Pericot Bryan olhou desdenhosamente para o xerife. Era o olhar de um homem que se julgava superior.
— Liberman? Lembro-me perfeitamente. Um magnífico jogador, o melhor que passou por Oklahoma. Que há com ele?
— Um acontecimento que se deu há cinco anos. A morte de Nancy.
— Quem foi Nancy?
— Não pergunte, Pericot. Conhece-a bem, isto é, conheceu-a.
— Nancy? O nome é bonito.
— E Glondy? Agrada-lhe?
— Glondy?... — Pericot deu uma palmada na testa. — Homem, conheci uma rapariga com esse nome, que trabalhou no meu saloon.
— Agora está em San Ângelo. ~
— Mestiça, não? Bonita, mas muito arisca. Que faz aqui?
— É noiva de Buck. Casarão em breve.
— Tem sorte, esse Buck. Não sei como conseguiu domá-la.
— Falemos de Nancy. Frequentava o seu saloon...
— Talvez. Passaram muitas por lá.
— Esta era diferente. Tinha relações com você... talvez relações comerciais...
— Não, isso não. Eu trabalho sozinho, nunca admito sócios, nos negócios que faço.
— Recorda-se de Nancy, ou não?
— Não.
— Está a mentir. Nancy testemunhou a favor de você e de Liberman, no caso da morte de um vaqueiro.
Pericot hesitou. Depois levantou a cabeça, pensativo.
— Espere! Refere-se a miss Niemes! Não me recordava do primeiro nome dela. Que aconteceu?
— Foi assassinada por Liberman ou por John Pistol.
— Se assim o diz. É-me indiferente que fosse um ou outro. Que mais deseja?
— Que ajude a justiça.
— Decerto. Estou unido à justiça por muitos vínculos... — declarou, Pericot, cínico.
Parrot observou-o. Era gordo, com patilhas grisalhas.
Devia ter passado bastante dos quarenta anos. Vestia-se com uma elegância pretensiosa, exibindo uma corrente de oiro, sobre o colete, e anéis com brilhantes. Os lucros do vício organizado.
O xerife continuou:
— Por mim, penso que Liberman é culpado. A conclusão a que cheguei é esta: Liberman matou Nancy para que ninguém soubesse que tinha sido ele o assassino do vaqueiro.
— Mas ele não matou o vaqueiro.
— Sim, creio que o matou. Nancy ajudou-o a escapar, dando-lhe um alibi. Que lhe parece?
Pericot teve um sorriso duro. Disse:
— Você é um ingénuo. Suspeitaram de mim, como organizador de tudo, mas o caso não teve consequências. Pensa que eu devo agora acusar Liberman?
— Talvez eu seja um ingénuo, mas você é um tipo capaz de tudo, um patife.
— Cuidado com o que diz, porque posso processá-lo por difamação... — ripostou Pericot, irritado. — Estou cansado da viagem, mas tenho pressa de voltar a Oklahoma. Faça agora as perguntas que tem a fazer.
— É verdade que entregou uma quantia importante a Liberman, há cinco anos?
— Não tinha qualquer razão para lhe dar dinheiro.
— Mas Liberman comprou gado e terras, depois de deixar de trabalhar no seu saloon. Não é verdade?
— Pergunte-lho a ele.
-- Não responde.
— Pois eu também não. Não sei.
— Julga que ele ganhasse muito dinheiro nas mesas de jogo?
— Sim, para mim ganhou bastante.
— E para ele?
— Tinha salário e uma percentagem.
— E parece-lhe que com isso possa ter feito economias?
— Talvez. Liberman tinha poucos vícios.
— Não me faça rir. Liberman é um bêbedo e um libertino. Quando chegou a San Ângelo vinha sem dinheiro.
— Pior para ele.
O xerife levantou-se. Via que era inútil interrogar aquele homem. Era demasiado astuto para se desmascarar.
— Pode ir-se embora.
— Para Oklahoma?
— Não. Peço-lhe que espere uns dias. Pedi informações ao juiz de lá.
— Sobre que assunto?
— A morte do vaqueiro.
Pericot passou a mão pelo queixo. Deixou escapar um suspiro.
— Está bem, seja como quer. Adeus.
Saiu, um tanto preocupado. Franzia o cenho. As palavras de Parrot tinham-no perturbado um tanto. Assim que chegou à rua, aproximou-se dele um tipo de mau aspeto. Era o seu guarda-costas, um homem que na verdade nada tinha de agradecer à natureza. O seu aspeto denunciava-o. Olhos encovados, lábios grossos, barba dura e mãos grandes.
— Que aconteceu, chefe?... — perguntou, num grunhido.
— Maldito xerife! Lembrou-se de me falar nesse vaqueiro... que está no inferno há uma porção de anos. Supõe que Liberman o matou.
— Suposição errada, porque fui eu que o matei... — rosnou o guarda-costas.
— Julga que Liberman matou Nancy por causa do alibi que ela lhe deu.
— Esse xerife é um imbecil. Sabe menos do que um garoto da escola.
— Mas a nossa situação é desagradável. Parrot supõe muitas coisas, e entre elas está a verdade.
— O caso de Liberman?
— Sim.
— Foi o chefe que quis assim. Eu tinha feito o trabalho, por menos dinheiro.
— És um bruto. Interessava-me que Liberman matasse a rapariga. Assim ficou manchado de sangue, como eu.
— E como eu.
— Tu és um demónio à parte.
— Bem, chefe, vamos refrescar a goela. Olhe para esse saíam. É uma espelunca, comparado com o nosso.
— Saloon Catey... — disse Pericot, lendo a tabuleta. — Deve vender porcarias sem nome.
— Experimenta-se. Se for mau, despejo o copo na cara desse Catey.
Não tardaram a misturar-se com os outros clientes, ao balcão. Pericot pediu bom uísque, e Catey serviu-lhes do melhor que tinha.
— Pode-se beber... — comentou Pericot. — Que te parece?
O guarda-costas tocou-lhe com o cotovelo.
— Olhe, chefe. Vejo ali uma coisa bem boa... — disse indicando, com um movimento de cabeça, uma rapariga que entrava. Pericot voltou-se e deu um estalo com a língua.
— Oh! É a mestiça!
— Está ainda mais bonita do que era... — disse o outro. — Não o viu ainda, chefe.
— Vou ter com ela.
— Já sabe que morde. Lembre-se de que uma vez lhe arranhou a cara. Cuidado.
— Vais ver. Apanha uma surpresa...
Dirigiu-se para a rapariga, que se sentara a uma das mesas, de costas para o balcão. Quando chegou junto dela, poisou-lhe as mãos nos ombros. Depois, no mesmo movimento, acariciou-lhe a cara. Glondy voltou-se, sobressaltada. Abriu muito os olhos, ao ver Pericot. Fez um trejeito de repugnância.
— Você, Pericot!
— Sim, minha linda. Vim ver-te. Que tal vais? Não muito bem, ao que parece.
Beliscou-a de leve, na face, enquanto lhe poisava a outra mão na anca.
— Ponha-se ao largo, maldito!... — bradou ela. — Há muito que não dependo de você. Fora!
Pericot fez de conta que a não ouvia. Gostava de a acariciar, tal como fizera de outras vezes, sempre à força.
— Calma. Somos velhos amigos. Parece-te um insulto que eu goste de te ver?
— Fora, velhaco! Não quero vê-lo! Estou noiva de um rapaz que não hesitaria em rebentar-lhe a cabeça, patife!
— Deixa-te de tolices, Glondy.
Não foi por acaso que Buck entrou nesse momento no saloon. Tinha combinado encontrar-se ali com Glondy. Entrou em companhia de John Pistol, que em poucos dias se recompusera quase completamente das suas feridas. Viu a cena, empalideceu e lançou-se como uma flecha ao encontro de Pericot.
Agarrou-o por um ombro, fê-lo voltar-se e aplicou-lhe um tremendo soco no queixo, que o derrubou. Antes que Pericot se levantasse, o guarda-costas tinha entrado em ação. Vira cair o patrão e empunhara imediatamente o Colt. Disparou e meteu duas balas nas pernas de Buck, atravessando-lhe as coxas. Buck caiu.
Mas o guarda-costas de Pericot não contava com o que se passou a seguir. John Pistol empunhou o revólver e caiu sobre ele, batendo-lhe com a coronha da arma. Atingiu-lhe a cara repetidas vezes, atirando-o finalmente para debaixo de uma das mesas. Mas o homem era duro. Quase no mesmo instante, levantou-se e disparou. Falhou o alvo, no entanto.
— Mata-o, Aslop... — berrou Pericot. — Mata-o!
John era demasiadamente rápido para que o bandido pudesse cumprir a ordem. Com uma pancada, fez-lhe saltar o revólver da mão. Agarrou-o pelo colete e levou-o na sua frente até ao balcão.
— Cuidado, Johnny!... — gritou Glondy.
O aviso era desnecessário. Através do reflexo do espelho que havia por detrás do balcão, John tinha visto Pericot Bryan empunhar a arma e apontá-la. No mesmo instante fez fogo, por debaixo do braço esquerdo, sem se voltar. Disparou uma única bala, olhando o espelho.
— Espantoso!... — exclamou um dos clientes do bar, que se refugiara na outra extremidade do balcão. — Meteu-lhe a bala no coração... — disse outra voz.
Pericot Bryan nem soube o que tinha acontecido. Quando caiu no chão já estava morto. Enquanto Glondy se debruçava sobre Buck, cujas feridas sangravam abundantemente, John ocupou-se de Aslop. Nem sequer se servia da arma, que metera no coldre. Os seus punhos pareciam ter dinamite.
Foram cinco minutos de luta, em que só um dos adversários batia. Soco após soco, Aslop ficava reduzido a um farrapo. Ficou como esmagado, caído no chão, de bruços, depois de recuar três ou quatro metros sem deixar de levar murros na cara. Mas a sova não terminou aí. John ergueu-o, agarrando-o com a mão esquerda, e continuou a bater-lhe.
— Tu sabes muitas coisas que nos interessa ouvir... — disse. — Chegou a tua hora de prestar contas. Vê, o teu patrão está morto, não poderá ajudar-te. Fala!
Aslop não tinha forças para articular uma só palavra, mas, teimosamente, abanou a cabeça... o que lhe valeu outra série de socos.
— Arrancar-te-ei a pele se for preciso, patife. Mas quero que fales e vais falar. Quem matou o vaqueiro de Oklahoma? Foi Liberman, por ordem de Pericot? Apressa-te a falar enquanto podes, porque se não falas nunca mais o poderás fazer.
Aslop voltou a abanar a cabeça. John continuou. Estava decidido a não ter piedade, e tinha a certeza de que o guarda-costas de Pericot conhecia todos os segredos do patrão. Castigou o homem, mais duramente, batendo-lhe na cara e no peito. Aslop voltou a cair.
— Que sabes de Liberman? Fala!
Aslop respirou fundo, passando a mão pela cara.
— O trapaceiro... Não sei...
— Fala!... — repetiu Johnny, agarrando-o pelos cabelos. — Nancy sabia que Liberman tinha assassinado o vaqueiro. Foi isto?
— Ela... não podia saber...
— Não foi ele o assassino?
— Não sei...
— Sabes, e vais dizer!
— Não sei nada... são coisas de Pericot...
— Tu eras o confidente de Pericot. Olha-o, está morto. Já não o podes prejudicar com o que disseres.
— Está morto... Maldito sejas...
— Vais morrer também, se não falas depressa. Responde... Pericot entregou dinheiro a Liberman há cinco anos?
— Esqueci-me...
— Talvez assim te lembres!
John atirou-o contra a parede, com um soco terrível. Aslop perdeu os sentidos
— Catey, traz um balde com água!... — disse John.
Despejou o balde em cima do miserável. Quando viu que acordava, içou-o para cima de uma mesa, como um fantoche quebrado. Aslop pestanejava, vencido.
— Quanto pagou Pericot a Liberman, para matar Nancy? Cinco mil?
— Foi menos...
— Três mil?
— Menos... Mil e quinhentos...
John olhou em volta, gravemente. Todos os olhares se baixaram diante do seu. A verdade começava a surgir.
— Porque razão Pericot mandou matar Nancy
— Era... má mulher... Sabia segredos de Pericot... O meu chefe teve de lhe dar dinheiro... mas ela queria sempre mais... Ele assustou-se...
— E Nancy sabia quem tinha assassinado o vaqueiro?
— Sim...
— Quem foi?
O bandido olhou para o corpo inerte de Pericot. Rouquejou, entredentes:
— Foi o chefe que... que o matou...
— Creio que não preciso mais de ti... — disse John.
Desinteressou-se do bandido. Passou a mão pela cara, pensativo. Não acreditava totalmente na confissão que ouvira, em especial na última parte. Pericot não devia ter assassinado o vaqueiro. Nunca agia pessoalmente. Para os seus sujos trabalhos, dispunha sempre de criaturas como o próprio Aslop.
John voltou-se para Buck.
— Como estás?
Buck esboçou um sorriso, agarrando a mão de Glondy.
— Não devo morrer ainda, amigo. Alegra-me que tenhas triunfado.
— Obrigado, Buck.
— Perdoa a minha cegueira... Julguei que, naquela noite... Mas enganei-me.
— Já esqueci isso. Agora é preciso prender Liberman.
—Esse malvado! Fingiu-se bêbedo, afinal, como tu disseste. Mas representou bem o seu papel, o maldito!
— Enganou toda a gente... menos John Pistol... — declarou Catey, mostrando os dentes.
John viu o xerife, que atravessava a rua em direção ao bar.
— Tudo liquidado, xerife... — informou. — Falta apenas prender Liberman. Esse tipo falou... — acrescentou John, apontando para Aslop. — Todos o ouviram. Prenda-o. Creio que sabe ainda mais do que disse.
— Deixaste-o num farrapo.
— Sem isso não teria conseguido fazê-lo falar. Bem, agora temos de ir fazer uma visita a Liberman. Vai ter uma surpresa desagradável.
— Pois vamos. Tenho pressa de acabar com este assunto. Mas espera que meta esse tipo na cadeia provisória, guardado à vista. Entretanto, leva Buck à clínica do doutor Hebril. Não será difícil tirar-lhe as balas.
— Sim, xerife. Encontramo-nos depois.
— Liberman? Lembro-me perfeitamente. Um magnífico jogador, o melhor que passou por Oklahoma. Que há com ele?
— Um acontecimento que se deu há cinco anos. A morte de Nancy.
— Quem foi Nancy?
— Não pergunte, Pericot. Conhece-a bem, isto é, conheceu-a.
— Nancy? O nome é bonito.
— E Glondy? Agrada-lhe?
— Glondy?... — Pericot deu uma palmada na testa. — Homem, conheci uma rapariga com esse nome, que trabalhou no meu saloon.
— Agora está em San Ângelo. ~
— Mestiça, não? Bonita, mas muito arisca. Que faz aqui?
— É noiva de Buck. Casarão em breve.
— Tem sorte, esse Buck. Não sei como conseguiu domá-la.
— Falemos de Nancy. Frequentava o seu saloon...
— Talvez. Passaram muitas por lá.
— Esta era diferente. Tinha relações com você... talvez relações comerciais...
— Não, isso não. Eu trabalho sozinho, nunca admito sócios, nos negócios que faço.
— Recorda-se de Nancy, ou não?
— Não.
— Está a mentir. Nancy testemunhou a favor de você e de Liberman, no caso da morte de um vaqueiro.
Pericot hesitou. Depois levantou a cabeça, pensativo.
— Espere! Refere-se a miss Niemes! Não me recordava do primeiro nome dela. Que aconteceu?
— Foi assassinada por Liberman ou por John Pistol.
— Se assim o diz. É-me indiferente que fosse um ou outro. Que mais deseja?
— Que ajude a justiça.
— Decerto. Estou unido à justiça por muitos vínculos... — declarou, Pericot, cínico.
Parrot observou-o. Era gordo, com patilhas grisalhas.
Devia ter passado bastante dos quarenta anos. Vestia-se com uma elegância pretensiosa, exibindo uma corrente de oiro, sobre o colete, e anéis com brilhantes. Os lucros do vício organizado.
O xerife continuou:
— Por mim, penso que Liberman é culpado. A conclusão a que cheguei é esta: Liberman matou Nancy para que ninguém soubesse que tinha sido ele o assassino do vaqueiro.
— Mas ele não matou o vaqueiro.
— Sim, creio que o matou. Nancy ajudou-o a escapar, dando-lhe um alibi. Que lhe parece?
Pericot teve um sorriso duro. Disse:
— Você é um ingénuo. Suspeitaram de mim, como organizador de tudo, mas o caso não teve consequências. Pensa que eu devo agora acusar Liberman?
— Talvez eu seja um ingénuo, mas você é um tipo capaz de tudo, um patife.
— Cuidado com o que diz, porque posso processá-lo por difamação... — ripostou Pericot, irritado. — Estou cansado da viagem, mas tenho pressa de voltar a Oklahoma. Faça agora as perguntas que tem a fazer.
— É verdade que entregou uma quantia importante a Liberman, há cinco anos?
— Não tinha qualquer razão para lhe dar dinheiro.
— Mas Liberman comprou gado e terras, depois de deixar de trabalhar no seu saloon. Não é verdade?
— Pergunte-lho a ele.
-- Não responde.
— Pois eu também não. Não sei.
— Julga que ele ganhasse muito dinheiro nas mesas de jogo?
— Sim, para mim ganhou bastante.
— E para ele?
— Tinha salário e uma percentagem.
— E parece-lhe que com isso possa ter feito economias?
— Talvez. Liberman tinha poucos vícios.
— Não me faça rir. Liberman é um bêbedo e um libertino. Quando chegou a San Ângelo vinha sem dinheiro.
— Pior para ele.
O xerife levantou-se. Via que era inútil interrogar aquele homem. Era demasiado astuto para se desmascarar.
— Pode ir-se embora.
— Para Oklahoma?
— Não. Peço-lhe que espere uns dias. Pedi informações ao juiz de lá.
— Sobre que assunto?
— A morte do vaqueiro.
Pericot passou a mão pelo queixo. Deixou escapar um suspiro.
— Está bem, seja como quer. Adeus.
Saiu, um tanto preocupado. Franzia o cenho. As palavras de Parrot tinham-no perturbado um tanto. Assim que chegou à rua, aproximou-se dele um tipo de mau aspeto. Era o seu guarda-costas, um homem que na verdade nada tinha de agradecer à natureza. O seu aspeto denunciava-o. Olhos encovados, lábios grossos, barba dura e mãos grandes.
— Que aconteceu, chefe?... — perguntou, num grunhido.
— Maldito xerife! Lembrou-se de me falar nesse vaqueiro... que está no inferno há uma porção de anos. Supõe que Liberman o matou.
— Suposição errada, porque fui eu que o matei... — rosnou o guarda-costas.
— Julga que Liberman matou Nancy por causa do alibi que ela lhe deu.
— Esse xerife é um imbecil. Sabe menos do que um garoto da escola.
— Mas a nossa situação é desagradável. Parrot supõe muitas coisas, e entre elas está a verdade.
— O caso de Liberman?
— Sim.
— Foi o chefe que quis assim. Eu tinha feito o trabalho, por menos dinheiro.
— És um bruto. Interessava-me que Liberman matasse a rapariga. Assim ficou manchado de sangue, como eu.
— E como eu.
— Tu és um demónio à parte.
— Bem, chefe, vamos refrescar a goela. Olhe para esse saíam. É uma espelunca, comparado com o nosso.
— Saloon Catey... — disse Pericot, lendo a tabuleta. — Deve vender porcarias sem nome.
— Experimenta-se. Se for mau, despejo o copo na cara desse Catey.
Não tardaram a misturar-se com os outros clientes, ao balcão. Pericot pediu bom uísque, e Catey serviu-lhes do melhor que tinha.
— Pode-se beber... — comentou Pericot. — Que te parece?
O guarda-costas tocou-lhe com o cotovelo.
— Olhe, chefe. Vejo ali uma coisa bem boa... — disse indicando, com um movimento de cabeça, uma rapariga que entrava. Pericot voltou-se e deu um estalo com a língua.
— Oh! É a mestiça!
— Está ainda mais bonita do que era... — disse o outro. — Não o viu ainda, chefe.
— Vou ter com ela.
— Já sabe que morde. Lembre-se de que uma vez lhe arranhou a cara. Cuidado.
— Vais ver. Apanha uma surpresa...
Dirigiu-se para a rapariga, que se sentara a uma das mesas, de costas para o balcão. Quando chegou junto dela, poisou-lhe as mãos nos ombros. Depois, no mesmo movimento, acariciou-lhe a cara. Glondy voltou-se, sobressaltada. Abriu muito os olhos, ao ver Pericot. Fez um trejeito de repugnância.
— Você, Pericot!
— Sim, minha linda. Vim ver-te. Que tal vais? Não muito bem, ao que parece.
Beliscou-a de leve, na face, enquanto lhe poisava a outra mão na anca.
— Ponha-se ao largo, maldito!... — bradou ela. — Há muito que não dependo de você. Fora!
Pericot fez de conta que a não ouvia. Gostava de a acariciar, tal como fizera de outras vezes, sempre à força.
— Calma. Somos velhos amigos. Parece-te um insulto que eu goste de te ver?
— Fora, velhaco! Não quero vê-lo! Estou noiva de um rapaz que não hesitaria em rebentar-lhe a cabeça, patife!
— Deixa-te de tolices, Glondy.
Não foi por acaso que Buck entrou nesse momento no saloon. Tinha combinado encontrar-se ali com Glondy. Entrou em companhia de John Pistol, que em poucos dias se recompusera quase completamente das suas feridas. Viu a cena, empalideceu e lançou-se como uma flecha ao encontro de Pericot.
Agarrou-o por um ombro, fê-lo voltar-se e aplicou-lhe um tremendo soco no queixo, que o derrubou. Antes que Pericot se levantasse, o guarda-costas tinha entrado em ação. Vira cair o patrão e empunhara imediatamente o Colt. Disparou e meteu duas balas nas pernas de Buck, atravessando-lhe as coxas. Buck caiu.
Mas o guarda-costas de Pericot não contava com o que se passou a seguir. John Pistol empunhou o revólver e caiu sobre ele, batendo-lhe com a coronha da arma. Atingiu-lhe a cara repetidas vezes, atirando-o finalmente para debaixo de uma das mesas. Mas o homem era duro. Quase no mesmo instante, levantou-se e disparou. Falhou o alvo, no entanto.
— Mata-o, Aslop... — berrou Pericot. — Mata-o!
John era demasiadamente rápido para que o bandido pudesse cumprir a ordem. Com uma pancada, fez-lhe saltar o revólver da mão. Agarrou-o pelo colete e levou-o na sua frente até ao balcão.
— Cuidado, Johnny!... — gritou Glondy.
O aviso era desnecessário. Através do reflexo do espelho que havia por detrás do balcão, John tinha visto Pericot Bryan empunhar a arma e apontá-la. No mesmo instante fez fogo, por debaixo do braço esquerdo, sem se voltar. Disparou uma única bala, olhando o espelho.
— Espantoso!... — exclamou um dos clientes do bar, que se refugiara na outra extremidade do balcão. — Meteu-lhe a bala no coração... — disse outra voz.
Pericot Bryan nem soube o que tinha acontecido. Quando caiu no chão já estava morto. Enquanto Glondy se debruçava sobre Buck, cujas feridas sangravam abundantemente, John ocupou-se de Aslop. Nem sequer se servia da arma, que metera no coldre. Os seus punhos pareciam ter dinamite.
Foram cinco minutos de luta, em que só um dos adversários batia. Soco após soco, Aslop ficava reduzido a um farrapo. Ficou como esmagado, caído no chão, de bruços, depois de recuar três ou quatro metros sem deixar de levar murros na cara. Mas a sova não terminou aí. John ergueu-o, agarrando-o com a mão esquerda, e continuou a bater-lhe.
— Tu sabes muitas coisas que nos interessa ouvir... — disse. — Chegou a tua hora de prestar contas. Vê, o teu patrão está morto, não poderá ajudar-te. Fala!
Aslop não tinha forças para articular uma só palavra, mas, teimosamente, abanou a cabeça... o que lhe valeu outra série de socos.
— Arrancar-te-ei a pele se for preciso, patife. Mas quero que fales e vais falar. Quem matou o vaqueiro de Oklahoma? Foi Liberman, por ordem de Pericot? Apressa-te a falar enquanto podes, porque se não falas nunca mais o poderás fazer.
Aslop voltou a abanar a cabeça. John continuou. Estava decidido a não ter piedade, e tinha a certeza de que o guarda-costas de Pericot conhecia todos os segredos do patrão. Castigou o homem, mais duramente, batendo-lhe na cara e no peito. Aslop voltou a cair.
— Que sabes de Liberman? Fala!
Aslop respirou fundo, passando a mão pela cara.
— O trapaceiro... Não sei...
— Fala!... — repetiu Johnny, agarrando-o pelos cabelos. — Nancy sabia que Liberman tinha assassinado o vaqueiro. Foi isto?
— Ela... não podia saber...
— Não foi ele o assassino?
— Não sei...
— Sabes, e vais dizer!
— Não sei nada... são coisas de Pericot...
— Tu eras o confidente de Pericot. Olha-o, está morto. Já não o podes prejudicar com o que disseres.
— Está morto... Maldito sejas...
— Vais morrer também, se não falas depressa. Responde... Pericot entregou dinheiro a Liberman há cinco anos?
— Esqueci-me...
— Talvez assim te lembres!
John atirou-o contra a parede, com um soco terrível. Aslop perdeu os sentidos
— Catey, traz um balde com água!... — disse John.
Despejou o balde em cima do miserável. Quando viu que acordava, içou-o para cima de uma mesa, como um fantoche quebrado. Aslop pestanejava, vencido.
— Quanto pagou Pericot a Liberman, para matar Nancy? Cinco mil?
— Foi menos...
— Três mil?
— Menos... Mil e quinhentos...
John olhou em volta, gravemente. Todos os olhares se baixaram diante do seu. A verdade começava a surgir.
— Porque razão Pericot mandou matar Nancy
— Era... má mulher... Sabia segredos de Pericot... O meu chefe teve de lhe dar dinheiro... mas ela queria sempre mais... Ele assustou-se...
— E Nancy sabia quem tinha assassinado o vaqueiro?
— Sim...
— Quem foi?
O bandido olhou para o corpo inerte de Pericot. Rouquejou, entredentes:
— Foi o chefe que... que o matou...
— Creio que não preciso mais de ti... — disse John.
Desinteressou-se do bandido. Passou a mão pela cara, pensativo. Não acreditava totalmente na confissão que ouvira, em especial na última parte. Pericot não devia ter assassinado o vaqueiro. Nunca agia pessoalmente. Para os seus sujos trabalhos, dispunha sempre de criaturas como o próprio Aslop.
John voltou-se para Buck.
— Como estás?
Buck esboçou um sorriso, agarrando a mão de Glondy.
— Não devo morrer ainda, amigo. Alegra-me que tenhas triunfado.
— Obrigado, Buck.
— Perdoa a minha cegueira... Julguei que, naquela noite... Mas enganei-me.
— Já esqueci isso. Agora é preciso prender Liberman.
—Esse malvado! Fingiu-se bêbedo, afinal, como tu disseste. Mas representou bem o seu papel, o maldito!
— Enganou toda a gente... menos John Pistol... — declarou Catey, mostrando os dentes.
John viu o xerife, que atravessava a rua em direção ao bar.
— Tudo liquidado, xerife... — informou. — Falta apenas prender Liberman. Esse tipo falou... — acrescentou John, apontando para Aslop. — Todos o ouviram. Prenda-o. Creio que sabe ainda mais do que disse.
— Deixaste-o num farrapo.
— Sem isso não teria conseguido fazê-lo falar. Bem, agora temos de ir fazer uma visita a Liberman. Vai ter uma surpresa desagradável.
— Pois vamos. Tenho pressa de acabar com este assunto. Mas espera que meta esse tipo na cadeia provisória, guardado à vista. Entretanto, leva Buck à clínica do doutor Hebril. Não será difícil tirar-lhe as balas.
— Sim, xerife. Encontramo-nos depois.
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