Evelyn Leblanc firmou o seu nome no sítio indicado pelo banqueiro Gorvin.
— Agora, Evelyn, já é proprietária.
A rapariga tirou do bolso o livro onde anotava as suas contas.
— Um total de quatro mil dólares, senhor Gorvin. Donde veio este dinheiro?
— Já to disse, rapariga. É o resultado das inversões que eu dei ao dinheiro que os amigos de Lloyd recolheram...
— Oiça, senhor Gorvin. Quando me casei com Lloyd Leblanc, conhecia-o apenas há quatro dias. Ele era natural do Texas e foi o primeiro vaqueiro que conheci. Para mim era um personagem romântico, arrogante, como se tivesse saído de uma novela. Se tudo isto lhe soa a loucura... é porque não conhece os sonhos que enchem a cabeça de uma rapariga romântica, aos dezoito anos…
— Compreendo-a muito bem, Evelyn. Pode continuar.
— Três meses depois Lloyd morria. Nessa altura já eu sabia que ele não tinha nada de romântico. Nem sequer era um homem responsável. Eu tinha demasiado orgulho para voltar a minha casa, a casa de meus pais. Quando o senhor me disse que tinha conseguido algum dinheiro, pareceu-me ser uma dádiva da Providência. A princípio ainda pensei que Lloyd tivesse amigos. Mas, embora tardasse a averiguá-lo, fui obrigada a chegar à conclusão de que Lloyd não tinha um só amigo. Por isso lhe rogo que me diga toda a verdade. Donde vieram estes quatro mil dólares. São uma oferta de Ronald Miller?
— Não. Muitos pensam o mesmo, mas Miller não deu um centavo. Um rapaz um pouco louco, trabalhou dois anos nas minas do Arizona, até reunir estes quatro mil dólares. Brod Nolan.
— Brod Nolan! Impossível! Não pode ser!
— Possivelmente, vai zangar-se comigo quando souber que o denunciei. Mas, posso demonstrar-lhe, Evelyn, que cada dólar desses quatro mil, foi Brod que lhos deu.
— Mas... porque fez ele... isto?
— Deixe-me contar-lhe como é Brod Nolan. Tinha catorze anos quando os seus pais morreram num acidente dos caminhos de ferro. Elmer Nolan recolheu os dois irmãos. Elmer era um solteirão puritano, incapaz de entender um jovem de espírito irrequieto. Reconheceu logo que Brod não era um amigo. Depois cometeu o erro de tentar domá-lo com o chicote. Muitas vezes, Brod passava dias sem poder sentar-se das sovas que o tio lhe dava. Por isso se tornou rebelde.
E quando Brod matou Leblanc, impôs a si mesmo uma sentença — dois anos de duro trabalho. Se eu fosse um pregador, um homem de espírito e não um banqueiro materialista, diria que Brod Nolan inverteu esses quatro mil dólares em seu próprio castigo, para demonstrar a si mesmo o seu arrependimento.
— Alguém mais sabe que ele...
— Só você e eu. Ninguém mais, Evelyn. É uma lástima que as coisas se tornassem tensas entre Brod e seu irmão Hart. Esteve na cidade o granjeiro Kent Flores, dizendo que ontem, em Buffalo Creek, Hart e Brod estiveram a lutar. Ao despedir-se Hart ameaçou matar o irmão. Hart é muito obstinado. Talvez se Evelyn lhe falasse...
— Tentarei... tentarei, senhor Gorvin.
— Quem me dera ter uma filha como você, Evelyn. Enfim, desejo de todo o coração que você consiga que Hart... se humanize mais, e não veja no irmão um pecador sem remissão.
No longo e inóspito caminho até ao rancho de Hart, o cérebro de Evelyn era um fervedoiro de ideias confusas. O romantismo ainda não se tinha extinguido no seu coração, apesar da dolorosa experiência do seu breve matrimónio. E agora, Brod Nolan, que sempre havia considerado um aventureiro que se ria de todas as pessoas decentes, demonstrava não ser só um homem capaz de uma generosidade sublime, como também suportar reprimendas de quem, como ela, lhe devia a propriedade do rancho hipotecado até aos alicerces por Lloyd Leblanc.
Encontrou Hart Nolan no primeiro barracão. Quando viu as marcas da luta no rosto tumefacto, Evelyn tentou dissimular a sua admiração.
— Olá, Evelyn.
A jovem abordou diretamente a questão:
— Como pensa resolver o seu assunto com Brod?
— Não penso resolver porque já está resolvido, Acabei com ele. Por mim, Miller pode acabar com ele a tiros, se essa for a única solução.
— Ontem disse que o mataria...
— Dizem-se muitas coisas quando se está furioso, Brod conhece-me o suficiente para saber que eu... que eu não o matarei. Mas prefiro não o ver mais à minha frente. E oiça, Evelyn, você sempre me mereceu grande consideração, mas, porque se interessa tanto por esta questão?
— Porque só hoje conheci o verdadeiro Brod Nolan. — E a jovem contou o que Gorvin lhe revelara.
Passando os dedos pelo espesso cabelo, Hart murmurou:
— Não posso acreditar... Brod... dois anos seguidos... a trabalhar nas minas...
— Quer vir ao Banco comigo?
— Não.
— Não quer então acreditar em mim? Ele trabalhou dois anos seguidos como um forçado e agora que regressou só tem obtido ameaças e avisos para que se vá embora.
— Eu sempre pensei que era Miller que lhe proporcionava o dinheiro que lhe permitiu levantar a hipoteca e restaurar o rancho. Nunca me passou pela cabeça que Brod... É incrível.
— Se Brod fosse meu irmão, eu estaria muito orgulhosa dele.
Hart tardou a responder.
— Sinto-me satisfeito por Brod me ter dado uma sova mestra. Foi bem merecida, principalmente pelo caso de Sol Green. Um bom negro que sempre defendeu Brod. Quando o meu irmão se foi embora depois do julgamento, Green não se cansava de dizer-me que o fosse buscar, que era o menos que eu podia fazer. Eu não o quis ouvir. Mas ele era teimoso e tanto me apoquentou que o coloquei na lista negra... Depois de tudo o que Green fez por mim...
— Creio que Brod precisa de alguém que demonstre ter fé nele.
— Sim, precisa. Fui demasiado duro com o rapaz. Vou vê-lo. Não será, difícil fazer as pazes, porque ele sempre gostou de mim. No fundo... eu também gosto dele, claro. Obrigado por ter vindo contar-me a situação... Obrigado pela sua visita, Evelyn. A nossa conversa fez-me muito bem.
— No fundo — sorriu ela gentilmente —, vocês não são muito diferentes um do outro. Teimosos, mas bons. Até breve, Hart.
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