quinta-feira, 12 de julho de 2018

ARZ166.02 A derrota de «Cabeça de Alce»

Johnny insistia em acompanhar o pai.
—Nunca nos separámos e eu não tenho medo de «Cabeça de Alce» — disse, com a sua voz infantil.
Sam acabou por aceitar a companhia do filho. Na verdade, desde que a mãe morrera, raras vezes se afastara do garoto. Mais do que seu filho, Johnny convertera-se no seu melhor amigo. Tratava-o como a um homem e ensinara-lhe tudo o que um verdadeiro homem deveria saber. A garota ficou no acampamento, entregue aos cuidados da mulher de «Grande Trovão».
Entretanto... «Raposa Cinzenta», que se adiantara aos Erikman, aguardava-os numa rochosa colina. Via-os galopar pela planície e pensou que já não teria tempo de avisar «Cabeça de Alce». Por outro lado, se fizesse sinais de fumo, seriam vistos não só do acampamento mas também pelos Erikman. Por isso, chegou à conclusão de que o melhor seria deter a marcha dos dois cavaleiros. E, se possível, detê-la para sempre.
Com a ajuda de um pau, começou a remover uma enorme pedra, com a intenção de bloquear o caminho.
Conseguiu que a pequena rocha se desprendesse e rolasse, vertiginosamente, encosta abaixo, bloqueando quase metade da rota traçada pela passagem de muitos carros e animais. Aquele obstáculo, se bem que não impedisse, por completo, o avanço dos Erikman, obrigá-los-ia, contudo, a parar e a fazer um pequeno rodeio, procurando passagem pela ladeira. Era, aliás, exatamente o que ele pretendia.
Desceu umas quantas jardas ,escondendo-se atrás de umas rochas e de uns arbustos, que o ocultavam por completo. Os Erikman, um tanto despreocupados, aproximavam--se do pedregulho ,oculto por uma pequena curva do caminho.
«Raposa Cinzenta» tensou o arco, disposto a acabar, de uma vez para sempre, com o caçador. Samuel Erikman, cavalgando adiante do filho, oferecia já um alvo estupendo. De súbito, refreou a marcha do cavalo, ao deparar-se-lhe o imprevisto obstáculo, que lhe tolhia a marcha.
— Com mil diabos! — exclamou, olhando para cima. — Ainda bem que a pedra não caiu em cima de ninguém — disse Johnny, seguindo, também, a direção do olhar do pai.
Foi então quando o «cherokee» se resolveu a disparar a flecha. Talvez o instinto de sobrevivência ou o ligeiro movimento das folhas do arbusto advertissem Sam do iminente perigo. Arrojou-se do cavalo, lançando-se contra o filho, ao mesmo tempo que gritava:
— Cuidado!
A flecha apareceu um segundo depois, perdendo-se na terra da ladeira.
— Ali em cima, pai!
Sim. Sam já se dera conta de onde vinha o perigo. Viu mover-se algo entre as rochas e, tomando o filho pela mão, correu a procurar melhor refúgio. O índio voltou a disparar nova flecha, mas tão-pouco esta atingiu o alvo. Pai e filho atiraram-se para trás de uma pequena elevação do terreno e Sam aconselhou:
— Não te levantes. Eu deterei esse tipo.
— Tem cuidado, pai.
Sam saltou para a frente e começou a trepar a ladeira, aos ziguezagues. «Raposa Cinzenta», ao saber-se descoberto, abandonou toda a precaução. Aliás, Sam estava demasiado perto para que errasse a terceira flecha. O caçador, pelo seu lado, poderia ter usado a espingarda, mas queria apanhar vivo o assaltante, que já reconhecera.
— Tu és pior que os outros, «Raposa Cinzenta». Pelo menos, «Cabeça de Alce» e os seus guerreiros dão a cara. Mas tu, não. Tu finges estar com «Grande Trovão», mas não passas de um miserável traidor.
Estavam a curta distância um do outro. «Raposa Cinzenta» só precisava de soltar o arco. Fê-lo, mas o caçador, extraordinariamente hábil, saltou para o lado no momento exato. O «cherokee» compreendeu que já não teria outra oportunidade e optou por bater em retirada. Correu até ao cimo da colina e foi aí que Sam o alcançou, voando, literalmente, para cima dele. Ambos rolaram pelo chão, e «Raposa Cinzenta» tentou fazer uso do seu «tomahawk». Sam, contudo, não lho consentiu, atirando-lhe um violentíssimo murro na cara. O índio soltou a arma, que se apressou a recuperar. Com um pontapé, Sam afastou-a e voltou a agredir o outro no rosto.
— Quero que me leves até onde está «Cabeça de Alce», pois preciso de ter uma conversa com ele.
— Não! — gritou o índio, levantando-se e procurando escapar ladeira abaixo.
Entretanto, «Cabeça de Alce» e os seus guerreiros aproximavam-se pelo caminho. Quando o pequeno Johnny os viu, quis sair do seu esconderijo para ir avisar o pai. Um dos homens do chefe rebelde viu o pequeno e gritou:
— Olha... — Cuidado! — avisou «Cabeça de Alce». — Talvez seja um acampamento. Preparem as armas.
O garoto corria já pela ladeira ,quando «Cabeça de Alce», num rápido galope, o alcançou.
— Creio que sei quem é... — murmurou.
Entretanto, na outra vertente da ladeira, Sam voltara a alcançar «Raposa Cinzenta» e a derrubá-lo com um par de murros.
— Quero-te vivo... Tu e o teu maldito chefe representam a prova de que necessito para evitar uma guerra.
O índio, apesar do castigo, continuava a resistir. Tinha o cavalo perto e pensou que seria a sua única possibilidade de salvação. Preferia arrostar com tudo a ser conduzido diante dos soldados. Bem o tentou, uma vez mais, mas Sam voou para as suas pernas, fazendo-o cair de bruços. O «Cherokee» defendia-se, desesperadamente, procurando libertar-se.
De súbito, algo modificou o cariz da situação. Por entre as rochas, buscando a frescura do entardecer, apareceu uma víbora. Sam, acto continuo, libertou o índio. A víbora estava demasiado próxima. Um simples movimento poderia fazer que o réptil atacasse qualquer dos homens. O pele-vermelha, contudo, quis aproveitar-se do ensejo para fugir.
Parecia ser o que a víbora esperava para saltar sobre ele. «Raposa Cinzenta» gritou, aterrorizado. Rapidamente, Sam rolou sobre si mesmo e alcançou o revólver, que lhe caíra no ardor da luta, descarregando-o sobre o venenoso réptil. A víbora ficou partida em dois coleantes bocados, enquanto «Raposa Cinzenta» fugia, espavorido, ladeira abaixo, gritando de medo e de dor.
Estranhamente quieto, Sam ficou a contemplar o homem possuído pela ideia de uma iminente morte. Não tardou que cessassem os gritos, O «cherokee» pareceu tropeçar em algo e rolou pela encosta, até parar de encontro a uma moita. O eficaz veneno do réptil não demorara a fazer sentir os seus efeitos. Segundos depois, «Raposa Cinzenta» morria.
Sam carregou o revólver e devolveu-o ao coldre, preparando-se para voltar para junto do filho. Perdera uma testemunha valiosa e a possibilidade de que o índio o levasse até ao rebelde. Se, entretanto, soubesse como o tivera tão próximo, havia escassos minutos... Quando regressou ao caminho, chamou pelo filho.
— Vamos, Johnny!
Estranhou não obter qualquer resposta. Um tanto preocupado, procurou por ali perto, mas o garoto não aparecia. Levantou a voz, gritando por ele.
—Johnny! Uma vez mais, não obteve resposta.
— Vamos, filho!
Silêncio. Só então reparou que tão-pouco o cavalo do garoto se via por ali. E mais preocupado ficou, sem saber o que teria podido acontecer ao filho.
*
— Que pensas fazer com o rapaz? Matamo-lo e, assim, não nos servirá de empecilho! — falou um dos guerreiros de «Cabeça de Alce».
—É o filho de Sam — replicou o rebelde. — Pode servir-nos para muita coisa.
— Para quê, por exemplo ? — perguntou outro.
— Os soldados andam atrás de nós e o filho de Sam será um bom refém.
— E, também, um perigo!
— Tens medo ? — perguntou, em ar de desafio, «Cabeça de Alce».
— Sam é perigoso. Se suspeita que nós temos o filho...
«Cabeça de Alce», furioso, puxou pelo seu «tomahawk».
— Entre os meus, não há lugar para cobardes.
— Não, «Cabeça de Alce», eu não sou cobarde — defendeu-se o outro.
— Eu sou mais forte do que esse maldito caçador. E não me importa que venha a saber que tenho o seu filho comigo... E a melhor maneira de nos procurar e de eu o matar.
Apertou os dentes para repetir.
— Matá-lo-ei! Matarei Samuel Erikman!
Durante um par de dias, Sam procurou, inutilmente, o filho. E foi ao entardecer do segundo dia que escutou o tiroteio. Da colina aonde subiu, pôde distinguir, perfeitamente, a coluna do capitão Morgan, do destacamento de Chattahoochee, que abria fogo contra umas rochas.
— «Cabeça de Alce»! — pensou Sam, acto continuo. Sim.
O oficial dera com os rebeldes ou, caberia admitir também essa hipótese, haviam sido os índios que o surpreenderam, atacando-o. Desde que se tornara voz corrente o sucedido aos colonos, os povoados dos brancos viviam em contínua efervescência e o Exército fora obrigado a tomar parte ativa na questão.
Sam galopou colina abaixo, com o propósito de se juntar ao capitão. A sua intervenção foi notada do lado «cherokee» e um dos guerreiros apressou-se a avisar «Cabeça de Alce»:
— Ele aí está!
— Esta é uma boa ocasião para o matar. Parem todos!... Deixem-no comigo.
O chefe rebelde, prontamente obedecido, arvorou um pano branco num pau, surpreendendo os soldados.
— Parece que pedem uma trégua, senhor — murmurou o sargento, dirigindo-se ao atónito capitão Morgan. — Sim; mas não nos fiemos nesses demónios. Não é a primeira vez que fingem render-se, para voltarem à carga, quando nos apanham desprevenidos.
— Permita que seja eu a aproximar-me...
— Senhor! — avisou um dos soldados. — Acerca-se um cavaleiro.
O capitão olhou na direção que lhe assinalava o soldado.
—É Erikman. Estranho muito que não venha com o filho.
Sam não tardou a chegar junto da coluna e a desmontar.
— Olá, Erikman! Que te traz por aqui? Não te tenho visto ultimamente.
— O meu filho desapareceu.
O sargento interrompeu-os, chamando a atenção para o lugar aonde se entrincheiravam os índios. Três dos guerreiros desciam das rochas, trazendo Johnny adiante deles.
— O teu filho está connosco, Sam! — falou um dos «cherokees». — «Cabeça de Alce» diz que, se o quiseres voltar a ter contigo, o venhas buscar.
Sam rilhou os dentes, enquanto o capitão Morgan começava a apontar a sua arma.
— Não, Morgan! Este assunto só a mim diz respeito. Recuperarei o meu filho e trarei «Cabeça de Alce». É ele o responsável pelo morticínio dos colonos.
— É muito perigoso que vás sozinho, Erikman!
— Tenho de me arriscar.
— Escuta... O coronel está a redigir o relatório para Washington. Sabes o que isso significa?
Sam assentiu:
— Essa é a razão principal porque quero apanhar <Cabeça de Alce» vivo... É forçoso que seja demonstrado que o ataque não partiu do povo «cherokee» mas sim de uma minoria rebelde... Se não o conseguirmos, as consequências serão desastrosas... Agora, capitão, devo ir buscar o meu filho.
—Espera, Erikman. Arranjaremos maneira de não te arriscares sozinho.
Um dos «cherokees», como adivinhando o que se passava, insistiu:
— «Cabeça de Alce» espera-te... mas terás de vir sozinho. Se os «Facas Compridas» atacarem, o rapaz morrerá.
— Ouviste, Morgan? Peço-te que não façam nada, enquanto eu estiver lã em cima.
— Está bem, Erikman. É a vida do teu filho que está em jogo.
Os «cherokees» começavam a retirar-se com Johnny e Sam dispôs-se a segui-los.
— Boa sorte, rapaz! — desejou-lhe o capitão.
Sam começou a trepar a íngreme ladeira e não tardou a perder-se por entre as rochas. O sargento trocou um olhar com o seu superior.
— Que acha que irá acontecer?
— «Cabeça de Alce» sempre odiou Erikman, e não consentirá que regresse vivo... Pobre Sam! Será uma perda lamentável para a Geórgia. Fez-se um profundo silêncio. Os soldados mantinham-se na expectativa, dando, como certa, a morte do bravo Samuel Erikman.
Sam e «Cabeça de Alce» estavam frente a frente.
— Lutaremos à nossa maneira — disse o índio.
Estendera o braço ,esperando que um dos seus lhe entregasse um «tomahawk»; quando o recebeu, arrojou-o aos pés de Sam. Antes de se inclinar para o apanhar, Sam olhou o filho. Dois «cherokees» seguravam-no, obrigando o garoto a permanecer quieto. Decidiu-se, então, a recolher a mortífera arma do chão.
A expectativa era tremenda. Os índios, silenciosos, preparavam-se para assistir a mais uma vitória do seu poderoso chefe. Ambos os homens, já em posição de luta, avançaram uns quantos passos, observando-se, mutuamente.
Johnny, com os olhos muito abertos, estava pendente dos menores gestos do pai. Tinha a perfeita consciência de que aquele era o maior perigo por que o valente caçador já passara.
«Cabeça de Alce» saltou para a frente, desferindo o primeiro golpe, que Sam evitou, habilmente. O índio voltou à carga, sem dar quaisquer tréguas ao caçador que, de novo, esquivou o golpe. Quando tentou o ataque pela terceira vez, Sam parou a pancada e passou ele, por sua vez, a atacar, errando por polegadas o rosto do adversário. O pele-vermelha contra-atacou, mas Sam, com pasmosa agilidade, meteu-lhe uma rasteira e o chefe rebelde caiu, desamparado, perdendo a arma. Sam dispunha-se a aproveitar tão soberana oportunidade, quando o índio ,desarmado, recuou, com o mais vivo pânico estampado no rosto.
— Agarra a arma! — concedeu-lhe Sam.
Temeroso e indeciso, «Cabeça de Alce» obedeceu, para depois, traiçoeira e inesperadamente, atacar Sam, que esteve a pontos de ser atingido pelo afiado gume do «tomahawk».
Durante longos segundos, ambos lutaram num desesperado, e frenético corpo-a-corpo. Sam conseguiu libertar-se e descarregar um soco, mas o índio deteve-o superiormente, para atacar ele, acto continuo. O caçador, acossado pelo pele-vermelha, recuou uns passos, tropeçando numa pedra e perdendo o equilíbrio. Então, «Cabeça de Alce» atacou, sem dó nem piedade. Se não rodasse, tão prontamente, sobre si mesmo, o valente caçador teria morrido ali.
«Cabeça de Alce», incrédulo, viu como a arma se enterrava no chão e, quando a quis arrancar, já Sam se tinha levantado e se arrojava sobre ele. O índio conseguiu recuperar o «tomahawk» e pôde parar o primeiro golpe, mas, ao segundo, foi desarmado, perdendo o equilíbrio. Então, Sam atirou fora a sua arma e voou para cima do adversário.
Rolando pelo chão, o caçador castigou, duramente, o traiçoeiro chefe rebelde, que acusou a pancada.
— Duro com ele, pai! Duro com ele! — gritou Johnny, entusiasmado com a mais fenomenal das lutas a que tinha assistido.
Sam deixou o adversário quase inconsciente e, então, levantou-o em peso.
— Agora, virás comigo. Tu e os teus homens acompanhar-me-ão para que a paz possa reinar nas montanhas «cherokees».
Excitado com a vitória, não advertiu que o índio se recompunha, rapidamente, e olhava o «tomahawk» caído perto. Com extraordinária agilidade, revolveu-se para alcançar a arma, ao mesmo tempo que o pequeno Johnny gritava:
— Cuidado, pai!
Sam reagiu, acto continuo, e foi ele o primeiro a chegar à arma. Enquanto com a mão esquerda socava, demolidoramente, o rosto do inimigo, com a direita apoderava-se da arma. E então, inclinado para o índio e fincando-lhe o joelho na barriga ameaçou:
— Deveria matar-te, «Cabeça de Alce».
— Fá-lo! Fá-lo agora, porque não voltarás a ter outra oportunidade igual!
Havia muito orgulho e ódio na expressão do índio. Sam mantinha ao alto a arma de afiado e mortal gume. A tensão era enorme. Bastaria que Sam deixasse cair o braço para que «Cabeça de Alce» fosse cadáver.
— Não — disse o caçador, por fim. — Mereces um castigo mais exemplar. Prometi ao capitão que lhe serias entregue. Os colonos que foram chacinados reclamam justiça...
Só afrouxou a pressão do joelho, quando a colina foi cercada pelos homens do capitão Morgan, e o próprio oficial fez a sua aparição no terreiro onde se desenrolara a luta.
— É teu, Morgan. Façam justiça.
— Isto evitará uma guerra — murmurou o oficial. —Obrigado, Erikman... Uma vez mais, fizeste-nos um grande favor.
Alguns índios tentaram fugir, mas foram capturados ou abatidos a tiro. Outros, mais temerosos, optaram por uma rendição sem luta. «Cabeça de Alce», manietado, foi conduzido ao forte de Chattahoochee, enquanto Sam e o filho regressavam à sua cabana, não sem passarem antes pelo povoado «cherokee».
«Flor Branca», a esposa do «Grande Chefe», manifestou o desejo de ficar a cuidar da pequenita sobrevivente do morticínio dos colonos, com o que Sam concordou. Na realidade, não a poderia deixar mais bem entregue. Com a vida nómada que ele levava, não seria, de modo algum, aconselhável que a garota os acompanhasse. Por outro lado, Sam sabia que nada iria faltar à pequena órfã e talvez com o tempo aquela convivência fosse o princípio da verdadeira paz entre os brancos e os «cherokees». Mas...
*
Tudo se precipitou próximo do desfiladeiro de Chatta-hoochee, quando «Cabeça de Alce», jogando tudo numa cartada, e apesar de se encontrar manietado, esporeou, inesperadamente, o cavalo, surpreendendo toda a coluna militar.
— A ele! — ordenou o capitão Morgan. — Precisamos desse maldito vivo!
Soaram algumas descargas com o intuito de o amedrontar, mas o «cherokee», perfeito conhecedor do terreno que pisava e extraordinário cavaleiro, não tardou a desaparecer. Foi inútil tentar a sua captura. O chefe guerreiro parecia ter sido tragado pela montanha.
Como testemunhas da carnificina dos colonos, restavam uns quantos índios sem importância e que não tiveram o valor suficiente para seguir o chefe, arriscando-se como ele o fizera. O capitão Morgan teve de aceitar o seu parcial inêxito, continuando a marcha até ao forte, sem o temível chefe rebelde.
Fez-se justiça, e as gentes dos diferentes povoados puderam voltar a viver em paz e sossego. Os rebeldes foram enforcados, para exemplo dos outros, e «Grande Trovão» sentiu na alma que homens do seu sangue tivessem uma morte tão baixa. No entanto, os corpos enforcados no pátio do forte de Chattahoochee simbolizavam a Justiça. Uma Justiça que se prometeu ser igual para todos.
De «Cabeça de Alce» ninguém mais ouviu falar, e Sam, em conversa com o pequeno Johnny, definiu, perfeita-mente, o que acontecia ao rebelde:
— A sua solidão, o facto de não se sentir rodeado por valentes guerreiros dispostos a dar a vida por ele, será o seu pior castigo.
Depois, passaram-se muitos invernos. Sempre no seu continuo deambular, Johnny foi cres-cendo e aprendendo novas coisas. De quando em quando, pai e filho regressavam ao povoado «cherokee», onde eram sempre bem recebidos. Nirva, a pequena sobrevivente da fatídica caravana de colonos, transformara-se em mulher. Numa bela mulher, como prognosticou Johnny muitas vezes.

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