Atravessavam um território perigoso, no qual podiam ser atacados a qualquer momento pelos índios. Contudo, o próprio terreno lhes oferecia uma vantagem: a sua amplidão. Não poderiam ser atacados de surpresa, e isso tranquilizava-os em parte.
Uma hora mais tarde, a caravana fechou o círculo formou uma defesa quase perfeita. No centro começou a arder uma fogueira.
Estavam a cear quando o juiz levantou uma questão que ninguém esperava. Até mesmo a si, que era homem dotado de facilidade de palavra, se tornava difícil expor a situação.
— Tenho de falar-lhe de uma coisa... que será uma surpresa para todos, suponho — começou a dizer.
Todos o olharam, mas ninguém fez qualquer pergunta. Continuou:
— Trata-se de um homem em que confio e em cuja inocência creio. Conheço o seu caso e sei que procede em defesa da justiça, vingando a morte de seus pais. Quer dizer que eu fico por ele...
— E que mais? — interrompeu-o Ivan, sorrindo através da barba negra que lhe cobria o rosto. — Já estamos muito longe do Este e para nada nos serve um homem que ficou lá.
— Não ficou lá — disse simplesmente o juiz.
— O quê? — perguntou Patrick, levantando a cabeça.
— Quero dizer que não ficou nem está onde julgam.
— Então, está aqui? É isto que queres dizer, não?
— Sim.
— Onde?
— No meu carro.
— Quem é? — perguntou o velho Gregory.
«Cospe-Chumbo» Benton não precisou de responder. Fê-lo uma voz por ele:
— Eu. Chamo-me Louis Bardon.
Todos se voltaram, surpreendidos. Ninguém reparou na inquietação que se estampou nos olhos de Mary. O homem que falara desceu do carro do juiz e aproximou-se da fogueira. Nesse momento, as chamas iluminaram-lhe o rosto, que ficou perfeitamente visível. O primeiro a reconhecê-lo foi Patrick.
— Você não é o que...? — começou a dizer, mas não acabou a frase.
— Pode acabar. O que matou o xerife de St. James. E tinha um motivo poderoso para isso.
— Qual?
— Ele assassinou, há alguns anos, meus pais. Na realidade, procurei-o e matei-o por ter assassinado minha mãe.
— O seu pai não lhe interessa? — perguntou Catalina Ilivitch.
— Não era meu pai... Quando Jou chegou ao nosso rancho, meu pai morrera havia cinco anos e minha mãe casara-se pela segunda vez, com o que passou a ser meu padrasto. Tiveram um filho, Paul, que não estava em casa na noite do crime. Nunca mais tornei a vê-lo, e desde aquele dia vinte de Fevereiro que me dediquei a procurar os assassinos. Não parei enquanto não os abati.
— Ou seja, até fazeres justiça — disse o juiz Benton. — Limitaste-te a aplicar a lei de olho por olho, dente por dente.
— Cumpri o que julguei ser o meu dever.
— Não o feriram quando fugiu?
— Sim, e estive todo o dia num valado, até que noite pude esconder-me no carro de...
— No meu — interrompeu-o o juiz outra vez. — como éramos amigos e eu conhecia o seu caso, ajudei-o. Esteve sete dias a convalescer, e esperámos que o forte ficasse para trás, a fim de permitir-lhe que definitivamente escapasse do braço da Justiça. Matar um xerife é sempre perigoso...
— Que pensas fazer, Bardon? — perguntou-lhe Patrick.
— Começar e continuar uma nova vida, numa terra a meu gosto — replicou, fitando Mary, que ao ouvir aquelas palavras suspirou satisfeita.
Patrick ficou silencioso, a olhar para o vaqueiro. Observou o seu rosto, os seus «Colts», a agilidade que parecia possuir o seu corpo...
Bebeu o resto do café que tinha na chávena e levantou-se para deitar mais. Depois, voltou para o seu lugar.
— Por mim — disse simplesmente — pode ficar.
— E por mim — acrescentou o juiz.
— E por mim — murmurou Mary.
Os demais assentiram com a cabeça.
— Huston? — perguntou Patrick.
— Que faça o que quiser.
— Ivan Ilivitch?
— Que fique. Lutou para vingar os seus e merece uma oportunidade.
— Stefan?
— Mary já respondeu por mim.
— Gregory?... Claudine?
— Um homem mais, interessa-nos sempre.
— Pois bem, amigo, ouviu a opinião da caravana. Fique e instale-se onde puder.
— Continuará no meu carro.
— Obrigado — murmurou Louis.
— Uma chávena de café? — perguntou-lhe Mary, com carinho.
Bardou assentiu, sorrindo. Começava a ser feliz.
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