Por muito estranho que possa parecer, Andrew Jackson foi comprar naquela tarde roupas novas e estava agora a vestir-se com todo o esmero.
A única justificação que encontramos para esta sua atitude era que naquela noite «mister» Gradford organizava em sua casa uma festa para comemorar o aniversário da sua filha mais nova, Suzy, e pela tardinha passara pelo escritório do xerife a avisá-lo de que estavam a contar com a sua presença.
Depois de pronto, Jackson ficou surpreendido ao ver a imagem que o espelho refletia. Parecia completamente outro homem, embora na sua opinião aquelas roupas lhe dessem um ar mais maduro.
Hesitou se devia ou não colocar o emblema de xerife na lapela, mas acabou por guardá-lo na gaveta. Contudo, não prescindiu de colocar o cinturão por debaixo do casaco. Habituara-se já à sua companhia e nunca podia prever antecipadamente o que lhe podia estar reservado. Assim, se tivesse maus encontros, era bem melhor que fosse prevenido.
Instantes depois montava no cavalo que se afeiçoara à sua pessoa e saía da cidade.
Em todas as janelas de «mister» Gradford havia luz.
Andrew entregou as rédeas da montada a um vaqueiro e empurrou a porta.
A súbita claridade, os riscos, a música, os pares que dançavam e toda aquela gente, perturbaram-no. Sobre um estrado habilmente decorado, ao fundo da sala, cinco músicos em uniformes de grande gala faziam o deleite dos dançarinos.
Estavam ali reunidas pessoas de toda a região, a maior parte das quais o xerife desconhecia. Uma festa em casa de «mister» Gradford era coisa falada!
Andrew sentiu que toda a sua vontade em comparecer àquela festa se esfumava. Estava deslocado naquele ambiente.
O milionário avistou-o, indeciso, com a mão no fecho da porta e veio ao seu encontro.
— Estava quase a zangar-me consigo, «mister» Jackson... Já são boas horas de ter aparecido.
Suzy avistou-o também e arrastou a sua irmã Helen consigo.
— Como está, «mister» Jackson? Veja como, a minha festa está linda. Soubemos do que se passou na cidade e minha irmã Helen andou muito preocupada!
— Então, Suzy... — implorou esta, ruborizando-se.
Andrew ia deixando cair o chapéu e atrapalhou-se.
O banqueiro, que não tinha dado por nada, enfiou-lhe o braço e levou-o consigo.
— Helen, minha filha, serve uma bebida ao nosso convidado especial.
— Que prefere, «mister» Jackson? «Whisky»?
— Claro que sim, os homens como nós, só bebem «whisky» — afirmou o milionário rindo. — As outras bebidas são para as senhoras!
— Oh, não traz a sua estrela, xerife — lamentou Suzy. — Olhe que lhe ficava muito bem.
— O nosso xerife é um homem modesto, minha filha. •
-- Aqui tem a sua bebida, «mister» Jackson — e Helen entregou-lhe o copo.
— Tenho uma boa notícia a dar-lhe — disse o banqueiro. — Chegou hoje uma remessa para si: dez mil dólares! O preço da sua vitória e também por ter livrado os homens de bem de um temível assassino. Tomei a liberdade de abrir uma conta em seu nome no meu banco, que está à sua inteira disposição.
— Agradeço, «mister» Gradford.
— Que vai fazer a esse dinheiro, «mister» Jackson?
— Nada... Isto é, não tinha sequer pensado nisso.
— O papá está sempre a falar de negócios, até na minha festa de aniversário! — protestou Suzy.
— Que queres, minha filha, é uma doença lucrativa. Mas dou-te inteira razão.
— Porque é que «mister» Jackson não convida a Helen para dançar? — perguntou em tom inocente a irrefletida filha do milionário.
Aquela pergunta teve um efeito fantástico: Andrew engasgou-se com o «whisky», Helen esbugalhou os olhos de assombro e o banqueiro transformou-se em espectador daquela cena cómica. Por seu turno Suzy sorria, mostrando uma dupla fileira de dentes saudáveis, o mais à-vontade que é possível.
— Acho muito bem concordou por fim o pai das meninas.
Andrew olhou para Helen à procura de uma ajuda, os olhos negros da rapariga perturbaram-no ainda mais e desculpou-se o melhor que pôde:
— Lamento... mas não sei dançar!
— Não tem importância, a Helen ensina-o! — carregou Suzy.
O pai interveio como medianeiro conciliador:
— Suzy, não vês como eles estão atrapalhados?
— Gosto de os ver assim!
Só havia uma maneira para o caso se normalizar e para que Suzy não voltasse a repetir as suas «bombas» dialéticas: era retirar os dois da sala!
— Helen, vai mostrar ao nosso xerife a nossa propriedade — convidou o pai. — «Mister» Jackson, parece-me que o senhor está a precisar de um pouco de ar 4, puro.
Andrew e Helen estavam de facto tão pouco à vontade que não esperaram pela repetição do convite.
Já no exterior, ela desculpou-se:
— «Mister» Jackson não conhece a «força» da Suzy. Eu que convivo com ela ainda não posso prever quando vai proferir os seus costumeiros disparates.
— Suzy tem de facto um temperamento ofensivo — concordou Andrew para quem a companhia daquela mulher a seu lado, envoltos naquele cenário lunar, não era de modo algum propícia para que serenasse o espírito.
— O pior é que o nosso rancho não tem nada de especial que o senhor não tenha visto. O meu pai para nos livrar de Suzy colocou-me num beco sem saída. Se não se importa, sentar-nos-emos neste relvado.
Andrew acedeu sem uma palavra. Contudo, competia-lhe a ele iniciar uma conversa fútil, o que não conseguiu. O seu cérebro estava emperrado e achava-se incapaz de coordenar as ideias. Compreendo a situação do seu companheiro, foi Helen quem falou:
— É horrível estarmos aqui sentados sem proferirmos uma palavra. Se não se importa, «mister» Jackson, fale--me de si.
— De mim?! Mas que poderei eu dizer sobre a minha pessoa que lhe possa interessar?
— Tudo! Há dias, creio que teve de defender a sua vida. Aqui em minha casa ficámos todos em sobressalto porque não julgávamos que fosse tão hábil com as armas. O papá era o único que parecia mais calmo, não sei bem o motivo.
— Noutros tempos, menina Helen, fui um bom atirador.
— Ah!
Andrew compreendeu que tinha induzido na sua companheira uma opinião errada sobre a sua pessoa e achou que tinha o dever de a esclarecer.
— Não quero que julgue que eu era um pistoleiro como esse que defrontei; era um agente especial, trabalhava por conta do governo.
Helen voltou-se com uma expressão de alegria súbita...
— Sério?! Quem havia de imaginar! Se a Suzy soubesse disto obrigava-o a contar a sua biografia.
— Peço-lhe que não lho conte.
Helen riu.
— Esteja descansado.
— Guardei sempre segredo sobre esta parte da minha vida porque a mesma arrasta recordações dolorosas para mim.
— Uma mulher?
— Não, não. A morte de um amigo que se perdeu, tornando-se no chefe de uma quadrilha e que tive de eliminar. Por este motivo pedi a minha demissão.
— Compreendo-o e peço-lhe desculpa. Jim Sarno vinha vingar a morte de um irmão, ao que parece.
— Sim, Helen... Oh, desculpe...
— Não faz mal, pode tratar-me por Helen e eu chamar-lhe-ei apenas Andrew. Somos amigos, não é verdade?
— Como queira, menina... Helen...
— Ia a dizer que...
— Ah!. Astkins Sarno era um pistoleiro que eu abati. Como Jim, outros virão tentar uma desforra ou uma vingança...
— Mas, então... Vou falar com o meu pai para que o obrigue a refugiar-se em qualquer lado quando isso acontecer.
Jackson sorriu.
— Isso não é solução, Helen. Estes homens vêm de muito longe e não desistem nunca dos seus intentos.
É impossível, não posso acreditar, que você os aguarde com toda essa calma, sabendo que o objetivo desses bandidos é a sua morte!
— Quando seu pai tomou a iniciativa de me eleger para xerife de Newton City, sabia ao que a cidade se expunha. Isto é a consequência inevitável da minha antiga profissão e não posso, ninguém pode fugir ao seu destino. Não vejo, portanto, motivos para me alarmar e prefiro aguardar os acontecimentos na maior calma.
Nunca vi nenhum homem como você, Andrew! — confessou-lhe num tom de voz tão sincero que levou Jackson a fitá-la. A este parecia-lhe que ela se estava a deixar arrastar por sentimentos que não eram aconselháveis. Pela primeira vez deu conta da afeição que começava a envolvê-los, mas por outro lado, apercebeu¬-se do abismo social que os separava. Sem saber porquê reparou que já podia fixar os seus olhos negros, que não se sentia contrafeito à sua beira, que a sua companhia lhe fazia bem. Era outro homem, descortinava outras facetas da sua vida até então ignoradas, de bom grado desejaria que o tempo parasse para que o sonho - bom que estava a viver não se desfizesse em fumo.
Todavia, amargamente compreendia que estava a olhar muito para o alto. Ela não era a Helen que estava sentada a seu lado a conversar, era a filha de um milionário, de «mister» Gradford dono do Banco de Newton City... E ele? Não passava de um vulgar homem do Oeste, cuja única cultura eram as armas que lhe adornavam a cinta.
Tinha de fazer com que Helen fizesse convergir a sua atenção para este facto de primacial importância e embora muito lhe custasse ia tentá-lo.
— Helen, quero dizer uma coisa: eu sou um homem vulgar, um pistoleiro inculto como existem milhentos em todos os estados da União, desde Virgínia à Califórnia, ou do Texas à Dakota do Norte, e o facto de ter colocado as minhas armas ao serviço da Lei é apenas uma questão de princípios ou de educação. Não me julgo um homem excecional, como você há pouco disse. Quando errava pela planície na pista de um criminoso, no desempenho da minha missão, e dormia no chão, comparava-me aos animais. Os estados da União são vastíssimos e passavam-se semanas que eu não via um ser humano; nessas ocasiões deixava crescer a barba e ficava imundo. Do meu contacto com bandidos empederniu-se-me o coração para as- coisas a que os outros homens chamam amor ou felicidade. Não quero que você faça uma ideia errada a meu respeito, mas também não desejo que confie demasiado no seu coração. Há dias, ao fitar os seus belos olhos negros, fiquei inexplicavelmente perturbado. Não sei o que se passou em mim, nem se foi por esse motivo que eu hoje vim a sua casa. Não estou habituado a assistir a estas festas sociais, Helen, sinto-me deslocado, envergonhado até e fora do meu ambiente. Não devia ter vindo, porque afinal de contas você é a filha de um rico banqueiro e eu — quem sou eu? — absolutamente nada! Peço-lhe que me perdoe e apresente as minhas desculpas a seu pai, mas vou retirar-me, porque acabo de descobrir o motivo que aqui me trouxe. Adeus, Helen.
Andrew apertou entre as suas a mão de Helen, afastou-se. Ela viu-o caminhar na direção do seu cavalo, montar e afastar-se com um cumprimento.
Nessa altura apareceu Suzy a correr.
— Helen! «Mister» Jackson! Mas... estás só! Onde está «mister» Jackson?
A irmã voltou-se para que ela não visse a lágrima furtiva que lhe descia pela face e apontou para o vulto que ao longe estava quase a desaparecer.
— Foi-se embora! Porque se retirou ele, Helen?
— Lembrou-se que tinha um assunto a tratar na cidade e pediu para lhe perdoarmos por ter de se retirar...
A única justificação que encontramos para esta sua atitude era que naquela noite «mister» Gradford organizava em sua casa uma festa para comemorar o aniversário da sua filha mais nova, Suzy, e pela tardinha passara pelo escritório do xerife a avisá-lo de que estavam a contar com a sua presença.
Depois de pronto, Jackson ficou surpreendido ao ver a imagem que o espelho refletia. Parecia completamente outro homem, embora na sua opinião aquelas roupas lhe dessem um ar mais maduro.
Hesitou se devia ou não colocar o emblema de xerife na lapela, mas acabou por guardá-lo na gaveta. Contudo, não prescindiu de colocar o cinturão por debaixo do casaco. Habituara-se já à sua companhia e nunca podia prever antecipadamente o que lhe podia estar reservado. Assim, se tivesse maus encontros, era bem melhor que fosse prevenido.
Instantes depois montava no cavalo que se afeiçoara à sua pessoa e saía da cidade.
Em todas as janelas de «mister» Gradford havia luz.
Andrew entregou as rédeas da montada a um vaqueiro e empurrou a porta.
A súbita claridade, os riscos, a música, os pares que dançavam e toda aquela gente, perturbaram-no. Sobre um estrado habilmente decorado, ao fundo da sala, cinco músicos em uniformes de grande gala faziam o deleite dos dançarinos.
Estavam ali reunidas pessoas de toda a região, a maior parte das quais o xerife desconhecia. Uma festa em casa de «mister» Gradford era coisa falada!
Andrew sentiu que toda a sua vontade em comparecer àquela festa se esfumava. Estava deslocado naquele ambiente.
O milionário avistou-o, indeciso, com a mão no fecho da porta e veio ao seu encontro.
— Estava quase a zangar-me consigo, «mister» Jackson... Já são boas horas de ter aparecido.
Suzy avistou-o também e arrastou a sua irmã Helen consigo.
— Como está, «mister» Jackson? Veja como, a minha festa está linda. Soubemos do que se passou na cidade e minha irmã Helen andou muito preocupada!
— Então, Suzy... — implorou esta, ruborizando-se.
Andrew ia deixando cair o chapéu e atrapalhou-se.
O banqueiro, que não tinha dado por nada, enfiou-lhe o braço e levou-o consigo.
— Helen, minha filha, serve uma bebida ao nosso convidado especial.
— Que prefere, «mister» Jackson? «Whisky»?
— Claro que sim, os homens como nós, só bebem «whisky» — afirmou o milionário rindo. — As outras bebidas são para as senhoras!
— Oh, não traz a sua estrela, xerife — lamentou Suzy. — Olhe que lhe ficava muito bem.
— O nosso xerife é um homem modesto, minha filha. •
-- Aqui tem a sua bebida, «mister» Jackson — e Helen entregou-lhe o copo.
— Tenho uma boa notícia a dar-lhe — disse o banqueiro. — Chegou hoje uma remessa para si: dez mil dólares! O preço da sua vitória e também por ter livrado os homens de bem de um temível assassino. Tomei a liberdade de abrir uma conta em seu nome no meu banco, que está à sua inteira disposição.
— Agradeço, «mister» Gradford.
— Que vai fazer a esse dinheiro, «mister» Jackson?
— Nada... Isto é, não tinha sequer pensado nisso.
— O papá está sempre a falar de negócios, até na minha festa de aniversário! — protestou Suzy.
— Que queres, minha filha, é uma doença lucrativa. Mas dou-te inteira razão.
— Porque é que «mister» Jackson não convida a Helen para dançar? — perguntou em tom inocente a irrefletida filha do milionário.
Aquela pergunta teve um efeito fantástico: Andrew engasgou-se com o «whisky», Helen esbugalhou os olhos de assombro e o banqueiro transformou-se em espectador daquela cena cómica. Por seu turno Suzy sorria, mostrando uma dupla fileira de dentes saudáveis, o mais à-vontade que é possível.
— Acho muito bem concordou por fim o pai das meninas.
Andrew olhou para Helen à procura de uma ajuda, os olhos negros da rapariga perturbaram-no ainda mais e desculpou-se o melhor que pôde:
— Lamento... mas não sei dançar!
— Não tem importância, a Helen ensina-o! — carregou Suzy.
O pai interveio como medianeiro conciliador:
— Suzy, não vês como eles estão atrapalhados?
— Gosto de os ver assim!
Só havia uma maneira para o caso se normalizar e para que Suzy não voltasse a repetir as suas «bombas» dialéticas: era retirar os dois da sala!
— Helen, vai mostrar ao nosso xerife a nossa propriedade — convidou o pai. — «Mister» Jackson, parece-me que o senhor está a precisar de um pouco de ar 4, puro.
Andrew e Helen estavam de facto tão pouco à vontade que não esperaram pela repetição do convite.
Já no exterior, ela desculpou-se:
— «Mister» Jackson não conhece a «força» da Suzy. Eu que convivo com ela ainda não posso prever quando vai proferir os seus costumeiros disparates.
— Suzy tem de facto um temperamento ofensivo — concordou Andrew para quem a companhia daquela mulher a seu lado, envoltos naquele cenário lunar, não era de modo algum propícia para que serenasse o espírito.
— O pior é que o nosso rancho não tem nada de especial que o senhor não tenha visto. O meu pai para nos livrar de Suzy colocou-me num beco sem saída. Se não se importa, sentar-nos-emos neste relvado.
Andrew acedeu sem uma palavra. Contudo, competia-lhe a ele iniciar uma conversa fútil, o que não conseguiu. O seu cérebro estava emperrado e achava-se incapaz de coordenar as ideias. Compreendo a situação do seu companheiro, foi Helen quem falou:
— É horrível estarmos aqui sentados sem proferirmos uma palavra. Se não se importa, «mister» Jackson, fale--me de si.
— De mim?! Mas que poderei eu dizer sobre a minha pessoa que lhe possa interessar?
— Tudo! Há dias, creio que teve de defender a sua vida. Aqui em minha casa ficámos todos em sobressalto porque não julgávamos que fosse tão hábil com as armas. O papá era o único que parecia mais calmo, não sei bem o motivo.
— Noutros tempos, menina Helen, fui um bom atirador.
— Ah!
Andrew compreendeu que tinha induzido na sua companheira uma opinião errada sobre a sua pessoa e achou que tinha o dever de a esclarecer.
— Não quero que julgue que eu era um pistoleiro como esse que defrontei; era um agente especial, trabalhava por conta do governo.
Helen voltou-se com uma expressão de alegria súbita...
— Sério?! Quem havia de imaginar! Se a Suzy soubesse disto obrigava-o a contar a sua biografia.
— Peço-lhe que não lho conte.
Helen riu.
— Esteja descansado.
— Guardei sempre segredo sobre esta parte da minha vida porque a mesma arrasta recordações dolorosas para mim.
— Uma mulher?
— Não, não. A morte de um amigo que se perdeu, tornando-se no chefe de uma quadrilha e que tive de eliminar. Por este motivo pedi a minha demissão.
— Compreendo-o e peço-lhe desculpa. Jim Sarno vinha vingar a morte de um irmão, ao que parece.
— Sim, Helen... Oh, desculpe...
— Não faz mal, pode tratar-me por Helen e eu chamar-lhe-ei apenas Andrew. Somos amigos, não é verdade?
— Como queira, menina... Helen...
— Ia a dizer que...
— Ah!. Astkins Sarno era um pistoleiro que eu abati. Como Jim, outros virão tentar uma desforra ou uma vingança...
— Mas, então... Vou falar com o meu pai para que o obrigue a refugiar-se em qualquer lado quando isso acontecer.
Jackson sorriu.
— Isso não é solução, Helen. Estes homens vêm de muito longe e não desistem nunca dos seus intentos.
É impossível, não posso acreditar, que você os aguarde com toda essa calma, sabendo que o objetivo desses bandidos é a sua morte!
— Quando seu pai tomou a iniciativa de me eleger para xerife de Newton City, sabia ao que a cidade se expunha. Isto é a consequência inevitável da minha antiga profissão e não posso, ninguém pode fugir ao seu destino. Não vejo, portanto, motivos para me alarmar e prefiro aguardar os acontecimentos na maior calma.
Nunca vi nenhum homem como você, Andrew! — confessou-lhe num tom de voz tão sincero que levou Jackson a fitá-la. A este parecia-lhe que ela se estava a deixar arrastar por sentimentos que não eram aconselháveis. Pela primeira vez deu conta da afeição que começava a envolvê-los, mas por outro lado, apercebeu¬-se do abismo social que os separava. Sem saber porquê reparou que já podia fixar os seus olhos negros, que não se sentia contrafeito à sua beira, que a sua companhia lhe fazia bem. Era outro homem, descortinava outras facetas da sua vida até então ignoradas, de bom grado desejaria que o tempo parasse para que o sonho - bom que estava a viver não se desfizesse em fumo.
Todavia, amargamente compreendia que estava a olhar muito para o alto. Ela não era a Helen que estava sentada a seu lado a conversar, era a filha de um milionário, de «mister» Gradford dono do Banco de Newton City... E ele? Não passava de um vulgar homem do Oeste, cuja única cultura eram as armas que lhe adornavam a cinta.
Tinha de fazer com que Helen fizesse convergir a sua atenção para este facto de primacial importância e embora muito lhe custasse ia tentá-lo.
— Helen, quero dizer uma coisa: eu sou um homem vulgar, um pistoleiro inculto como existem milhentos em todos os estados da União, desde Virgínia à Califórnia, ou do Texas à Dakota do Norte, e o facto de ter colocado as minhas armas ao serviço da Lei é apenas uma questão de princípios ou de educação. Não me julgo um homem excecional, como você há pouco disse. Quando errava pela planície na pista de um criminoso, no desempenho da minha missão, e dormia no chão, comparava-me aos animais. Os estados da União são vastíssimos e passavam-se semanas que eu não via um ser humano; nessas ocasiões deixava crescer a barba e ficava imundo. Do meu contacto com bandidos empederniu-se-me o coração para as- coisas a que os outros homens chamam amor ou felicidade. Não quero que você faça uma ideia errada a meu respeito, mas também não desejo que confie demasiado no seu coração. Há dias, ao fitar os seus belos olhos negros, fiquei inexplicavelmente perturbado. Não sei o que se passou em mim, nem se foi por esse motivo que eu hoje vim a sua casa. Não estou habituado a assistir a estas festas sociais, Helen, sinto-me deslocado, envergonhado até e fora do meu ambiente. Não devia ter vindo, porque afinal de contas você é a filha de um rico banqueiro e eu — quem sou eu? — absolutamente nada! Peço-lhe que me perdoe e apresente as minhas desculpas a seu pai, mas vou retirar-me, porque acabo de descobrir o motivo que aqui me trouxe. Adeus, Helen.
Andrew apertou entre as suas a mão de Helen, afastou-se. Ela viu-o caminhar na direção do seu cavalo, montar e afastar-se com um cumprimento.
Nessa altura apareceu Suzy a correr.
— Helen! «Mister» Jackson! Mas... estás só! Onde está «mister» Jackson?
A irmã voltou-se para que ela não visse a lágrima furtiva que lhe descia pela face e apontou para o vulto que ao longe estava quase a desaparecer.
— Foi-se embora! Porque se retirou ele, Helen?
— Lembrou-se que tinha um assunto a tratar na cidade e pediu para lhe perdoarmos por ter de se retirar...
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