Desde o primeiro momento que gostou de Brady. Casas grandes, de madeira — construídas por pessoas que tinham pressa de se incorporar à nascente civilização do Oeste —ruas amplas, muitos armazéns, estábulos públicos, «saloons» atraentes, e hotéis à escolha.
Link Grinter escolheu o de melhor aspeto. A tabuleta era um verdadeiro poema, pois nela podia ler-se: «PARADISE HOUSE».
O alpendre, o passeio de tábuas, o local para atar os cavalos, a fachada resplandecente e as janelas com vidros sem poeira, gritavam aos quatro ventos hábitos de esmerada limpeza. Era exatamente do que ele precisava...
Boa comida, banho abundante, lençóis limpos... e descanso. Semicerrou os olhos voluptuosamente. Umas férias pagas pelo cadáver do deserto. Uma paragem no incerto caminho da sua vida incómoda. Ria feliz, satisfeito do mundo ao pôr o pé em terra.
O sorriso ainda lhe pairava nos lábios quando apoiou os cotovelos no balcão da Receção.
— O melhor quarto — pediu.
O empregado farejou o futuro cliente e não conseguiu
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definir se se encontrava em frente de um produto híbrido de ovelha e ser humano... ou se era o próprio diabo, com barba e pó, quem lhe atanazava o nariz com uma mistura de eflúvios absolutamente malcheirosos.
O empregado perguntou:
— O melhor?
— Bom. Ficarei com outro se esse estiver ocupado — condescendeu Link.
— Reservamo-lo sempre, mas...
— Mas?
— Quero dizer... talvez tenha sido mal encaminhado. Precisamente ao fim da rua há o «Hotel dos Viajantes». Creio que lá o senhor encontraria...
— O hábito não faz o monge, amigo — atalhou de bom humor. — Este senhor que aqui está, e que sou eu, nada em abundância. Ponha uma pinça no nariz, deixe de olhar-me como uma alma do outro mundo... e inscreva-me aí no livro. O aspeto modifica-se. Pagarei um mês adiantado se isso lhe dá alguma tranquilidade. Quanto?
O empregado não falou. Link acabava de colocar o saco sobre o balcão de nogueira polida e extraiu um maço de notas. Estendendo-o com um gesto olímpico, perguntou:
— Chega?
— Sim, sim. Inscrevê-lo-ei no registo por sessenta dias. Se o senhor deixar de honrar-nos com a sua presença antes de se cumprir o prazo, a direção do hotel tratará de devolver-lhe a importância respetiva.
— Bem — resmungou Link. — Entendido. Quero tomar banho. Com água quente e sabão, hem? E tudo à larga. Diga a um barbeiro para vir dentro de duas
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horas. Que traga o necessário para cortar-me o cabelo convenientemente.
— Sim, sim...
— Lembre-se disto: não se assuste mesmo que me veja comer por dois, dormir horas a fio c divertir-me à barba longa. Até é possível que apanhe uma bebedeira fenomenal.
— Muito bem, senhor. O seu nome?
— Link — riu-se de orelha a orelha. — Link Grinter.
Os seus desejos foram ordens para o eficiente pessoal do «Paradise House». Teve banho, barbeiro, comida de rei e descanso num leito nupcial quase tão alto como ele, com. dois enormes colchões de lã tão fofa como algodão. O porteiro fez correr o aviso para não incomodarem «mister» Grinter mesmo que o vissem cometer algumas excentricidades. Talvez tivesse encontrado um filão de oiro. No Oeste nunca é seguro julgar as pessoas simplesmente pelo seu aspeto físico.
À tarde, no «General Store» de Brady, o forasteiro adquiriu um fato novo, incluindo chapéu e botas. Tudo da melhor qualidade. À noite, depois de um jantar em que correu abundantemente o champanhe, sentou-se à mesa de «poker» do «Flame Saloon», e esteve a jogar com uma sorte tão maravilhosa que ganhou um apetitoso monte de notas. De um «cavalheiro elegante» ninguém se atreveu a suspeitar que marcasse as cartas com as unhas. Lá diz o rifão: o dinheiro corre sempre para onde há dinheiro. Assim acontecia.
Mas foi ali, no «Flame Saloon», que um jovem de olhos perscrutadores e aspeto duro passou quase uma hora a observá-lo. Parecia deleitar-se a arquivar mentalmente todos os seus gestos. De certo modo era tão pouco
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Link Grinter escolheu o de melhor aspeto. A tabuleta era um verdadeiro poema, pois nela podia ler-se: «PARADISE HOUSE».
O alpendre, o passeio de tábuas, o local para atar os cavalos, a fachada resplandecente e as janelas com vidros sem poeira, gritavam aos quatro ventos hábitos de esmerada limpeza. Era exatamente do que ele precisava...
Boa comida, banho abundante, lençóis limpos... e descanso. Semicerrou os olhos voluptuosamente. Umas férias pagas pelo cadáver do deserto. Uma paragem no incerto caminho da sua vida incómoda. Ria feliz, satisfeito do mundo ao pôr o pé em terra.
O sorriso ainda lhe pairava nos lábios quando apoiou os cotovelos no balcão da Receção.
— O melhor quarto — pediu.
O empregado farejou o futuro cliente e não conseguiu
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definir se se encontrava em frente de um produto híbrido de ovelha e ser humano... ou se era o próprio diabo, com barba e pó, quem lhe atanazava o nariz com uma mistura de eflúvios absolutamente malcheirosos.
O empregado perguntou:
— O melhor?
— Bom. Ficarei com outro se esse estiver ocupado — condescendeu Link.
— Reservamo-lo sempre, mas...
— Mas?
— Quero dizer... talvez tenha sido mal encaminhado. Precisamente ao fim da rua há o «Hotel dos Viajantes». Creio que lá o senhor encontraria...
— O hábito não faz o monge, amigo — atalhou de bom humor. — Este senhor que aqui está, e que sou eu, nada em abundância. Ponha uma pinça no nariz, deixe de olhar-me como uma alma do outro mundo... e inscreva-me aí no livro. O aspeto modifica-se. Pagarei um mês adiantado se isso lhe dá alguma tranquilidade. Quanto?
O empregado não falou. Link acabava de colocar o saco sobre o balcão de nogueira polida e extraiu um maço de notas. Estendendo-o com um gesto olímpico, perguntou:
— Chega?
— Sim, sim. Inscrevê-lo-ei no registo por sessenta dias. Se o senhor deixar de honrar-nos com a sua presença antes de se cumprir o prazo, a direção do hotel tratará de devolver-lhe a importância respetiva.
— Bem — resmungou Link. — Entendido. Quero tomar banho. Com água quente e sabão, hem? E tudo à larga. Diga a um barbeiro para vir dentro de duas
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horas. Que traga o necessário para cortar-me o cabelo convenientemente.
— Sim, sim...
— Lembre-se disto: não se assuste mesmo que me veja comer por dois, dormir horas a fio c divertir-me à barba longa. Até é possível que apanhe uma bebedeira fenomenal.
— Muito bem, senhor. O seu nome?
— Link — riu-se de orelha a orelha. — Link Grinter.
Os seus desejos foram ordens para o eficiente pessoal do «Paradise House». Teve banho, barbeiro, comida de rei e descanso num leito nupcial quase tão alto como ele, com. dois enormes colchões de lã tão fofa como algodão. O porteiro fez correr o aviso para não incomodarem «mister» Grinter mesmo que o vissem cometer algumas excentricidades. Talvez tivesse encontrado um filão de oiro. No Oeste nunca é seguro julgar as pessoas simplesmente pelo seu aspeto físico.
À tarde, no «General Store» de Brady, o forasteiro adquiriu um fato novo, incluindo chapéu e botas. Tudo da melhor qualidade. À noite, depois de um jantar em que correu abundantemente o champanhe, sentou-se à mesa de «poker» do «Flame Saloon», e esteve a jogar com uma sorte tão maravilhosa que ganhou um apetitoso monte de notas. De um «cavalheiro elegante» ninguém se atreveu a suspeitar que marcasse as cartas com as unhas. Lá diz o rifão: o dinheiro corre sempre para onde há dinheiro. Assim acontecia.
Mas foi ali, no «Flame Saloon», que um jovem de olhos perscrutadores e aspeto duro passou quase uma hora a observá-lo. Parecia deleitar-se a arquivar mentalmente todos os seus gestos. De certo modo era tão pouco
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perspicaz como os jogadores de «poker», visto que não se apercebeu das habilíssimas trapaças do sorridente forasteiro.
Chamava-se Hanson. Fumava cigarros, chupando-os até quase queimar as pontas dos dedos. No coldre tinha um belo revólver com seis cápsulas de «45» no cilindro. E, além disso, brilhava-lhe na camisa uma insígnia de prata.
O comissário Hanson, cumprida a sua inspeção ocular, fez algumas perguntas subtis, agradeceu e saiu do «Flame Saloon» sem pressas. Ninguém reparou na sua saída.
A pé, passeando e desfrutando da serenidade da noite estival, encaminhou-se até ao escritório do xerife Cameron.
O veterano Cameron encontrava-se ali, lubrificando um rifle de repetição, cujo mecanismo disparador aparecia disseminado sobre a mesa, no meio de uma garrafa de óleo parafinado, camurças secas e cartuchos extraídos da câmara.
— Olá, Hanson — saudou. — Ainda levantado?
— Olá, xerife. Fiz a ronda do regulamento. Bom costume..., pelo menos por esta vez. Deu fruto. Creio que temos cá o tipo que assaltou o comboio.
Disse-o com o mesmo rosto impassível. Lenta e conscienciosamente.
— Sim?
Cameron também não denunciou emoção alguma. Simplesmente, deixou de esfregar o conjunto lubrificado do gatilho, mola e percutor. Era pessoa cauta e tranquila. Segura como o caminhar das tartarugas.
— Sim — confirmou o comissário.
52
— Vejamos. Que é que te levou a essa suposição?
— Tudo. Jovem, alto, com um revólver de folhas de nácar cor-de-rosa. Perguntei a vários clientes de Merkel. Chegou esta manhã. Trazia barba e pó de três anos.... Hospeda-se no «Paraíso». Trocou as suas roupas velhas por um fato citadino. Os que o viram garantem que trazia um casaco de couro. E alguém, suponho eu, deve ter-lhe visto o dinheiro, dado que obteve um quarto naquele hotel.
— Podíamos perguntar a «mister» Livermor. Tem boa vista. E é o dono do hotel.
— Pois podíamos, xerife. Permite que me ocupe do assunto?
— Está bem. Mas com calma. Ele ainda agora chegou. Não há-de pôr-se já a andar. Temos tempo para fazer averiguações. Senta-te, Hanson.
— Não estou cansado.
— Senta-te — insistiu. — Monto o rifle e saímos a dar urna volta. Acabo em dez minutos.
— Muito bem.
Cameron montou o rifle como um perfeito técnico. Guardou-o. Dez minutos certos. Saíram, então, a dar a volta, e fizeram averiguações.
Não havia uma falha na versão de Hanson. Assim, pois, de mútuo acordo, dirigiram os seus passos para o «Paradise House».
«Mister» Livermore, proprietário do hotel, e o empregado, «mister» Bastow, corroboraram também quanto já sabiam: casaco de cabedal, revólver inconfundível e um saco de lona. O dinheiro com que pagara antecipadamente a hospedagem era — que coincidência! — todo em notas
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Chamava-se Hanson. Fumava cigarros, chupando-os até quase queimar as pontas dos dedos. No coldre tinha um belo revólver com seis cápsulas de «45» no cilindro. E, além disso, brilhava-lhe na camisa uma insígnia de prata.
O comissário Hanson, cumprida a sua inspeção ocular, fez algumas perguntas subtis, agradeceu e saiu do «Flame Saloon» sem pressas. Ninguém reparou na sua saída.
A pé, passeando e desfrutando da serenidade da noite estival, encaminhou-se até ao escritório do xerife Cameron.
O veterano Cameron encontrava-se ali, lubrificando um rifle de repetição, cujo mecanismo disparador aparecia disseminado sobre a mesa, no meio de uma garrafa de óleo parafinado, camurças secas e cartuchos extraídos da câmara.
— Olá, Hanson — saudou. — Ainda levantado?
— Olá, xerife. Fiz a ronda do regulamento. Bom costume..., pelo menos por esta vez. Deu fruto. Creio que temos cá o tipo que assaltou o comboio.
Disse-o com o mesmo rosto impassível. Lenta e conscienciosamente.
— Sim?
Cameron também não denunciou emoção alguma. Simplesmente, deixou de esfregar o conjunto lubrificado do gatilho, mola e percutor. Era pessoa cauta e tranquila. Segura como o caminhar das tartarugas.
— Sim — confirmou o comissário.
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— Vejamos. Que é que te levou a essa suposição?
— Tudo. Jovem, alto, com um revólver de folhas de nácar cor-de-rosa. Perguntei a vários clientes de Merkel. Chegou esta manhã. Trazia barba e pó de três anos.... Hospeda-se no «Paraíso». Trocou as suas roupas velhas por um fato citadino. Os que o viram garantem que trazia um casaco de couro. E alguém, suponho eu, deve ter-lhe visto o dinheiro, dado que obteve um quarto naquele hotel.
— Podíamos perguntar a «mister» Livermor. Tem boa vista. E é o dono do hotel.
— Pois podíamos, xerife. Permite que me ocupe do assunto?
— Está bem. Mas com calma. Ele ainda agora chegou. Não há-de pôr-se já a andar. Temos tempo para fazer averiguações. Senta-te, Hanson.
— Não estou cansado.
— Senta-te — insistiu. — Monto o rifle e saímos a dar urna volta. Acabo em dez minutos.
— Muito bem.
Cameron montou o rifle como um perfeito técnico. Guardou-o. Dez minutos certos. Saíram, então, a dar a volta, e fizeram averiguações.
Não havia uma falha na versão de Hanson. Assim, pois, de mútuo acordo, dirigiram os seus passos para o «Paradise House».
«Mister» Livermore, proprietário do hotel, e o empregado, «mister» Bastow, corroboraram também quanto já sabiam: casaco de cabedal, revólver inconfundível e um saco de lona. O dinheiro com que pagara antecipadamente a hospedagem era — que coincidência! — todo em notas
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de dez dólares. No ânimo de Cameron já não restavam dúvidas.
— Obrigado — disse. — Queiram retirar-se, por favor. Tentaremos prendê-lo sem armar escândalo... para bem dos senhores e da clientela do hotel. Boas noites, «mister» Livermore. Boas noites, «mister» Bastow.
Compreendendo a velada ordem encerrada na despedida, obedeceram submissamente. Link Grinter encontrava-se em cima, no amplo quarto do segundo andar. Num hotel de Dallas, Santo António ou Fort Worth seria considerado esplêndido. Ali, em Brady, era a mais régia «suíte» de que a povoação dispunha para agasalhar os seus visitantes distintos.
O xerife sacou o revólver e verificou a carga do cilindro de ação lateral. Em ordem. Voltou a encaixar o cilindro e devolveu a arma ao coldre.
— Eu subo — disse.
— Quatro olhos veem mais do que dois, xerife.
— Não discuto, Hanson. Mas, às vezes, quatro olhos são inúteis se olham na direção errada. Sai para a rua, e fica no passeio oposto, de vigia. Talvez esse Grinter seja um «águia». Poderás detê-lo se ele tentar fugir.
Hanson tinha por norma acatar as ordens de Cameron. O chefe não constituía nenhuma notabilidade na profissão. A calma outorgava-lhe um certo ar de pouca inteligência. Disparava medianamente, e, de resto, nunca atuava com violência se o delinquente se entregava em paz.
Mas num lugar como o Texas, onde os xerifes mor riam jovens e com as botas calçadas, Cameron estava naquela profissão há doze anos consecutivos. Hanson dispôs-se a cumprir o que lhe ordenava. Saiu para a rua, instalou-se num alpendre mergulhado em trevas e esperou. Se o xerife decidia assim, por certo que contava com poderosas razões de previsão. E homem prevenido...
Entretanto, degrau a degrau, Cameron subiu ao segundo andar.
O corredor estava iluminado pela luz avermelhada dos candeeiros de petróleo, instalados nos suportes da parede. Algum criado tinha baixado as torcidas e, por isso, a iluminação tornara-se mortiça. Cameron acionou a rosca do mais próximo do quarto de Grinter, e, ao subir a torcida, a luz tornou-se mais clara e límpida.
Então, suavemente, bateu à porta com os nós dos dedos. Usou a mão esquerda. A direita, caída sobre a coxa, roçava no coldre, pronta para «sacar».
Link contava os seus ganhos ao «poker» com um brilho cobiçoso nas pupilas. O facto de lhe baterem à porta a horas tão intempestivas, e a meio do silêncio noturno, sobressaltou-o.
— Que quer?
— Abra, por favor. Preciso de falar-lhe, «mister» Grinter.
— Não pode deixar isso para amanhã?
— Não. Lamento. É importante.
Guardou o punhado de notas na algibeira do casaco que tinha atirado descuidadamente para cima da cama. Perto, pendente da cabeceira, estava o cinto e o revólver metido no coldre. Libertara-se de ambas as coisas, assim que regressara, por motivos de comodidade.
Abriu a porta sem suspeitar do que avizinhava. A luz do petróleo arrancou centelhas da estrela do xerife. Não tinha contas abertas com a Justiça, mas não gostou de
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— Obrigado — disse. — Queiram retirar-se, por favor. Tentaremos prendê-lo sem armar escândalo... para bem dos senhores e da clientela do hotel. Boas noites, «mister» Livermore. Boas noites, «mister» Bastow.
Compreendendo a velada ordem encerrada na despedida, obedeceram submissamente. Link Grinter encontrava-se em cima, no amplo quarto do segundo andar. Num hotel de Dallas, Santo António ou Fort Worth seria considerado esplêndido. Ali, em Brady, era a mais régia «suíte» de que a povoação dispunha para agasalhar os seus visitantes distintos.
O xerife sacou o revólver e verificou a carga do cilindro de ação lateral. Em ordem. Voltou a encaixar o cilindro e devolveu a arma ao coldre.
— Eu subo — disse.
— Quatro olhos veem mais do que dois, xerife.
— Não discuto, Hanson. Mas, às vezes, quatro olhos são inúteis se olham na direção errada. Sai para a rua, e fica no passeio oposto, de vigia. Talvez esse Grinter seja um «águia». Poderás detê-lo se ele tentar fugir.
Hanson tinha por norma acatar as ordens de Cameron. O chefe não constituía nenhuma notabilidade na profissão. A calma outorgava-lhe um certo ar de pouca inteligência. Disparava medianamente, e, de resto, nunca atuava com violência se o delinquente se entregava em paz.
Mas num lugar como o Texas, onde os xerifes mor riam jovens e com as botas calçadas, Cameron estava naquela profissão há doze anos consecutivos. Hanson dispôs-se a cumprir o que lhe ordenava. Saiu para a rua, instalou-se num alpendre mergulhado em trevas e esperou. Se o xerife decidia assim, por certo que contava com poderosas razões de previsão. E homem prevenido...
Entretanto, degrau a degrau, Cameron subiu ao segundo andar.
O corredor estava iluminado pela luz avermelhada dos candeeiros de petróleo, instalados nos suportes da parede. Algum criado tinha baixado as torcidas e, por isso, a iluminação tornara-se mortiça. Cameron acionou a rosca do mais próximo do quarto de Grinter, e, ao subir a torcida, a luz tornou-se mais clara e límpida.
Então, suavemente, bateu à porta com os nós dos dedos. Usou a mão esquerda. A direita, caída sobre a coxa, roçava no coldre, pronta para «sacar».
Link contava os seus ganhos ao «poker» com um brilho cobiçoso nas pupilas. O facto de lhe baterem à porta a horas tão intempestivas, e a meio do silêncio noturno, sobressaltou-o.
— Que quer?
— Abra, por favor. Preciso de falar-lhe, «mister» Grinter.
— Não pode deixar isso para amanhã?
— Não. Lamento. É importante.
Guardou o punhado de notas na algibeira do casaco que tinha atirado descuidadamente para cima da cama. Perto, pendente da cabeceira, estava o cinto e o revólver metido no coldre. Libertara-se de ambas as coisas, assim que regressara, por motivos de comodidade.
Abriu a porta sem suspeitar do que avizinhava. A luz do petróleo arrancou centelhas da estrela do xerife. Não tinha contas abertas com a Justiça, mas não gostou de
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vê-lo. O brilho de uma insígnia legal é sempre incómodo para um vagabundo.
— Link Grinter? — Sou eu.
— Chamo-me Cameron.
— Estimo conhecê-lo, xerife.
— Não sei... talvez não estime tanto como julga. Você é forasteiro.
— Sim. E depois?
Cameron, vendo-o desarmado, foi afastando a mão do coldre.
— Lamento incomodá-lo — disse. — Mas deve acompanhar-me ao meu escritório. Preciso de cumprir uma formalidade. Preferia que o fizesse sem ruído. É tarde e...
— De que me acusa?
O xerife olhou-o bem nos olhos. Procurava observar neles sinais inequívocos de culpabilidade e surpreendeu-o a serenidade com que Grinter acolheu a pergunta.
— Assalto a um comboio — declarou.
— Enganaram-se no homem...
— Isso veremos no meu escritório. Tem de acompanhar-me, «mister» Grinter. Se justificar a procedência do dinheiro pedir-lhe-ei sinceramente desculpas. Nada me encantaria mais do que demonstrar a sua inocência.
O cérebro de Link funcionava com vertiginosa rapidez. Assalto a um comboio! Aquilo esclarecia as coisas. E de que maneira! O cadáver do deserto não era um «pony express»... nem nada semelhante.
Era um salteador. Um tipo perseguido pela Lei. Iam atirar-lhe para cima com as culpas alheias. E isso não era nada agradável.
— Dê-me o seu revólver — acrescentou o xerife. — Se
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é tão inocente como garante, não se preocupe. A Lei não julga levianamente. Dou-lhe a minha palavra de honra.
— Bem, eu... — Link encolheu os ombros. — Entre. A arma está ali pendurada na cama... entrego-me e acompanhá-lo-ei, naturalmente. Mas é um erro. Juro-lhe xerife.
— Acredito. Vejo logo quem mente e quem fala verdade. Uma série de lamentáveis coincidências, suponho. Esclareceremos tudo isso.
— Posso vestir o casaco?
— Sim. E obrigado pela compreensão. Simpatizo com as pessoas inteligentes...
Link, ainda que não o aparentasse, convertera-se num excitado feixe de nervos. A sua vida, vagabunda e aventureira, cheia de contínuos azares, proporcionara-lhe grandes ensinamentos.
Sempre, mesmo nos momentos mais tranquilos, permanecia alerta. Era como esses cães sem dono, espancados por todos, que acabam tão ariscos e perigosos como os coiotes. Sabia o que as pessoas pensavam dos vagabundos... e qual era o veredicto habitual. Não pagaria as culpas de ninguém. Tal como o pensou... o fez!
— Oiça... — começou o xerife surpreendido.
Paf! O punho direito, matemático, atingiu-o na ponta do queixo.
Cameron abriu os braços, cambaleou e esteve por um triz a cair na cama. Antes de conseguir recompor-se, o outro punho veio sobre ele com a violência de um coice de mula. Recebendo no estômago o impacto selvagem, dobrou-se para a frente e expeliu todo o ar que tinha nos pulmões.
Link firmou-se nas pernas. Não estava alterado. Desde criança que as brigas eram prato obrigatório na sua incerta existência. Um terceiro soco carregado de dinamite enviou o xerife contra a parede. Derrubou uma cadeira, caiu de bruços e permaneceu de barriga para baixo, imóvel.
Três golpes. E acabara-se a Lei!
Antes de se resolver a examiná-lo, Link empunhou o «Colt» e ergueu o percutor. O girar do cilindro, fixando uma bala na câmara e o ruído metálico do mecanismo de disparo foram para ele uma música angelical.
Voltou o polícia de rosto para cima. O sangue escorria-lhe do nariz e das comissuras dos lábios. Aqueles punhos acostumados ao atrito áspero da soga e às lides com o gado eram duros corno martelos. O xerife permaneceria inconsciente por algum tempo.
Tempo... Eis do que precisava! Tempo e distância.
Brady tornara-se-lhe subitamente aborrecida. Nem as casas, nem as ruas, nem o «Paradise House» tinham já atrativo algum. Desejou encontrar-se longe, nas rotas infindas da vagabundagem. No deserto. Junto aos catos, artemísias e creosotos. Sob a luz das estrelas que ilumina a maior habitação que existe: a planície infinita.
Não perdeu tempo. Enfiou o casaco, cingiu o cinturão--cartucheira e pegou no saco de lona. Puxando o chapéu para os olhos, saiu do quarto e enfiou pelo corredor. Um momento!
Não. Decididamente, não podia sair pela porta principal. Cameron talvez não tivesse vindo só. Retrocedeu e foi até à escada de serviço. Um vagabundo nato possui o dom do instinto em toda a sua extensão e finura. Chegou ao andar de baixo sem novidade. Depois, saltando por uma janela, penetrou no estábulo.
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Cheiro a cavalo. A coiro curtido e suado. A esterco.
Viu seis animais deitados. O seu, por contraste, parecia uma ruína de quatro patas. Os clientes do «Paraíso» não se distinguiam pela sua pobreza, e as montadas iam a par com a categoria dos proprietários. Link, disse de si para si.
— Se me hão-de prender por um assalto que não cometi..., cometerei agora algo que mereça realmente a corda de cânhamo. De vagabundo passara a grão-senhor. De grão-senhor, por paradoxo, convertera-se em ladrão de cavalos.
Escolheu um alazão de nobre aspeto. Fê-lo levantar com uma palmada na anca. Agitar de corpos. Um relincho. Dois...
Antes do terceiro, Link deitou-lhe sobre o lombo crespo a manta. Depois, enquanto os animais se remexiam assustados, colocou a sela, passou a cilha e meteu-lhe o freio.
Enfiou o saco num dos alforges. Apoiou o pé no estribo e saltou para o selim. Um roçar de esporas bastou para que o cavalo arrancasse. Bom cavalinho! Tinha asas nos cascos!
Não perdeu tempo a abrir a cancela do estábulo. Picou de esporas e soltou as rédeas... o alazão saltou-a com toda a limpeza! Sentiu-se feliz. Caramba, que cavalo! Era um cisne de patas ferradas.
O ressoar rítmico dos cascos foi, para o comissário Hanson, o mesmo que uma chicotada no rosto. Deu um salto no escuro do alpendre fronteiro ao hotel. Desatou a correr loucamente, aturdido por um pressentimento pungente, para donde lhe vinha o som do galope.
A cerca de metade da rua lateral que corria ao longo do «Paradise House», viu o cavaleiro. Cavalgava ao estilo vaqueiro, escarranchado e muito direito na sela. Não hesitou nem um segundo. Devia aproveitar agora que o alvo ainda lhe oferecia certa facilidade.
Deixou de correr. Apontou devagar, contendo a respiração. O ponto de mira centrou-se nas costas da silhueta móvel que se afastava. O braço esticado. A mão firme. A coronha colada à palma, o indicador curvado em torno do gatilho, sentindo o frio do guarda-mato. Pulso. Pulso e pontaria, Hanson!
Um, dois, três, quatro. Corriam os segundos e o bater do coração. Hanson comprimiu os lábios. Repugnava-lhe fazer aquilo. Disparar à traição é de cobarde. Mas quem lhe garantia que aquele bandido que maltratara dois empregados dos correios não tinha acabado com Cameron?
Bang! Um tiro. Bang! Outro. Bang! Um terceiro precipitando-se para sair do cano fumegante.
O galope interrompeu-se subitamente, denotando desconcerto. Foi um instante apenas, enquanto durou a oscilação do cavaleiro cujas mãos fortes se agarraram ao rebordo dianteiro da sela.
Quase em seguida, os cascos retomaram o seu matraquear. E o cavaleiro perdeu-se ao virar a esquina!
Não dispunha de meios para persegui-lo. Julgavam a captura tão fácil que tinham ido a pé até ao hotel. Onde arranjar um cavalo àquela hora? Além disso, o xerife podia achar-se ferido, agonizante. Hanson acabou por correr em auxílio do chefe.
O fugitivo não o preocupava. Dar-lhe-ia caça ao amanhecer. Em Brady, dispunham de um bom seguidor de pistas, um índio com faro. de cão. Tinha a certeza de que pelo menos uma das três balas atingira o alvo. Link Grinter fugia com um pesado presente de chumbo no corpo. Apostava o ordenado de um mês.
Na planície, voando literalmente sobre ela, um vagabundo afastava-se rapidissimamente da povoação. Voltava aos espaços imensos, abertos. Ao ar, ao sol e ao pó. Às regiões desabitadas. E voltava com dinheiro, com revólver, com liberdade. Link escapara vivo de um difícil atoleiro.
Mas havia sangue nas suas costas. Muito. Fluía aos borbotões. Não iria muito longe.
— Link Grinter? — Sou eu.
— Chamo-me Cameron.
— Estimo conhecê-lo, xerife.
— Não sei... talvez não estime tanto como julga. Você é forasteiro.
— Sim. E depois?
Cameron, vendo-o desarmado, foi afastando a mão do coldre.
— Lamento incomodá-lo — disse. — Mas deve acompanhar-me ao meu escritório. Preciso de cumprir uma formalidade. Preferia que o fizesse sem ruído. É tarde e...
— De que me acusa?
O xerife olhou-o bem nos olhos. Procurava observar neles sinais inequívocos de culpabilidade e surpreendeu-o a serenidade com que Grinter acolheu a pergunta.
— Assalto a um comboio — declarou.
— Enganaram-se no homem...
— Isso veremos no meu escritório. Tem de acompanhar-me, «mister» Grinter. Se justificar a procedência do dinheiro pedir-lhe-ei sinceramente desculpas. Nada me encantaria mais do que demonstrar a sua inocência.
O cérebro de Link funcionava com vertiginosa rapidez. Assalto a um comboio! Aquilo esclarecia as coisas. E de que maneira! O cadáver do deserto não era um «pony express»... nem nada semelhante.
Era um salteador. Um tipo perseguido pela Lei. Iam atirar-lhe para cima com as culpas alheias. E isso não era nada agradável.
— Dê-me o seu revólver — acrescentou o xerife. — Se
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é tão inocente como garante, não se preocupe. A Lei não julga levianamente. Dou-lhe a minha palavra de honra.
— Bem, eu... — Link encolheu os ombros. — Entre. A arma está ali pendurada na cama... entrego-me e acompanhá-lo-ei, naturalmente. Mas é um erro. Juro-lhe xerife.
— Acredito. Vejo logo quem mente e quem fala verdade. Uma série de lamentáveis coincidências, suponho. Esclareceremos tudo isso.
— Posso vestir o casaco?
— Sim. E obrigado pela compreensão. Simpatizo com as pessoas inteligentes...
Link, ainda que não o aparentasse, convertera-se num excitado feixe de nervos. A sua vida, vagabunda e aventureira, cheia de contínuos azares, proporcionara-lhe grandes ensinamentos.
Sempre, mesmo nos momentos mais tranquilos, permanecia alerta. Era como esses cães sem dono, espancados por todos, que acabam tão ariscos e perigosos como os coiotes. Sabia o que as pessoas pensavam dos vagabundos... e qual era o veredicto habitual. Não pagaria as culpas de ninguém. Tal como o pensou... o fez!
— Oiça... — começou o xerife surpreendido.
Paf! O punho direito, matemático, atingiu-o na ponta do queixo.
Cameron abriu os braços, cambaleou e esteve por um triz a cair na cama. Antes de conseguir recompor-se, o outro punho veio sobre ele com a violência de um coice de mula. Recebendo no estômago o impacto selvagem, dobrou-se para a frente e expeliu todo o ar que tinha nos pulmões.
Link firmou-se nas pernas. Não estava alterado. Desde criança que as brigas eram prato obrigatório na sua incerta existência. Um terceiro soco carregado de dinamite enviou o xerife contra a parede. Derrubou uma cadeira, caiu de bruços e permaneceu de barriga para baixo, imóvel.
Três golpes. E acabara-se a Lei!
Antes de se resolver a examiná-lo, Link empunhou o «Colt» e ergueu o percutor. O girar do cilindro, fixando uma bala na câmara e o ruído metálico do mecanismo de disparo foram para ele uma música angelical.
Voltou o polícia de rosto para cima. O sangue escorria-lhe do nariz e das comissuras dos lábios. Aqueles punhos acostumados ao atrito áspero da soga e às lides com o gado eram duros corno martelos. O xerife permaneceria inconsciente por algum tempo.
Tempo... Eis do que precisava! Tempo e distância.
Brady tornara-se-lhe subitamente aborrecida. Nem as casas, nem as ruas, nem o «Paradise House» tinham já atrativo algum. Desejou encontrar-se longe, nas rotas infindas da vagabundagem. No deserto. Junto aos catos, artemísias e creosotos. Sob a luz das estrelas que ilumina a maior habitação que existe: a planície infinita.
Não perdeu tempo. Enfiou o casaco, cingiu o cinturão--cartucheira e pegou no saco de lona. Puxando o chapéu para os olhos, saiu do quarto e enfiou pelo corredor. Um momento!
Não. Decididamente, não podia sair pela porta principal. Cameron talvez não tivesse vindo só. Retrocedeu e foi até à escada de serviço. Um vagabundo nato possui o dom do instinto em toda a sua extensão e finura. Chegou ao andar de baixo sem novidade. Depois, saltando por uma janela, penetrou no estábulo.
58
Cheiro a cavalo. A coiro curtido e suado. A esterco.
Viu seis animais deitados. O seu, por contraste, parecia uma ruína de quatro patas. Os clientes do «Paraíso» não se distinguiam pela sua pobreza, e as montadas iam a par com a categoria dos proprietários. Link, disse de si para si.
— Se me hão-de prender por um assalto que não cometi..., cometerei agora algo que mereça realmente a corda de cânhamo. De vagabundo passara a grão-senhor. De grão-senhor, por paradoxo, convertera-se em ladrão de cavalos.
Escolheu um alazão de nobre aspeto. Fê-lo levantar com uma palmada na anca. Agitar de corpos. Um relincho. Dois...
Antes do terceiro, Link deitou-lhe sobre o lombo crespo a manta. Depois, enquanto os animais se remexiam assustados, colocou a sela, passou a cilha e meteu-lhe o freio.
Enfiou o saco num dos alforges. Apoiou o pé no estribo e saltou para o selim. Um roçar de esporas bastou para que o cavalo arrancasse. Bom cavalinho! Tinha asas nos cascos!
Não perdeu tempo a abrir a cancela do estábulo. Picou de esporas e soltou as rédeas... o alazão saltou-a com toda a limpeza! Sentiu-se feliz. Caramba, que cavalo! Era um cisne de patas ferradas.
O ressoar rítmico dos cascos foi, para o comissário Hanson, o mesmo que uma chicotada no rosto. Deu um salto no escuro do alpendre fronteiro ao hotel. Desatou a correr loucamente, aturdido por um pressentimento pungente, para donde lhe vinha o som do galope.
A cerca de metade da rua lateral que corria ao longo do «Paradise House», viu o cavaleiro. Cavalgava ao estilo vaqueiro, escarranchado e muito direito na sela. Não hesitou nem um segundo. Devia aproveitar agora que o alvo ainda lhe oferecia certa facilidade.
Deixou de correr. Apontou devagar, contendo a respiração. O ponto de mira centrou-se nas costas da silhueta móvel que se afastava. O braço esticado. A mão firme. A coronha colada à palma, o indicador curvado em torno do gatilho, sentindo o frio do guarda-mato. Pulso. Pulso e pontaria, Hanson!
Um, dois, três, quatro. Corriam os segundos e o bater do coração. Hanson comprimiu os lábios. Repugnava-lhe fazer aquilo. Disparar à traição é de cobarde. Mas quem lhe garantia que aquele bandido que maltratara dois empregados dos correios não tinha acabado com Cameron?
Bang! Um tiro. Bang! Outro. Bang! Um terceiro precipitando-se para sair do cano fumegante.
O galope interrompeu-se subitamente, denotando desconcerto. Foi um instante apenas, enquanto durou a oscilação do cavaleiro cujas mãos fortes se agarraram ao rebordo dianteiro da sela.
Quase em seguida, os cascos retomaram o seu matraquear. E o cavaleiro perdeu-se ao virar a esquina!
Não dispunha de meios para persegui-lo. Julgavam a captura tão fácil que tinham ido a pé até ao hotel. Onde arranjar um cavalo àquela hora? Além disso, o xerife podia achar-se ferido, agonizante. Hanson acabou por correr em auxílio do chefe.
O fugitivo não o preocupava. Dar-lhe-ia caça ao amanhecer. Em Brady, dispunham de um bom seguidor de pistas, um índio com faro. de cão. Tinha a certeza de que pelo menos uma das três balas atingira o alvo. Link Grinter fugia com um pesado presente de chumbo no corpo. Apostava o ordenado de um mês.
Na planície, voando literalmente sobre ela, um vagabundo afastava-se rapidissimamente da povoação. Voltava aos espaços imensos, abertos. Ao ar, ao sol e ao pó. Às regiões desabitadas. E voltava com dinheiro, com revólver, com liberdade. Link escapara vivo de um difícil atoleiro.
Mas havia sangue nas suas costas. Muito. Fluía aos borbotões. Não iria muito longe.
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