sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

PAS720. Um sorriso para o xerife

Enquanto se encaminhava para o sítio onde tinha deixado «Snow Flake», Joe pensava na curta converso que tivera com os três poderosos ganadeiros. Não lhe agradara. Aqueles homens pareciam querer, com boas palavras desligarem-se do assunto.
Já vinha agarrado as rédeas do cavalo e dispunha-se a partir, quando alguma coisa o obrigou a deter-se. Acabava de ver aparecer uma rapariga de singular beleza. Teria talvez vinte anos. Tinha o cabelo loiro penteado em duas tranças, que pareciam feitas de raios de sol; os olhos em amêndoa, quase da cor dos cabelos, tinham o brilho lânguido e inocente dos olhoS das gazelas; narizito pequeno e levemente arrebitado dava-lhe uma graça especial à cara muito bonita, cujos lábios, vermelhos como morangos, se entreabriam num sorriso.
Joe ficou imóvel, absorto pela maravilhosa visão. Não sabia quem era ela; não tinha qualquer motivo para a deter; mas olhava-a, pasmado, possuído por uma estranha fascinação. Era a primeira vez que uma mulher lhe causava uma impressão tão profunda.
A rapariga, sem deixar de sorrir, caminhava para ele, com uma tal graça de movimentos que Joe pensou se não estaria a ser vítima de uma alucinação.
—Olá!
Só faltava a música da sua voz, para que ele se convencesse realmente de que era uma aparição fantástica.
— Olá... — respondeu, com dificuldade.
— Creio que é o novo xerife... — disse ela, em voz tranquila.
— Sou, realmente...
— Eu chamo-me Diana... Diana Chambers.
— Ah!... — a surpresa quase fez com que Joe perdesse a voz. — É portanto a filha de...
— Sou... — atalhou ela, sorridente.
Não era possível continuar a pensar nela como num sonho. Aquela lindíssima rapariga era de carne e osso, como as outras, e filha de Guy Chambers, o dono da casa, com quem Joe acabava de falar.
— Muito prazer em conhecê-la... — respondeu ele. — Eu chamo-me Joe English.
— Já sabia... — volveu a jovem. — Interessei-me por si, logo que chegou. Os xerifes que se atrevem a vir ,para aqui são sempre interessantes. Parece que a vida não tem grandes atrativos para eles; além disso, no que se refere a si, há quem diga que... — interrompeu-se, titubeando.
— Peço-lhe que conclua o que ia dizer.
— Afirmam que você é o mais provável candidato que a morte teve alguma vez. E desculpe o meu tom de melodrama... Quis que eu terminasse a frase que me arrependi de ter principiado...
— Talvez tenham razão.
Ela olhou-o atentamente e não respondeu. Realmente o aspeto de Joe English fazia pensar num rapazinho ingénuo.
— É-me simpático por uma coisa...
— Sou-lhe simpático? Oh! Obrigado!
— É-me simpático... — repetiu ela — ... porque parece desconhecer a fanfarronada, um vício que tem muitas raízes por aí. Além disso... como poderia ser cobarde quem teve a coragem suficiente para se meter neste vespeiro? Suponho que o tinham informado antes...
— Obrigado pelas suas palavras. Prometo-lhe mostrar-me digno delas.
Ela sorriu mais, e aquele sorriso cravou-se na alma de Joe, como um dardo luminoso. No caminho de regresso, a recordação daquele sorriso fê-lo esquecer as preocupações que a reunião com os três ganadeiros lhe tinha causado.
Era difícil, no entanto, era difícil e perigoso, lutar contra a rotina.

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