Nolan avançara cautelosamente, escondendo-se cada vez que via as silhuetas dos cavaleiros que o procuravam. Eram os homens de Miller.
Deixou a égua entre as rochas, próximo de «Las Riberas». Ao acercar-se do carro em que os Flores carregavam a água em barris, viu por detrás da roda o rápido fulgor de uma arma. Depois um ruído metálico.
— Mexa um dedo, e faço-lhe saltar a cabeça em mil pedaços.
O jovem Russ Flores saiu debaixo do carro, segurando a espingarda com as mãos trémulas. Gritou:
— Pai! Cacei-o! É ele! É Nolan!
Kent Flores saia da barraca dos «Correos». Flores olhou o filho.
— Deixa de ladrar, Russ.
Atrás do velho miram outros dois homens armados de espingardas.
— Que quere, Nolan? Miller e o seu pessoal estiveram aqui esta tarde à, sua procura.
Nolan avançou.
— Posso entrar?
— Entre. Tu, Russ, continua a vigiar. Não quero mais surpresas.
A habitação estava muito concorrida. Vários homens olhavam-no com receio e hostilidade. Flores ocupou de novo a cabeceira da comprida mesa.
— Chega mesmo a tempo, Nolan. Estamos em conselho de guerra.
— Que género de guerra?
— Esta tarde, Miller obrigou-nos a alinhar fora das nossas casas como se fôssemos reses. Depois os seus homens revistaram tudo. Antes de se irem embora Ron Miller disse que incendiaria o nosso povoado se lhe dessemos guarida.
Nolan observou o semblante dos presentes. Não havia dúvida que o consideravam um inimigo; um vaqueiro que só lhes podia trazer complicações. Um deles disse:
— Não espere ajuda. Temos mulher e filhos em que pensar.
— Kent Flores... Não me disse uma vez que Miller o tinha expulsado do Grande Vau?
— Foi Wax Jones que me expulsou.
— É a mesma coisa. Quer voltar para lá, para as terras férteis do Grande Vau?
— Como? Da mesma maneira como conseguiu instalar-se em Buffalo Creek?
— Não ofereço nem peço ajuda. Mas se continuam de braços cruzados, Miller acabará por pô-los fora. Não importa o que façam ou deixem de fazer. Irão todos daqui para fora na ponta de uma bala.
— Algum dia teremos a nossa oportunidade...
— Pois claro. Miller irá enterrando as vossas «carcaças» uma a uma, sob qualquer pretexto. Há aqui uma centena de homens com barba. Agora resta saber se além das barbas, têm coragem.
Houve um murmúrio de revolta, que Flores aquietou
— O que você pretende é que lutemos por si.
— Oh, não. O que quero é rer o «Rancho Miller dividido em parcelas, todas vedadas com arame farpado. De tal forma, que não se possa ir a parte alguma sem se tropeçar com os espinhos das vedações. E se querem boas parcelas de terreno, não encontrarão melhor ocasião do que amanhã... enquanto Miller e os seus homens estiverem ocupados comigo.
— Amanhã?
— Amanhã estará você muito longe daqui.
— Pensa isso? Bem, eu expus o meu plano. Agora falem vocês.
Erguia o trinco da porta para sair, quando Flores perguntou:
— Onde estará amanhã?
— Na cidade. Todo o dia. Defronte do escritório do «sheriff». Se Miller voltar aqui, digam-lhe isto mesmo. Amanhã, estarei todo o dia na cidade, à espera dele.
— No cárcere?
— Em frente dele A menos que Elton Graver me deite abaixo com tiros. Não se esqueçam: estarei na cidade à espera de Ron Miller.
Um dos homens presentes assobiou. Kent Flores olhou o revólver que pendia à ilharga de Nolan.
— A primeira vez que o vi, rapaz, disse para o meu Russ: «Ali vai um homem de coragem». Atravessava esta rua, lembra-se? Mas, homem de Deus... Você não tem a mais pequena probabilidade de vencer Miller e os seus homens.
— Amanhã saberemos isso.
— Vai esperar Miller em Cliff Town?
— Vou.
Flores afagou a barba e por fim disse:
— Espere um momento aí fora. Não se importa, pois não?
Nolan saiu e aproximou-se do carro. Ele agora podia compreender o que sentiam os chamados «intrusos». Era gente simples que vinha disposta a disfrutar a bela Terra Prometida e afinal... Homens como Miller atrofiavam o crescimento do Oeste. Vexavam e humilhavam os pobres infelizes que apenas ambicionavam um pedaço de terra, onde pudessem bater com os pés e dizer: «Esta terra é minha, Amanhã será de meus filhos e depois de meus netos».
Por detrás da roda, Russ Flores espiava, receoso, o forasteiro. Nolan murmurou:
— Tens sorte, cachorro. O teu pai é um verdadeiro homem.
A maçã de Adão baixou e subiu duas vezes no magro pescoço do rapaz, antes de responder:
— É verdade o que diz? Meu pai é realmente um homem corajoso?
Kent Flores saiu da barraca e, aproximando-se Nolan, disse:
— Devem estar a discutir o resto da noite, mas procurarei que Miller tenha conhecimento do seu recado. Naturalmente, ele não acreditará...
— Acreditará, sim. Dê-lhe isto da minha parte. Ele sabe o seu significado.
Flores segurou na pequena flauta que Nolan lhe estendia:
— Muito bem, amigo. E agora, diga-me... Você não é granjeiro. É um «cowboy». Sei que odeia Miller, mas quando nós começamos, não há nada que nos faça parar. Dividiremos todo o vale.
— Eu nasci numa granja. Quando vi pela primeira vez esta comarca, era terra livre, rica de caça e também de «sioux», que se escapavam a todo o momento da Reserva. Não havia, sequer, uma cerca. Mentiria se dissesse que gostaria de ver esse estado coisas mudar, mas...
— Então?...
— Mas eu não posso impedir que as coisas mudem. Nem você, nem Miller, nem cem como ele. É tão certo os granjeiros dominarem o vale, como a seguir ao dia nascer a noite. O seu filho irá presenciar algo de grandioso, que jamais esquecerá. Ele, e todos os filhos dos granjeiros. E por último, quero que saiba que não odeio Miller por ele ser poderoso, mas sim porque é um homem mesquinho que só prejudicará esta terra.
— Gosto deste «cowboy», pai. É homem. É corajoso. Vão transformá-lo em terra batida, mas muitos cairão antes dele. Não é verdade, pai?
Kent Flores concordou.
— É como dizes, rapaz. Se contássemos com mais Nolan... haveria menos Miller. Bom, continua a vigiar. Se adormeces, dou-te uma «coça» como nunca sonhaste.
Quando o pai se foi embora, Russ Flores, a sorrir, disse baixinho:
—Já não me assustas, pai. Já não adormeço como tu julgas. Mas gosto de te ouvir. As tuas sovas fizeram-me bem. És um bom pai, Kent Flores.
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