cravaram-se na silhueta dos dois irmãos Wells e do homem que havia classificado havia instantes de formidável pistoleiro. Os outros membros do bando não intervieram na conversa; não tinham motivo para fazê-lo quando diante dos seus olhos se jogava a sorte dos três homens com os quais tinham lutado lado a lado.

De repente, os homens quedaram-se imóveis, suspensos. Os Wells tinham-se detido. Nem por isso o seu inimigo deixou de avançar ainda 'alguns metros. E de repente, perante o assombro de todos os que presenciavam a cena, um dos Wells sacou, com um rápido movimento, o seu «seis tiros» do coldre.

McCoy viu a sua intenção, leu nos olhos dos dois irmãos que a morte ia traduzir-se em realidade de um instante para o outro, e, de um salto, lançou-se para o chão, de bruços, com um «Colt» em cada mão.

Sandy Wells disparou e a sua bala levantou a terra a escassos centímetros do corpo do seu inimigo. A segunda bala não brotou do cano da sua «45». Uma onça de chumbo levantou-lhe a testa e matou-o acto contínuo, caindo no solo pedregoso e sujo, como um saco vazio, quase derrubando o irmão com o corpo. Isto talvez influísse bastante no resultado da desigual contenda. O outro pistoleiro não pôde acertar no alvo. A segunda bala do revólver de McCoy vazou-lhe o olho direito e ele, contorcendo-se no solo, foi bater contra o passeio, para ficar por momentos preso dos últimos espasmos da agonia.

Bob McCoy olhou para baixo. Julgou ver, com a rapidez de um relâmpago, um homem a quem não pôde reconhecer nessa altura levar a espingarda à cara. Esse perigo fê-lo mudar de posição com toda a rapidez. E duas balas da espingarda cravaram-se a escassos centímetros do seu corpo. Então levantou-se, de um salto, correu em ziguezague até à casa mais próxima, a tempo de a terceira bala da espingarda, manejada por Teddy Sharp, o atingir numa perna, fazendo-o cair de bruços.

Do outro lado da calçada ouviu-se o grito de triunfo do atirador. Depois, os seus passos precipitados que se aproximavam.

McCoy, com um esforço titânico, saltou para diante e rodou para o interior de uma casinha, quando duas balas mais daquela espingarda traidora penetravam na ombreira sem porta da vivenda.

Uma vez lá dentro, arrastou-se com toda a rapidez que lhe era possível, ocultando-se à entrada da casa de jantar. Ali, de cócoras, com um revólver na mão, direita, esperou que o assassino aparecesse.

Mas Teddy não era como Jim Wells e os irmãos. Ele sabia como era aquele homem que acabava de reduzir a família de pistoleiros e qual a mortífera pontaria dos seus tiros. Por isso, oculto convenientemente, fez assomar primeiro o cano da arma e depois a cabeça num rápido movimento de vaivém. Do interior soou uma descarga. Quando a cabeça de Teddy veio para trás, sobre a sua testa marcavam-se os vestígios nítidos, sangrentos, motivados pela bala que lhe tinha tirado o chapéu da cabeça.

Quase no mesmo instante, a voz de McCoy chegou até ele.

--Bom trabalho para esses renegados, Teddy. Algum dia te pedirei contas do que me fizeste.

Teddy não se atreveu a assomar de novo. Com as costas da mão enxugou o sangue que provinha da ferida e lançou uma imprecação, surda. Não obstante saber que McCoy estava ferido, talvez em condições difíceis para se defender, acrescido da superioridade numérica dos seus adversários, tentou-se a seguir-lhe a pista para o eliminar antes que algum dia, em qualquer encruzilhada, uma bala de McCoy o eliminasse a ele. E voltou a espreitar. Desta vez o revólver do seu inimigo não disparou. Chegava nessa altura a seu lado Jim Wells, depois de ter examinado os cadáveres dos irmãos. Sentiu a mão de Thomas Drolet no ombro e voltou-se.

— Podia ter-te matado — disse, com um sorriso, — mas tiveste sorte.

— Ele também está ferido e eu hei de apanhá-lo.

— Vê lá se a sua segunda bala não te elimina.

— Fugiu.

— Para onde? — perguntou Jim Wells, com ansiedade.

— Não sei. Deve tê-lo feito pelas traseiras.

— Montem a cavalo, rapazes! É preciso caçá-lo!

Nenhuma destas palavras chegou aos ouvidos de McCoy. Depois de ferir Sharp, correu para a porta da saída das traseiras da casa. A ferida da perna, embora fosse muito superficial, incomodava-o bastante. Poderia correr durante muito tempo, mas era preciso antes de tudo fazer estancar o sangue. Por isso deteve-se junto à cerca que rodeava a cavalariça daquela casa e ligou o ferimento com um lenço. Em seguida, saltou com agilidade para o outro lado.

Sempre tinha esperado que os bandidos se voltassem contra ele no momento em que enfrentasse algum dos pistoleiros da quadrilha. No entanto, nunca pensara que fosse absolutamente necessário liquidar dois daqueles formidáveis pistoleiros que respondiam pelo apelido de Wells, uma vez que aos Wells sempre parecia tê-lo unido uma estreita amizade e uma grande camaradagem.

Depois de tudo, alegrava-se pelo que se tinha passado. Deste modo deixava para sempre aquele bando, voltava a ser o mesmo que tantas vezes fora e a gozar da liberdade que lhe dava cavalgar através de terras longínquas, em busca de aventuras. Do outro lado da cerca, McCoy correu para o outro extremo do quarteirão e deteve-se numa das esquinas. Ali, ainda com o revólver na mão, escutou.

A rua estava muito concorrida. Um grupo de curiosos rodeava o local onde os dois homens tinham caído sob o efeito mortífero das balas e, possivelmente, estavam fazendo' os mais desencontrados comentários.

Localizou alguns membros do bando, na parte baixa da rua. Iam, sem dúvida alguma, buscar os cavalos. Jim Wells daria as ordens precisas para que ele não escapasse com vida, para lhe fazer pagar com juros a morte dos irmãos. E McCoy estava disposto a que Jim Wells não levasse a melhor. Lamentava bastante ter deixado o cavalo na cavalariça de aluguer naquela manhã da sua chegada. Para ir até lá seria necessário atravessar a rua e tornar-se o alvo do grupo de curiosos que, sem dúvida alguma, dariam o alarme.

Armou o revólver, depois de tê-lo carregado com as balas que faltavam. Depois, cosido à parede, avançou até que, de repente, atravessou a correr em linha recta em direção à cavalariça.

Perto da praça troou uma espingarda. O pistoleiro ainda pôde notar, ao cruzar a ombreira da porta, o certeiro impacto da arma, cuja bala lhe tinha roçado o crânio. Não parou, no entanto, para observar se os homens de Wells o perseguiam. Lançou sobre o dorso do animal a sela e, em breves instantes, deixou-o pronto a ser montado. Abriu então a porta das traseiras da cavalariça e obrigou-o a sair, batendo-lhe na garupa. Depois voltou-se.

Com passo vagaroso, o revólver preparado para fazer fogo, aproximou-se da porta. Viu um grupo de pistoleiros que avançavam e julgou notar que alguns deles davam a volta aos edifícios, talvez com o propósito de lhe cortar a retirada. Tocou na perna ferida e notou que o lenço estava bastante húmido. Isso indicou-lhe que não deveria perder um tempo precioso, Por este motivo correu para o outro lado. Saltou para o exterior do quadrilátero que compunha a cavalariça, e algumas balas sibilaram junto de si.

Bob disparou sobre um dos que atacavam, derrubando-o. O outro retrocedeu alguns passos, dando-lhe ocasião a que pudesse atingir a ruela próxima. De ali até onde o animal se tinha detido, a distância era curta. Apesar disso, correr para o cavalo representava um perigo iminente. As detonações das armas chamaram a atenção dos outros. O pistoleiro viu-os rodear a cavalariça correr para o sítio onde ele se encontrava e abrirem fogo. Mas nem por isso se deteve e correu no meio da chuva de balas, agachado, quase tocando com as mãos no solo, para se arrastar até detrás de uma sebe próxima. Ali, ofegante, com os olhos fora das órbitas e uma fúria terrível nas feições, esperou. Os tiros não deram no alvo, mas serviram para tolher em parte o avanço dos seus inimigos.

A pequena trégua foi aproveitada com rapidez. Bob McCoy saltou agilmente sobre a sela do corcel esporeando-o em seguida. Pelo espaço de alguns segundos, as balas das espingardas sibilaram muito próximo da sua cabeça e roçaram o corpo do brioso cavalo sem graves consequências.

Suspirou profundamente quando se achou à saída da povoação, os seus olhos avistaram o horizonte montanhoso do oeste e a imaginação levou-o a pensar que, por trás daquelas montanhas azuladas, estava a liberdade, embora conhecesse Jim Wells e estivesse seguro de que, enquanto ele tivesse vida, enquanto as suas mãos pudessem manejar os «Colts» e tivesse um cavalo que o levasse a galope, não deixaria de seguir as suas pegadas.

Só poderia tirar de cima de Si a ameaça daquele homem matando-o, destruindo-o, como tinha destruído dois dos mais sinistros foragidos da fronteira. Mas até que esta oportunidade se lhe deparasse, muito tempo havia de decorrer ainda.

Nunca Jim Wells o atacaria a peito descoberto, de homem para homem. Havia de utilizar sempre, em todas as suas ações contra ele, homens mercenários, como Teddy Sharp e Thomas Drolet, os dois rufiões desertores do Exército da União, capazes, por si só, das maiores canalhices se para as levar a efeito tivessem em seu poder um maço de notas de Banco.

Sorriu ao pensar que nunca o surpreenderiam. A sua vida começava uma nova fase, aureolada por um aliciante estímulo. De agora em diante os seus movimentos teriam de ser medidos. Nunca poderia viver tranquilo, sem ter os seus cinco sentidos bem-avisados de que a morte poderia apresentar-se-lhe à traição e de um momento para o outro.

«Wells não me matará com um balázio — resmungou com um acento sibilante. — Não quererá acabar comigo à bala, porque conheço os seus requintes de crueldade, como se vinga e quais são os seus métodos para realizar o único desejo veemente que o dominam agora. Mas não me terá, não poderá nunca ter-me vivo nas suas mãos».

Limpou com a mão o suor da testa. Olhou de novo para longe, para o horizonte infinito, e deu uma palmada carinhosa no pescoço do cavalo acrescentando, tal como se o animal o compreendesse:

— Tenho muito que exigir de ti, amigo, mas é necessário que sejas forte. São já vários os anos que levamos juntos; juntos temos percorrido muitas milhas, sempre sem saber o que o destino nos reservava no final da jornada. Agora é necessário que me ajudes mais uma vez.

Voltou a cabeça. A uns seiscentos metros da entrada da povoação, distinguiam se, à luz do sol, alguns cavaleiros inclinados sobre o pescoço dos cavalos que montavam. McCoy contou-os por alto. Eram tantos que uma luta a descoberto contra eles resultaria num suicídio. Confiou, por isso, mais uma vez, na poderosa passada do seu corcel e na sua boa estrela. O que tinha feito naquela manhã, na presença de quase todos os habitantes de Glendale City, era uma proeza. Ela punha em relevo o seu valor, a sua rápida pontaria e a formidável intuição dos seus movimentos em momentos de perigo. Mas com isso granjeava a inimizade de um canalha que havia de viver o suficiente para não o deixar em paz durante muito tempo.

Obrigou o cavalo a descer pela encosta de um outeiro e seguiu pela estreita vereda que conduzia aos altos terrenos, alcantilados, procurando sempre a linha recta até às montanhas que se recortavam no horizonte.

Não deixou de se aperceber, por um momento, do que a fuga que começava trazia consigo perigos iminentes. Todo o país do Arizona estava pejado de bandidos. As montanhas e os vales eram um formigueiro de bandos de índios, dispersos, acossados em muitos pontos pelo avança impetuoso da Cavalaria Federal. No entanto, nenhum destes perigos era tão grave como aquele que trazia atrás de si.

A morte dos dois irmãos Wells destruía quase par completo a quadrilha de Jim e este ia na peugada do seu cavalo para se vingar.

Alcançou, algum tempo, depois, os contrafortes dos New River Mountains, inclinando-se de novo para oeste do território. Tinha conseguido distanciar-se, aa que parecia, dos seus adversários e procurou afanosamente, para antes do anoitecer, as margens do New River.

Continuando a rota para o nascente deste rio, New River City acolhê-lo-ia ainda que fosse apenas por algumas horas. Ali tinha amigos e lá poderia descansar e deixar que o seu cavalo recobrasse um pouco das energias perdidas.

Por esse motivo, avançou sempre em linha recta, procurando nalgumas ocasiões os lugares mais pedregosos, como se ao seguir por eles quisesse ocultar os vestígios da sua passagem e impedir que os bandidos de Jim Wells o alcançassem.

Uma vez, havia já muito tempo, tinha atravessado o Vale do Tonto. Então os bandos de foragidos eram reduzidos, não se tinham ainda concentrado como no momento presente, procurando naquelas ásperas montanhas, na sombra das suas frondosas florestas e dos apertados desfiladeiros e profundos vales, um refúgio seguro.

Tinha a impressão de que não seria nada agradável tropeçar com aqueles homens. Ali, segundo Jim e os irmãos haviam dito muitas vezes, estava o maior de todos eles: Buck Wells. Havia já muito tempo que os irmãos não se viam, mas costumavam ter notícias uns dos outros com alguma frequência. Ultimamente de Buck não tinham ouvido uma única palavra, e por isso os três irmãos restantes da família recearam que lhe tivesse acontecido algum contratempo.

-- Só me faltaria — murmurou entre dentes — tropeçar com ele.

Sorriu ante esta perspetiva pouco satisfatória, e retomou a marcha. Os homens que lhe seguiam os passos deviam ter mudado de caminho, procurando terrenos mais fáceis, mas não receou nunca que tivessem podido adiantar-se-lhe, uma vez que ele seguia em linha recta o destino que procurava.

Ao trepar a crista de uma lomba, deteve o cavalo e olhou com toda a amplitude da paisagem que dominava. Nenhum sinal da presença dos seus adversários, embora isto nada pudesse dizer-lhe de concreto. Conhecia Jim, os homens que o seguiam, e muito especialmente aqueles canalhas desertores da Exército da União. Contra eles só podia empregar-se argumentos de chumbo, porque era esta a única linguagem que entendiam.

Voltou a caminhar mais depressa. Tinha grandes desejos de deixar a vertente daquelas montanhas, penetrar para o norte no território e alcançar, num dia não muito afastado, a fronteira da Califórnia pelo Noroeste. Só assim, quando tivesse deixado para trás o Arizona, a calma voltaria a ser sua aliada. Agora, tudo o que fizesse para se prevenir de uma cilada seria pouco o não queria cair nas mãos deles porque isto seria o final da sua existência.

Como se uma ideia repentina o dominasse, a mão direita acariciou a dura culatra do seu «seis tiros». Depois sorriu, esporeou o cavalo e continuou o caminho até alcançar a margem do New River. Os grandes álamos, que cresciam de ambos os lados do seu curso, os altos loureiros que demarcavam perfeitamente as linhas das margens, indicaram-lhe a verdadeira rota a seguir.

 Em New River City esperava que as suas atribulações mudassem em seu próprio benefício. Conhecia pessoas de estranha catadura, mas que com ele sempre se haviam portado de uma maneira nobre e justa. Elas podiam indicar-lhe os caminhos mais curtos para o Norte, os lugares mais frequentados pelas quadrilhas de bandidos e, por último, algumas notícias daquele Buck Wells que ele temia, como temia agora Jim o os seus companheiros.

À medida que avançava, uma infinidade de pensamentos acudia à mente do pistoleiro. Recordou todos os acontecimentos dignos da sua vida e fixou-se naqueles em que intervinham membros da sua extinta família. Agora estava só e sem grandes esperanças de fundar um lar algum dia, e sem nenhuma decisão para cortar de vez com a vida dura e difícil que levava. Tudo estava, como tantas vezes lhe tinham dito, em começar.

 

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