domingo, 15 de julho de 2018

ARZ166.05 Ouro... maldito ouro

Era um tipo franzino e com muito mau aspeto, que tinha uma pequena cabana no povoado de Shangow, a uma centena de milhas de Chattahoochee.
Chamava-se Fergusson e eram muitos os que acudiam a ele. Não o faziam por gosto, claro, mas sim por necessidade. Fergusson era como uma espécie de usurário e fora à custa da infelicidade dos outros que amealhara uma razoável fortuna.
Apesar da sua sovinice, ultimamente vinha gastando mais do que o usual na taberna do povoado, um tugúrio muito igual ao que Brown explorava na cidade vizinha.
Inclusive, muitas pessoas o tinham visto bêbedo, o que não era nada normal, já que Fergusson costumava beber
em casa e das garrafas que comprava a qualquer vendedor ambulante por lhe ficarem mais baratas. As consequências das suas bebedeiras não se fizeram esperar. Alguém lhe desatou a língua com a maior facilidade.
— Encontraste algum tesouro, velho avarento ?

— Não. Eu não ...Tenho quem os procure por mim. Não tardará que deixem de ter quem lhes empreste dinheiro, pobres labregos, porque eu serei rico e desaparecerei daqui. Talvez vá para Boston... L uma cidade importante.
— Mas, que disparates estás a dizer, velho avarento?
— Sabem o que é ouro ? Ouro! Não essa porcaria que estão habituados a vender. Ouro puro, extraído das entranhas da terra. Em breve terei muito... Ouro, montanhas de ouro, e eu sei quem o descobriu.
Seria verdade o que estava a dizer o velho usurário ?
— Está bêbedo. Não sabe o que diz — afirmou alguém.
— Então, .por que gasta o dinheiro como nunca o fez antes ? Ele é demasiado avarento... No entanto, agora está mudado e isso deve obedecer a qualquer motivo muito especial — argumentou alguém, com certa lógica.
— Tens razão. Talvez isso do ouro seja verdade —ajuntou outro.
A conversa entre os clientes da taberna tornou-se tumultuosa e a possibilidade de enriquecer facilmente culminou num verdadeiro alvoroço. Alguém se adiantou a pagar uma garrafa de rum a Fergusson que, naturalmente, não a recusou. Depois, perdido de bêbedo, acabou por confessar:
— Nas terras «cherokees» ...Sei que o ouro se encontra lá. Eles desconhecem que eu estou ao corrente de tudo. Não, não o sabem, mas eu fiz uma viagem até Chattahoochee e inteirei-me de tudo... Sim; segui-os. E sei onde está o ouro. Muito ouro só para mim...
Continuou a falar, mas já ninguém o escutava, pois o nome de Chattahoochee começou a soar de boca em boca e a febre do ouro pareceu apossar-se de todos. E não tardou que corresse à boca cheia que, em Chattahoochee, o ouro se apanhava às pazadas, o que fez afluir à região verdadeiras multidões de aventureiros, pesquisadores e pacíficos agricultores.
*
— Coronel, há que fazer qualquer coisa! — exclamou Samuel Erikman, no gabinete do comandante da guarnição.
Morgan acenou a cabeça.
— Eu bem queria, mas...
— Não percebo, coronel!
— A notícia de que havia ouro em Chattahoochee chegou já a Washington.
—O quê? Mas, se há apenas uma semana que...
— Eu sei, Erikman. Mas estas coisas alastram como fogo e não tardará que tenhamos aqui uma verdadeira invasão de gente de boa fé que, perante a perspetiva de enriquecer facilmente, se tornará num bando de malfeitores.
— Deverás detê-los.
—Há muitos anos que nos conhecemos, Erikman, e eu sei, melhor que ninguém, o que fizeste por estas terras, pela paz em que temos vivido até agora. Mas...
O coronel hesitou, como se lhe faltasse a coragem para continuar.
— Vamos, Morgan! Não estejas com meias palavras. Diz o que tens para dizer e depressa.
— Recebi muitos pedidos, Erikman.
— Que espécie de pedidos?
— Há muita gente que quer comprar as terras que bordejam o arroio, no território «cherokee».
— Essas terras não estão à venda. Que pretende essa gente? Fazer levantar os «cherokees»?
— Espero, a todo o momento, uma resposta formal de Washington. Preciso de reforços para conter a avalancha que nos vem cair em cima.
— Compreendo, Morgan. Sozinho, nada conseguirás.
— É verdade. E não serei eu a desencadear a guerra.
A chegada de Johnny Erikman interrompeu a conversa dos dois homens. E as notícias de que era portador só vieram piorar a situação.
— Acabo de chegar do povoado «cherokee»! Estive a falar com «Grande Trovão».
— Que aconteceu?
— Assassinaram dois dos homens que estavam de guarda ao acampamento.
— Dois dos meus soldados? — perguntou o coronel, pondo-se de pé.
— Sim. Eu adiantei-me aos cavalos que trazem os cadáveres. Talvez convenha reforçar a vigilância.
— Quando os mataram?
— Ao amanhecer, coronel. A gente não se atreve a aproximar-se, mas estão todos contra os índios. Dizem que foram eles.
— Isso é absurdo! — exclamou Sam. — Os soldados estão lá precisamente para os proteger...
— Mas isso não entra na cabeça das pessoas. E ainda vai ser pior com o que aconteceu ontem à noite. Alguns «cherokees» estavam embriagados e começaram a disparar. É ponto assente que os índios estão fartos de viver subjugados e que estão a preparar uma rebelião. Não tarda que chovam pedidos para que sejam expulsos daqui a bem ou a mal.
Morgan deixou-se cair, novamente, na cadeira.
— Isso é o que eu temia.
— Alguém vendeu a bebida a essa gente e lhe facilitou as armas! — exclamou Sam. — Parece-me que a coisa está clara.
— Não há dúvida que devem ser os três tipos, aos quais não voltámos a ver. Ocultam-se em qualquer lugar e contam com cúmplices na região...
O capitão Taylor pediu licença para entrar. Outra má notícia vinha agravar a situação.
— Recebi a informação de que «Cabeça de Alce» foi visto nesta zona e que se reuniu com alguns guerreiros. Não consegui, contudo, saber o local da reunião.
— «Cabeça de Alce»! — deixou ouvir Sam, rememorando factos passados. — Havia dezasseis anos que não dava sinais de vida. Cheguei a pensar que teria morrido...
O capitão interrompeu-o para dizer:
— Mas está vivo e com vontade de lutar.
— Será que todos enlouqueceram de repente? — exasperou-se Samuel Erikman.
— Não, pai... Alguém está a manejar muito bem tudo isto... E é forçoso que encontremos os culpados, antes que seja demasiado tarde.
— Talvez já seja demasiado tarde!
— Não, Morgan. Tens de intervir. Eles tentam provocar uma guerra.
O capitão Taylor ajuntou:
— Dizem que «Cabeça de Alce» acusa os brancos de quererem arrebatar-lhes as terras e ele está disposto a regressar à tribo.
— Falarei, pessoalmente, com «Grande Trovão» — atalhou Sam. — Alguém terá de travar o que está a desenrolar-se e creio que o melhor modo de começar é evitar que os «cherokees» se ponham em pé de guerra.
— Pai, parece-me que conviria, primeiro, fazer uma visita a Brown... Os tipos que surpreendi não se foram abastecer ao armazém da fronteira e, por conseguinte, deverá ser Brown quem os alimenta. Há que fazê-lo falar.
— Está bem, vamos.
— Cuidado, Sam! — avisou o coronel Morgan. — Brown é um patife, mas não temos quaisquer provas contra ele.
—Talvez sejamos nós a conseguir essas provas, coronel — replicou Johnny, encaminhando-se para a porta.
Morgan dispunha-se a acrescentar algo, mas conteve-se. Os Erikman entravam em ação, e eles, mais que ninguém, tinham direito a velar pela manutenção da paz pela qual tanto haviam lutado. Pai e filho deixaram o forte.
A sua primeira visita seria ao tugúrio de Brown.
 

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