A presença das comadres, à porta do silo, provocou uma expectativa maior do que a odisseia de John Pistol. Expectativa e risos.
Eram quatro mulheres, entre os quarenta e cinco e os sessenta anos. Vestiam severamente de negro, muito embiocadas. Uma delas usava lunetas, outra era coxa, a terceira tinha feições aduncas de ave noturna, e a última sofria de um tique nervoso que lhe contraía a cada momento a cara.
Chegaram acompanhadas por Glondy e por dois vaqueiros, a quem o xerife ordenara que as fossem buscar. Tinham falado umas com as outras e haviam concordado imediatamente em dar o seu testemunho, no original julgamento.
— Suba, senhora Hopi. Nenhum mal lhes sucederá... — declarou o xerife, que tinha descido para as receber.
— Não se preocupe, xerife. Não temos medo. Alegra-nos poder colaborar consigo para esclarecer o crime do rancho de John Pistol.
Subiram as escadas, muito empertigadas, seguidas pela curiosidade de todos. Por vezes uma delas chegava-se mais a outra e dizia-lhe qualquer coisa ao ouvido. E as outras faziam gestos de suficiência.
— Onde está John Pistol?... — perguntou a menos velha das quatro, quando chegaram ao último pavimento.
Estavam ali reunidos cerca de vinte homens. Em baixo, à porta, tinha ficado um dos ajudantes do xerife, para evitar que entrasse mais gente. Na rua havia uma multidão de curiosos, entre os quais várias mulheres. Glondy tinha finalmente entrado e estava ao lado de Buck.
John pensou que a sua posição era ridícula. Não devia deixar-se ficar no seu buraco escuro. O facto de estarem ali quatro mulheres favorecia a sua posição. Agora sim, ia realizar-se um julgamento, embora anormal e estranho. Se não descobrisse o verdadeiro culpado, entregar-se-ia. Já tinha feito bastante, contendo em respeito toda aquela gente, além de ter castigado os mais furiosos.
Não teve dificuldade em sair de onde estava. Deslizou pela corda. Em baixo esperavam-no os olhares furibundos de Mirriat e de Liberman.
— Entrega-me o revólver, John Pistol... — pediu Par-rot. — Prometi esperar até ao fim do prazo. Não haverá luta. Que tens a dizer?
— Xerife... — respondeu John, olhando para os seus principais inimigos. — ...em princípio não estou disposto a largar o revólver. Estou diante de dois tipos de maus instintos. Lembre-se do que Liberman fez. Sou desconfiado. Mas juro-lhe que não utilizarei a arma, a não ser que seja atacado por alguém que não seja você. Está bem assim?
Parrot olhou para os homens que o tinham acompanhado, passando-os em revista como se fosse um general diante das suas tropas. Não gostou da atitude de Mirriat.
— São onze e meia... -- disse Mirriat. — Faltam uns minutos para que expire o prazo. Dentro de uma hora estarás enforcado, John Pistol.
John não lhe deu importância. Estava perfeitamente calmo e seguro de si.
— Senhora Hopi, como está? Minhas senhoras... — cumprimentou gentilmente, sorrindo. — Muito bem... — respondeu a senhora Hopi. — E que tal a sua viagem pelo México?
— Trabalhosa. Procurei, durante cinco anos, as provas que servissem para condenar um criminoso. Foi como procurar uma agulha num palheiro.
— E encontrou-as?
— Creio que sim. Espero que as senhoras as confirmem.
As quatro mulheres olharam umas para as outras, intrigadas, A que tinha os tiques nervosos contorceu a cara mais profundamente, franzindo os lábios.
— Fale, John Pistol.
— É o que vou fazer. Todos sabem que as senhoras, nas suas reuniões diárias, ao cair da tarde, comentam todas as notícias que correm em San Ângelo. Não digo que sejam maldizentes e bisbilhoteiras, mas apenas que recebem informações das fontes mais diversas. Criticam...
— Cuidado, John Pistol... — atalhou, severa, a das lunetas. — Conversamos sem nos meter com ninguém. Apenas comentamos o que ouvimos nas lojas, na rua, nas reuniões sociais...
— Bem, era isso o que eu queria dizer.
O xerife fez um gesto de aborrecimento.
— Vamos ao assunto, que o tempo passa. Abreviar, abreviar...
— É o que vou fazer... — respondeu John.
Apontando Mirriat, disse:
— Por exemplo, minhas senhoras, tiveram notícias de que esse homem foi em tempos ladrão de gado e de cavalos?
A senhora Hopi, que era porta-voz das outras, não teve medo dos olhares furibundos de Mirriat, e respondeu com um enérgico aceno afirmativo.
— Que diz você?... — exclamou Mirriat, crispando os dedos no cinturão e fitando com raiva a mulher. —Tudo o que disse a meu respeito, é falso. De resto, não estamos aqui para falar de cavalos roubados. Queremos saber quem matou Nancy. Fui eu?
— Não, não. Disso não sabemos nada.
— Então não têm que falar de mim. Aqui há só um criminoso, que todos conhecemos. O resto é vontade de perder tempo.
— Não estamos a perder tempo... — interveio Parrot. — Chegámos a esta situação e vamos levá-la até ao fim. Mas vamos ao assunto que interessa, John Pistol. Não chamámos estas senhoras para que murmurem, mas para que citem factos concretos.
— Sim, coisas concretas... — apoiou Buck.
— Qual concretas nem qual diabo!... — berrou Liberman. — Isto daria vontade de rir, se não indignasse.
— Vamos ver, Liberman... — disse John. — Chamei estas senhoras para que falem de ti... — voltou-se para a senhora Hopi e perguntou: — Conhece Silver Kane, o «Sardento»?
— Um desavergonhado, que foi durante uns meses noivo da minha filha mais velha... — exclamou a velhota. — Um maroto, que me comeu jantares e se pôs a andar, deixando a minha filha de cara à banda. Levou cerca de quinhentos dólares que nos pediu emprestados.
— Coisas de noivos!
— Coisas de patifes! Se o visse, arrancava-lhe os olhos!
— Está longe, no Arizona. Encontrei-o, há meses, e contou-me o que lhe ouviu, a si, certa noite do Verão passado. Referia-se a Liberman.
— Fale, será curioso.
John encostou-se à parede. Sentia-se cansado. Acabou por se sentar sobre uma caixa. Olhou para Liberman.
— Tenho a impressão de que sigo pelo caminho direto que conduz ao criminoso. Já não conta o caso de Buck. Não creio que ele seja o culpado. Nem Glondy, nem Catey, nem mesmo Mirriat, embora todos tivessem motivos para o crime. Mas agora só um homem está em causa: Liberman. Direi porquê...
— Não insistas, John!... — exclamou Buck. — Contra o que possas dizer, está a minha palavra de que, nessa noite, Liberman estava bêbedo e eu o fechei num estábulo. Não foi Liberman.
— Fugiu durante a noite.
— Bêbedo? Não se aguentava em pé.
— Fingiu a bebedeira. Saiu por uma janela.
— Mentiral... — bradou Liberman. — Estive no estábulo até ao dia seguinte. O dono do saloon pode confirmar.
O dono do saloon estava presente. E declarou:
— É verdade. Tirei-o de lá pela manhã. Quando o encontrei, ainda dormia. Tive de o sacudir. Dizia palavras incoerentes. Posso jurá-lo.
— Acreditamos. Liberman, que tinha planeado o cri-me, quis executá-lo com todas as cautelas. Saiu, praticou a proeza e voltou ao palheiro. Fechou a janela e deve ter-se então embriagado realmente, com uísque que levava... — disse John.
Eram quatro mulheres, entre os quarenta e cinco e os sessenta anos. Vestiam severamente de negro, muito embiocadas. Uma delas usava lunetas, outra era coxa, a terceira tinha feições aduncas de ave noturna, e a última sofria de um tique nervoso que lhe contraía a cada momento a cara.
Chegaram acompanhadas por Glondy e por dois vaqueiros, a quem o xerife ordenara que as fossem buscar. Tinham falado umas com as outras e haviam concordado imediatamente em dar o seu testemunho, no original julgamento.
— Suba, senhora Hopi. Nenhum mal lhes sucederá... — declarou o xerife, que tinha descido para as receber.
— Não se preocupe, xerife. Não temos medo. Alegra-nos poder colaborar consigo para esclarecer o crime do rancho de John Pistol.
Subiram as escadas, muito empertigadas, seguidas pela curiosidade de todos. Por vezes uma delas chegava-se mais a outra e dizia-lhe qualquer coisa ao ouvido. E as outras faziam gestos de suficiência.
— Onde está John Pistol?... — perguntou a menos velha das quatro, quando chegaram ao último pavimento.
Estavam ali reunidos cerca de vinte homens. Em baixo, à porta, tinha ficado um dos ajudantes do xerife, para evitar que entrasse mais gente. Na rua havia uma multidão de curiosos, entre os quais várias mulheres. Glondy tinha finalmente entrado e estava ao lado de Buck.
John pensou que a sua posição era ridícula. Não devia deixar-se ficar no seu buraco escuro. O facto de estarem ali quatro mulheres favorecia a sua posição. Agora sim, ia realizar-se um julgamento, embora anormal e estranho. Se não descobrisse o verdadeiro culpado, entregar-se-ia. Já tinha feito bastante, contendo em respeito toda aquela gente, além de ter castigado os mais furiosos.
Não teve dificuldade em sair de onde estava. Deslizou pela corda. Em baixo esperavam-no os olhares furibundos de Mirriat e de Liberman.
— Entrega-me o revólver, John Pistol... — pediu Par-rot. — Prometi esperar até ao fim do prazo. Não haverá luta. Que tens a dizer?
— Xerife... — respondeu John, olhando para os seus principais inimigos. — ...em princípio não estou disposto a largar o revólver. Estou diante de dois tipos de maus instintos. Lembre-se do que Liberman fez. Sou desconfiado. Mas juro-lhe que não utilizarei a arma, a não ser que seja atacado por alguém que não seja você. Está bem assim?
Parrot olhou para os homens que o tinham acompanhado, passando-os em revista como se fosse um general diante das suas tropas. Não gostou da atitude de Mirriat.
— São onze e meia... -- disse Mirriat. — Faltam uns minutos para que expire o prazo. Dentro de uma hora estarás enforcado, John Pistol.
John não lhe deu importância. Estava perfeitamente calmo e seguro de si.
— Senhora Hopi, como está? Minhas senhoras... — cumprimentou gentilmente, sorrindo. — Muito bem... — respondeu a senhora Hopi. — E que tal a sua viagem pelo México?
— Trabalhosa. Procurei, durante cinco anos, as provas que servissem para condenar um criminoso. Foi como procurar uma agulha num palheiro.
— E encontrou-as?
— Creio que sim. Espero que as senhoras as confirmem.
As quatro mulheres olharam umas para as outras, intrigadas, A que tinha os tiques nervosos contorceu a cara mais profundamente, franzindo os lábios.
— Fale, John Pistol.
— É o que vou fazer. Todos sabem que as senhoras, nas suas reuniões diárias, ao cair da tarde, comentam todas as notícias que correm em San Ângelo. Não digo que sejam maldizentes e bisbilhoteiras, mas apenas que recebem informações das fontes mais diversas. Criticam...
— Cuidado, John Pistol... — atalhou, severa, a das lunetas. — Conversamos sem nos meter com ninguém. Apenas comentamos o que ouvimos nas lojas, na rua, nas reuniões sociais...
— Bem, era isso o que eu queria dizer.
O xerife fez um gesto de aborrecimento.
— Vamos ao assunto, que o tempo passa. Abreviar, abreviar...
— É o que vou fazer... — respondeu John.
Apontando Mirriat, disse:
— Por exemplo, minhas senhoras, tiveram notícias de que esse homem foi em tempos ladrão de gado e de cavalos?
A senhora Hopi, que era porta-voz das outras, não teve medo dos olhares furibundos de Mirriat, e respondeu com um enérgico aceno afirmativo.
— Que diz você?... — exclamou Mirriat, crispando os dedos no cinturão e fitando com raiva a mulher. —Tudo o que disse a meu respeito, é falso. De resto, não estamos aqui para falar de cavalos roubados. Queremos saber quem matou Nancy. Fui eu?
— Não, não. Disso não sabemos nada.
— Então não têm que falar de mim. Aqui há só um criminoso, que todos conhecemos. O resto é vontade de perder tempo.
— Não estamos a perder tempo... — interveio Parrot. — Chegámos a esta situação e vamos levá-la até ao fim. Mas vamos ao assunto que interessa, John Pistol. Não chamámos estas senhoras para que murmurem, mas para que citem factos concretos.
— Sim, coisas concretas... — apoiou Buck.
— Qual concretas nem qual diabo!... — berrou Liberman. — Isto daria vontade de rir, se não indignasse.
— Vamos ver, Liberman... — disse John. — Chamei estas senhoras para que falem de ti... — voltou-se para a senhora Hopi e perguntou: — Conhece Silver Kane, o «Sardento»?
— Um desavergonhado, que foi durante uns meses noivo da minha filha mais velha... — exclamou a velhota. — Um maroto, que me comeu jantares e se pôs a andar, deixando a minha filha de cara à banda. Levou cerca de quinhentos dólares que nos pediu emprestados.
— Coisas de noivos!
— Coisas de patifes! Se o visse, arrancava-lhe os olhos!
— Está longe, no Arizona. Encontrei-o, há meses, e contou-me o que lhe ouviu, a si, certa noite do Verão passado. Referia-se a Liberman.
— Fale, será curioso.
John encostou-se à parede. Sentia-se cansado. Acabou por se sentar sobre uma caixa. Olhou para Liberman.
— Tenho a impressão de que sigo pelo caminho direto que conduz ao criminoso. Já não conta o caso de Buck. Não creio que ele seja o culpado. Nem Glondy, nem Catey, nem mesmo Mirriat, embora todos tivessem motivos para o crime. Mas agora só um homem está em causa: Liberman. Direi porquê...
— Não insistas, John!... — exclamou Buck. — Contra o que possas dizer, está a minha palavra de que, nessa noite, Liberman estava bêbedo e eu o fechei num estábulo. Não foi Liberman.
— Fugiu durante a noite.
— Bêbedo? Não se aguentava em pé.
— Fingiu a bebedeira. Saiu por uma janela.
— Mentiral... — bradou Liberman. — Estive no estábulo até ao dia seguinte. O dono do saloon pode confirmar.
O dono do saloon estava presente. E declarou:
— É verdade. Tirei-o de lá pela manhã. Quando o encontrei, ainda dormia. Tive de o sacudir. Dizia palavras incoerentes. Posso jurá-lo.
— Acreditamos. Liberman, que tinha planeado o cri-me, quis executá-lo com todas as cautelas. Saiu, praticou a proeza e voltou ao palheiro. Fechou a janela e deve ter-se então embriagado realmente, com uísque que levava... — disse John.
Liberman espumava, de punhos crispados. Parecia deitar fogo pelos olhos...
— Nunca disseste uma verdade em toda a tua vida, John Pistol. Não sei como me contenho, nem como te deixo falar. Tens os testemunhos de Buck e do dono do saloon. Estás a inventar para encobrir o teu crime. De nada te servirá!
— Se assim for, serei eu o enforcado.
— Menos divagações, John Pistol... — interveio novamente o xerife. — Tens vinte minutos para explicar por que motivo chamaste estas senhoras.
— Não esqueço isso. Todos estamos pendentes das palavras delas. Esperamos que nos digam o que sabem.
— Falaremos, se com isso ajudamos a justiça... — declarou a senhora Hopi.
— Lembra-se do que contou Silver Kane, pouco antes de ele desaparecer com os seus quinhentos dólares?
As velhotas entreolharam-se de novo. A dois tiques nervosos fez um tremendo esforço para se dominar. Olhou furtivamente para Liberman e decerto se assustou, porque fez uma careta espantosa.
— Não sabemos que Liberman tenha querido matar Nancy. Não podemos acusá-lo de criminoso... — disse a senhora Hopi. — Mas sabemos de coisas que relacionam Liberman com essa Nancy.
— Fale!... — ordenou Parrot.
— Buck, Mirriat e outros também tinham relações com Nancy... — disse Liberman, tentando dominar os nervos. — Todos a conhecíamos e lhe falávamos.
— Cuidado, os minutos passam... — disse John. — Estamos a ouvi-la, senhora Hopi.
— Estou pronta a falar. Quem trouxe a notícia foi a senhora Palmer. Onde a colheste, Margaret?
Margaret Palmer era justamente a dos tiques. Naquele instante as suas crispações faciais começaram a acentuar-se, numa série de caretas perfeitamente alucinantes. Atarantava-se cada vez mais, ao ver todos os olhares fitos nela.
— Ouvi-a a um vaqueiro vagabundo que trabalhou em San Ângelo... Disse-me que... que tinha conhecido Nancy em Oklahoma, e que aí conhecera também o mais perigoso trapaceiro, de quantos vira...
— Continue, senhora Palmer... — disse o xerife, interessado.
— Esse trapaceiro trabalhava por conta de um saloon. chamado Golden Grill... Era um artista da batota, e depenava os pobres jogadores. Certa vez calhou passar por ali um vaqueiro simpático e jovem. Levava mil dólares no bolso... e deixou-os ficar na mesa de jogo, até ao último. Depois jogou um título de dívida pública, que tirou da carteira. Jogou-o e...
— E então?... — insistiu Parrot.
John fitava Liberman, cujo nervosismo crescia. Esperava tudo dele.
— Então o vaqueiro perdeu, mas descobriu a trapaça. Deu um soco na mesa, que fez saltar tudo... Oh, estes meus nervos!
— Continue. Não se preocupe com as caretas, estamos a ouvi-la... — disse o xerife.
— Sim, querida, continua... — apoiou a senhora Hopi. — Contas muito bem, melhor ainda do que eu.
— O vaqueiro e o jogador trapaceiro envolveram-se em desordem. O jogador levou uma sova e ficou sem sentidos. Sabem o que fez o vaqueiro?
— Diga.
— Pois apanhou todo o dinheiro que estava em cima da mesa, e guardou-o. Eram uns cinco mil dólares. Disse que eram dele. E desapareceu do saloon.
-- Só isso?... — perguntou o xerife, dececionado. -- Pois então não calcula o que aconteceu depois?
— Não.
— São curtos de entendimento... — censurou a senhora Palmer, com uma pavorosa careta. — O vaqueiro morto, num pântano, nessa mesma noite. E não tinha um só dólar com ele.
— Matou-o o trapaceiro, não?
— Os juízes não o consideraram assim. O trapaceiro apresentou um alibi. Tinha passado o serão, numa festa, com uma das raparigas do saloon. E ela confirmou. Sabem quem era?
— Nancy?
— Exato, Nancy. Por isso o crime ficou impune.
Houve um silêncio. Os homens entreolharam-se. Liberman estava de cabeça baixa e parecia nervoso. John esperava, calmo.
— Não disse quem era o trapaceiro, senhora Palmer.
— Nem é preciso. Tenho a certeza de que todos sabem quem era.
— Liberman, não?
— Sim, Liberman.
Todos os olhares se voltaram para Liberman. Havia expressões de acusação e de censura. Mas o homem refez-se. Olhou alternadamente para o xerife, para as mulheres e para John Pistol.
— Somos poucos os que estamos limpos de culpas... — disse. — E eu não estou. Trabalhei para Pericot Bryan, proprietário do saloon de Oklahoma... Mas era um jogador profissional, não um trapaceiro. O resto é má língua.
— Mas é verdade o que acabamos de ouvir? Sim, apenas eu não era trapaceiro.
— E quem matou o vaqueiro?
— Não sei. Sei apenas que não fui eu. Juro-o.
— Não servem juramentos... — interveio John, levantando-se. — Mataste o vaqueiro porque te desmascarou e te humilhou em público. E roubaste-lhe o dinheiro.
Liberman não se conteve. Estava muito perto de John. Saltou e deu-lhe um soco no queixo, derrubando-o. John levantou-se no mesmo instante e dirigiu-se para Liberman. Mas o xerife meteu-se entre ambos, empunhando a arma.
— Faltam cinco minutos para que termine o prazo. mas é o mesmo. Levanta os braços. Tu também, Liberman. Vou tirar-lhes as armas. Um de vocês assassinou Nancy. Não tardaremos a saber quem foi.
Buck desarmou Liberman. O xerife encarregou-se de John.
— Que é isto, Parrot?... — perguntou Liberman. —Duvida da minha inocência?
— Há qualquer coisa de obscuro em tudo isto. As velhotas deram-nos uma boa pista.
— Qual?
— Tu tinhas relações com Nancy. Podes ser o assassino do vaqueiro. Nancy sabia-o, visto que te ajudou a escapar. Mas receavas que ela, sendo mulher, pudesse dar à língua.
— Protesto!... — exclamou Liberman. — Está a criticar o trabalho do xerife e dos juízes de Oklahoma. Eles viram que eu não era culpado. No saloon não faltavam ladrões à espera de uma vítima. O criminoso, quem quer que foi, viu que o vaqueiro levava o dinheiro todo. Esperou-o e abateu-o a tiro. Assim o entenderam os juízes de Oklahoma. Acha que se enganaram?
— Não direi tanto, mas...
— Nunca falei na minha amizade com Nancy, por causa das suspeitas. — Receei que, complicando as coisas, viessem a desconfiar de mim. Mas foi pior, porque um vagabundo falou nisso. Agora não me importo. Este homem, John Pistol, foi o assassino de Nancy. Exijo que se faça justiça! Chamemos os juízes de Oklahoma. Quer?
Parrot estava em má posição. Não podia pôr em dúvida a sentença dos juízes. Como sair dali? Liberman insistia:
— Peço justiça! Só há um criminoso, que é John Pistol. A morte do vaqueiro nada tem a ver com a de Nancy. Buck viu Pistol segundos depois de ele praticar o crime. John fugiu, o que prova claramente a sua culpa. Apresentou-se em San Ângelo cinco anos depois, julgando tudo esquecido. Organizou toda esta trapalhada, mas nada se tem de pé.
— Sim... — disse Mirriat. — John Pistol é o culpado! À forca!
John quis defender-se, mas inutilmente. De novo dez homens o acusavam. Animado por Liberman, Buck voltou a dizer que assistira ao crime. Glondy calava-se. Parecia ausente, no meio do tumulto.
— À forca, xerife!... — berrou Mirriat. — Acabou o prazo!
— Não, o assunto não está claro...
— À forca! À forca!
A exclamação tornou-se unânime, ou pouco menos. Parrot era arrastado. Não pôde evitar que agarrassem John Pistol e o forçassem a descer. Ferido, o acusado mal podia defender-se. As quatro velhotas desceram depois, um tanto atarantadas.
— Não serviu de nada a nossa intervenção... — comentava a senhora Hopi. — Mas sinto que John está inocente.
— Cá para mim, Liberman foi o autor das duas mortes... — declarou a senhora Palmer.
Glondy, parada à porta, deixou que os homens se afastassem, com o preso.
— Não... — murmurou. — Não foi o autor das duas mortes, mas de uma.
Começou a andar. Adiante seguia o xerife, de cabeça baixa, acabrunhado, sem saber como dominar a situação. Liberman e Mirriat, que abriam o cortejo, bradavam:
— À forca! É o fim de John Pistol!
— Nunca disseste uma verdade em toda a tua vida, John Pistol. Não sei como me contenho, nem como te deixo falar. Tens os testemunhos de Buck e do dono do saloon. Estás a inventar para encobrir o teu crime. De nada te servirá!
— Se assim for, serei eu o enforcado.
— Menos divagações, John Pistol... — interveio novamente o xerife. — Tens vinte minutos para explicar por que motivo chamaste estas senhoras.
— Não esqueço isso. Todos estamos pendentes das palavras delas. Esperamos que nos digam o que sabem.
— Falaremos, se com isso ajudamos a justiça... — declarou a senhora Hopi.
— Lembra-se do que contou Silver Kane, pouco antes de ele desaparecer com os seus quinhentos dólares?
As velhotas entreolharam-se de novo. A dois tiques nervosos fez um tremendo esforço para se dominar. Olhou furtivamente para Liberman e decerto se assustou, porque fez uma careta espantosa.
— Não sabemos que Liberman tenha querido matar Nancy. Não podemos acusá-lo de criminoso... — disse a senhora Hopi. — Mas sabemos de coisas que relacionam Liberman com essa Nancy.
— Fale!... — ordenou Parrot.
— Buck, Mirriat e outros também tinham relações com Nancy... — disse Liberman, tentando dominar os nervos. — Todos a conhecíamos e lhe falávamos.
— Cuidado, os minutos passam... — disse John. — Estamos a ouvi-la, senhora Hopi.
— Estou pronta a falar. Quem trouxe a notícia foi a senhora Palmer. Onde a colheste, Margaret?
Margaret Palmer era justamente a dos tiques. Naquele instante as suas crispações faciais começaram a acentuar-se, numa série de caretas perfeitamente alucinantes. Atarantava-se cada vez mais, ao ver todos os olhares fitos nela.
— Ouvi-a a um vaqueiro vagabundo que trabalhou em San Ângelo... Disse-me que... que tinha conhecido Nancy em Oklahoma, e que aí conhecera também o mais perigoso trapaceiro, de quantos vira...
— Continue, senhora Palmer... — disse o xerife, interessado.
— Esse trapaceiro trabalhava por conta de um saloon. chamado Golden Grill... Era um artista da batota, e depenava os pobres jogadores. Certa vez calhou passar por ali um vaqueiro simpático e jovem. Levava mil dólares no bolso... e deixou-os ficar na mesa de jogo, até ao último. Depois jogou um título de dívida pública, que tirou da carteira. Jogou-o e...
— E então?... — insistiu Parrot.
John fitava Liberman, cujo nervosismo crescia. Esperava tudo dele.
— Então o vaqueiro perdeu, mas descobriu a trapaça. Deu um soco na mesa, que fez saltar tudo... Oh, estes meus nervos!
— Continue. Não se preocupe com as caretas, estamos a ouvi-la... — disse o xerife.
— Sim, querida, continua... — apoiou a senhora Hopi. — Contas muito bem, melhor ainda do que eu.
— O vaqueiro e o jogador trapaceiro envolveram-se em desordem. O jogador levou uma sova e ficou sem sentidos. Sabem o que fez o vaqueiro?
— Diga.
— Pois apanhou todo o dinheiro que estava em cima da mesa, e guardou-o. Eram uns cinco mil dólares. Disse que eram dele. E desapareceu do saloon.
-- Só isso?... — perguntou o xerife, dececionado. -- Pois então não calcula o que aconteceu depois?
— Não.
— São curtos de entendimento... — censurou a senhora Palmer, com uma pavorosa careta. — O vaqueiro morto, num pântano, nessa mesma noite. E não tinha um só dólar com ele.
— Matou-o o trapaceiro, não?
— Os juízes não o consideraram assim. O trapaceiro apresentou um alibi. Tinha passado o serão, numa festa, com uma das raparigas do saloon. E ela confirmou. Sabem quem era?
— Nancy?
— Exato, Nancy. Por isso o crime ficou impune.
Houve um silêncio. Os homens entreolharam-se. Liberman estava de cabeça baixa e parecia nervoso. John esperava, calmo.
— Não disse quem era o trapaceiro, senhora Palmer.
— Nem é preciso. Tenho a certeza de que todos sabem quem era.
— Liberman, não?
— Sim, Liberman.
Todos os olhares se voltaram para Liberman. Havia expressões de acusação e de censura. Mas o homem refez-se. Olhou alternadamente para o xerife, para as mulheres e para John Pistol.
— Somos poucos os que estamos limpos de culpas... — disse. — E eu não estou. Trabalhei para Pericot Bryan, proprietário do saloon de Oklahoma... Mas era um jogador profissional, não um trapaceiro. O resto é má língua.
— Mas é verdade o que acabamos de ouvir? Sim, apenas eu não era trapaceiro.
— E quem matou o vaqueiro?
— Não sei. Sei apenas que não fui eu. Juro-o.
— Não servem juramentos... — interveio John, levantando-se. — Mataste o vaqueiro porque te desmascarou e te humilhou em público. E roubaste-lhe o dinheiro.
Liberman não se conteve. Estava muito perto de John. Saltou e deu-lhe um soco no queixo, derrubando-o. John levantou-se no mesmo instante e dirigiu-se para Liberman. Mas o xerife meteu-se entre ambos, empunhando a arma.
— Faltam cinco minutos para que termine o prazo. mas é o mesmo. Levanta os braços. Tu também, Liberman. Vou tirar-lhes as armas. Um de vocês assassinou Nancy. Não tardaremos a saber quem foi.
Buck desarmou Liberman. O xerife encarregou-se de John.
— Que é isto, Parrot?... — perguntou Liberman. —Duvida da minha inocência?
— Há qualquer coisa de obscuro em tudo isto. As velhotas deram-nos uma boa pista.
— Qual?
— Tu tinhas relações com Nancy. Podes ser o assassino do vaqueiro. Nancy sabia-o, visto que te ajudou a escapar. Mas receavas que ela, sendo mulher, pudesse dar à língua.
— Protesto!... — exclamou Liberman. — Está a criticar o trabalho do xerife e dos juízes de Oklahoma. Eles viram que eu não era culpado. No saloon não faltavam ladrões à espera de uma vítima. O criminoso, quem quer que foi, viu que o vaqueiro levava o dinheiro todo. Esperou-o e abateu-o a tiro. Assim o entenderam os juízes de Oklahoma. Acha que se enganaram?
— Não direi tanto, mas...
— Nunca falei na minha amizade com Nancy, por causa das suspeitas. — Receei que, complicando as coisas, viessem a desconfiar de mim. Mas foi pior, porque um vagabundo falou nisso. Agora não me importo. Este homem, John Pistol, foi o assassino de Nancy. Exijo que se faça justiça! Chamemos os juízes de Oklahoma. Quer?
Parrot estava em má posição. Não podia pôr em dúvida a sentença dos juízes. Como sair dali? Liberman insistia:
— Peço justiça! Só há um criminoso, que é John Pistol. A morte do vaqueiro nada tem a ver com a de Nancy. Buck viu Pistol segundos depois de ele praticar o crime. John fugiu, o que prova claramente a sua culpa. Apresentou-se em San Ângelo cinco anos depois, julgando tudo esquecido. Organizou toda esta trapalhada, mas nada se tem de pé.
— Sim... — disse Mirriat. — John Pistol é o culpado! À forca!
John quis defender-se, mas inutilmente. De novo dez homens o acusavam. Animado por Liberman, Buck voltou a dizer que assistira ao crime. Glondy calava-se. Parecia ausente, no meio do tumulto.
— À forca, xerife!... — berrou Mirriat. — Acabou o prazo!
— Não, o assunto não está claro...
— À forca! À forca!
A exclamação tornou-se unânime, ou pouco menos. Parrot era arrastado. Não pôde evitar que agarrassem John Pistol e o forçassem a descer. Ferido, o acusado mal podia defender-se. As quatro velhotas desceram depois, um tanto atarantadas.
— Não serviu de nada a nossa intervenção... — comentava a senhora Hopi. — Mas sinto que John está inocente.
— Cá para mim, Liberman foi o autor das duas mortes... — declarou a senhora Palmer.
Glondy, parada à porta, deixou que os homens se afastassem, com o preso.
— Não... — murmurou. — Não foi o autor das duas mortes, mas de uma.
Começou a andar. Adiante seguia o xerife, de cabeça baixa, acabrunhado, sem saber como dominar a situação. Liberman e Mirriat, que abriam o cortejo, bradavam:
— À forca! É o fim de John Pistol!
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