Brod Nolan deitou na cafeteira o resto do café e atirou outro pedaço de lenha ao fogo.
Doía-lhe o corpo todo e tinha os nós dos dedos esfolados. Reclinou a cabeça num tronco e fechou os olhos.
Ao longe ouviu um coiote. A noite parecia calma, silenciosa, mas tinha a sensação de ser espiado. Levantou-se de súbito e foi esconder-se entre as árvores. Um cavalo tinha relinchado no desfiladeiro. Um cavaleiro aproximava-se do fogo...
— Não te ocultes — disse uma voz feminina. — Sei que estás aqui.
Era Carla. Desmontava, quando Brod apareceu a seu lado.
— Que demónio fazes tu aqui, rapariga?
Os dedos suaves da rapariga apertaram a barba rala que cobria as faces de Brod, obrigando-o a voltar o rosto para o fogo.
—Estás encantador. Mas Hart ainda está pior. Eu ainda tentei detê-lo esta manhã, mas não pude.
A rapariga aquecia as mãos no fogo. As chamas avivavam mais o dourado do seu cabelo e aumentavam a beleza sensual dos seus lábios grossos. Incomodado, Brod disse:
— Suponho que foi Hart que te enviou.
—Ele não sabe que eu vim. Julga que eu fui à cidade passar a noite com o meu pai.
—Um momento, rapariga. És já uma mulher casada e não fica bem mentires a teu marido. Ele, mais tarde ou mais cedo, virá a saber.
— Não me importo nada com isso. Ele sabe do nosso... Por isso veio tão furioso... por minha causa.
— Não lutámos por ti, nem nada que se pareça. Mete bem nessa tua cabeça que, desde que casaste com Hart, não significas nada para mim.
— A sério?
— Uma coisa é eu lutar com Hart por ele querer fazer de mim um palhaço, e outra... Bom, vai-te embora.
— Antes não eras tão puritano, Brod.
— Agora, sou. E... e tenho medo de ti. Agora vai-te embora.
— Só irei quando responderes a uma pergunta: porque não me escreveste do Arizona? Eu teria esperando por ti.
— Tivemos a nossa oportunidade, mas, agora, tudo passou. Já não tem remédio.
— Então porque voltaste?
Brod calou-se e ela mesmo respondeu à sua pergunta:
— Voltaste por mim. Como vês... não me resta orgulho. Depois que tu te foste embora, pensei que nunca mais regressarias. Casei com Hart..., mas sempre te amei.
— Vejo que na realidade não te resta muito orgulho. O teu lugar é junto de meu irmão. Vai-te embora.
— Não podes obrigar-me a partir.
— Não — e pegou-lhe rudemente por um braço. — Vem, monta imediatamente e segue para casa.
Obrigou-a a voltar-se, mas ela encostou-se a ele e ergueu o rosto. Brod sentiu a turgência do corpo feminino, aspirou o aroma do cabelo e perdeu o domínio dos seus mais primitivos instintos. Os lábios dela, entreabertos, aprisionaram os seus. O longo abraço prolongou-se até que ela afastou o rosto e sussurrou:
— E agora, ainda queres que eu me vá?
Sem poder respirar, confuso, ele retrocedeu. Uma voz chamou:
— Brod Nolan. És tu?
Na semiobscuridade da noite, viu um cavaleiro solitário conduzindo uma manada de vitelas. Sol Green. O negro lançou o grito dos vaqueiros texanos. Onze vacas Hereford corriam pelo prado. Nolan riu. O seu prado, o seu gado...
— Temos companhia — murmurou Carla, contrariada.
— Sol não dirá nada. Aprecia demasiado o teu marido — e segurando-lhe o braço encaminhou-a na direção do seu cavalo. — Não tornes a voltar aqui, Carla. Já tenho bastantes complicações sem ti.
Sorrindo, Carla montou o animal, afagando em seguida o rosto barbudo de Nolan.
— Sempre tão rude, Brod. Até breve.
Ele viu-a desaparecer no desfiladeiro. Depois foi ajudar Green a reunir as reses junto ao arroio. Green apertou-lhe ambas as mãos entusiasticamente e contou-lhe os resultados da sua viagem.
— Só o touro custou cerca de duzentos dólares.
— São uns exemplares estupendos. Não existe ninguém como tu para escolher e regatear, dando o justo valor por uma boa carne, Sol.
Junto ao fogo, enquanto bebia um púcaro de café, Brod contou a sua luta com Hart. Green disse:
— O que me preocupa não são Hart e Miller. Mas... esta mulher...
Sorrindo-se, Brod murmurou:
— Palavra que quando a encontrei nos meus braços, não soube o que fazer. E quando senti o calor dos seus lábios... perdi a cabeça. Não voltará a suceder o mesmo, garanto-te.
— Pode ser que ela não pense da mesma maneira. A minha velha mãe costumava dizer que havia duas espécies de perigos: o perigo propriamente dito e o perigo feminino, que é o mais perigoso de todos — riu. Depois continuou: — Se Hart sabe que a sua mulher veio aqui... — interrompeu-se para logo acrescentar em voz baixa: — Brod, não olhes para cima. Há alguém a espiar-nos...
— Talvez seja ela.
—Não é mulher. Vi o seu chapéu. Continua a conversar — e em voz alta: — Vou amarrar o touro. É preciso cuidado com ele, porque é matreiro.
Green desapareceu por entre as árvores. Brod começou a cozinhar, sem olhar para cima. Angustiado, pensava se Hart teria seguido Carla. Levantou-se para acrescentar outro tronco ao fogo. E um revólver crepitou no cimo do monte. Viu o clarão produzido pela detonação e em seguida, quase simultaneamente, ouviu um grito.
Correndo como um louco, atravessou o ribeiro e subiu o monte, em cuja crista, enfundando o revólver, se encontrava Sol Green.
—Deve ter ouvido os meus passos e fugiu com a cauda entre as pernas — disse Sol.
— Era... era Hart?
— Não. Era um anão e por sinal muito rápido. Fugiu como um diabinho.
— O diabinho, era Jones. Já devia ter pensado nisso. E... viu-me com Carla.
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