sábado, 17 de junho de 2023

CLF028.11 A morte de um amigo

Wax Jones desmontou no pátio. Olhando em redor, apontou para o telheiro mais próximo. Ronald Miller seguiu-o.

— Nolan e Green despareceram. Não sei para onde foram. Não importa para onde foram. O que interessa é que não farão mais escândalos.

— Nolan voltará. Pelo menos, para ser julgado.

— Isso não me preocupa.

— Pois devia preocupar-se... Este «sheriff» não é idiota. Da última vez que falei com ele, perguntou-me muitas coisas. É esse o seu trabalho... Perguntar coisas. E tu não tens mais que repetir a mesma história.

— Não gosto de juízes nem de tribunais. Põem-me nervoso.

— Haverá cem dólares para ti e para Howard.

— Obrigado, patrão. Compreende, não é verdade? Se a Lei vem a saber quem matou Hart...

— Dar-lhes-ei quinhentos dólares quando Nolan se sentar no banco dos réus e outros quinhentos quando o condenarem.

— A oferta é aceitável.

Quando Jones se afastou, Miller ficou a pensar que, mais tarde ou mais cedo teria de libertar-se daquele irritante personagem, ou o preço das chantagens aumentariam sucessivamente.

Miller preparava-se para entrar em casa, quando viu Carla Gorvin, apear-se no terreiro em rente. A rapariga indicou a pintura no recente frontispício da casa e perguntou:

— Decorações para a boda, Ron?

— Podes crer que senti muito a morte de Hart...

— Sabes que Brod Nolan foi posto em liberdade sob fiança?

— Sim, ouvi certos rumores.

— Pois há «outros rumores» que não chegaram ainda aos teus ouvidos sempre atentos, Ronald. Por exemplo: sabes quem o afiançou?

— Tu.

— Foi Evelyn. Hipotecou o seu rancho.

—Lamento que odeies tanto Evelyn, mas não vejo razão para tamanha mentira, Carla.

— Se não acreditas em mim, porque não perguntas a meu pai... ou a Evelyn?

— Como o soubeste?

— Ela foi anteontem a casa de meu pai. Eu estava lá. Ouvi-os falar. Mas não é só isto, Ronald. Nunca pensaste de onde viria o dinheiro com que Evelyn pagou as dívidas e as reparações do rancho.

— Hart Nolan.

— Oh, não! Ele julgava que eras tu, vê bem. Foi Brod que lhe enviou o dinheiro. É curioso que Evelyn nunca te dissesse nada. Enfim, é um assunto que te diz respeito.

Já sobre a montada, acrescentou:

— Quando vires Evelyn, dá-lhe os meus respeitosos cumprimentos.

Miller sentiu o sangue ferver-lhe nas veias, mas dominou-se.

—Não compreendo porque me contaste este triste incidente, sabendo que o teu Brod será o único prejudicado.

— O meu Brod? — E os seus olhos deixaram de sorrir para adquirirem uma expressão de rancor.

—Vim contar-te tudo porque não sou homem! Se o fosse... já tinha morto Brod Nolan. Sempre quero saber se és homem para desafiá-lo.

E afastou-se a galope, fustigando desnecessariamente o cavalo. Quando mais tarde Ronald Miller desmontou no pátio do «Rancho Leblanc», o doutor Stone saía de casa.

— Alguém doente, doutor? — perguntou Miller.

— Sim... Sol Green. Tem uma probabilidade contra cinco de sobreviver.

— Green? Está aqui?

— Com um pulmão perfurado e várias fraturas —subindo para a carruagem, o doutor acrescentou: —Tinha sido mais caritativo da sua parte dar-lhe um tiro.

— Nolan está?

— Não — os olhos do médico expressaram rancor e desprezo. — Há anos tive de prestar juramento. Ainda você não tinha nascido, jovem. E pela primeira vez estou disposto a quebrar esse juramento, que me abriga a prestar assistência a todo o ser humano. Se alguma vez necessitar de um médico, Miller, não me chame. Eu não irei. Boas-tardes, senhor Miller.

Miller contemplou a carruagem a afastar-se com os olhos ardentes de rancor. Ao voltar-se, viu Evelyn especada no umbral da porta.

— Vai-te, Ronald.

— Dize-me onde se encontra Nolan.

— Se o soubesse não o diria.

— Negas que pagaste a fiança?

— Não o nego... nem tenho de explicar as razões por que o fiz. O dinheiro é meu.

— É de Nolan. Foi ele que te comprou este rancho. Foi ele que te manteve durante dois anos...

A voz calma da rapariga cortou-lhe a palavra:

—Enamorei-me de ti, ou, pelo menos, julguei-me enamorada. Mas tu amas mais o teu rancho do que a mim. Creio que seria mais humano se... Alguma vez viste um homem destrocado? Eu vi... Tratei de Green. Agora envergonho-me de te ter julgado um homem, Ronald Miller.

Miller só tinha uma obsessão. Perguntou:

— Onde se encontra Nolan?

— Saiu desta casa hoje de manhã. Não sei para onde foi.

—E quantas noites mais passou ele aqui?

Avançando para a porta, afastou Evelyn, dizendo:

— Green deve saber onde se encontra Nolan.

Aproximou-se da cama e inclinou-se sobre Sol Green.

— Negro! Onde está Brod Nolan?

Agarrou-o por um ombro e sacudiu-o.

— Onde se encontra Nolan?

Miller ouviu um estalido metálico atrás de si. Voltou-se. Sustendo com ambas as mãos um «colt» que tirara de uma caixa, Evelyn disse-lhe:

— Volta a tocar-lhe e disparo.

Miller olhou o revólver e depois o pálido rosto da jovem. Com a voz trémula, Evelyn acrescentou:

— É o revólver de Lloyd. Nunca toquei nele, nem para matar uma serpente, mas se não sais agora mesmo desta casa... juro que te mato, Ronald Miller.

Quando se dirigiu para o seu cavalo, Miller viu o velho Banks Barclay encostado a um poste, limpando uma espingarda.

Montando, Miller tentou compor um sorriso de despreocupação.

— Até breve, Evelyn. Encontrarei Nolan, ainda que tenha de gastar toda a minha fortuna.

 

*

 

Brod Nolan dormiu na gruta Lazz. Quando as primeiras estrelas apareceram, dirigiu-se para o local onde deixara a égua. Pelo Grande Vau surgiu um cavaleiro gritando pelo seu nome. Era Evelyn.

— Como soube onde eu estava?

— Green explicou-me. Deixei Banks com ele. Tinha de vir eu, porque vigiam o meu rancho. Miller anda à sua procura... porque já sabe que foi você que me deu o dinheiro...

Nolan ia a protestar, mas ela atalhou imediatamente:

— Não há tempo para explicações. Nem tão-pouco deve criticar Gorvin. Obriguei-o a contar tudo. Algum dia... terei oportunidade de agradecer-lhe devidamente, Brod. Mas agora tem de abandonar a comarca... Esta noite mesmo. Miller está louco, porque o seu orgulho não suporta a ideia de que foi você que me ajudou.

— A ajuda que lhe prestei foi o bálsamo para a ferida que a morte de seu marido abriu em mim.

— Não, Brod. Mas o que mais enfurece Miller, é saber que fui eu que depositei a fiança... Não julgue que o fiz para saldar uma dívida, mas porque sei que não matou Hart.

— Agrada-me ouvi-la, Evelyn. Foi Sol que a convenceu?

— No dia em que Hart morreu eu tinha falado com ele. Expus o que acabava de saber... Hart, a princípio, não quis acreditar..., mas depois sentiu-se envergonhado por ter lutado consigo. Disse-me que queria vê-lo e tratá-lo como um irmão...

Nolan não soube como foi, mas encontrou-se abraçado à jovem, beijando-a carinhosamente, sentindo nascer dentro de si um desejo infinito de compartilhar a sua solidão... E ela, com as mãos coladas ao rosto de Brod, correspondia aos seus amplexos. Apertando-a contra si, acariciando-lhe o cabelo, Nolan murmurou:

— Desejaria ter-te conhecido há anos, Evelyn. E os minutos passaram-se como se o tempo tivesse parado, ficado suspenso, como as estrelas que pairavam sobre as suas cabeças. Um leve rumor fê-los volta à realidade. Um cavaleiro aproximava-se. Era Banks Barclay.

— Brod Nolan! Nolan correu ao seu encontro. Barclay, detendo o seu potro, murmurou:

-- O seu amigo Green... Sinto muito, rapaz. Morreu.

— Sol Green... morreu?

— Respirava tranquilamente e no minuto seguinte... morreu.

— Sofreu muito?

— Não, não sofreu nada. Dei-lhe as pílulas que o doutor receitou. Eram boas para acalmar o sofrimento. Respirava tranquilamente enquanto dormia. Sorria até. Foi para o outro mundo a sorrir.

Não tinha sofrido nada, na realidade. Um sono... do qual não voltou a acordar.

— Quer que diga ao «sheriff», rapaz? — perguntou Barclay. — Pode emprestar-me o seu revólver, Banks?

— Claro que sim, mas...

— Não precisa dele esta noite, Banks?...

—Brod! — exclamou Evelyn, agarrando-lhe um braço. — Não!

Suavemente, desprendeu a mão fina da jovem, e tornou a pedir a Banks:

—Empreste-me o seu revólver.

— Deixa o «sheriff» prender Miller — implorou a rapariga.

O velho vaqueiro desapertou o cinto de onde pendia o «Colt» e entregou-o a Nolan. Depois de verificar se o tambor estava carregado, Brod disse:

— Leve Evelyn para a cidade, Banks. Cuide dela, velho.

Nolan correu, para a sua égua sem prestar atenção às súplicas da rapariga que se debatia nos braços do velho.

 

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