— Tenho más noticias — murmurou o coronel Morgan.
Sobre a sua mesa de trabalho, encontrava-se um despacho recém-chegado de Washington. Sam franziu as sobrancelhas.
— Que diz esse papel?
— Que vão enviar, expressamente, um agente do Comissário para os assuntos dos índios.
— Um agente?
— Sim... Preferem mandar apenas um homem, até que tenham notícias mais concretas sobre o sucedido... Não tenho a menor dúvida que, a ser verdade isso do ouro, obrigarão os «cherokees» a irem para outra Reserva.
— Não é justo — protestou Johnny.
— Eu não dou ordens, filho — retorquiu o militar. —Limito-me a fazer cumprir as que recebo e, neste momento, estou amarrado de pés e mãos... Pelo menos, até à chegada desse agente.
Sam, de súbito, pareceu tomar uma resolução.
— Falarei com o Presidente, se for necessário. Vou partir, imediatamente para Washington. Há que evitar esta guerra, custe o que custar, e um enviado do Comissário não resolverá nada conforme estão as coisas.
— Estou de acordo contigo, Sam, e oxalá tenhas sorte.
Naquela mesma tarde, Samuel Erikman montou a cavalo e iniciou a sua longa viagem para Washington.
Entretanto, correra célebre a notícia da chegada do agente e uma comissão de moradores do povoado acudira a perguntar a Morgan que medidas havia tomado. O coronel viu-se na obrigação de lhes dizer toda a verdade e uma enorme excitação tomou conta de todas as pessoas.
Nos arredores da cidade, um tipo chamado Perkins, alto, magro e de olhar frio, chegou às traseiras da taberna de Brown. A porta estava fechada, mas ele abriu-a com uma chave. O barulho que fez ao entrar, e que o homem não procurou dissimular, atraiu uma das empregadas.
— Quem é você? Considere-me o novo proprietário — respondeu o recém-chegado. — Brown morreu e eu vou continuar o seu negócio. Hoje, isto voltará a abrir.
Haviam decorrido dois dias desde a explosão na cabana e os Erikman tinham posto a circular o que acontecera, não iludindo, tão-pouco, a horrorosa morte de Brown. E, agora, apresentava-se aquele tipo, com um papel assinado pelo próprio taberneiro e que lhe conferia todos os direitos sobre o negócio.
Perkins, todavia, não vinha sozinho. Acompanhavam-no Larry Stonner e Farrell.
— Podes retirar-te — disse o estranho sujeito à empregada.
Ao ficar só, avisou os outros que poderiam entrar. Aquele era um lugar desértico, sobretudo com a taberna fechada, e os dois foragidos movimentaram-se com um certo à vontade.
Larry e Farrell haviam conhecido Perkins tempo atrás, pois o magro indivíduo fora o elo de ligação entre «Cabeça de Alce e os dois «cherokees» que haviam sido elementos do seu bando e que se encontravam, ao presente, no acampamento de «Grande Trovão», como agitadores.
O novo proprietário da taberna parecia estar muito bem informado sobre o que acontecia no povoado, conhecendo, perfeitamente, tanto as notícias sobre a chegada do agente de Washington como as que diziam respeito partida de Samuel Erikman, na sua tentativa de encontrar uma rápida solução para o conflito.
Quando os três homens se reuniram, Perkins explicou a sua posição no assunto.
— A partir deste momento, eu continuarei a prestar a minha colaboração e serei como o próprio Brown. Podem contar comigo para o que for necessário. Algum inconveniente? — Como nenhum dos dois facínoras tivesse falado, Perkins continuou: — Proporcionar-lhes-ei a ajuda conveniente. Agora, vamos aos factos: esse agente, ou lá o que é, terá de desaparecer. Fiz-me compreendido?
— Matar um agente do Governo? — perguntou Larry, quase a medo.
— Por que não? O importante é que todos venham a pensar que o fizeram os «cherokees». Se assim acontecer, nada deterá a guerra.
— Mas, se Samuel Erikman falar em Washington...
— Proponho-me fazer com que Erikman não chegue à capital federal — sorriu Perkins. E ajuntou, perante o olhar de incredulidade que os dois facínoras trocaram: Neste momento, dois tipos, muito hábeis com as armas, saíram já ao seu encontro. Espero que o liquidem antes de atravessar o estado de Carolina... Então, teremos o assunto resolvido.
— Você parece muito seguro, eh?
— Quero terminar, de vez, com esta questão, Farrel. O mesmo exército que parece estar agora do lado dos «cherokees», virar-se-á contra esses malditos quando julgar que eles mataram o agente do Governo... Deixem-me atuar. Eu sei como resolver isto.
A absoluta segurança de Perkins fez-se manifesta naquela mesma noite, quando se voltaram a abrir as pôr-tas da taberna, e uma multidão desejosa de comentar os últimos acontecimentos abarrotou o local.
Quando maior animação reinava no estabelecimento, Perkins tomou a palavra e, depois de uma sumária apresentação da sua pessoa, informou:
— Ainda que muitos de vocês não me conheçam, eu sei bastante de Chattahoochee... E também estou ao corrente do que se passa. Não estou aqui pelo ouro, como a maioria, mas compreendo o vosso afã. Basta-me que vocês enriqueçam, pois sei que, se assim acontecer, terei melhores clientes... Aquelas palavras foram acolhidas com alguns sorrisos.
Perkins parecia ser dos que falavam claro. Tanto o seu tom de voz como as suas maneiras eram as de um bom orador que sabia conduzir as massas. Prosseguiu:
— Não sou ambicioso, mas tão-pouco desprezo o dinheiro. A todos nos agrada ganhar um honesto dólar... Bem, mas não era sobre isso que eu queria falar-lhes, mas sim sobre os «cherokees».
Os ouvidos aguçaram-se. Aquele tipo parecia ter algo, importante para dizer e nenhum dos presentes queria sair dali mal informado. Perkins continuou a sua oratória:
— Eu desejaria que este assunto terminasse depressa, que todos vocês pudessem comprar terras para explorar e conseguir, assim, umas boas pepitas de ouro. Mas creio, sinceramente, que não vale a pena precipitar as coisas. O ouro não sairá daqui e convém esperar pela chegada do agente do Governo.
Ouviram-se vários comentários, não todos coincidentes; as opiniões estavam muito divididas. Todavia, Perkins continuou:
— Claro que não interessará muito aos «cherokees» a vinda desse agente, mas, a nós, interessa-nos, sobremaneira. Temos o dever de fazer respeitar os nossos direitos. Somos cidadãos americanos e, se encontrarmos ouro, nada nem ninguém poderá impedir que o recolhamos. Os índios que vão para outro lado, pois a América é muito grande.
Apesar de toda aquela oratória, Perkins não dera ainda o seu discurso por concluído:
— Dizem que os «cherokees», como os «chickasaw», os «choctaw» e os «kreek» souberam adaptar-se aos nossos costumes e chamam-lhes, agora, tribos civilizadas; mas eu sou de opinião que são tão selvagens como os seus antepassados que lutaram ao lado dos ingleses contra nós, quando nos quisemos tornar independentes...
Desta vez, os comentários foram de aprovação geral. Perkins, sabendo que já tinha todos na mão, ajuntou:
— Temos motivos de sobra para os expulsar de uma maldita vez, mas há que atuar com prudência. Se formos nós os primeiros a atacar, não faltará quem nos acuse de selvagens e incompreensivos... Deixemos que sejam eles a tomar a iniciativa, e que o agente do Governo veja, com os seus próprios olhos, quais são as suas intenções... —Fez uma pausa, para terminar: — Talvez, então, comprove que a sua pretensa tranquilidade é tão-só uma máscara para encobrir os seus propósitos, pois tenho a certeza absoluta de que, nestes momentos, «Cabeça de Alce» prepara uma grande reunião com as tribos irmãs. Não tardará que os «chickasaw», os «choctaw» e os «kreek» se juntem a eles...
Com aquele arrazoado, Perkins lançara à terra a semente da rebelião, fingindo adiá-la até à chegada do agente do Governo, para culminar os seus planos com o seu assassínio. E aquela seria a gota que trasbordaria a taça.
Decididamente, Perkins sabia levar a água ao seu moinho.
No dia seguinte, e no prosseguimento da sua acção agitadora, o oportunista fez corpo presente na reunião que «Cabeça de Alce» marcara com os guerreiros que lhe continuavam fiéis.
— Eu, no teu lugar, não esperaria o consentimento de «Grande Trovão» para atuar. Convocaria o grande chefe Chocktown, ««Búfalo Amarelo», todos os guerreiros... Dir-lhes-ia que já era tempo de recuperar o que lhes pertence. Sabes que eu estou do teu lado e que te facilitarei as carabinas que forem necessárias.
«Cabeça de Alce» sorriu.
— Sim. Talvez tenhas razão... Convocarei essa reunião.
Em torno de uma enorme fogueira, continuava a dança guerreira. A pólvora estava a ponto de explodir.
Sobre a sua mesa de trabalho, encontrava-se um despacho recém-chegado de Washington. Sam franziu as sobrancelhas.
— Que diz esse papel?
— Que vão enviar, expressamente, um agente do Comissário para os assuntos dos índios.
— Um agente?
— Sim... Preferem mandar apenas um homem, até que tenham notícias mais concretas sobre o sucedido... Não tenho a menor dúvida que, a ser verdade isso do ouro, obrigarão os «cherokees» a irem para outra Reserva.
— Não é justo — protestou Johnny.
— Eu não dou ordens, filho — retorquiu o militar. —Limito-me a fazer cumprir as que recebo e, neste momento, estou amarrado de pés e mãos... Pelo menos, até à chegada desse agente.
Sam, de súbito, pareceu tomar uma resolução.
— Falarei com o Presidente, se for necessário. Vou partir, imediatamente para Washington. Há que evitar esta guerra, custe o que custar, e um enviado do Comissário não resolverá nada conforme estão as coisas.
— Estou de acordo contigo, Sam, e oxalá tenhas sorte.
Naquela mesma tarde, Samuel Erikman montou a cavalo e iniciou a sua longa viagem para Washington.
Entretanto, correra célebre a notícia da chegada do agente e uma comissão de moradores do povoado acudira a perguntar a Morgan que medidas havia tomado. O coronel viu-se na obrigação de lhes dizer toda a verdade e uma enorme excitação tomou conta de todas as pessoas.
Nos arredores da cidade, um tipo chamado Perkins, alto, magro e de olhar frio, chegou às traseiras da taberna de Brown. A porta estava fechada, mas ele abriu-a com uma chave. O barulho que fez ao entrar, e que o homem não procurou dissimular, atraiu uma das empregadas.
— Quem é você? Considere-me o novo proprietário — respondeu o recém-chegado. — Brown morreu e eu vou continuar o seu negócio. Hoje, isto voltará a abrir.
Haviam decorrido dois dias desde a explosão na cabana e os Erikman tinham posto a circular o que acontecera, não iludindo, tão-pouco, a horrorosa morte de Brown. E, agora, apresentava-se aquele tipo, com um papel assinado pelo próprio taberneiro e que lhe conferia todos os direitos sobre o negócio.
Perkins, todavia, não vinha sozinho. Acompanhavam-no Larry Stonner e Farrell.
— Podes retirar-te — disse o estranho sujeito à empregada.
Ao ficar só, avisou os outros que poderiam entrar. Aquele era um lugar desértico, sobretudo com a taberna fechada, e os dois foragidos movimentaram-se com um certo à vontade.
Larry e Farrell haviam conhecido Perkins tempo atrás, pois o magro indivíduo fora o elo de ligação entre «Cabeça de Alce e os dois «cherokees» que haviam sido elementos do seu bando e que se encontravam, ao presente, no acampamento de «Grande Trovão», como agitadores.
O novo proprietário da taberna parecia estar muito bem informado sobre o que acontecia no povoado, conhecendo, perfeitamente, tanto as notícias sobre a chegada do agente de Washington como as que diziam respeito partida de Samuel Erikman, na sua tentativa de encontrar uma rápida solução para o conflito.
Quando os três homens se reuniram, Perkins explicou a sua posição no assunto.
— A partir deste momento, eu continuarei a prestar a minha colaboração e serei como o próprio Brown. Podem contar comigo para o que for necessário. Algum inconveniente? — Como nenhum dos dois facínoras tivesse falado, Perkins continuou: — Proporcionar-lhes-ei a ajuda conveniente. Agora, vamos aos factos: esse agente, ou lá o que é, terá de desaparecer. Fiz-me compreendido?
— Matar um agente do Governo? — perguntou Larry, quase a medo.
— Por que não? O importante é que todos venham a pensar que o fizeram os «cherokees». Se assim acontecer, nada deterá a guerra.
— Mas, se Samuel Erikman falar em Washington...
— Proponho-me fazer com que Erikman não chegue à capital federal — sorriu Perkins. E ajuntou, perante o olhar de incredulidade que os dois facínoras trocaram: Neste momento, dois tipos, muito hábeis com as armas, saíram já ao seu encontro. Espero que o liquidem antes de atravessar o estado de Carolina... Então, teremos o assunto resolvido.
— Você parece muito seguro, eh?
— Quero terminar, de vez, com esta questão, Farrel. O mesmo exército que parece estar agora do lado dos «cherokees», virar-se-á contra esses malditos quando julgar que eles mataram o agente do Governo... Deixem-me atuar. Eu sei como resolver isto.
A absoluta segurança de Perkins fez-se manifesta naquela mesma noite, quando se voltaram a abrir as pôr-tas da taberna, e uma multidão desejosa de comentar os últimos acontecimentos abarrotou o local.
Quando maior animação reinava no estabelecimento, Perkins tomou a palavra e, depois de uma sumária apresentação da sua pessoa, informou:
— Ainda que muitos de vocês não me conheçam, eu sei bastante de Chattahoochee... E também estou ao corrente do que se passa. Não estou aqui pelo ouro, como a maioria, mas compreendo o vosso afã. Basta-me que vocês enriqueçam, pois sei que, se assim acontecer, terei melhores clientes... Aquelas palavras foram acolhidas com alguns sorrisos.
Perkins parecia ser dos que falavam claro. Tanto o seu tom de voz como as suas maneiras eram as de um bom orador que sabia conduzir as massas. Prosseguiu:
— Não sou ambicioso, mas tão-pouco desprezo o dinheiro. A todos nos agrada ganhar um honesto dólar... Bem, mas não era sobre isso que eu queria falar-lhes, mas sim sobre os «cherokees».
Os ouvidos aguçaram-se. Aquele tipo parecia ter algo, importante para dizer e nenhum dos presentes queria sair dali mal informado. Perkins continuou a sua oratória:
— Eu desejaria que este assunto terminasse depressa, que todos vocês pudessem comprar terras para explorar e conseguir, assim, umas boas pepitas de ouro. Mas creio, sinceramente, que não vale a pena precipitar as coisas. O ouro não sairá daqui e convém esperar pela chegada do agente do Governo.
Ouviram-se vários comentários, não todos coincidentes; as opiniões estavam muito divididas. Todavia, Perkins continuou:
— Claro que não interessará muito aos «cherokees» a vinda desse agente, mas, a nós, interessa-nos, sobremaneira. Temos o dever de fazer respeitar os nossos direitos. Somos cidadãos americanos e, se encontrarmos ouro, nada nem ninguém poderá impedir que o recolhamos. Os índios que vão para outro lado, pois a América é muito grande.
Apesar de toda aquela oratória, Perkins não dera ainda o seu discurso por concluído:
— Dizem que os «cherokees», como os «chickasaw», os «choctaw» e os «kreek» souberam adaptar-se aos nossos costumes e chamam-lhes, agora, tribos civilizadas; mas eu sou de opinião que são tão selvagens como os seus antepassados que lutaram ao lado dos ingleses contra nós, quando nos quisemos tornar independentes...
Desta vez, os comentários foram de aprovação geral. Perkins, sabendo que já tinha todos na mão, ajuntou:
— Temos motivos de sobra para os expulsar de uma maldita vez, mas há que atuar com prudência. Se formos nós os primeiros a atacar, não faltará quem nos acuse de selvagens e incompreensivos... Deixemos que sejam eles a tomar a iniciativa, e que o agente do Governo veja, com os seus próprios olhos, quais são as suas intenções... —Fez uma pausa, para terminar: — Talvez, então, comprove que a sua pretensa tranquilidade é tão-só uma máscara para encobrir os seus propósitos, pois tenho a certeza absoluta de que, nestes momentos, «Cabeça de Alce» prepara uma grande reunião com as tribos irmãs. Não tardará que os «chickasaw», os «choctaw» e os «kreek» se juntem a eles...
Com aquele arrazoado, Perkins lançara à terra a semente da rebelião, fingindo adiá-la até à chegada do agente do Governo, para culminar os seus planos com o seu assassínio. E aquela seria a gota que trasbordaria a taça.
Decididamente, Perkins sabia levar a água ao seu moinho.
No dia seguinte, e no prosseguimento da sua acção agitadora, o oportunista fez corpo presente na reunião que «Cabeça de Alce» marcara com os guerreiros que lhe continuavam fiéis.
— Eu, no teu lugar, não esperaria o consentimento de «Grande Trovão» para atuar. Convocaria o grande chefe Chocktown, ««Búfalo Amarelo», todos os guerreiros... Dir-lhes-ia que já era tempo de recuperar o que lhes pertence. Sabes que eu estou do teu lado e que te facilitarei as carabinas que forem necessárias.
«Cabeça de Alce» sorriu.
— Sim. Talvez tenhas razão... Convocarei essa reunião.
Em torno de uma enorme fogueira, continuava a dança guerreira. A pólvora estava a ponto de explodir.
*
Samuel Erikman aproximava-se do lugar fatídico, do sítio onde Perkins preparara a emboscada. Os dois homens que a deveriam levar a cabo tinham previsto tudo de modo a não falharem. Dessa feita, não usariam carabinas, mas sim dinamite. Com cartuchos facilitados pelo próprio Perkins haviam minado a ponte, pela qual Sam deveria passar, pois era o caminho mais rápido para ligar as montanhas que serviam de fronteira a dois Estados.
Dada a fragilidade da ponte, suspensa sobre um precipício de cerca de duzentos metros, as caravanas tinham necessidade de fazer um largo rodeio, mas, para quem seguisse a cavalo, era aquele o caminho mais curto, apesar de a prudência aconselhar que a travessia fosse feita muito lentamente e a pé.
O peso dos homens e dos cavalos fazia bambolear as madeiras e ranger as cordas que as sustentavam. Seria ali que, segundo os planos de Perkins, Samuel Erikman iria encontrar a morte. Nada nem ninguém poderia salvar o caçador. E Sam terminava já a última milha que o conduziria a um inexorável fim.
Entretanto, Johnny optara por dirigir-se ao povoado «cherokee» e a aguardar, aí, a chegada do agente do Governo ou a do seu próprio pai. Falando com Nirva, a jovem confessou-lhe os seus temores.
— Tenho medo, Johnny.
— Tudo se resolverá em bem — sossegou-a ele, sem demasiada convicção. — Pude ouvir o que disseram no conselho e sei que muitos são partidários de empunhar as armas; poucos são os que aceitam deixar a Reserva se o Governo assim decidir.
Ele acariciou-a. Naqueles momentos dramáticos, em que a sorte de muitas vidas dependia da rapidez de reflexos de um homem que ia atravessar uma ponte dinamitada, ou da sagacidade de um agente, já de antemão condenado à morte, ele, Johnny, sentia-se mais atraído que nunca para a bela Nirva.
— Oxalá isto acabasse em breve. Casaria contigo, sabes? E os dois iniciaríamos uma viagem muito longa, por sítios encantadores que eu conheço, Nirva.
Espontaneamente, uniram as bocas num demorado beijo. Naquele instante, Johnny estava bem longe de pensar no enorme perigo que espreitava o pai.
Sam entrara já na ponte suspensa. Levava o cavalo pelas rédeas e caminhava cautelosamente, com passo seguro. No outro extremo, um dos tipos apontava-lhe a carabina, na previsão de qualquer falhanço que não parecia possível, enquanto o outro deitara já fogo à mecha, vendo a chama correr por sob a madeira, em busca dos cartuchos que não tardariam a explodir. Os segundos sucediam-se velozes, no meio daquela aparente tranquilidade do desfiladeiro. Quanto faltaria à chama para alcançar os cartuchos? Cinco metros, talvez menos... Ia rebentar em breves segundos. Muito breves. A chama chegava já aos cartuchos. Um segundo... Meio... A explosão!
O ensurdecedor barulho retumbou por todo o desfiladeiro. A ponte ficou partida em duas metades e uma delas, em consequência do extraordinário calor da explosão, começou a arder. O cavalo de Sam, com um relincho de terror, precipitou-se no abismo. A acção estava consumada... Mas, estaria mesmo?
Nenhum dos dois homens que tinham provocado a explosão conseguiu ver o que sucedera realmente.
No meio daquele impressionante silêncio das montanhas, quando já a mecha consumia as suas últimas jardas, Sam, com o seu apurado ouvido, escutou um estranho zumbido. O correr do fogo! E essa impressão ratificou-a o seu sensível olfato ao perceber o ténue cheiro a pólvora queimada. Então, como se um sexto sentido lhe houvesse aberto os olhos à realidade, olhou para baixo e viu o fogo que corria em busca do seu alvo.
No lugar onde se encontrava, a cerca de metade da ponte, sabia que lhe era impossível retroceder, de modo a conseguir alcançar terreno seguro. Apenas lhe ocorreu uma solução. Deixou o cavalo e ele recuou uns metros, os que julgou suficientes para não ser apanhado pela explosão.
Depois, com a agilidade que o caracterizava, deixou-se cair para a corda inferior, a que sujeitava as tábuas da ponte. Foi nesse preciso instante que se produziu a explosão, mas Sam encontrava-se suficientemente afastado para que o fogo não o atingisse. A única dificuldade consistia em saber manter o equilíbrio quando a ponte se quebrasse ao meio.
Agarrou-se com força e, quando sobreveio a explosão, sentiu-se suspenso no ar. O seu corpo rasgou o vazio e, com as pernas dobradas, amorteceu a pancada que foi obrigado a dar na parede rochosa. Ficou um tanto aturdido, mas conseguiu recompor-se, prontamente, e começou a trepar, agarrado à corda e servindo-se das saliências rochosas da parede.
Quando chegou ao cimo da escarpa, pôde ver, no lado oposto, dois homens afastarem-se a galope, e procurando, claramente, a rota das caravanas, para atravessarem o desfiladeiro. Sorriu, friamente. Mais hora menos hora, voltariam a encontrar-se...
Samuel Erikman aproximava-se do lugar fatídico, do sítio onde Perkins preparara a emboscada. Os dois homens que a deveriam levar a cabo tinham previsto tudo de modo a não falharem. Dessa feita, não usariam carabinas, mas sim dinamite. Com cartuchos facilitados pelo próprio Perkins haviam minado a ponte, pela qual Sam deveria passar, pois era o caminho mais rápido para ligar as montanhas que serviam de fronteira a dois Estados.
Dada a fragilidade da ponte, suspensa sobre um precipício de cerca de duzentos metros, as caravanas tinham necessidade de fazer um largo rodeio, mas, para quem seguisse a cavalo, era aquele o caminho mais curto, apesar de a prudência aconselhar que a travessia fosse feita muito lentamente e a pé.
O peso dos homens e dos cavalos fazia bambolear as madeiras e ranger as cordas que as sustentavam. Seria ali que, segundo os planos de Perkins, Samuel Erikman iria encontrar a morte. Nada nem ninguém poderia salvar o caçador. E Sam terminava já a última milha que o conduziria a um inexorável fim.
Entretanto, Johnny optara por dirigir-se ao povoado «cherokee» e a aguardar, aí, a chegada do agente do Governo ou a do seu próprio pai. Falando com Nirva, a jovem confessou-lhe os seus temores.
— Tenho medo, Johnny.
— Tudo se resolverá em bem — sossegou-a ele, sem demasiada convicção. — Pude ouvir o que disseram no conselho e sei que muitos são partidários de empunhar as armas; poucos são os que aceitam deixar a Reserva se o Governo assim decidir.
Ele acariciou-a. Naqueles momentos dramáticos, em que a sorte de muitas vidas dependia da rapidez de reflexos de um homem que ia atravessar uma ponte dinamitada, ou da sagacidade de um agente, já de antemão condenado à morte, ele, Johnny, sentia-se mais atraído que nunca para a bela Nirva.
— Oxalá isto acabasse em breve. Casaria contigo, sabes? E os dois iniciaríamos uma viagem muito longa, por sítios encantadores que eu conheço, Nirva.
Espontaneamente, uniram as bocas num demorado beijo. Naquele instante, Johnny estava bem longe de pensar no enorme perigo que espreitava o pai.
Sam entrara já na ponte suspensa. Levava o cavalo pelas rédeas e caminhava cautelosamente, com passo seguro. No outro extremo, um dos tipos apontava-lhe a carabina, na previsão de qualquer falhanço que não parecia possível, enquanto o outro deitara já fogo à mecha, vendo a chama correr por sob a madeira, em busca dos cartuchos que não tardariam a explodir. Os segundos sucediam-se velozes, no meio daquela aparente tranquilidade do desfiladeiro. Quanto faltaria à chama para alcançar os cartuchos? Cinco metros, talvez menos... Ia rebentar em breves segundos. Muito breves. A chama chegava já aos cartuchos. Um segundo... Meio... A explosão!
O ensurdecedor barulho retumbou por todo o desfiladeiro. A ponte ficou partida em duas metades e uma delas, em consequência do extraordinário calor da explosão, começou a arder. O cavalo de Sam, com um relincho de terror, precipitou-se no abismo. A acção estava consumada... Mas, estaria mesmo?
Nenhum dos dois homens que tinham provocado a explosão conseguiu ver o que sucedera realmente.
No meio daquele impressionante silêncio das montanhas, quando já a mecha consumia as suas últimas jardas, Sam, com o seu apurado ouvido, escutou um estranho zumbido. O correr do fogo! E essa impressão ratificou-a o seu sensível olfato ao perceber o ténue cheiro a pólvora queimada. Então, como se um sexto sentido lhe houvesse aberto os olhos à realidade, olhou para baixo e viu o fogo que corria em busca do seu alvo.
No lugar onde se encontrava, a cerca de metade da ponte, sabia que lhe era impossível retroceder, de modo a conseguir alcançar terreno seguro. Apenas lhe ocorreu uma solução. Deixou o cavalo e ele recuou uns metros, os que julgou suficientes para não ser apanhado pela explosão.
Depois, com a agilidade que o caracterizava, deixou-se cair para a corda inferior, a que sujeitava as tábuas da ponte. Foi nesse preciso instante que se produziu a explosão, mas Sam encontrava-se suficientemente afastado para que o fogo não o atingisse. A única dificuldade consistia em saber manter o equilíbrio quando a ponte se quebrasse ao meio.
Agarrou-se com força e, quando sobreveio a explosão, sentiu-se suspenso no ar. O seu corpo rasgou o vazio e, com as pernas dobradas, amorteceu a pancada que foi obrigado a dar na parede rochosa. Ficou um tanto aturdido, mas conseguiu recompor-se, prontamente, e começou a trepar, agarrado à corda e servindo-se das saliências rochosas da parede.
Quando chegou ao cimo da escarpa, pôde ver, no lado oposto, dois homens afastarem-se a galope, e procurando, claramente, a rota das caravanas, para atravessarem o desfiladeiro. Sorriu, friamente. Mais hora menos hora, voltariam a encontrar-se...
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