A viagem de regresso a Richland Springs não apresentou nada de agradável para a comitiva capitaneada por Speed. pelo contrário. Foi um martírio para todos.
Em Winchell ficaram os dois companheiros caídos em cumprimento do dever. Também Lee Dunham recebeu sepultura. Os três — inimigos em vida e unidos na morte — repousavam no mesmo cemitério poeirento, em valas paralelas, sem distinção especial. Eram três mortos. E os mortos, na terra recém-desbravada do Oeste, eram tratados com democrática igualdade.
Speed, Raymond e o envergonhado Dodge cavalgaram pelo seu plaino do sul de Winchell até atravessar o Colorado pelo vau de Água Vermelha. Depois, a trote brando e sempre encerrados num mutismo carrancudo, desceram pelo deserto salpicado de catos amarelos até coroar as mesetas negruscas, como de cinza, que anunciavam a proximidade de Richland Springs.
Dois dias e meio de caminho. Acampando no chão duro, dormindo cinco horas, e calando com os lábios ainda que não com a mente, a recordação de Miller e Garroway.
Teriam sido seis ou oito se trouxessem os cadáveres atravessados nas selas vaqueiras. Além de que o calor infernal — e aqui está o espinhoso da questão — teria feito inchar os corpos até decompô-los. Lamentavam-no. Mas a lógica mais elementar obrigava à necessária inumação.
Ao entardecer do terceiro dia, sujos de pó, barbudos e derreados, o comissário e os seus delegados entraram na ampla Main Street de Richland Springs (1). O nome, na verdade, parecia uma ironia em vista da desolação que circundava a comarca.
Para nenhum dos habitantes da povoação foi segredo o ocorrido, ao ver os dois cavalos sem cavaleiros. Speed, de mau humor, dirigiu o grupo diretamente para a repartição do xerife Costell.
Desmontaram, ignorando os assistentes que se aproximavam com a curiosidade de refletida no olhar. Speed atou as rédeas à barra para os cavalos que havia em frente da porta e entrou sem esperar por ninguém.
O xerife Costell não estava no gabinete. O comissário Davis que, na ausência da autoridade civil, se encarregara da aplicação da lei, recebeu-o cordialmente.
— O velho foi à caça — explicou, referindo-se a Costell. — Talvez demore uma semana, um mês... ou um ano a voltar. Mas quando regressar, há-de vir com o Collerson amarrado à sela.
— Collerson... — repetiu Speed, sacudindo com a ajuda do chapéu o pó acumulado nas calças — um mau bicho. Que foi desta vez?
Em Winchell ficaram os dois companheiros caídos em cumprimento do dever. Também Lee Dunham recebeu sepultura. Os três — inimigos em vida e unidos na morte — repousavam no mesmo cemitério poeirento, em valas paralelas, sem distinção especial. Eram três mortos. E os mortos, na terra recém-desbravada do Oeste, eram tratados com democrática igualdade.
Speed, Raymond e o envergonhado Dodge cavalgaram pelo seu plaino do sul de Winchell até atravessar o Colorado pelo vau de Água Vermelha. Depois, a trote brando e sempre encerrados num mutismo carrancudo, desceram pelo deserto salpicado de catos amarelos até coroar as mesetas negruscas, como de cinza, que anunciavam a proximidade de Richland Springs.
Dois dias e meio de caminho. Acampando no chão duro, dormindo cinco horas, e calando com os lábios ainda que não com a mente, a recordação de Miller e Garroway.
Teriam sido seis ou oito se trouxessem os cadáveres atravessados nas selas vaqueiras. Além de que o calor infernal — e aqui está o espinhoso da questão — teria feito inchar os corpos até decompô-los. Lamentavam-no. Mas a lógica mais elementar obrigava à necessária inumação.
Ao entardecer do terceiro dia, sujos de pó, barbudos e derreados, o comissário e os seus delegados entraram na ampla Main Street de Richland Springs (1). O nome, na verdade, parecia uma ironia em vista da desolação que circundava a comarca.
Para nenhum dos habitantes da povoação foi segredo o ocorrido, ao ver os dois cavalos sem cavaleiros. Speed, de mau humor, dirigiu o grupo diretamente para a repartição do xerife Costell.
Desmontaram, ignorando os assistentes que se aproximavam com a curiosidade de refletida no olhar. Speed atou as rédeas à barra para os cavalos que havia em frente da porta e entrou sem esperar por ninguém.
O xerife Costell não estava no gabinete. O comissário Davis que, na ausência da autoridade civil, se encarregara da aplicação da lei, recebeu-o cordialmente.
— O velho foi à caça — explicou, referindo-se a Costell. — Talvez demore uma semana, um mês... ou um ano a voltar. Mas quando regressar, há-de vir com o Collerson amarrado à sela.
— Collerson... — repetiu Speed, sacudindo com a ajuda do chapéu o pó acumulado nas calças — um mau bicho. Que foi desta vez?
(1) Mananciais das Terras Ricas.
— Tentaram assaltar o Cattle Bank (1). Foi um sarilho dos demónios. Prendemos um do bando; mas os outros fugiram a todo o galope. O velho espera agarrá-los antes de chegarem a Goldthwait, perto do rio Lampasas. O detido chama-se Joe Bliss. Está numa das celas.
Speed olhou para o fundo da casa. Num dos quatro calabouços, com as mãos apertadas em torno dos varões da grade, um indivíduo de aspeto inconfundível escutava--os desdenhosamente.
O tal Joe Bliss parecia perfeitamente tranquilo e seguro de si mesmo. Speed sentiu acelerar-se-lhe o bater do coração. Sujos delinquentes. Tipos como aquele matavam, sem o mínimo escrúpulo, pessoas esforçadas e dignas da craveira de Garroway e Miller. Bastava a presença de um tipo assim para o enfurecer.
— Bom — acrescentou Davis — como é que a coisa correu?
— Lee Dunham está a fazer tijolo em Winchell — respondeu Speed. — Isto — e ao falar bateu no revólver metido entre as calças e o cinto é a única coisa que trouxemos dele.
Raymond e Dodge, que tinham entrado pouco antes, permaneciam silenciosos e meditativos. Não conseguiam descerrar os lábios.
O primeiro arrumou a carabina no armeiro e puxou uma cadeira, deixando-se cair derreado sobre ela. Dodge, nervoso, esforçava-se por dominar o tremor das mãos inquietas. Seria capaz de as cortar para impedir que delatassem o seu estado de ânimo.
Speed olhou para o fundo da casa. Num dos quatro calabouços, com as mãos apertadas em torno dos varões da grade, um indivíduo de aspeto inconfundível escutava--os desdenhosamente.
O tal Joe Bliss parecia perfeitamente tranquilo e seguro de si mesmo. Speed sentiu acelerar-se-lhe o bater do coração. Sujos delinquentes. Tipos como aquele matavam, sem o mínimo escrúpulo, pessoas esforçadas e dignas da craveira de Garroway e Miller. Bastava a presença de um tipo assim para o enfurecer.
— Bom — acrescentou Davis — como é que a coisa correu?
— Lee Dunham está a fazer tijolo em Winchell — respondeu Speed. — Isto — e ao falar bateu no revólver metido entre as calças e o cinto é a única coisa que trouxemos dele.
Raymond e Dodge, que tinham entrado pouco antes, permaneciam silenciosos e meditativos. Não conseguiam descerrar os lábios.
O primeiro arrumou a carabina no armeiro e puxou uma cadeira, deixando-se cair derreado sobre ela. Dodge, nervoso, esforçava-se por dominar o tremor das mãos inquietas. Seria capaz de as cortar para impedir que delatassem o seu estado de ânimo.
(1) Banco do Gado.
— E os outros? — inquiriu Davis.
— Também estão a fazer tijolo no cemitério de Winchell. O pistoleiro liquidou-os.
— Oh! — exclamou Davis, arrastando a interjeição. — Pobres rapazes... Garroway era solteiro. Mas... Não sei como havemos de informar a esposa de Miller... Triste assunto este... Seria melhor esperar pelo xerife.
— Para quê? — Speed torceu os lábios, duro. — Dir-lhe-emos o mesmo de sempre. Já sabes: que morreu como um valente; que a sua memória honrará a nossa corporação... que um indecente verme como aquele Joe Bliss que ali está na cela lhe meteu uma bala no crânio. Deviam enforcá-los a todos, sem mais conversas! A lei é branda em alguns casos.
— Tens razão, Speed. Tu eras muito amigo dele, não é verdade?
— Muito. Éramos como irmãos.
Do calabouço, deliberadamente ofensivo, Joe Bliss bocejou com todo o ruído de que foi capaz. Os presentes voltaram-se para ele. A censura que se lhes lia nos olhos não o impressionou.
Tão soez manifestação foi como um murro que tivessem dado em Speed. Não podia tolerar que um desprezível salteador de Bancos fizesse troça das suas palavras e sentimentos mais puros.
— Cala a boca — ordenou asperamente. — Mete o nariz no colchão e dorme.
— Não se pode bocejar nesta pocilga, compadre?
— Cala-te!
— Oiça... devagar — sorria Bliss. — Ainda não me condenaram. Se está incomodado, tape os ouvidos.
— Já disse que te cales...
— Não gritaria tanto se eu estivesse solto.
— Maldito...!
Ao mesmo tempo que falava, Speed caminhou com passos rápidos e firmes para a cela.
Parecia animado de péssimas intenções a respeito da ratazana humana que tinham encurralado e detido no frustrado assalto ao Catle Bank. Talvez se lembrasse de Dunham e esse pensamento fosse a origem da irritação que o avassalava. Não podia suportar a presença do criminoso.
Davis, adivinhando que o amigo passava por um mau momento, quis evitar a cena. Compreendia que a crise de nervos não seria duradoira; mas, conhecendo Speed, era de esperar qualquer reação violenta. Inclusivamente que espancasse o detido.
— Espera, rapaz. Creio que te excitaste sem...
Tudo ocorreu velocissimamente. De um modo vertiginoso e confuso. Há coisas fatais que sucedem porque têm de suceder, e torna-se inútil tentar arranjar-lhes uma explicação.
Speed, encolerizado, aproximou-se das grades. Brandiu um punho ameaçador, disposto a apagar, a soco, o riso de Joe Bliss. Troçava de Miller e ele não podia consenti-lo!
Esqueceu onde estava. Esqueceu que o xerife Costell exigia sempre um tratamento justo para os prisioneiros. Esqueceu, inclusivamente... o tentador revólver que se aflorava do cós das calças! Nunca devia ter-se deixado arrastar pela ira. A arma representava uma tentação iniludível!
Joe Bliss, rapidíssimo, só teve de estender a mão... e puxar para cima!
O famoso «Colt» saiu do cinturão friamente empunhado pela coronha, com o percutor alçado mediante um ágil movimento do polegar. Disposto a cuspir a morte!
Logo a seguir, atuando com esmagadora eficácia, o braço esquerdo de Bliss aferrou o comissário pelos ombros. Antes de que se apercebesse da espantosa verdade, Speed ficou dominado... sentindo no pescoço o frio paralisador do aço!
— Posso matá-lo — preveniu o assaltante. — Quase desejo fazê-lo! Você foi um imbecil, comissário...
— Não..., não seja louco, Bliss — balbuciou Davis.
— Depende... do modo como obedeçam às minhas indicações. Agora mando eu — olhou-os desafiadoramente, sem sorrisos. — Bem, que esperam? Desapertem os cintos! E mãos para cima!
Não ameaçava em vão. Os homens sempre sabem, ao certo, quando outro homem se arma em fanfarrão ou quando fala a sério. Tragicamente convencido do seu poder!
O relógio do escritório desentranhava um tiquetaque ensurdecedor. Dodge, nervoso, desapertou a fivela do seu cinturão-cartucheira e o coldre, com o pesado revólver, caiu-lhe aos pés. Cobarde como de costume.
— Ele não dispara — ofegou Speed. — Digo-lhes que...
— Experimentem armar em tesos, desafiou Bliss. — Vamos! Obedeçam! É o último aviso... e não posso perder tempo.
— Lamento — gemeu Davis. — Tem de ser. É um desesperado e tu corres perigo. Está bem, Joe. Ganhaste.
— Claro. Creio que este lindo revólver me trará sorte.
Davis, Raymond e Dodge, livres das armas levantaram os braços. Speed forcejava em vão. O cano do revólver propinou-lhe um golpe seco na nuca... e terminaram as suas tentativas.
Sem o soltar, placidamente, Bliss ordenou:
— Traga as chaves da cela, Davis. Acabou-se a detenção.
— Previno-te que será inútil.
— Talvez. Apressa-se.
— Para onde vais?
— Para o inferno.
— Pensa bem. Não tens dinheiro, nem água, nem Provisões ...
— Mas tenho um revólver, Davis. Isso abre todas as portas. Até as do cárcere. Vamos.
Era verdade. A evidência não deixava sombra de dúvidas, Joe Bliss, por uma casualidade entre mil, possuía o mortífero revólver de Lee Dunham. E ele lhe concederia a liberdade!
Ainda esmagados, estupefactos pela deslumbrante rapidez com que Bliss dominara a situação, os representantes da lei deixaram-se manobrar completamente. Estavam desarmados, absurdamente indefesos ante um malvado que não vacilaria em enchê-los de chumbo se as circunstâncias o obrigassem.
Com o cano do «seis tiros», brutalmente, Joe empurrou-os para o interior da cela. Todos ficaram fechados, incluindo o inanimado e ensanguentado Speed. De que valiam agora as suas estrelas de prata? A justiça de Richland Springs encarcerada por um delinquente!
Fechou-os à chave e cuspiu-lhes desdenhosamente por entre as grades. Depois, muito senhor de si, cingiu à cinta um dos cinturões deixados cair sob a ameaça do olho acerado do «Colt». Olhou o revólver e dedicou-lhe um sorriso feliz, cheio de comprazimento. Para já, tinha-o tirado do cárcere.
— És um primor — sussurrou. — O mais leve, cuidado e manejável que jamais acariciei. Juntos realizaremos grandes coisas!
Fê-lo girar em torno do indicador, comprovando o equilíbrio que o fabricante conseguira obter para convertê-lo num perfeito instrumento de morte. Do ponto de mira à coronha não tinha um único defeito. Uma arma de exceção, não só pelas caprichosas folhas nacaradas como pela perfeita confeção material.
Satisfeito, guardou-o no coldre. Mentalmente, acabara de jurar que jamais se separaria dele.
Depois escolheu um rifle no armeiro. Um «Winchester» de série, calibre 44-40. Também abriu uma lata de cartuchos e esvaziou o conteúdo nas algibeiras. Dispunha de abundante munição para as suas armas (1). Parodiando urna burlesca despedida, saudou os prisioneiros.
— Podem esganiçar-se à-vontade — disse. — Fecharei a porta ao sair e ninguém os ouvirá. Inconvenientes dos muros de tijolo demasiado grossos. Adeus, estúpidos! E obrigado!
Sim. Joe Bliss era livre como um pássaro selvagem.
Na rua, em frente do alpendre, os cavalos esperavam. Escolheu o que pertencera a Speed, um baio de cabeça fina, patas longas e aspeto resistente. Montado nele, esporeando-lhe os flancos com fácil habilidade do cavaleiro consumado, galopou para fora da cidade.
— Também estão a fazer tijolo no cemitério de Winchell. O pistoleiro liquidou-os.
— Oh! — exclamou Davis, arrastando a interjeição. — Pobres rapazes... Garroway era solteiro. Mas... Não sei como havemos de informar a esposa de Miller... Triste assunto este... Seria melhor esperar pelo xerife.
— Para quê? — Speed torceu os lábios, duro. — Dir-lhe-emos o mesmo de sempre. Já sabes: que morreu como um valente; que a sua memória honrará a nossa corporação... que um indecente verme como aquele Joe Bliss que ali está na cela lhe meteu uma bala no crânio. Deviam enforcá-los a todos, sem mais conversas! A lei é branda em alguns casos.
— Tens razão, Speed. Tu eras muito amigo dele, não é verdade?
— Muito. Éramos como irmãos.
Do calabouço, deliberadamente ofensivo, Joe Bliss bocejou com todo o ruído de que foi capaz. Os presentes voltaram-se para ele. A censura que se lhes lia nos olhos não o impressionou.
Tão soez manifestação foi como um murro que tivessem dado em Speed. Não podia tolerar que um desprezível salteador de Bancos fizesse troça das suas palavras e sentimentos mais puros.
— Cala a boca — ordenou asperamente. — Mete o nariz no colchão e dorme.
— Não se pode bocejar nesta pocilga, compadre?
— Cala-te!
— Oiça... devagar — sorria Bliss. — Ainda não me condenaram. Se está incomodado, tape os ouvidos.
— Já disse que te cales...
— Não gritaria tanto se eu estivesse solto.
— Maldito...!
Ao mesmo tempo que falava, Speed caminhou com passos rápidos e firmes para a cela.
Parecia animado de péssimas intenções a respeito da ratazana humana que tinham encurralado e detido no frustrado assalto ao Catle Bank. Talvez se lembrasse de Dunham e esse pensamento fosse a origem da irritação que o avassalava. Não podia suportar a presença do criminoso.
Davis, adivinhando que o amigo passava por um mau momento, quis evitar a cena. Compreendia que a crise de nervos não seria duradoira; mas, conhecendo Speed, era de esperar qualquer reação violenta. Inclusivamente que espancasse o detido.
— Espera, rapaz. Creio que te excitaste sem...
Tudo ocorreu velocissimamente. De um modo vertiginoso e confuso. Há coisas fatais que sucedem porque têm de suceder, e torna-se inútil tentar arranjar-lhes uma explicação.
Speed, encolerizado, aproximou-se das grades. Brandiu um punho ameaçador, disposto a apagar, a soco, o riso de Joe Bliss. Troçava de Miller e ele não podia consenti-lo!
Esqueceu onde estava. Esqueceu que o xerife Costell exigia sempre um tratamento justo para os prisioneiros. Esqueceu, inclusivamente... o tentador revólver que se aflorava do cós das calças! Nunca devia ter-se deixado arrastar pela ira. A arma representava uma tentação iniludível!
Joe Bliss, rapidíssimo, só teve de estender a mão... e puxar para cima!
O famoso «Colt» saiu do cinturão friamente empunhado pela coronha, com o percutor alçado mediante um ágil movimento do polegar. Disposto a cuspir a morte!
Logo a seguir, atuando com esmagadora eficácia, o braço esquerdo de Bliss aferrou o comissário pelos ombros. Antes de que se apercebesse da espantosa verdade, Speed ficou dominado... sentindo no pescoço o frio paralisador do aço!
— Posso matá-lo — preveniu o assaltante. — Quase desejo fazê-lo! Você foi um imbecil, comissário...
— Não..., não seja louco, Bliss — balbuciou Davis.
— Depende... do modo como obedeçam às minhas indicações. Agora mando eu — olhou-os desafiadoramente, sem sorrisos. — Bem, que esperam? Desapertem os cintos! E mãos para cima!
Não ameaçava em vão. Os homens sempre sabem, ao certo, quando outro homem se arma em fanfarrão ou quando fala a sério. Tragicamente convencido do seu poder!
O relógio do escritório desentranhava um tiquetaque ensurdecedor. Dodge, nervoso, desapertou a fivela do seu cinturão-cartucheira e o coldre, com o pesado revólver, caiu-lhe aos pés. Cobarde como de costume.
— Ele não dispara — ofegou Speed. — Digo-lhes que...
— Experimentem armar em tesos, desafiou Bliss. — Vamos! Obedeçam! É o último aviso... e não posso perder tempo.
— Lamento — gemeu Davis. — Tem de ser. É um desesperado e tu corres perigo. Está bem, Joe. Ganhaste.
— Claro. Creio que este lindo revólver me trará sorte.
Davis, Raymond e Dodge, livres das armas levantaram os braços. Speed forcejava em vão. O cano do revólver propinou-lhe um golpe seco na nuca... e terminaram as suas tentativas.
Sem o soltar, placidamente, Bliss ordenou:
— Traga as chaves da cela, Davis. Acabou-se a detenção.
— Previno-te que será inútil.
— Talvez. Apressa-se.
— Para onde vais?
— Para o inferno.
— Pensa bem. Não tens dinheiro, nem água, nem Provisões ...
— Mas tenho um revólver, Davis. Isso abre todas as portas. Até as do cárcere. Vamos.
Era verdade. A evidência não deixava sombra de dúvidas, Joe Bliss, por uma casualidade entre mil, possuía o mortífero revólver de Lee Dunham. E ele lhe concederia a liberdade!
Ainda esmagados, estupefactos pela deslumbrante rapidez com que Bliss dominara a situação, os representantes da lei deixaram-se manobrar completamente. Estavam desarmados, absurdamente indefesos ante um malvado que não vacilaria em enchê-los de chumbo se as circunstâncias o obrigassem.
Com o cano do «seis tiros», brutalmente, Joe empurrou-os para o interior da cela. Todos ficaram fechados, incluindo o inanimado e ensanguentado Speed. De que valiam agora as suas estrelas de prata? A justiça de Richland Springs encarcerada por um delinquente!
Fechou-os à chave e cuspiu-lhes desdenhosamente por entre as grades. Depois, muito senhor de si, cingiu à cinta um dos cinturões deixados cair sob a ameaça do olho acerado do «Colt». Olhou o revólver e dedicou-lhe um sorriso feliz, cheio de comprazimento. Para já, tinha-o tirado do cárcere.
— És um primor — sussurrou. — O mais leve, cuidado e manejável que jamais acariciei. Juntos realizaremos grandes coisas!
Fê-lo girar em torno do indicador, comprovando o equilíbrio que o fabricante conseguira obter para convertê-lo num perfeito instrumento de morte. Do ponto de mira à coronha não tinha um único defeito. Uma arma de exceção, não só pelas caprichosas folhas nacaradas como pela perfeita confeção material.
Satisfeito, guardou-o no coldre. Mentalmente, acabara de jurar que jamais se separaria dele.
Depois escolheu um rifle no armeiro. Um «Winchester» de série, calibre 44-40. Também abriu uma lata de cartuchos e esvaziou o conteúdo nas algibeiras. Dispunha de abundante munição para as suas armas (1). Parodiando urna burlesca despedida, saudou os prisioneiros.
— Podem esganiçar-se à-vontade — disse. — Fecharei a porta ao sair e ninguém os ouvirá. Inconvenientes dos muros de tijolo demasiado grossos. Adeus, estúpidos! E obrigado!
Sim. Joe Bliss era livre como um pássaro selvagem.
Na rua, em frente do alpendre, os cavalos esperavam. Escolheu o que pertencera a Speed, um baio de cabeça fina, patas longas e aspeto resistente. Montado nele, esporeando-lhe os flancos com fácil habilidade do cavaleiro consumado, galopou para fora da cidade.
(1) Os rifles de calibre 44-40 utilizam cápsulas do mesmo tipo que os revólveres «Colt». As balas empregam-se, pois, indistintamente. (N. do E.).
Uma nuvem de pó avermelhado, que não tardou a pousar na terra seca de Richland Springs, assinalou a sua rápida passagem.
Os curiosos tinham-se dispersado pouco antes, convencidos de que no escritório do xerife ninguém se incomodaria a vir dar-lhes explicações.
Entardecia rapidamente e o ocaso púrpura subia rapidamente das Rochelle Mountains. Os encarcerados passaram toda a noite na cela e, no dia seguinte, quando alguém acorreu atraído pelo clamor de vozes abafadas, Joe Bliss estava demasiado longe para se tentar uma perseguição. Perderam imenso tempo a derrubar a sólida porta.
O longo «Colt» de Lee Dunham descansava agora num coldre diferente. E uma nova mão, cruelmente feroz, seria empunhá-lo-ia por algum tempo.
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